A TERRA QUE SOU - Piso esse
chão da minha carne vermelha primitiva, porque dela sou e ela é em mim como as
águas, o fogo e os ventos, a seguir ambulante e visionário pela música da vida
e por ela levado de mãos dadas aos amigos invisíveis e desconhecidos, sobre a
terra que sou da minha pele fria e pálida que é o solo da minha epiderme escura
condenada, para que eu seja muitos senão todos no abrigo da minha mãe que sou
na comunhão dos afetos. Vou por esse chão que é meu céu ensolarado de nuvem
rara e zis estrelas, como quem não tem história e esqueceu o passado ao acordar
de manhã livre pássaro pelas estações, pra saber só do agora na alma ancestral
reinventada no sorriso incoerente e insensato pela perplexidade dos meus olhos que
tudo vêem no caos da areia movediça dos interesses que levam vivos e mortos à
exaustão. Sigo nesse chão que me alimenta e sou nele a raiz que desabrocha e
cresce planta pra doação dos frutos, porque sou eu e o outro mais tantos que
são em mim o que sou, o meu duplo multíplice no meio do turbilhão. É nesse chão
que vou e me perco a tomar e retomar a direção entre tantas na trilha de sons e
tons que me levam pro silêncio das respostas ocultas e que são nossas porque
pertencem a nós e só nos dizem respeito pelas perguntas que não calam e nos
espreitam como enigmas difusos e insólitos na unidade de tudo. Sou o que vai
nesse chão como quem leva no coração tudo que ele é e abriga. © Luiz Alberto
Machado. Veja mais aqui.
TERRA E LUA, DE FEDERICO GARCÍA LORCA
Fico com o transparente homenzinho
Que come os ovos da andorinha,
Fico com o menino desnudo
Que pisoteiam os bêbados de Brooklyn,
Com as criaturas mudas que passam sob os
arcos.
Com arroio de velas ansioso por abrir suas
mãozinhas.
Terra tão-somente. Terra.
Terra para as toalhas estremecidas,
Para a pupila viciosa da nuvem,
Para as feridas recentes e o úmido
pensamento.
Terra para tudo o que foge da terra.
Não é a cinza suspensa das coisas queimadas,
Nem os mortos que movem suas línguas sob as
árvores.
É a terra desnuda que bale pelo céu
E deixa atrás os grupos ligeiros de baleias.
É a terra alegríssima, imperturbável
nadadora,
A que eu encontro no menino e nas criaturas
que passam os arcos.
Viva a terra de meu pulso e do baile dos
fetos,
Que deixa às vezes no ar um duro perfil de
Faraó!
Fico com a mulher fria
Onde se queimam os musgos inocentes,
Fico com os bêbados de Brooklyn
Que pisam o menino nu;
Fico com os signos desgarrados
Da lenta comida dos ursos.
Mas então baixa a lua despenhada pelas
escadas,
Enfeitando as cidades de oleada celeste e
talco sensitivo
Enchendo os pés de mármore a planície sem
ângulos,
E esquecendo, sob as cadeiras, diminutas
gargalhadas de algodão.
Oh! Diana, Diana, Diana vazia!
Conexa ressonância em que a abelha
enlouquece.
Meu amor de passagem, trânsito, longa morte
degustada,
Nunca a pele ilesa de tua nudez fugidia.
É terra, meu Deus!, terra, o que venho
buscando.
Embuço o horizonte, latejo e sepultura.
É dor que se acaba e amor que se consome,
Torre de sangue aberto com as mãos queimadas.
Porém a lua subia e baixava as escadas,
Repartindo lentinhas dessangradas nos olhos,
Dando vassouradas de prata nos meninos dos cais
E apagando minha aparência no término do ar.
Terra e Lua, poema extraído da Obra Poética Completa (Martins
Fontes/EdUnB, 1989), de Federico Garcia
Lorca. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
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do que fui e não sou, O erotismo de Georges Bataille, a poesia de Federico Garcia Lorca, Os segredos
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VIDA VERDE VIVA
Imagem: Graffiti Arte A Natureza
Verde Vida, Viva!, pintura decorativa na Casa das Crianças, do artista
interventor Mario Band's.
Convém lembrar da vida aos olhos de todas as
manhãs.
Convém lembrar da terra dos pés de todas as cores, coisas, raças e crenças.
Convém lembrar de todos os ventos,
do rio de todos os peixes, todas as canoas, brejos, lagos e lagoas.
De todos os mares, oceanos e marés.
De todas as várzeas, todos os campos,
todos os quintais de todas as frutas e infâncias,
de todas as selvas dos bichos de todas as feras e mansas,
de todas as matas, de todas as flores e folhas,
de todas as aves, repteis e batráquios.
De tudo que brilha pra gente um outro sentido de vida.
Convém lembrar, acima de tudo, o direito de viver e deixar viver.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992. Veja mais Meio Ambiente aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
Convém lembrar da terra dos pés de todas as cores, coisas, raças e crenças.
Convém lembrar de todos os ventos,
do rio de todos os peixes, todas as canoas, brejos, lagos e lagoas.
De todos os mares, oceanos e marés.
De todas as várzeas, todos os campos,
todos os quintais de todas as frutas e infâncias,
de todas as selvas dos bichos de todas as feras e mansas,
de todas as matas, de todas as flores e folhas,
de todas as aves, repteis e batráquios.
De tudo que brilha pra gente um outro sentido de vida.
Convém lembrar, acima de tudo, o direito de viver e deixar viver.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992. Veja mais Meio Ambiente aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
PROGRAMA TATARITARITATÁ
Paz na Terra:
destaque pra obra do pintor, desenhista, escultor, professor e poeta Vicente
do Rego Monteiro.