terça-feira, junho 13, 2017

OCTAEDRO DE JÚLIO CORTÁZAR, FILOSOFIA DO DIREITO DE HEGEL, JENNY SAVILLE, NICK GENTRY, NEW JERSEY BALLET BEAUTY, ENTRE O ONTEM & O AMANHÃ


É SÓ UMA QUESTÃO DE TEMPO ENTRE O ONTEM E O AMANHÃ – Imagem: arte do artista britânico Nick Gentry – A vida vai e o rito de passagem: sinal verde, nove e quinze no relógio, tudo escancarado, sol a pino, sal na moleira e o planejado do dia pro adiamento: de amanhã não passa; melhor, segunda feira, sem falta. Pensando bem, próximo mês, fechado. E leva tudo nos peitos, no tranco do jeito que der, a sobrevivência, via de regra, ocupando as possibilidades até exaurir todas as energias, deixando escapar as preciosas oportunidades de ser mais humano, terno, compreensivo. Ah, tá. Melhor deixar tudo por menos que qualquer bronca é café pequeno. Na horagá: é um buruçu dos diabos! Só levando nas coxas e ao espanto no apurado: isso não estava antes aí, ou estava? Oxe! Coisa de somenos, a comida, as contas do mês, compromissos, isso sim, o que veio, passou, foi. Voltar pro trupé e tudo em cima da hora: salvo pelo gongo. Já viu, né? Vinte e quatro horas pra resolver as coisas, não dão nem na marra. Nem que um dia tivesse o dobro de horas. O trânsito e a burocracia não ajudam, as pessoas, ah, as pessoas muito menos, atrapalham tanto de se ter que usar do expediente de procrastinar xis coisas de menor relevância, negligenciado uma série de coisas como a saúde física e mental, a leitura, a solidariedade e as relações. Fica pra depois, um dia tudo em dia, verá, prometido, jurado. Enquanto isso o individualismo umbigocentrista – ué, quem chega junto na hora da precisão, hem? Tem de se virar mesmo. No fim das contas, vai ver: inadimplente, na vera, consigo mesmo e com o lazer, a qualidade de vida. Destá. Sinal amarelo e o tempo quinze pras três, vai chover! Ih, a sensação de ter esquecido alguma coisa, conferência mental, vai dar merda. Ah, na hora vê, deixa pra lá. Leva tudo na esportiva até subir no telhado com as extravagâncias de dar salto solto de todo jeito, vai ver: que foi que fiz, meu Deus, pra merecer isso? Ah, Maria-arrependida no departamento da vergonha e do remorso deixando sinais duradouros no meio de abalos sísmicos tremendos até perder a intensidade e a razão que desceu pelo ralo: se pensar muito perde é o juízo. Deixa correr. Êpa! Sinal vermelho, vixe! Quase passa batido. Ah, já é tarde, precisa dormir. Aí pensa que só foi você que vestiu a camisa e deu a carga da pilha toda? Todo mundo apressado, correndo atrás. De quê? Tanto tempo concentrado só em ganhar dinheiro, chegar na hora, pagar em dia, fazer feira, comprar coisas, e se esquecer do mais importante: viver! Aí aparecem os cabelos grisalhos, as rugas, dores, e o vazio é um poço sem fundos entre vísceras e mucosidades que regurgitam aos soluços do coração saindo pela boca e nem se sente ainda morto-vivo, só esperando a notícia de que não dá mais, quase chegada a hora e amém. Ôpa! Que é que é isso? Ainda dá uma de se abestalhar e olha pra trás, resta o arrependimento doendo no que virá. Melhor não desesperar, se levar a sério demais, pira de vez, aviso. Engole seco, vai ver o tempo passou mesmo, alma em frangalhos, as relações quando não desgastadas findaram destruídas, a vida reduzida ao vazio que corrói por dentro no meio de uma torrente de lembranças desordenadas pelas divagações que dão no insólito, o que seria tão desconexo quanto inconcebível e não poder conceber nada diferente, impossível se assim não fosse, porque a memória insiste desenfreada pelo que foi feito ou deixou de fazer, uma legião de escusas pra justificar a incoerência de certos atos, a insensatez de muitas atitudes, e já nem domina o pensamento que insiste importunando em não tirar da cabeça as impertinências cometidas que revogam qualquer indulto, já está feito, não há mais o que fazer, apenas saber que ao precisar do que for, saberá que já é tarde: não tem ninguém pra socorrer nem pra conversar, ou pra deitar a cabeça ou pedir orientação. Ah, é muito difícil a convivência humana, chega de ficar o tempo todo tentando se explicar, só incompreensão, diferentes caminhos, ou vai ou racha. Não é bem assim, muito menos assado. A culpa não é dos outros. Hã? Já é alta madrugada, precisa dormir. Amanhã será outro dia, de batente, firme sisifismo. É só uma questão de tempo, ontem, hoje, ou amanhã. Outro dia, pronto. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

FILOSOFIA DO DIREITO DE HEGEL
[...] O todo vem antes das partes. [...] Em caso de perigo supremo e nos conflitos que surgem a propósito da propriedade jurídica de outrem, a existência pessoal tem um direito de necessidade que deve prevalecer. Não se trata apenas de equidade, mas de direito. [...]. É no presente que precisamos viver, o futuro não é absoluto e está exposto às contingências. Por isso, apenas a necessidade do presente pode justificar uma ação contrária ao direito, pois, se nos abstivéssemos de praticar a ação contrária ao direito, cometeríamos uma injustiça ainda mais grave, negando totalmente a existência da liberdade. [...] o homem que morre de fome tem o direito absoluto de violar a propriedade de um outro; ele viola a propriedade de um outro apenas em seu conteúdo limitado. No direito de necessidade extrema entende-se que ele não viola os direitos de um outro enquanto direito: o interesse volta-se apenas para um pedaço de pão; ele não trata o outro como pessoa privada de direitos. [...].

Trechos extraídos da obra Princípios da Filosofia do Direito (Ícone, 1997),

do filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), apresentando a filosofia legal, moral, social e política, defendendo que a lei provê a pedra angular do Estado moderno, a partir de uma discussão do conceito de livre arbítrio que só pode ser entendido no contexto da propriedade privada e relações, contratos, compromissos morais, vida familiar, economia, sistema legal e politeuma. Veja mais aqui.

 

Veja mais sobre:
A poesia de Fernando Pessoa aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

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OCTAEDRO DE JÚLIO CORTÁZAR
[...] É verdade que escrever de vez em quando me acalma, será por isso que há tanta correspondência de condenados à morte, quem sabe lá. Inclusive me diverte imaginar por escrito coisas que apenas pensadas de repete nos entopem a garganta, sem falar das glândulas lacrimais; nas palavras me vejo como se fosse outro, posso pensar qualquer coisa desde que o escreva logo em seguida, deformação profissional ou alguma coisa que começa a amolecer nas meninges. [...] ver-me já morto em seus olhos me tiraria esse resto de força com que posso falar-lhe e retribuir algum de seus beijos, com que continuo escrevendo apenas ela sai e começa a rotina das injeções e das palavrinhas simpáticas. [...] embora lhes doa e amaldiçoem esse absurdo de morrer jovem e em plena carreira, existe a reação que todos conhecemos, o gosto de tornar a entrar no metrô ou no carro, de tomar um banho de chuveiro e comer com fome e vergonha ao mesmo tempo, como negar a fome que se segue às noites em claro, o cheiro das flores do velório e os interminaveis cigarros, e os passeios pela calçada, uma espécie de forra que sempre se sente nesses momentos e que eu nunca me neguei porque teria sido hipócrita. [...].
Trecho de Liliana chorando, extraído da obra Octaedro (Civilização Brasileira, 1977), do escritor argentino de origem belga Julio Cortázar (1914-1984). Veja mais aqui.

A arte da pintora britânica Jenny Saville.

New Jersey Ballet Beauty and the BeastPeter and the Wolf. Mayo Performing Arts Center
 

PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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