O QUE É DE
SONHO QUANDO REAL – Imagem: La
marcha de la humanidad (1971), do pintor mexicano David Alfaro Siqueiros (1896-1974). - Eis que um dia me encontro no
topo de uma colina. Ali chegara para refletir sobre tudo que ocorrera em minha
vida e, na caminhada, me deparei com um território desconhecido que se
descortinava diante de mim: estava eu além do tempo e do espaço. Fechei os
olhos e segui adiante levado pela ideia de que haveria um pote de ouro na ponta
do arco-íris, aquele ao qual sempre busquei e nunca encontrei. Não tencionava
encontrá-lo ali, apenas sabia. E quando dei por mim estava diante de um abismo.
Parei, olhei ao redor e percebi que não havia como voltar. Descobri-me só e
longe de tudo. Não sabia o que fazer, apenas estava cônscio da minha
inutilidade diante da imensidão da noite. Todas as minhas convicções foram
minadas, não sabia nada e, diante disso tudo, fui incorporando uma nova forma
de entendimento, uma experiência fenomenológica indizível que se fazia
irrefutável. Descobri-me parte do Criador, intimamente integrado à sua essência
e a de todos os seres vivos e inanimados do Universo. Eu me sentia infinito,
universal. Sentia que do meu interior uma luz emanava e comungava com o Sol em
plena noite estrelada. Descobria pela primeira vez a verdadeira alegria e a
verdadeira paz. Era como se tivesse adquirido uma sabedoria e um discernimento
incomparáveis. Assumia a vida ativa, não mais me alienando da realidade, e com o
coração preenchido por um amor que me tornava íntimo de tudo e acima de todas
as aparências e formas do mundo. Havia agora uma aspiração da virtude pelas
ações, concebendo o divino no meu interior. E tudo via sem que precisasse dos
olhos abertos, e tudo ouvia sem que precisasse dos ouvidos aguçados, e tudo tocava
sem que precisasse das mãos para alcançar, e todos os sabores sem que tivesse
que abrir a boca e todos os aromas sem que precisasse usar do meu nariz, e tudo
fiquei sabendo sem que precisasse saber de nada. E tudo era ao mesmo tempo
divino, angélico e paradisíaco, congregando todos os opostos que se mostravam antagônicos
e, de repente, partícipes de uma mesma manifestação convergente. Incomodado
pelo desconforto de tudo que presenciava, aos poucos me adaptei, empreendendo
uma nova caminhada pelo desconhecido. Tive a compreensão do abismo e, ao invés
do desejo de morte, fui imbuído de novos e estimulantes pensamentos: a ciência sobre
o meu relacionamento com o Universo. Aí, uma voz poderosa me falou e logo
percebi que a humanidade inteira ouvia atentamente lá embaixo. Eu entendia cada
sílaba pronunciada, mas os demais entendiam diferente e não exatamente o que
era dito, como se equivocassem do que estava sendo dito. Quando a voz
silenciou, tentei explicar à multidão e não me entenderam. Insisti e não me
ouviram, sem conseguir meu intento, deram-me as costas. Chamei a todos, fui
ignorado. E mais me esforcei para que me ouvissem e já não havia mais ninguém. Fiquei
só e quando acordei não estava decepcionado, apenas compreendi que cada qual
entende o que ouve ou o que sente à sua maneira. © Luiz Alberto Machado. Veja
mais aqui.
Curtindo o álbum Música de Câmara (LAMI/USP,
2003), da pianista e compositora brasileira Marisa Rezende.
Veja mais sobre:
O amor – Crônica de amor por ela, Rabindranath Tagore, Johannes Brahms,
Virgilio, Thomas Hardy, Wong Kar-Wai, Marin Alsop, Maggie Cheung, Corina Chirila, Lenilda Luna,
Antonio Rocco, Cultura Pós-Moderna & Commedia dell’arte aqui.
E mais:
Nefertiti & Todo dia é dia da mulher aqui.
Keith Jarret, Carlos Saura, Christian Bernard, Isaac
Newton, Casimiro de Abreu, Julio Hübner, Mia Maestro & A lenda criação no
gênese africano aqui.
Por um novo dia, Herminio Bello de Carvalho, Ismael Nery,
Brian Friel, Paolo Sorrentino, Julia Lemertz, J. R. Duran, Rachel Weisz, Iremar Marinho, Bruno
Steinbach, O papel do
professor e a sua formação na prática pedagógica aqui.
Paul Ricoeur & Fenomenologia, O Tao da Educação,
Milton Nascimento, Psicodrama, Adriano Nunes, Roney Bunn, Direito &
Trabalho aqui.
&
DESTAQUE: A MÁSCARA DE YUKIO MISHIMA
[...] Estava
sentindo a urgência de começar a viver. Começar a viver minha verdadeira vida?
Mesmo se fosse para ser pura máscara e não a minha vida absolutamente, ainda
assim chegara o tempo em que eu devia dar a partida, devia arrastar meus
pesados pés para a frente. [...] Por que as coisas eram tão erradas assim? As
perguntas que eu me fazia desde menino um sem-número de vezes subiram novamente
a meus lábios. Por que todos nós somos oprimidos pelo dever de destruir tudo,
mudar tudo, confiar tudo à impermanência? É a esse dever desagradável que o
mundo chama vida? Ou sou eu o único para quem isso é um dever? [...].
Trechos
extraídos da obra Confissões de uma máscara (Companhia das Letras, 2004), do premiado
escritor e dramaturgo japonês Yukio
Mishima (1925-1970), contando sobre as experiências de um jovem
que descobre sua homossexualidade e forçado a ocultar sua opção, reflete sobre
as diferenças entre paixão e sexo.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do pintor mexicano David Alfaro Siqueiros (1896-1974).
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra: Paz (1961), do pintor mexicano
David Alfaro Siqueiros (1896-1974)
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.