AINDA ASSIM É
UMA HISTÓRIA DE AMOR - Pela beira do
rio lá estava Japaranduba pelas bandas do Riacho dos Cachorros e eu via da
ponte lá estava ela bela com seus olhos enormes debruçada como quem espera a
minha passagem entre cruzes como estaca no chão de barro batido e o cheiro da
cana no massapê, a carniça de quantas manhãs pelas gambiarras do que foi pra
existir pelos bairros com tantos nomes de santos, tanto pecados para cometer do
que mais cometido, injúrias, luxúrias, agiotagem, quantas promessas para pagar
por tantas tardes que se perdiam entre farmácias e movelarias, angustias
enfincadas na fotografia de quantas noites o cúmulo do mau gosto nas fachadas e
ruas das praças com o ar envenenado por afetos diversos, ódios nas esquinas do
perigo com toda sujeira e fuligem, procissão de almas assassinadas e as
reputações de areia que viram poeira na gente que quer viver melhor sem saber
como e vota e erra e acerta errando e erra acertando tudo sem prever nada e só servem
de cobaias para desgovernos e propagandas baratas, tratados como bexigas tontas
abandonadas ao próprio destino ou bonecos calungas ocrídios nas façanhas de
mané-gostoso, bumerangues do tempo do ronca feito pipas no ar trajados de
transeuntes cabeças de vento absortos cai, cai balão, absenteístas constrangidos
com todo desdém e desconfiança das conspirações na epidemia da cegueira do
sombrio golpe dos interesses entre a vida e a morte ao sabor das misérias a cutucar
com inconveniência os desertores de si mesmos a botar o bloco na rua e a
quebrar o que pensam que vale e o pau cantou pros heróis salvadores do oitão
que enlouqueceram na sua claustrofobia de peitos rasgados e os seios cheios da
dona bela debruçada no muro sestrosa com o adeus de quem vai e o alvoroço de
quem chega para esquecer de ontem tão hoje e nem dá fé da população descartada
de todo jogo tramado no tapetão e não há compaixão por nada nesse mundo a não
ser pelas cenas espetacularizadas da televisão. E tudo é habitável apesar de
não parecer, tudo padece e eu enlouqueço nesse arrastão a me levar pros olhos
da bela debruçada no muro a espera de que eu seja seu príncipe encantado
perdido nos sonhos que nunca existiram, acho, a reinventar minha cidade perdida
no tempo, como quem fugiu do Alcatraz com meus passos erráticos que não sei pra
onde vão nem onde chegar. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
Curtindo a Sinfonia nº 2 – Mhatuhabh, do
compositor e educador Mário Ficarelli,
pela Tonhalle-Orchestrer Zürich, sob regência do maestro Roberto Duarte.
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DESTAQUE: O ANJO SILENCIOSO DE HENRICH BÖLL
[...] Talvez fosse o número de passos que deviam
ser dados a partir do cruzamento, ou alguma coisa na disposição do toco das
árvores, que antes haviam formado uma alameda alta e bonita: algo o fez parar
de repente, olhar para a esquerda e lá estava ela: ele reconheceu os restos do
vão da escada, subiu lentamente os escombros: estava em casa. [...] Ele colocou seu braço em torno do ombro
dela, atraiu-a para bem perto de si e adormeceu, seu rosto colado ao dela. Durante
o sono, trocaram os movimentos quentes de sua respiração como se fossem
carícias [...].
Trechos
do romance O anjo silencioso (Estação Liberdade, 2004), do
escritor alemão, tradutor e autor teatral Nobel de Literatura de 1972, Henrich Böll (1917-1995).
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do artista plástico João Câmara.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.