PRA QUEM SÓ VÊ SUPERFÍCIE,
TODO RIO É SEMPRE RASO – Imagem: Le luxe
(1979), do artista plástico modernista português Júlio Pomar. - Quando Zé
Corninho defendia algum ponto de vista, Robimagaiver caía de sola aos
desaforos: - Isso é um bicho ré-pra-trás da gota! E tome conversa mole. Não havia
entendimento entre ambos, viam as mesmas coisas de formas diferentes. E piorava
mais quando no alinhavado dos argumentos, um deles, sem querer, admitia o que
era a proposta do outro, quando o adversário já estava quase propenso a seguir
o ponto de vista do primeiro. Quer dizer, discordavam mesmo trocando de
posição, parecendo mais que o que valia era a discussão jogando conversa fora,
só miolo de pote. O converseiro aumentava a ponto de ter de cobrar de um
terceiro pra ver quem estava certo ou errado. Isso dava puxando Doro pelo cotovelo
para a prova dos nove. Ao invés de optar por um ou por outro, ambos eram
depreciados porque este julgava ser o mais sabido do trio. Aí, já viu, a
celeuma pegava fogo. Cada qual dono da sua razão. Mas como a discussão vira
corda de guaiamum, trocentos outros eram envolvidos e cada qual tomava partido
por um ou outro, aumentando o rol das acalorado dos debates irrisórios. O que
valia era encompridar a remoeta. Ocorria que quem engrossasse o caldo defendia
parcialmente o seu escolhido, concordando em parte com o opositor. Cuma? Era. Porém,
como todos discordavam no geral de todos, cada qual que acrescentasse um
detalhe para destruir o argumento alheio. Trocando em miúdos: ninguém se
entendia, quando concordava nisso, discordava naquilo e nada de consenso. Pano pras
mangas do tirinete. Dissenso instalado, a última palavra cabia sempre ao doutor
Zé Gulu que, por sua vez, fazia uma careta das mais repelentes em razão da
pouca monta do discutido, beirando o inútil quando não o ridículo. Abusavam da
sua paciência e num esforço para lá de gigantesco, ele procurava explicar aos
debatedores que tudo estava certo segundo o ponto de vista de cada um, ao mesmo
tempo, todos estavam errados sob o prisma aprofundado no detalhadamente. Aí que
o troço saía do padrão da tolerância para o blábláblá inócuo. Se as
insatisfações eram parciais, viravam generalizadas e o douto tinha que se
esforçar para não cair na pilhéria: - Pros donos da razão, sempre acham que estão
certos quando estão redondamente enganados. Todos os olhares de interrogações
na sua direção. – Cada qual se acha dono da verdade e o que pensam que é certo
não vale um tostão furado. Todos só de soslaio na desconfiança: onde esse cara
quer chegar, hem? Aí ele derramou erudição provando por a + b que isso não é
aquilo e que não se pode colocar no mesmo saco para formar um conjunto
desgraçado coisas completamente adversas e nenhuma correspondência entre os
objetos. O que estava em discussão era uma misturada de alhos com bugalhos,
mais parecendo que Jesus e Zé Pilintra era uma pessoa só, dado o puxa e encolhe
da conversa, apesar dos confrontos de pontos de vista. Discordavam quando
concordavam, e quando beiravam o entendimento, retomavam o que já havia sido
superado para trazer à tona como se fosse coisa nova, botando novas lenhas no
que já estava pra lá de tostado. – Vocês desdizem o dito como se desfizessem
todo acertado. Trocando em miúdos: vocês só querem arengar. E arrematou: - Por
isso digo: quem só vê superfície todo rio é raso. Vá lá e morra afogado com
suas convicções. E viva o Dia Internacional da Paz! © Luiz Alberto Machado.
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Curtindo o talento musical da premiada
violinista uzbeque Maria Azova.
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Convite no Crônica de amor por ela, Zygmunt Bauman, Sérgio Porto, Friedrich Hölderlin, Oswald de Andrade, George Gershwin, Anaïs
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&
DESTAQUE: A GLOBALIZAÇÃO DE BAUMAN
[...] As tentativas de
mitigar a agressão tribal pelas novas "ações policiais globais" foram
até aqui inconclusivas, e mais provavelmente contra- producentes. Os efeitos
totais da incessante globalização têm sido marcadamente desequilibrados: a
ferida do reinício da guerra civil chegou antes do remédio necessário para
curá-la, que está, na melhor das hipóteses, na fase de testes (mais
provavelmente na de tentativa e erro). A globalização parece ter mais sucesso
em aumentar o vigor da inimizade e da luta intercomunal do que em promover a
coexistência pacífica das comunidades. [...] Um efeito das
cloakroorn communities/comunidades de carnaval é que elas eficazmente impedem a
condensação de comunidades "genuínas" (isto é, compreensivas e
duradouras), que imitam e prometem replicar ou fazer surgir do nada. Espalham
em vez de condensar a energia dos impulsos de sociabilidade, e assim contribuem
para a perpetuação da solidão que busca desesperadamente redenção nas raras e
intermitentes realizações coletivas orquestradas e harmoniosas. Longe de ser
uma cura para o sofrimento nascido do abismo não-transposto e aparentemente
intransponível entre o destino do indivíduo de jure e o do indivíduo de facto,
são os sintomas e às vezes fatores causais da desordem social específica da condição
de modernidade líquida. [...]
Trechos extraídos do livro Modernidade líquida (Zahar, 2001), do
sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925- 2017). Veja mais aqui, aqui,
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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do artista plástico modernista português Júlio Pomar
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Paz na
Terra: A Paz de Anna Ewa Miarczynska.
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.