sábado, janeiro 07, 2017

SONYA BACH, UMBERTO BOCCIONI, MARIANA BELTRAME, PÉ NA FRENTE & ATRÁS


GATO ESCALDADO PRA SE ENTURMAR É UM PÉ NA FRENTE E OUTRO ATRÁS - Imagem: The Street Enters the House (1911), do pintor e escultor do Futurismo italiano Umberto Boccioni (1882-1916) - Nunca me enquadrei em nada, sempre um peixe fora d’água. Na escola primária eu era o mais novo e isso até os anos do ginasial, sempre caçula. Como não havia ninguém na minha idade, nada de patota, turminha ou clube que fosse, não conseguia me arranchar em trupe que fosse. Um ou outro que eu podia privar da amizade e que duraram até o tempo do colegial quando casei aos quinze. Como comecei a trabalhar aos dez, quando virei moleque namorador, escapulia aqui e ali dos namoricos até me enclausurar de vez e passar a ser um sujeito caseiro metido às leituras, audições musicais e bebericagens ilimitadas. Alguns outros desenturmados que faziam comigo temporárias duplas ou trios, nada em definitivo; excetuavam-se os mais afinados com a música, literatura ou teatro que, no meio de idas e vindas, com esses mantive amizades um tanto duradouras, mas nada que se diga assim de firme. Entre Palmares e Recife eu escapulia dos grupos, tendo oportunidade de me associar, por exemplo, com a turma da Bagaço, um grupo teatral palmarense – o Terra -, um partido político que entrei porque tinha a perspectiva socialista e, como não vingou, dele saí como quem foi ali e não voltou mais e etc e tal. Recebia convites praquilo ou praqueloutro, nunca mantendo assiduidade a nada, sempre chegando atrasado ou prometendo chegar, fato que me levou a ser tratado por farrapeiro. Evidente que procurava atender a todos os convites, porém quando tomava pé do que se tratava, percebia que não tinha nada a ver comigo, apenas mais um número na composição e pra coisas que eu jamais seria compatível. Sempre fui avesso a formalidades, condição adquirida na minha primeira relação empregatícia no cartório do meu pai: eu saía antes de chegar. Depois fui bancário e quase morria de tédio, tendo de voltar pros afazeres familiares. Aí virei radialista, coisa mais a ver comigo. Entretanto, por conta das oligarquias que comandam a imprensa brasileira, virei voluntário free lancer, atuando aqui e ali em emissoras, revistas e jornais, não antes passar por experiências de executivo nas áreas automobilística e alimentícia, razão pela qual, depois dessas últimas, me tornei integrado ao mercado informal da economia brasileira: mais um pro batalhão de reserva desse Brasilzão véio, arrevirado e de porteira escancarada. Melhor assim: se é pra me matar de trabalhar, melhor pra mim mesmo. Assim fiz e toda vez que procuro me envolver com relacionamentos grupais, nunca dá certo. Esse desenlace, acho, se deve pela minha maneira de cair de cabeça e vestir a camisa 100% em tudo, quando dos outros só conseguia detectar blocos do eu sozinho e autoritarismo, me dá isso, faz aquilo e haja cacunda pra muitos descarados se atreparem. Comigo mais não, cara pálida. Ou eu não tinha ainda aprendido a lidar comigo mesmo e os outros, ou não era sociável o suficiente, reduzindo-me a um ditador descarado que nunca me dei conta. Por isso devo ser uma companhia para lá de desagradável, sempre desconfortável e cheio de pernas porque papo aqui e ali com quem quer que seja, quase inevitavelmente ocorre a rota de colisão. Não que eu me mantenha firme em posições, sou flexível além do possível – penso eu com todas as vírgulas -, porém tem certas coisas que não dá pra fazer concessão num mundo repleto de trampolinagens e cafajestadas – sei do lado que a corda arrebenta na hora do quiprocó, experiência fala mais alto. Além do mais, dois bicudos não se beijam e remédio de doido é outro na porta, talvez as pessoas não estejam dispostas a ser tão malucas como eu sou de cara lisa, nem prontas para riscos de loucuras ainda não descobertas. E para evitar isso, prefiro manter a minha paz e a dos outros, não me metendo mais do que o permitido e dialogando até perceber o fim da paciência alheia. Fico na minha, avesso a tudo que seja hierárquico, exclusivista ou excludente. Sou da mundiça, afianço, do tipo de leitor que traça sem critérios prévios e sem papas na língua, curto as experiências e fotografo com a minha feiúra tudo que tiver pela frente; se valeu, depois vejo no crivo do pente fino; senão, lata de lixo é pra isso mesmo: coisas imprestáveis. No mais, vamos aprumar a conversa & tataritaritatá! .© Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.


Curtindo o talento musical da pianista sul coreana Sonya Bach.

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