quinta-feira, junho 15, 2017

OFICIO DO VERSO DE BORGES, A DONZELA-GUERREIRA DE WALNICE, PAISAGEM DE BARBOZA & BAZARIAN, PETER HOHBERGER & HAROUKI ZOUMBI

TODOS NÓS SOMOS FABOS - Todos nós somos Fabos: uns mais – a grande maioria esmagadora -, outros, um pouco menos, mas nem tanto. Quer ver? Ante meridiem. Acordou, derruba o barro e, depois do asseio, pé no mundo. Das calçadas, pisando em ovos ou em falso, driblando desníveis e tolotes fedidos, quantas casas e prédios: se contar cada uma delas com um morador pelo menos, são muitos que estão, estiveram ou estarão defecando àquela hora. Nem dá pra contar, né? Mas é hora do lanche, banguela no bucho até o almoço, mastiga e engole o que surgir pela frente, enquanto segue digitígrado por tuias de imprestáveis restos que emporcalham todo trajeto. Ao escapar das catingosas travessias, é hora de forrar a barriga e, amolado os dentes, abocanha o que der para encher a pança, às pressas, a digestão se vira, nada de sesta que a coisa não está pra brincadeira. Simbora. Ah, o estômago embrulhado de antes, por precaução, hora de aportar no vaso sanitário pra cheirar as bufas da tripa gaiteira. Post meridiem. Insolações e sede, labuta retomada, tapeia as tripas com petiscos e merendas até chegar a hora da janta. Enquanto isso conversa, discute, persuade, exaspera, contradiz, abre da parada com fiada no miolo de pote, que ninguém é besta de comprar rixa num tempo desse, ora. Final do expediente, ou lava o cansaço com aperitivos e tira-gostos, ou vai pra casa cear como manda o figurino. Bandulho cheio é hora do ronco – e dos borborigmos previsíveis com inhaca pra roubar o sono -, amanhã é sempre dia de branco, exceto domingos e feriados que ninguém é cantiga de grilo pra emendar direto. Pois bem, a contar pelos quase duzentos milhões de habitantes do Brasil, é merda demais. Ao considerar que cada um excreta uma vez por dia, nem dá pra mensurar o tamanho da cordilheira fecal. Às exceções, acredito, tem gente que basta ingerir algo, corre logo pro amaro-bocão: pum, ploft. Afora outros que não aguentam sinal de qualquer flatulência ou eructação, ou daqueles que necessitam evacuar no retrete logo após cada uma das refeições. Vôte! Avalie, é bosta demais. Isso sem contar os que pensam e falam – imagine Brasília com tanta discurseira -, quando forçosamente conseguem articular uma ou duas ideias, o pensamento vira o produto interno bruto das asneiras que são emitidas em voz alta, seja doctilóquio ou baixo calão, em ambos os casos, não é outro senão cocô invisível. Assim o Brasil vai findar a pior latrina! Juntando os dois, tenha certeza: todo mundo é vitimado pela maior de todas as catástrofes – ademais, o que tem de cloaca podre por aí não está no gibi! Agora a pergunta que não quer calar: desde que gente é gente, o que é que mais faz na vida? Bem, há quem vá dizer que é trabalhar, dormir, enrolar, se foder, se lascar, trepar, coçar os ovos, encher o saco, e por aí vai. Mas veja só: se o distinto não estiver com escape entupido ou enturido com uma desgraçada duma prisão de ventre, o que mais fazem os petulantes e chatos de galocha que pinotam incólumes por aí todos os dias quando falam, pensam, ou fazem alguma ou qualquer coisa? Ora, complete a frase: só falam... só pensam... só fazem... por isso mesmo vivem na... e atrapalham a vida de... Agora diga: estou ou não com a razão? Dá pra entender ou quer que eu desenhe? Pois é, todo mundo se acaba na privada, é ou não é? Somos todos Fabos e exatamente por isso advogo que todos nós deveríamos usar um penico na cabeça como alerta antes de pensar, falar ou fazer qualquer coisa, bem como pras eventuais precisões emergenciais que possam pegar a gente desprevenido! E vamos aprumar a conversa! © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

A DONZELA-GUERREIRA DE WALNICE
[...] Quase toda sociedade organizada tem seu dia de Maria Cebola, quando, uma vez por ano, os papeis se invertem e as mulheres têm direito de perseguir e agarrar os homens, como ocorre no Brejo Sexo nas histórias em quadrinhos de Al Capp, onde mora Li’l Abner, o Ferdinando da versão brasileira. [...]
Trecho da obra A donzela-guerreira: um estudo de gênero (Senac, 1997), da ensaísta e crítica literária Walnice Nogueira Galvão, abordando a representação da figura da donzela-guerreira, que se faz presente no imaginário de culturas bastante diferenciadas, da literatura à ópera, do cinema à história em quadrinhos, da mitologia às religiões, do cristianismo ao candomblé, das culturas africanas às tradições indígenas, caracterizando os atributos que definem os traços marcantes dessa imagem cativante do herói que oscila entre papéis masculino e feminino.

Veja mais sobre:
Fabos & Fabos (comum para todos os gêneros) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

E mais:
A conversa das plantas, Poemas de Cruz e Sousa, Arquimedes de Siracusa, Memórias das guerras do Brasil de Duarte de Albuquerque Coelho, a música de Natalie Imbruglia, a pintura de Hugo Pratt, a arte de Tom 14 & Orientação Sexual aqui.
Vamos aprumar a conversa, Simulacros & simulação de Jean Baudrillard, O rato no muro de Hilda Hilst, o cinema de Roger Vadin & Brigitte Bardot, a música de Grieg, Patricia Glatzl & Lígia Moreno, a poesia de Zulmira Ribeiro Tavares, a pintura de Manabu Mabe, Theodore Roussel & Nicolas Poussin aqui.
A interpretação dos sonhos de Freud & Semiologia & comunicação lingüística de Eric Buyssens aqui.
Um poema para Velta aqui.
Viagem aos seios de Duília de Aníbal Machado, Teoria da alienação de István Mészarós, Semiologia da representação de André Helbo, Erótica pornográfica de J. J. Sobral, a música de Keith Jarret, o cinema de Roberto Rossellini & Anna Magnani, Pigmaleão e Galatéia, a pintura de Almeida Junior & Jean-Léon Gérome aqui.
A rebelião das massas de José Ortega y Gasset, a poesia de Ascenso Ferreira, a música de Alexander Scriabin, A função do orgasmo de Wilhelm Reich, a pintura de Renato Alarcão, a arte de Pablo Garat, Orgazmo & O orgasmo de Esperantina aqui.
Para quem vai & para quem vem, Marxismo & filosofia da Linguagem de Mikhail Bakhtin, A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, a música de Djavan, Fenomenologia & fenômeno de Armando Asti Vera, a fotografia de Gal Oppido, a arte de João Evangelista Souza, Escritibas Na Rua & Luciah Lopez, a poesia de Elciana Goedert & A pancada insólita se alastra na culatra, viver aqui.
Se o sonho pra se realizar está custoso demais, As origens da vida de Jules Carles, Elementos da dialética de Alexander Soljenítsin, Suíte candanga de Álvaro Henrique, Ser mulher de Gilka Machado, a fotografia de Camila Vedoveto, A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, a arte de Fernando De La Rocque & Fernando Nolasco, Aos futuros poetas de J. Martines Carrasco & As torturas prazerosas de Quiba aqui.
Quando a poluição torna o ar irrespirável, a vida vai pro beleleu, Como vejo o mundo de Albert Einstein, Pluralidade cultural do Brasil de Manuel Diégues Júnior, A língua exilada de Imre Kertész, Educação brasileira de Dermeval Saviani, A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, a música de Mafalda Veiga, a fotografia de Eustáquio Neves & Cida Demarchi, a arte de Evelyn Hamilton & Os erradios catimbós de Afredo aqui.
Quem, nunca aprendeu a discernir entre o que é e o que não é, jamais aprenderá a votar, Barragem contra o Pacífico de Marguerite Duras, Tia Zulmira & eu de Stanislaw Ponte Preta, A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, Combate à corrupção nas prefeituras do Brasil, a música de Miriam Ramos, O conhecimento de Cipriano Carlos Luckesi, a arte de Lenora de Barros & Luciah Lopez, a fotografia de Ed Freeman & O amor é tudo no clarão dos dias e na escuridão das noites aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.

OFICIO DO VERSO DE BORGES
[...] Sempre que folheava livros de estética, tinha a desconfortável sensação de estar lendo as obras de astrônomos que nunca contemplavam as estrelas. Quero dizer, eles escreviam sobre poesia como se a poesia fosse uma tarefa, e não o que é em realidade: uma paixão e um prazer. Por exemplo, li com grande respeito o livro sobre estética de Benedetto Croce, em que aprendi que poesia e linguagem são uma "expressão". Ora, se pensamos na expressão de algo, tornamos a cair no velho problema de forma e conteúdo; e se pensamos sobre a expressão de nada em particular, isso de fato não nos rende nada. Assim, respeitosamente recebemos essa definição e passamos adiante. Passamos à poesia; passamos à vida. E a vida, tenho certeza, é feita de poesia. A poesia não é alheia — a poesia, como veremos, está logo ali, à espreita. Pode saltar sobre nós a qualquer instante.Ora, tendemos a fazer uma confusão corriqueira. Pensamos, por exemplo, que se estudarmos Homero, ou a Divina comédia, ou Frei Luis de León, ou Macbeth, estaremos estudando poesia. Mas os livros são somente ocasiões para a poesia. Creio que Emerson escreveu em algum lugar que urna biblioteca é um tipo de caverna mágica cheia de mortos. E aqueles mortos podem ser ressuscitados, podem ser trazidos de volta à vida quando se abrem as suas páginas.Falando sobre o bispo Berkeley (que, permitam-me lembrar, foi um profeta da grandeza dos Estados Unidos), lembro que ele escreveu que o gosto da maçã não estava nem na própria maçã — a maçã não pode ter gosto por si mesma — nem na boca de quem come. E preciso um contato entre elas. O mesmo acontece com um livro ou com uma coleção deles, uma biblioteca. Pois o que é um livro em si mesmo? Um livro é um objeto físico num mundo de objetos físicos. É um conjunto de símbolos mortos. E então aparece o leitor certo, e as palavras — ou antes, a poesia por trás das palavras, pois as próprias palavras são meros símbolos — saltam para a vida, e temos uma ressurreição da palavra [...]
Trecho de O enigma da poesia, extraído da obra Esse ofício do verso (Companhia das Letras, 2000), do escritor, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino Jorge Luis Borges (1899-1986). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

PAISAGEM BRASILEIRA DE BARBOZA & BAZARIAN
Álbum Paisagem brasileira - flute and piano music brazil (Meridian Records, 2000), da pianista Lidia Bazzarian & do flautista Marcelo Barboza, interpretando músicas de Camargo Guarnieiri, Radamés Gnatali, Pattapio Silva, Francisco Braga, Osvaldo Lacerda, José Siqueira e Brenno Blauth

A ESCULTURA DE HOHBERGER
A arte do escultor alemão Peter Hohberger.