sexta-feira, junho 16, 2017

BLOOMSDAY DE JAMES JOYCE, CANÇÃO DO AMOR DE CECÍLIA MEIRELES, O SEXO DE CATRERINE MILLET, A ARTE DE ANN MASSEY & O TERCEIRO DIA DE LUCIAH LOPEZ

É NELA QUE O SONHO É REAL – Imagem: arte da poeta, artista visual e blogueira Luciah Lopez. - Sonhava e o sonho é dela de mãos dadas nas calçadas que serviam de passarela para a divisa do real e a fantasia, porque nela sou real atravessando a rua como quem dança na faixa de pedestres com seus semáforos reluzentes e esverdeados às nossas juras mais apaixonadas. No sonho dela eu vivo o que nela é real quando eu vou nela pelas esquinas que nos levam para o panorama paradisíaco da natureza com suas quedas d’águas pros rios dos nossos desejos de sermos a comunhão do mar dos nossos prazeres. E o sonho é ela pelos becos que estreitamos nossos corpos às avenidas de estrelas forrando nosso chão sideral pela infinitude do amor mais que a paixão. É nela os sonhos pelas paredes mormaçadas das tardes fagueiras que servem de colchão vertical pras traquinagens do sarro adolescente no escurinho do cinema de nossas cenas sonhadas e cometidas em carne viva coração sexo adentro. É dela que recolho o sonho pelos muros da infância renascida pra gente pular no quintal do vizinho e colher o fruto da jaqueira a subir nos galhos e a nos lambuzar da gula do gozo embaixo da saia de folhas pelas mãos nas coxas com visgo de fruta e sêmen. O meu sonho é o sonho dela na alucinação da vigília por noites em claro e olhos a fio na rebeldia de estar cônscio da lâmina das horas estancando a sangria movediça dos dias e desfrutar do prazer de estar acordado nela enquanto viva, enquanto dorme, enquanto poeta que me encanta e me faz menino nos seus braços de amante amada. O sonho nela é a vida que sou por ser ela o real sonho de viver pelas curvas da lua que o sol adormece entre os seios sobejados de gula na saliva com o sabor das cítricas manhãs nos ventres ebrifestivos da nossa ruidosa entrega de amor. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

CANÇÃO DO AMOR-PERFEITO
Eu vi o raio de sol 
beijar o outono.
Eu vi na mão dos adeuses
o anel de ouro.
Não quero dizer o dia.
Não posso dizer o dono.
Eu vi bandeiras abertas
sobre o mar largo
e ouvi cantar as sereias.
Longe, num barco,
deixei meus olhos alegres,
trouxe meu sorriso amargo.
Bem no regaço da lua,
já não padeço.
Ai, seja como quiseres,
Amor-Perfeito,
gostaria que ficasses,
mas, se fores, não te esqueço
.
Canção do amor-perfeito, poema extraído da obra Retrato Natural (1949 - Nova Fronteira, 1983), da escritora, pintora, professora e jornalista Cecília Meireles (1901-1964). Veja mais aqui e aqui.

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O amor & vamos aprumar a conversa, A arte de amar de Erich Fromm, Desastres de amor de Dalton Trevisan, Abajur lilás de Plinio Marcos, Limeriques e nonsense de Edward Lear, o cinema de Claude Chabrol & Isabelle Huppert, a música de Bebel Gilberto, a pintura de Dante Gabriel Rossetti & Coles Phillips, a arte de Katharine Hepburn & Programa Tataritaritatá aqui.
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A VIDA SEXUAL DE CATHERINE M.
[...] Era junho ou julho, fazia calor e alguém sugeriu que tirássemos a roupa e mergulhássemos juntos numa grande fonte que ficava no jardim. Eu já passava a camiseta pela cabeça quando escutei a voz de André, um pouco abafada, exclamando que sua "namorada" não seria a última a mergulhar. Há muito tempo não usava mais roupas de baixo (apesar de minha mãe ter me obrigado a usar, desde os treze ou quatorze anos, sutiã e cinta-liga com o pretexto de que uma mulher "devia ter postura"). O fato é que, imediatamente, fiquei quase nua. A outra moça começou também a tirar a roupa e, é claro, ninguém entrou na água. O jardim era devassado e, por essa razão, as imagens que lembro em seguida são as do quarto, eu na concavidade de uma cama alta de ferro forjado vendo, através das barras, apenas as paredes muito iluminadas, imaginando a outra moça estirada sobre um divã num canto. André foi o primeiro a me comer, demorada e tranquílamente como costumava fazer. Em seguida, interrompeu bruscamente. Uma inefável inquietação tomou conta de mim, no tempo justo de vê-lo afastar-se, andando lentamente, os quadris curvados, em direção a outra moça. Ringo veio substituí-lo em cima de mim, enquanto o terceiro rapaz, que era mais reservado e falava menos que os outros, acotovelado perto de nós, passava a mão livre sobre a parte superior do meu corpo. O corpo de Ringo era muito diferente do de André, e eu gostava mais dele. Ringo era maior, mais nervoso, era desses que separam o movimento da bacia do resto do corpo, que metem sem se deitar totalmente, o tronco sustentado pelos braços. Mas André me parecia um homem mais maduro (de fato, mais velho, ele tinha lutado na Argélia), sua carne era um pouco mais flácida e seus cabelos já um pouco ralos, e eu achava agradável adormecer enroscada nele, com as nádegas coladas em sua barriga, dizendo-lhe que eu tinha as medidas certas para aquilo. Ringo se retirou e o rapaz, que antes apenas observava e me acariciava, tomou o lugar dele. Eu estava há algum tempo com uma terrível vontade de urinar. Tive de ir ao banheiro e o rapaz tímido ficou desapontado. Quando voltei, ele estava com a outra menina. [...] Em Paris, tinha Claude, o amigo com quem fiz amor pela primeira vez, que parecia estar apaixonado por uma jovem burguesa capaz de lhe dizer frases poéticas do tipo "veja como meus seios estão doces esta noite", sem permitir que ele fosse mais longe. [...] Claude tinha um belo pau, reto, bem proporcionado, e as primeiras trepadas me deixaram na lembrança um tipo de entorpecimento,como se eu tivesse ficado intumescida e obturada por ele. Quando André abriu a braguilha na altura do meu rosto, fiquei surpreendida ao descobrir um objeto menor e também mais maleável porque, ao contrário de Claude, ele não era circuncidado. O pau com a cabeça imediatamente à mostra se dirige ao olhar e provoca excitação por sua aparência de monolito liso, enquanto o vai-e-vem do prepúcio, revelando a glande como se fosse uma grande bolha de sabão na superfície da água, suscita uma sensualidade mais fina, sua flexibilidade se propagando em ondas até o orifício do corpo do parceiro. O pau de Ringo era mais do tipo do de Claude, o do rapaz tímido mais como o de André, e o do estudante pertencia a uma categoria que eu só reconheceria mais tarde, a dos que, sem ser particularmente grandes, proporcionam à mão uma imediata sensação de consistência, talvez em razão de uma camada cutânea mais densa. Eu aprendia que cada sexo suscitava de minha parte gestos e até comportamentos diferentes. Da mesma maneira que, a cada vez, era necessário adaptar-me a outra epiderme, outra carnadura, outra pilosidade, outra musculatura (não é preciso dizer, por exemplo, que a maneira de agarrar um tronco que nos cobre varia segundo sua conformação: ele pode ser liso como uma pedra, pesado e com algum veio ou ainda os que impedem a visão da genitália. É, também, evidente que estas visões não repercutem no imaginário da mesma forma, e, assim, retrospectivamente, parece que minha tendência era de ser mais submissa aos corpos mais magros, como se eu os considerasse verdadeiramente machos [...].
Trechos extraídos da obra de autoficção A vida sexual de Catherine M (Asa, 2001), da escritora, editora, curadora e crítica de arte francesa Catherine Millet, expondo publicamente os detalhes de sua movimentada vida sexual, ao descrever de forma explícita uma irrefreável sequência de relações sexuais que envolviam desconhecidos, grupos de até 150 pessoas e os mais variados cenários, entre clubes, beiras de estradas, praças públicas ou casas de amigos, reunindo dois estilos: a de autobiografia e ficção. A obra tornou-se um marco da liberdade feminina, ao abordar as relações estáveis e as crises de ciúmes vividas pela escritora em paralelo às aventuras sexuais.

O TERCEIRO DIA DA ARTE DE LUCIAH LOPEZ
[ ! ] através da penumbra o meu olhar sucumbia às correntes obscuras encerrando mais um dia e tampouco o sono era capaz de manter o silêncio nos meus pensamentos. Naturalmente a sua imagem era resgatada de cada espectro projetado na parede nua e remetido a alguma aventura em vestes de herói tupiniquim montado num pássaro azul. Eu já havia perdido o habito de sonhar, me considerando mais uma hipócrita extravagante representando a difícil e árdua tarefa de caminhar em solo adulto. Ah, como era repulsiva e empobrecedora essa caminhada diária com ares de mandona - até os meus ossos doíam - então, em meio a uma tarde morna (onde eu, bem que devia estar lendo Joyce, Whitman ou Bukowski), aconteceu a renovação da minha existência - e eu, já acostumada a uma boa dose de solidão, me rebelei a ela e passei a existir sobremaneira encantada com a sua presença espontânea na minha vida. Há uma amável tranquilidade entre você e eu e isso não nos deixa indiferentes às necessidades puramente carnais, contudo, o que está em nós se renova a cada dia ( e noite sucessivamente) e assim será.
Terceiro dia, poema/imagens da poeta, artista visual e blogueira LuciahLopez.

A arte da artista estadunidense Ann James Massey.