TODOS NÓS SOMOS FABOS - Todos
nós somos Fabos: uns mais – a grande maioria esmagadora -, outros, um pouco
menos, mas nem tanto. Quer ver? Ante
meridiem. Acordou, derruba o barro e, depois do asseio, pé no mundo. Das
calçadas, pisando em ovos ou em falso, driblando desníveis e tolotes fedidos, quantas
casas e prédios: se contar cada uma delas com um morador pelo menos, são muitos
que estão, estiveram ou estarão defecando àquela hora. Nem dá pra contar, né? Mas
é hora do lanche, banguela no bucho até o almoço, mastiga e engole o que surgir
pela frente, enquanto segue digitígrado por tuias de imprestáveis restos que
emporcalham todo trajeto. Ao escapar das catingosas travessias, é hora de
forrar a barriga e, amolado os dentes, abocanha o que der para encher a pança,
às pressas, a digestão se vira, nada de sesta que a coisa não está pra
brincadeira. Simbora. Ah, o estômago embrulhado de antes, por precaução, hora
de aportar no vaso sanitário pra cheirar as bufas da tripa gaiteira. Post meridiem. Insolações e sede, labuta
retomada, tapeia as tripas com petiscos e merendas até chegar a hora da janta. Enquanto
isso conversa, discute, persuade, exaspera, contradiz, abre da parada com fiada
no miolo de pote, que ninguém é besta de comprar rixa num tempo desse, ora. Final
do expediente, ou lava o cansaço com aperitivos e tira-gostos, ou vai pra casa
cear como manda o figurino. Bandulho cheio é hora do ronco – e dos borborigmos previsíveis
com inhaca pra roubar o sono -, amanhã é sempre dia de branco, exceto domingos
e feriados que ninguém é cantiga de grilo pra emendar direto. Pois bem, a
contar pelos quase duzentos milhões de habitantes do Brasil, é merda demais. Ao
considerar que cada um excreta uma vez por dia, nem dá pra mensurar o tamanho
da cordilheira fecal. Às exceções, acredito, tem gente que basta ingerir algo,
corre logo pro amaro-bocão: pum, ploft. Afora outros que não aguentam sinal de
qualquer flatulência ou eructação, ou daqueles que necessitam evacuar no
retrete logo após cada uma das refeições. Vôte! Avalie, é bosta demais. Isso sem
contar os que pensam e falam – imagine Brasília com tanta discurseira -, quando
forçosamente conseguem articular uma ou duas ideias, o pensamento vira o produto
interno bruto das asneiras que são emitidas em voz alta, seja doctilóquio ou baixo
calão, em ambos os casos, não é outro senão cocô invisível. Assim o Brasil vai
findar a pior latrina! Juntando os dois, tenha certeza: todo mundo é vitimado
pela maior de todas as catástrofes – ademais, o que tem de cloaca podre por aí
não está no gibi! Agora a pergunta que não quer calar: desde que gente é gente,
o que é que mais faz na vida? Bem, há quem vá dizer que é trabalhar, dormir,
enrolar, se foder, se lascar, trepar, coçar os ovos, encher o saco, e por aí
vai. Mas veja só: se o distinto não estiver com escape entupido ou enturido com
uma desgraçada duma prisão de ventre, o que mais fazem os petulantes e chatos
de galocha que pinotam incólumes por aí todos os dias quando falam, pensam, ou
fazem alguma ou qualquer coisa? Ora, complete a frase: só falam... só pensam...
só fazem... por isso mesmo vivem na... e atrapalham a vida de... Agora diga: estou
ou não com a razão? Dá pra entender ou quer que eu desenhe? Pois é, todo mundo se acaba na privada, é ou não é? Somos todos
Fabos e exatamente por isso advogo que todos nós deveríamos usar um penico na
cabeça como alerta antes de pensar, falar ou fazer qualquer coisa, bem como pras eventuais precisões emergenciais que possam pegar a gente desprevenido! E vamos
aprumar a conversa! © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
A DONZELA-GUERREIRA DE WALNICE
[...] Quase toda sociedade
organizada tem seu dia de Maria Cebola, quando, uma vez por ano, os papeis se
invertem e as mulheres têm direito de perseguir e agarrar os homens, como
ocorre no Brejo Sexo nas histórias em quadrinhos de Al Capp, onde mora Li’l
Abner, o Ferdinando da versão brasileira. [...]
Trecho da obra A
donzela-guerreira: um estudo de gênero (Senac, 1997),
da ensaísta e crítica literária Walnice
Nogueira Galvão, abordando a representação da figura da
donzela-guerreira, que se faz presente no imaginário de culturas bastante
diferenciadas, da literatura à ópera, do cinema à história em quadrinhos, da
mitologia às religiões, do cristianismo ao candomblé, das culturas africanas às
tradições indígenas, caracterizando os atributos que definem os traços
marcantes dessa imagem cativante do herói que oscila entre papéis masculino e
feminino.
Veja
mais sobre:
E mais:
A
conversa das plantas, Poemas de Cruz e Sousa, Arquimedes de Siracusa, Memórias das
guerras do Brasil de Duarte de Albuquerque Coelho, a música
de Natalie Imbruglia, a pintura
de Hugo Pratt, a arte de Tom 14 & Orientação Sexual aqui.
Vamos
aprumar a conversa, Simulacros & simulação de Jean Baudrillard, O rato no muro de Hilda
Hilst, o cinema de Roger
Vadin & Brigitte Bardot, a música
de Grieg, Patricia Glatzl & Lígia Moreno, a poesia de Zulmira Ribeiro Tavares, a pintura de Manabu Mabe, Theodore Roussel & Nicolas
Poussin aqui.
Um poema
para Velta aqui.
Viagem
aos seios de Duília de Aníbal Machado, Teoria
da alienação de István Mészarós,
Semiologia da representação de André
Helbo, Erótica pornográfica de J.
J. Sobral, a música de Keith
Jarret, o cinema de Roberto Rossellini & Anna Magnani, Pigmaleão e Galatéia, a pintura de Almeida Junior & Jean-Léon Gérome aqui.
A rebelião
das massas de José Ortega y Gasset, a
poesia de Ascenso Ferreira, a música de Alexander Scriabin, A função do orgasmo de Wilhelm Reich, a pintura
de Renato Alarcão, a arte de Pablo
Garat, Orgazmo & O orgasmo de Esperantina aqui.
Para
quem vai & para quem vem, Marxismo & filosofia da Linguagem de Mikhail Bakhtin, A gaia ciência de Friedrich
Nietzsche, a música de Djavan, Fenomenologia & fenômeno de Armando Asti
Vera, a fotografia de Gal Oppido, a arte de João Evangelista Souza, Escritibas
Na Rua & Luciah Lopez, a poesia de Elciana Goedert & A pancada insólita
se alastra na culatra, viver aqui.
Se o
sonho pra se realizar está custoso demais, As origens da vida de Jules
Carles, Elementos da dialética de Alexander Soljenítsin, Suíte candanga de
Álvaro Henrique, Ser mulher de Gilka Machado, a fotografia de Camila Vedoveto,
A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, a arte de Fernando De La Rocque & Fernando
Nolasco, Aos futuros poetas de J. Martines Carrasco & As torturas
prazerosas de Quiba aqui.
Quando a
poluição torna o ar irrespirável, a vida vai pro beleleu, Como
vejo o mundo de Albert Einstein, Pluralidade cultural do Brasil de Manuel
Diégues Júnior, A língua exilada de Imre Kertész, Educação brasileira de Dermeval Saviani, A gaia ciência de Friedrich
Nietzsche, a música de Mafalda Veiga, a fotografia de Eustáquio Neves & Cida
Demarchi, a arte de aqui. Os
erradios catimbós de Afredo
Quem,
nunca aprendeu a discernir entre o que é e o que não é, jamais aprenderá a
votar, Barragem contra o Pacífico de Marguerite Duras, Tia
Zulmira & eu de Stanislaw Ponte Preta, A gaia ciência de Friedrich
Nietzsche, Combate à corrupção nas prefeituras do Brasil, a música de Miriam
Ramos, O conhecimento de Cipriano Carlos Luckesi, a arte de Lenora de Barros
& Luciah Lopez, a fotografia de Ed Freeman & O amor é tudo no clarão
dos dias e na escuridão das noites aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.
OFICIO DO VERSO DE BORGES
[...] Sempre que
folheava livros de estética, tinha a desconfortável sensação de estar lendo as
obras de astrônomos que nunca contemplavam as estrelas. Quero dizer, eles
escreviam sobre poesia como se a poesia fosse uma tarefa, e não o que é em
realidade: uma paixão e um prazer. Por exemplo, li com grande respeito o livro
sobre estética de Benedetto Croce, em que aprendi que poesia e linguagem são
uma "expressão". Ora, se pensamos na expressão de algo, tornamos a
cair no velho problema de forma e conteúdo; e se pensamos sobre a expressão de
nada em particular, isso de fato não nos rende nada. Assim, respeitosamente
recebemos essa definição e passamos adiante. Passamos à poesia; passamos à
vida. E a vida, tenho certeza, é feita de poesia. A poesia não é alheia — a
poesia, como veremos, está logo ali, à espreita. Pode saltar sobre nós a
qualquer instante.Ora, tendemos a fazer uma confusão corriqueira. Pensamos, por
exemplo, que se estudarmos Homero, ou a Divina comédia, ou Frei Luis de León,
ou Macbeth, estaremos estudando poesia. Mas os livros são somente ocasiões para
a poesia. Creio que Emerson escreveu em algum lugar que urna biblioteca é um
tipo de caverna mágica cheia de mortos. E aqueles mortos podem ser
ressuscitados, podem ser trazidos de volta à vida quando se abrem as suas
páginas.Falando sobre o bispo Berkeley (que, permitam-me lembrar, foi um
profeta da grandeza dos Estados Unidos), lembro que ele escreveu que o gosto da
maçã não estava nem na própria maçã — a maçã não pode ter gosto por si mesma —
nem na boca de quem come. E preciso um contato entre elas. O mesmo acontece com
um livro ou com uma coleção deles, uma biblioteca. Pois o que é um livro em si
mesmo? Um livro é um objeto físico num mundo de objetos físicos. É um conjunto
de símbolos mortos. E então aparece o leitor certo, e as palavras — ou antes, a
poesia por trás das palavras, pois as próprias palavras são meros símbolos —
saltam para a vida, e temos uma ressurreição da palavra [...]
Trecho de O
enigma da poesia, extraído da obra Esse
ofício do verso (Companhia das Letras, 2000), do
escritor, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino Jorge Luis Borges
(1899-1986). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
PAISAGEM
BRASILEIRA DE BARBOZA & BAZARIAN
Álbum Paisagem brasileira - flute
and piano music brazil (Meridian Records, 2000), da pianista Lidia
Bazzarian
& do flautista Marcelo Barboza, interpretando músicas de Camargo
Guarnieiri, Radamés Gnatali, Pattapio Silva, Francisco Braga, Osvaldo Lacerda,
José Siqueira e Brenno Blauth
A
ESCULTURA DE HOHBERGER
A arte do escultor alemão Peter
Hohberger.