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quinta-feira, novembro 08, 2018

LYGIA FAGUNDES TELLES, ALISA WEILERSTEIN, TRESERRAS, NARCISAURA & SARAU AMIGOS DA ARTE


VIÚVA NEGRA - Imagem do artista francês Louis Treserras. - Narcisaura era bela e triste, pelos cantos, nem falar falava. Belíssima como a paisagem da tarde de verão em que o Coronel Barradão botou os olhos nela e logo se interessou: Quem é aquela putinha linda? Logo soube, capatazes pra isso. Foi ter com o pai dela: Ô Narcisildo, vou pegar tua filha pra casar! Pode levar, Coroné. E pegou-la, pôs nos braços e saiu ladeira abaixo, casa grande adentro: Cambada! Chegou a rainha da casa! As serviçais todas apareceram às carreiras: Quero banho, limpeza e formosura do melhor de tudo pressa aqui e agora! A rainha do meu império! Levaram-na aos gritinhos, risadagens e cochichos. Ele, então, apoderou-se de um copo e ficou bebericando da aguardente forte como o seu bafo, cuspindo no chão, enquanto pensava em casar, coisa que nunca quisera na vida, jamais, como podia acontecer justo agora, estava amarrado de paixão e aguardava o banho de loja. Imaginava uma grande festa, não, melhor não, uma cerimônia só para íntimos, com padre e juiz, não, isso não, nunca! Uma, duas, três doses, meiota, litro esvaziado, outro às doses, lá pras tantas ela aparece encantadora. Ele arregala os olhos espatando com tanta boniteza: Ô mulé bunita da gota! Então, abre a cortina e um lindo altar com um trono no cume aparece, ele toma-lhe uma das mãos e sobe degrau a degrau até sentá-la no trono: Daí você, minha rainha, só sai pras três refeições e pra cama comigo, nada mais; esse o seu trono de deusa. Ele desce, retoma o copo e fica admirando a lindeza. Toma todas as providências para que ela assuma o seu poder: fazenda, negócios, tudo dela. Nessa hora entra um jagunço: Que é cabra? O caboeta cochicha em seu ouvido: Mande ele vir aqui, agora! E volta pro seu entretenimento de não piscar o olho de tão arrebatado por tamanha beleza. E jurava amor e tudo dele pra ela, tudo. Alguns instantes depois, um sujeito espadaúdo, musculoso, rústico, deferente, entra e a ele se dirige: Sim, senhor, Coronel! Ela viu aquele moço corpulento, não conseguiu evitar-lhe o olhar. Eu soube dumas ações de vossência, é verdade? Sim, senhor. É isso mesmo que me contaram? Sim, senhor, sou seu escravo, estou às suas ordens. Está despedido! Não quero aqui ninguém mais macho que eu, caia fora e já. Sim, senhor. Ao sair, ela acompanha seus passos sem conseguir deixar de vê-lo, o porte atlético, a macheza, a robustez. Agora, minha deusa, desça e vamos já pro serviço no meu quarto. Ela desceu, ele a levou gentilmente nos braços e quando cerrou as portas, só se ouvia os gemidos e os gritos dela aos caprichos dele. Três dias ali enfurnados, ele nas intimidades dela. Logo ela se viu na monotonia de viver pendurada no trono dias, tardes e noites. Aos cochichos com as mucamas, soube a real razão da demissão daquele rapaz: pegava cobra de mão, matava bicho de murro, cabra mais macho do mundo, era Hércules o nome dele. E ela suspirava. Cadê ele? Ninguém sabia mais seu paradeiro. Já sei o que fazer. Dez dias se passaram e apartir daí o Coronel Barradão começou a definhar, raquítico, tísico, secou, bateu as botas, enterrado no oitão da fazenda, no jazigo da famíla. Tudo era dela, a viuva. Cadê Hércules? Ninguém sabia. Uns dez meses depois, cansada da procura, encontrou um bonitão de voz maviosa e cheio dos galanteios: o Ronitércio que chegava com uma mão na frente e outra atrás, lábia de derrubar o céu e o inferno, virilidade para dar e vender na maior safadeza. Ela agarrou-se nele de perder as saias, as anáguas, as calcinhas e quase a própria vida: o amor acontecia pela primeira vez na vida pra ela. Nem dois anos se passaram, a infidelidade dele de passar o rodo em quantas cruzassem seu caminho, chegou aos seus ouvidos. Como? Ah, é. Jurou vingança e dez dias depois ele começou a encruar, esmoreceu, até se esgotar de ficar só os ossos. Outro pro mausoléu da fazenda. Ela não derramou uma mínima lágrima, fechada, silenciosa, tristonha: Homem nunca mais! Isso, um ano e meio depois, aparecer o ricaço Ivonetildo com um baú repleto de posses: escrituras, dólares, ações do mercado, ouro e petróleo, tudo pra ela, ele e suas posses aos seus pés. E ela: Beije meus pés. E ele lá, por horas, ajoelhado aos ósculos e mimos. Lamba o solado dos meus pés! Não só lambidas, carinho extremo nos membros inferiores dela. Não passe do calcanhar, seu merda! Dias e mais dias e ele ali se arrastando aos seus caprichos. Vá embora, chato! Ele não ia, chorava, esperneava para ficar ao lado dela, queria era casar. Ela então passou a fazer exigências, tudo ele trazia e dava, de papel passado e tudo. Já tomei tudo, mas por via das dúvidas, vou casar com ele. E casou sob a condição dele nunca tocá-la sem autorização, só os pés, as pernas ou onde só quando ela mandasse. Ele aceitou, jurou pro padre e pro juiz. E se passaram alguns meses, quando quase um ano, o homem começou a murchar de sobrar só a caveira. Enviuvava pela terceira vez, poderosa e abastada. Nem havia passado o luto, ela viu alguém que já conhecera passando na rodagem em frente da fazenda. Quem é aquele que vai ali? É Hércules. Vá lá e mande ele vir aqui, é uma ordem! Ele veio, ela quase desmaia diante daquele que mexera com seu íntimo desde o primeiro dia. O que está você fazendo da vida, homem? No momento estou desempregado, senhora. Está empregado, você vai tomar conta de toda fazenda. Sim, senhora. E só se ouvia o dia pela noite: Hércules! Hércules! Ele pra lá e pra cá, dentro do quarto, virando a noite, mandando e desfazendo as coisas, saciando a patroa em tudo, aos beijos e solavancos pela sala, na escada, nos batentes, na cozinha, no passeio do jardim, até o dia que ela abriu a cortina e ofereceu o trono da casa a ele. Hércules olhou pra ela e disse: Já tenho tudo aqui, minha senhora. Eu quero você lá! Não nasci para ser rei, nasci para ser escravo e cumpro a minha missão. Eu ordeno! E ela agarrou-se nele sedenta para ser possuída por ele subindo os degraus até o trono. Assim foi o resto da noite até o dia amanhecer. Ao despertar, procurou por ele e só restava o lugar mais limpo. Hércules! Hércules! Nem sinal dele. Cadê Hércules? Ao dar por si, todas as faces da casa respondiam cabisbaixas que ele havia ido embora. Ela chorou por meses. Ele nada dissera, mas a população já dizia que ela havia matado os outros três maridos com um chá de sapo, por isso, ele foi embora desconfiado, para não morrer. Agora todos a condenavam, ninguém sequer sabia do que ela havia passado na infância e na adolescência, ninguém sequer desconfiava, somente ela, sozinha, tristonha. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
Anoiteceu e faz frio, quarenta e quatro anos e cinco meses, como passa rápido “Meu Deus”, eu sinto o frio circular que sai do assoalho e se infiltra no tapete, meu tapete é Persa, aliás, todos meus tapetes são Persas. Mas eu não sei o que esses bastardos fazem que não impedem que o frio se instale. Onde agora, onde?  Eu poderia pedir que acendessem a lareira, mais eu mandei o copeiro ir embora, o copeiro, a arrumadeira, a cozinheira; todos rua, um a um, uma corja que ri de mim pelas costas. Mas onde agora, onde?  A lenha, em algum lugar da casa, mais acender a lareira, não é tão fácil como parece no cinema, o xinês ficava horas e horas assoprando e mexendo até acender e eu mal tenho forças para acender meu cigarro. Onde agora, onde?  Eu desliguei o telefone da parede, peguei a garrafa de whisky, estou sentada aqui a não sei quanto tempo, bebendo, mais bebendo devagar, por que hoje, hoje eu não quero ficar bêbada, hoje não. Engraçado sabe, eu to sentada aqui a não sei quanto tempo, foi escurecendo e eu não acendi as luzes da casa e agora que está escuro eu vejo, vejo essa sala exorbitando de riqueza, uma riqueza inútil, fútil, coisas que eu comprei nas minhas viagens pelo mundo a fora e eu nem lembrava mais que tinha. Mas onde agora, onde?  Eu tenho um velho que me dá dinheiro, um jovem que me dá gozo e um sábio que me dá aulas de doutrinas filosóficas, uma filosofia tão platônica que na segunda aula ele se deito comigo, mais você acha que eu me importo com que ele ou qualquer pessoa pensa de mim? Claro que não, mais eu já me importei. E por causa da opinião alheia, é que hoje, ah hoje eu tenho um casaco de Vizon, um gato Siamês, eu tenho um sapato com fivela de diamante, eu tenho um piano com calda, uma chácara com piscina, um diamante que é quase do tamanho do ovo de uma pomba e um aquário com floresta de coral no fundo. Mas eu trocaria tudo, tudo, anéis e dedos, mais uma vez, só mais uma vez, ouvir o som do saxofone e saber que ele está bem em algum lugar, nem pediria para vê-lo, não eu não pediria tanto. Mas onde agora, onde? A primeira vez que nós nos amamos foi numa praia e era uma noite muito quente, então nós entramos na água do mar nús e a água parecia a água de uma banheira, uma água morna e ele ficou assustado quando eu disse que nunca tinha sido batizada, então com as mãos em concha, ele pegou a água depositou na minha cabeça e disse: Eu te batizo Luiziana, em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo, Amém! Eu pensei que ele tava brincando, mais ele nunca falou tão sério em toda sua vida. Luiziana, Luiziana, nunca mais ninguém me chamou assim. Onde agora, onde?  Nessa noite na praia eu disse a ele: Se você me ama, me ama mesmo, suba naquela duna, nú como está e toque seu saxofone o mais alto que você puder até a polícia chegar! Eu corri, vesti minha roupa, por que ele tocava tão alto que eu sabia que a polícia não ia demorar. Ah, ele tinha o cabelo todo bagunçado, a camiseta despencada, o sapato um lixo, mais o sorriso, ah, o sorriso era tão branco, tão lindo, que quando ele sorria eu parava de sorrir só para ficar olhando o sorriso dele.  Ele me levou pra morar com ele, era um apartamento no 10º andar, era um apartamento pequeno, pobre, feio, sujo, mas nós nos amamos tanto e fomos tão imensamente felizes naquele 10º andar. Em uma noite, uma noite ele me levou para jantar e afinal eu disse á ele: Se você me ama, me ama mesmo, dei me cá seu saxofone e suba naquela mesa, grite o mais alto que você puder cornudos, todos cornudos! Ele me entregou o saxofone, enquanto eu saia envergonhada eu escutei ele gritando: cornudos, todos cornudos! Me alcançou na rua e me implorou: Luiziana não me negue, não me negue. Era um amor grande demais, entende? Eu não sabia o que fazer com um amor tão grande assim, na hora a gente nunca sabe. Por acaso alguém dá valor na respiração? Haha, da né, quando ela se esculhamba toda, ai todo mundo da valor. “Poxa eu respirava tão bem.” Mais na hora que ta tudo dando certo, a gente não dá valor, eu não dei. Comecei a ficar exigente sabe; Se você me ama, me ama mesmo, me dê um par de brincos! Se você me ama, me ama mesmo me dê um vestido novo! Se você me ama, me ama mesmo me leve pra jantar em lugares chiques! Se vc me ama, me ama mesmo…, ele começou a trabalhar tanto que ele saia pra tocar nos bares durante a noite e só voltava no outro dia, já amanhecendo, cansado ele deitava na cama enrodilhado tocava o saxofone e ainda me dizia: Luiziana, Luiziana você é minha música e eu não vivo sem música. E abocanhava o bucal do saxofone como fazia com meu seio. Eu quis terminar sabe, mais eu não tive coragem, então eu decidi que eu faria tudo pra que aquele amor apodrecesse de tal forma que um dia ele fosse embora e nem olhasse para trás de tanto nojo. Então uma noite, uma noite eu tinha um compromisso, nessa época eu vivia cheia de compromissos, pintava meus olhos diante do espelho e ele tocava saxofone, eu ia me encontrar com um banqueiro sabe, ele sabia disso, então eu parei, parei de pintar os olhos, olhei pra ele e disse: Se você me ama, me ama mesmo, sai daqui agora e se mate, imediatamente!
Conto Apenas um saxofone, extraído da obra Antes do baile verde (Bloch, 1970), da escritora premiada e membro da Academia Brasileira de Letras do Brasil e de Lisboa, Lygia Fagundes Telles. Obra transformada no curta metragem homônimo, dirigido por Heber Trigueiro, em 2008, e estrelado pela atriz Solange DeBarros. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

A ARTE DE LOUIS TRESERRAS
A arte do artista francês Louis Treserras.

AGENDA:
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&
O que foi do passado, Cecília Meireles, Marie Curie, Albert Camus, Irene Duarte, Ribeirão, John McLaughlin, Felicja Blumental, Wagnert Tiso & Ida Presti aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje curta na Rádio Tataritaritatá a música da violoncelista estadunidense Alisa Weilerstein: Cello Concert Edward Elgar, Cello Suite Bach, Sonata Brahms & Cello Concert Dvorak & muito mais nos mais de 2 milhões & 800 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui e aqui.


terça-feira, dezembro 19, 2017

NIETZSCHE, CALLADO, TEILHARD DE CHARDIN, EUCLIDES DA CUNHA, AL DI MEOLA, PETRARCA, ALISA WEILERSTEIN, NATHAN OLIVEIRA, BRIAN BOOTH CRAIG & CULTURA DE PERNAMBUCO

TANTO JUNTOU & BABAU! – Imagem: Alongtimealone, do pintor, gravurista e escultor estadunidense Nathan Oliveira (1928-2010) - Anclotinato era tinhoso, sabido, astucioso, menino feito os pés da doida, duma vivacidade surpreendente. Tanto que foi crescendo de ninguém se dar conta, aprendeu a ler na cacunda dos outros e a escrever com a munheca alheia. De tão liso, passava pito, chegava na frente, maior mangação: se era pintomba, aos cachos mais que qualquer; manga rosa, de tuia; abacate, aos montes. Vendia de tudo, até do vizinho. Juntava os trocados escondidos a sete chaves, ninguém que soubesse. Esmolava até, se possível, só pra dar o gostinho de manhar engodo. Mais taludo, fazia que dava com a direita o que escondia com a esquerda, ladino, enrolador. Tapiava todo mundo, incólume. Adolescia engabelando quem lhe aparecesse na frente, e na maior lábia aplicou das suas e embuchou uma, duas, três. Quando falaram em casório, ele deu maior pinote. E assim foi, daqui pra acolá, engravidando as achegadas. Nem sabia dos rebentos até o dia que aportou em Alagoinhanduba e o seu cerco se fechou. Danou-se! Casar de mesmo, nunca; amancebou-se com uma das reboculosas vítimas, produzindo uma infieira de bruguelo de não ter mais fim. Trocava de mulher, bastava não querer mais da encheção de saco. Ardiloso, jamais perdia tempo nem sucumbia em contratempos, aprontava e só. Chegava a hora dos meninos pra escola, e ele: Eu só estudei até a segunda série ginasial e aprendi de tudo com a vida, a minha escola é a vida. A mulher insistia, ele botou a filharada em escola pública, era de graça. Gastar não era com ele, nunca gostou de perder nada, mesmo quando foi reprovado três vezes no segundo ginasial, abandonando e aprendendo com a cara e a coragem o que pra ele era o suficiente para aprender: tirar proveito dos bestas e enricar, só. Acossado pelo desvio de um dos rebentos metido a sabochão, ele berrou: Menino, vá pra escola pra ser gente, vá! Nem deu tempo o menino virar as costas e ouvir dele: Se eu descobrir quem inventou estudo, eu mando matar. O menino saiu confuso, o que aprendia na escola, desaprendia com ele. Mais tivesse de desatino, mais disparate prosperava. Exemplo que é bom, ao contrário. Até o dia que ele botou todos os filhos que tinha por enteados pra correr mundo afora. Ficou sozinho na sua mancebia, lapadas e peiadas diárias, com prevenção pra não vê-la mojada. Esperto, sequer sabia o que possuía, tudo oculto, ninguém que desse ciência, valha-me, nada de olho gordo no seu quinhão, para tanto, lamuriava muito, maldizia da vida, sempre a provocar a caridade de desavisados. Mão de figa, ralhava a mulher da vez. Ele, nem nem. Um dia ele teve um troço e bateu as botas. Fizeram farra nas sua fortuna, um tesouro quase perdido, agora festa nos seus restos mortais. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com o guitarrista estadunidense Al di Meola: One of These Nights & Jazzwoche Burgghausen; e da violoncelista clássica estadunidente Alisa Weilerstein: Haydn Concert in D major MVT 1 & Hindemith Cellokonzert HR-Sinfonie Orchester. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA - Mal estamos emergindo de nossos ancestrais irracionais, motivo de nossas comuns recaídas animais. A humanidade ainda não está senão na aurora de sua existência. Pensamento do filósofo, paleontólogo e teólogo francês Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955). Veja mais aqui.

ECCE HOMO - [...] O dizer sim à vida, mesmo em seus problemas mais estranhos e difíceis; a vontade de viver, no rehozijo sobre sua própria inexauribilidade, e mesmo no próprio sacrifício de seus tipos mais altos – isso é o que eu chamei dionisiaco, isso é o que compreendi como a ponte para a psicologia do poeta trágico. Não com fim de nos livrarmos do terror e da piedade, não com o fim de nos purgarm,os de uma emoção perigosa através de sua liberação [...] mas com o fim de sermos nós mesmos a eterna alegria de destruir, além do terror e da piedade – essa alegria que inclui até a alegria de destruir [...]. Trecho da obra Ecce homo: Wie man wird, was man ist (1888 – Como tornar-se o que se é – Simões, 1957), do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Veja mais aqui, aqui & aqui.

REFORMA AGRÁRIA - [...] Existe no Brasil um passe de mágica interlectual, ou um truque epistemológico que consiste no seguinte: problemas antigos e que continuam sem solução são dados como resolvidos. Ou passam à categoria de problemas chatos, obsoletos. Arrisca-se, por isso, a um certo ridículo quem fala ainda em reforma agrária no Brasil, o argumento principal sendo que a agricultura hoje nada mais é do que a parte antiquada da agroindústria moderna. A indústria domina o campo e as multinacionais, a indústria. Falar em camponês, parceiro, meeiro, peão – prossegue o argumento – seria falar nos direitos do servo da gleba, escudeiros ou palafreneiros. [...] Trechos extraídos da obra Entre Deus e a vasilha: ensaio sobre a reforma agrária, a qual nunca foi feita (Nova Fronteira, 2003), do jornalista, romancista, biógrafo e dramaturgo Antonio Callado (1917-1997). Veja mais aqui, aqui & aqui.

OS SERTÕES - [...] Não vimos o traço superior do acontecimento. Aquele afloramento originalíssimo do passado, patenteando todas as falhas da nossa evolução, era um belo ensejo para estuarmo-las, corrigirmo-las ou anularmo-lãs. Não entendemos a lição eloqüente. Na primeira cidade da República, os patriotas satisfizeram-se com o auto-de-fé de alguns jornais adversos, e o governo começou a agir. Agir era isso – agremiar os batalhões. [...]. Trecho da obra Os sertões (Francisco Alves, 1936), do escritor e jornalista Euclides da Cunha (1866-1909). Veja mais aqui, aqui & aqui.

SONETO - Vós que escutais em rimas espalhado / deste meu peito o suspirado ardor / e que o nutria ao juvenil error / quando era muito divbersoo meu estado; / o incerto estilo por quê eu hei variado / entre a vã esperança e o vão temor, / se vós houverdes entendido amor / terá vossa piedade despertado. / Vejo que a todos meu amor assim / quase sempre foi fábula somente. / E agora eu, de mim mesmo me envergonho. / De minha vida vã vergonha é o fim / e o arrepender-se e o ver mui claramente / quanto aparaz ao mundo é breve sonho. Poema do livro Sonetos (Sol Negro, s/d), do escritor, intelectual humanista e filosofo italiano Francesco Petrarca (1304-1374). Veja mais aqui e aqui,.

MAPA CULTURAL DE PERNAMBUCO
Veja aqui.

Veja mais:
A música de Edith Piaf aqui & aqui.
O teatro de Jean Genet aqui e aqui.
A poesia de Manoel de Barros aqui e aqui.
A literatura de Emily Brontë aqui.
A literatura de Rubem Braga aqui, aqui & aqui.
Livros do Nitolino aqui.
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A ARTE DE NATHAN OLIVEIRA
A arte do pintor, gravurista e escultor estadunidense Nathan Oliveira (1928-2010).

AS ESCULTURAS DE BRIAN BOOTH CRAIG
Art by Brian Booth Craig.
 

sexta-feira, novembro 17, 2017

MOACYR SCLIAR, ESOPO, JULIETA DE GODOY LADEIRA, HENRIQUETA LISBOA, RENATA MAGDA & MARAIAL

E PRONDE É QUE VOU MESMO, HEM? - Imagem: Between the worlds, arte da pintora polonesa Renata Magda. - Nunca me dera por vexado de tudo, avalie, se bem que sempre entrei no mato longe demais, bicho solto não enxerga o rabo mesmo. Havia a impressão de atrasado, ô menino tonto sempre fora, correndo atrás e às pressas, não sei nem pra quê, coisa daquela de inheto de não parar quieto nem a pulso, só os mais velhos achando graça das minhas desmesuradas pelejadas. Tanto é que me davam por caçula de tudo, nem sabia que para quem engole corda e da muita, a queda é maior no espatifado. Apois, tá! Andejo, ah, sempre fujão pelas frestas das portas e brechas de portões dos jardins, esgueirando solto, rua acima, ladeira abaixo, peito aberto de beiço virado pronde davam as ventas. Logo cedo aprendi com as coercitivas lapadas, pisas às pinotadas, esfregões de repuxar o couro, beliscões e cascudos, dois metros de bico de quase de quase tombar: a vida não era bem o que eu pensava que fosse. Quando fui ver, quase à beira do abismo. Com a topada saía tirando fino, findava esfolado, samboque do couro pendurado no arame farpado, ronchas nos inchaços. Tive muito de torcer o nariz, fazer ouvidos de mouco, dar o braço a torcer e sair assobiando como se tudo aquilo nunca nem fora comigo, tá doido, nunca vi mais gordo, sabe, nem pintado a ouro, destá. Eu que me roía por dentro, cada um o Uriah Heep que merece, num é Dickens? Quantas bangueladas pro prêmio e, na tacada final, não era nada daquilo, fila errada, o prêmio era do outro lado. O pior era ter de encarar o insosso, nada que um esforçozinho a mais não relasse a casca da pereba por costume magoada e perenemente restaurada no machucão dolorido. Sempre atrasado, quando ia ver já era tarde, já tinham levado o que era bom, só sobravam porcarias pras trepeças, farelos de festa. Pra quem só se viu ao lado do bloco do eu sozinho, tive que me virar em ser a principal atração e a plateia, isso ao mesmo tempo! É-hé! Como? A-rá! Ora, cada um chuta o bombo por zabumba, mexe no triângulo, sopra no pife, assobia e chupa cana, pronto, está feito o xote pé-de-serra. No mais é só ficar decorando adivinhações e charadas, das que sejam mais caprichadas, sem que no final, pra mim, não sobre uma só que preste por enrascada. U-hu! De tanto insistir, foi aí que me tornei o cara mais sem graça do planeta. Eu que me importa! Só queria mesmo era mostrar o meu serviço e, se prestasse de mesmo, saísse com um trocadinho que fosse no bolso. Pois é, por isso vivi sempre liso como a moléstia que vem e volta pra sucumbir o enfermo. E ainda tem quem chegue implicando com lei disso, regra daquilo, código de ética, de postura, sanção como a praga, pra quê, porra? Ou a gente aprende a fazer direito, ou se não tem nada pra contar que fique calado! Cuidar do que fala, senão tem cada muriçoca indigesta, mosca graúda como a peste, que em boca fechada, já dizia o ditado, não entra mosquito nem pra indigestão! Tome tento! O que eu falei, está dito. Vamos pra outra! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá: The Planets Suite, St. Paul’s Suit & Symphony in F Major The Cotswolds, do compositor, arranjador e professor inglês Gustav Holst; a interpretação da violoncelista estadunidense Alisa Weilerstein para o Concerto in D Major 1 de Haydn, Variations on a Rococo Theme op. 33 de Tchaikovsly & Hindemith Cellokonzert HR Sinfonieorchester; os álbuns Perto do coração, Mantiqueira, Só Xote e Música Popular Brasileira Contemporânea do produtor musical, arranjador, instrumentista, regente e compositor Nelson Ayres; e os álbuns Cidade Blues Rock nas Ruas & Salve a beleza da cantora, compositora e jornalista Mona Gadelha. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIAA lua pediu à sua mãe que lhe fizesse um vestido. – Um vestido? – perguntou a mãe, espantada. – Não é possível fazer um vestido para você, minha filha. – Por que não? – Hoje você está gorda, amanhã você está magra; um dia você é lua cheia, outro dia você é lua nova. E ainda, às vezes, não é nem cheia, nem nova. Impossível fazer um vestido para alguém como você. E como a lua teimava, a mãe acabou com o assunto: - Decida a quantas anda, antes de querer um vestido. Extraída do livro Esopo: fábulas completas (Cosac Naify, 2013), do escritor grego Esopo (620 a.C. -  564 a.C.). Veja mais aqui e aqui.

UMA HISTÓRIA SOBRE A TERRA - A Terra é o nosso mundo. O mundo tem sido nosso amigo, ele nos oferece tanto... ele nos dá cada fruta gostosa, cada tarde bonitya. Aconte que o mundo vem sendo maltratado, poluído, queimado. Pensam que ele não sofre com isso? Esta é uma história que conta como a Terra anda triste, chegando a pensar até em sumir. Não some porque existe gente mais sabida, que entra na história e não deixa que isso aconteça. Nesta aventura, de muita informação, poesia e fantasia, você vai ficar sabendo mais sobre o meio em que vivemos, sobre o ar que respiramos. E sobre a arca de Noé e os astronautas. Mistura danada: não. É como a Terra. Ela gira, gira, e as coisas mais diferentes vão acontecendo. Este livro mostra que a Terra se dá bem com a Lua, os anjos e as estrelas, mas tem medo das pessoas. A ideia, então, é fazer com que ela goste da gente, sem receio. Mas para que isso aconteça é preciso cuidar dela com amor. Recebendo cuidado e atenção, a Terra será melhor para todos nós. [...]. Extraído da obra Antes que a Terra fuja: uma história pela limpeza do meio ambiente (Moderna, 2002), da escritora Julieta de Godoy Ladeira (1927-1997). Veja mais aqui.

MARAIAL – O município de Maraial está encravada numa região que possuía palmeiras deste tipo, Maraial, dando origem à sua denominação, havendo, inclusive, registros de que uma família denominada Maraiá teria sido a primeira a se extabeler naquela locadlidade. O povoado, portanto, teve inicio com a construção da ferrovia para abastecimento de trablhadoras, sendo inaugurada a estação em 1884. O distrito foi criado em 17 de dezembro de 1904, subordinado à Palmares. Em 14 de janeiro de 1913 tornou-se vila e foi elavada à categoria de município em 11 de setembro de 1928, sendo intalado em 1 de janeiro de 1929. O município é formado pelos distritos sede e Sertãozinho de Baixo e pelo povoado de Sertãozinho de Cima. Veja mais aqui.

CANIBAL - Em 1950, duas moças sobrevoaram os desolados altiplanos da Bolívia. O avião, um Piper, era pilotado por Bárbara; bela mulher, alta e loira, casada com um rico fazendeiro de Mato Grosso. Sua companheira, Angelina, apresentava-se como uma criatura esguia e escura, de grandes olhos assustados. As duas eram irmãs de criação. O sol declinava no horizonte, quando o avião teve uma pane. Manobrando desesperadamente, Bárbara conseguiu fazer uma aterrissagem forçada num platô. O avião, porém, ficou completamente destruído, e as duas mulheres encontravam-se, completamente sós, a milhares de quilômetros da vila mais próxima. Felizmente (e talvez prevendo esta eventualidade), Bárbara trazia consigo um grande baú, contendo os mais diversos víveres: rum Bacardi, anchovas, castanhas-do-pará, caviar do Mar Negro, morangos, rins grelhados, compota de abacaxi, queijo-de-minas, vidros de vitaminas. Esta mala estava intacta. Na manhã seguinte, Angelina teve fome. Pediu a Bárbara que lhe fornecesse um pouco de comida. Bárbara fez-lhe ver que não podia concordar; os víveres pertenciam a ela, Bárbara, e não a Angelina. Resignada, Angelina afastou-se, à procura de frutos ou raízes. Nada encontrou; a região era completamente árida. Assim, naquele dia ela nada comeu. Nem nos três dias subseqüentes. Bárbara, ao contrário, engordada a olhos vistos, talvez pela inatividade, uma vez que contentava-se em ficar deitada, comendo e esperando que o socorro aparecesse. Angelina, pelo contrário, caminhava de um lado para outro, chorando e lamentando-se, o que só contribuía para aumentar suas necessidades calóricas. No quarto dia, enquanto Bárbara almoçava, Angelina aproximou-se dela, com uma faca na mão. Curiosa, Bárbara parou de mastigar a coxinha de galinha, e ficou observando a outra, que estava parada, completamente imóvel. De repente Angelina colocou a mão esquerda sobre uma pedra e de um golpe decepou o seu terceiro dedo. O sangue jorrou. Angelina levou a mão à boca e sugou o próprio sangue. Como a hemorragia não cessasse, Bárbara fez um torniquete e aplicou-o à raiz do dedo. Em poucos minutos, o sangue parou de correr. Angelina apanhou o dedo do chão, limpou-o e devorou-o até os ossinhos. A unha, jogou-a fora, porque em criança tinham-lhe proibido roer unhas – feio vício. Bárbara observou-a em silêncio. Quando Angelina terminou de comer, pediu-lhe uma falange; quebrou-a, e com a lasca, palitou os dentes. Depois ficaram conversando, lembrando cenas da infância etc. Nos dias seguintes, Angelina comeu os dedos das mãos, depois os dos pés. Seguiram-se as pernas e as coxas. Bárbara ajudava-a a preparar as refeições, aplicando torniquetes, ensinando como aproveitar o tutano dos ossos etc. No décimo quinto dia, Angelina viu-se obrigada a abrir o ventre. O primeiro órgão que extraiu foi o fígado. Como estava com muita fome, devorou-o cru, apesar dos avisos de Bárbara, para que fritasse primeiro. Como resultado, ao fim da refeição, continuava com fome. Pediu à Bárbara um pedaço de pão para passar no molhinho. Bárbara negou-se a atender o pedido, relembrando as ponderações já feitas. Depois do baço e dos ovários, Angelina passou ao intestino grosso, onde teve uma desagradável surpresa; além das fezes (achado habitual neste órgão), encontrou, na porção terminal, um grande tumor. Bárbara observou que era por isto que a outra não vinha se sentindo bem há meses. Angelina concordou, acrescentando: “É pena que eu tenha descoberto isto só agora.” Depois, perguntou à Bárbara se faria mal comer o câncer. Bárbara aconselhou-a a jogar fora esta porção, que já estava até meio apodrecida; lembrou os preceitos higiênicos que devem ser mantidos sempre, em qualquer situação. No vigésimo dia, Angelina expirou; e foi no dia seguinte que a equipe de salvamento chegou ao altiplano. Ao verem o cadáver semidestruído, perguntaram a Bárbara o que tinha acontecido; e a moça, visando preservar intacta a reputação da irmã, mentiu pela primeira vez em sua vida:- Foram os índios. Os jornais noticiaram a existência de índios antropófagos na Bolívia, o que não corresponde à realidade. Conto extraído da obra Melhores contos (Global, 2003), do escritor e médico gaúcho Moacyr Scliar (1927-2011) , organizado por Regina Zilbermann. Veja mais aqui e aqui.

O TEMPO É UM FIO, HENRIQUETA LISBOA
O tempo é um fio
bastante frágil
Um fio fino
que à toa escapa.
O tempo é um fio.
Tecei! Tecei!
Rendas de bilro
com gentileza.
Com mais empenho
franças espessas.
Malhas e redes
com mais astúcia.
O tempo é um fio
que vale muito.
Franças espessas
carregam frutos.
Malhas e redes
apanham peixes.
O tempo é um fio
por entre os dedos.
Escapa o fio,
perdeu-se o tempo.
Lá vai o tempo
como um farrapo
jogado à toa.
Mas ainda é tempo!
Soltai os potros
aos quatro ventos,
mandai os servos
de um pólo a outro,
vencei escarpas,
voltai com o tempo
que já se foi!…
Poema do livro Poesia Geral (Duas Cidades, 1985); da poeta mineira Henriqueta Lisboa (1901-1985). Veja mais aqui.

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A literatura de Rachel de Queiroz aqui.
O pensamento de Jakob Böehme aqui.
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A ARTE DE RENATA MAGDA
A arte da pintora polonesa Renata Magda.


quinta-feira, setembro 07, 2017

MURILO MENDES, HANS JONAS, DARCY RIBEIRO, GADAMER, LIVINGSTONE SMITH, ZHU HONGYU & MUITO MAIS!!!

BRASIL A SÉRIO, NÃO RIA! - Quando nasci já era carnaval no Brasil e salve salve vida nossa patriamada. Era mais de sessenta ao redor da televisão, os olhos pregados nas cenas da tela noite adentro de se perder hora e tempo na fumaça da escuridão. Só quando eu dei por mim já falavam de um país que ia pra frente, cantando o progresso e todos fora dele, não sabia como, mas era. Não sabia o porquê das botas e armas no corredor da minha casa, aos cochichos que o vizinho sumira de uma hora pra outra pra nunca mais e nunca mais era já e eu não sabia nas aulas de Moral e Cívica, nos desfiles do dia 7, e nunca mais era a cidade o Moscouzinho e nem soubera porque era um pega pra capar comunista salvando as criancinhas pra festa da padroeira dia 8. Assim era, ah, já era entressafra de maio pra comemorar a emancipação política no mês seguinte, com outras marchas juvenis pra quem agradava a si e ao suposto país entre golpes e marmeladas, pacotes e carestias e racismo e mamatas e compras de votos nos currais eleitorais a mando da botada da usina que anunciava a pejada só pro ano que vem e era nunca mais porque já era dos anos sessenta pros setenta e pros oitenta, vinte e cinco anos de tristeza com bandeira a meio pau da venta, sem festa nem alforria, enquanto politicólogos se enrolavam na TFP que organizava o desfile com seus fogos de artifício na marcha da pátria e da família, e tinha gente passando fome no canavial e gente presa torturada em nome da segurança nacional que nos dava maior insegurança e o Brasil pedia bis nos festivais de música e não havia amanhã pro futuro, nunca mais era só um milagre de mentirinha imitando estrangeiros e todo mundo levou a sério, como se sério fosse qualquer piada sem graça a esconder a verdade pra jamais ter coragem para justiçar os mortos, nem pra reforma agrária, nem pra verdade de nada, nem cidadania, nem dignidade nem nada porque a felicidade era urgente e pra nunca nunca mais e o que passou passou não voltaria mais pros vivos mais mortos que enterrados cadáveres na injustiça de sempre pra nunca mais e só restava cantar uma Nênia de Abril. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ: 24 HORAS NO AR!!!
Hoje na Rádio Tataritaritatá: The Planets Suite, St. Paul’s Suit & Symphony in F Major The Cotswolds, do compositor, arranjador e professor inglês Gustav Holst; a interpretação da violoncelista estadunidense Alisa Weilerstein para o Concerto in D Major 1 de Haydn, Variations on a Rococo Theme op. 33 de Tchaikovsly & Hindemith Cellokonzert HR Sinfonieorchester; os álbuns Perto do coração, Mantiqueira, Só Xote e Música Popular Brasileira Contemporânea do produtor musical, arranjador, instrumentista, regente e compositor Nelson Ayres; e os álbuns Cidade Blues Rock nas Ruas & Salve a beleza da cantora, compositora e jornalista Mona Gadelha. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PRINCÍPIO RESPONSABILIDADE - [...] O homem é o único ser vivente que pode assumir responsabilidade diante do que faz, e com esse ‘pode’ já é de fato responsável [...] Por repensar o conceito de responsabilidade e sua extensão, nunca antes concebido, sobre o comportamento de nossa espécie inteira em relação à natureza, a filosofia dará o primeiro passo em direção a assumir essa responsabilidade. É meu desejo para a filosofia que persevere nesse empenho, sem medo de qualquer eventual dúvida referente ao seu sucesso. O século que está chegando tem direito a essa perseverança [...]. Trechos extraídos da obra O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica (Contraponto, 2005), do filósofo alemão Hans Jonas (1903-1993). Veja mais aqui.

BRASIL AOS TRANCOS E BARRANCOS - [...] Ao predomínio das multinacionais sobre a economia brasileira, a seu domínio sobre os órgãos formadores de opinião pública, a seu controle das redes de comunicação de massa, correspondem uma descaracterização progressiva de nossa cultura e uma alienação também crescente de nossa consciência nacional. Atitudes de desprezo para com o nosso país e de descaso para o nosso povo, que são inerentes à condição dos agentes das empresas que nos exploram, se difundem aos executivos brasileiros, por ela cooptados, e, destes, a camadas mais amplas, generalizando-se assim uma consciência espúria, fundada em valores estranhos e hostis a nós, que converte muitos dos brasileiros mais influentes em agentes ativos da recolonização do Brasil. São os que detestam os pobres, os pretos, os mulatos, os nordestinos, os gaúchos, culpando-os de sua penúria. Uma nova civilização começa a surgir debaixo dos nossos narizes. Ainda sem cara visível, ela já põe em causa todos os modos humanos a ser e de pensar, mesmo os aparentemente mais estáveis: o machismo e a feminilidade, a religião e a política, a juventude e a velhice, a beleza e a feiúra. Que seremos amanhã, nós, pessoas, poços, raças, na forma que temos hoje? Só sabemos ao certo que vamos ser outros; tão diferentes de nós, ou ainda mais do que nós somos de nossos ancestrais mais arcaicos. [...]. Trecho extraído da obra Aos trancos e barrancos: como o Brasil deu no que deu (Guanabara, 1985), do antropólogo e escritor Darcy Ribeiro (1922-1997). Veja mais aqui e aqui.

A VERDADE, SOMENTE A VERDADE? – [...] O fenômeno da compreensão e da maneira correta de se interpretar o que se entendeu não é apenas, e em especial, um problema da doutrina dos métodos aplicados nas ciências do espírito. Sempre houve também, desde os tempos mais antigos, uma hermenêutica teológica e outra jurídica, cujo caráter não era tão acentuadamente científico e teórico, mas, muito mais, assinalado pelo comportamento prático correspondente e a serviço do juiz ou do clérigo instruído. Por isso, desde sua origem histórica, o problema da hermenêutica sempre esteve forçando os limites que lhe são impostos pelo conceito metodológico da moderna ciência. Entender e interpretar os textos não é somente um empenho da ciência, já que pertence claramente ao todo da experiência do homem no mundo. Na sua origem, o fenômeno hermenêutico não é, de forma alguma, um problema de método. O que importa a ele, em primeiro lugar, não é estruturação de um conhecimento seguro, que satisfaça aos ideais metodológicos da ciência - embora, sem dúvida, se trate também aqui do conhecimento e da verdade. Ao se compreender a tradição não se compreende apenas textos, mas também se adquirem juízos e se reconhecem verdades. Mas que conhecimento é esse? Que verdade é essa? [...]. Trecho extraído da obra Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica (Vozes, 1998), do filósofo alemão Hans-Georg Gadamer (1900-2002), discutindo a metodologia das ciências do espírito e da natureza na busca da verdade, à luz da ciência hermenêutica. 

POR QUE MENTIMOS? - No princípio havia a mentira [...] Mentimos para conseguir coisas que seriam mais difíceis de obter de outra forma [...] mentimos em qualquer circunstância na qual manipular o comportamento do outro pode ser vantajoso para nós [...]. Trechos extraídos do livro Por que mentimos: os fundamentos biológicos e psicológicos da mentira (Campus, 2006), do filósofo, psicólogo, professor PhD e historiador David Livingstone Smith, contando com as histórias de Adão e Eva, Rei Lear, Chapeuzinho Vermelho, histórias recheadas de invenções, são interessantes exatamente por satisfazerem a necessidade humana de mentir para observar que a mentira na raiz da herança cultural e a necessidade de enganar - inclusive a si mesmo - vai de um extremo a outro da cultura. Veja mais aqui e aqui.

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A verdade da independência do Brasil aqui
Fecamepa: corrupção X cláusula da reserva do possível aqui.
Saúde no Brasil aqui.
Cantos do meu país aqui.
Imprensa no Brasil aqui.
História Universal da Temerança aqui.
Fecamepa aqui.
A música de Gustav Holst aqui.
A arte musical de Alisa Weilerstein aqui.
A arte de Mona Gadelha aqui.
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Livros Infantis do Nitolino aqui.
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Agenda de Eventos aqui.

A MULHER DO DESERTO
A mulher de areia
Penteia os cabelos de folhas de palmeira,
Estende as mãos de cardo
Pedindo águas
Depois descansa as mãos de cardo
Na humildade da pedra.
A mulher do deserto
Pensa nos seus amores infelizes
Pensa nos seus amores
Que se evaporam quando o Sol nasceu,
Depois não pode mais pensar
Porque o tempo é pouco para pedir água.
Poema extraído da obra Melhores poemas (Global, 2000), do poeta e prosador do Surrealismo brasileiro, Murilo Mendes (1901-1975). Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE ZHU HONGYU
A arte de fotógrafo Zhu Hongyu


ANNE CARSON, MEL ROBBINS, COLLEEN HOUCK & LEITURA NA ESCOLA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som do álbum Territórios (Rocinante, 2024), da premiada violonista Gabriele Leite , que possui mestrado em...