MESMO APELANDO
PRA SORTE, A GENTE SE ATRAPALHA COM A OBVIEDADE - Nos dias de hoje tudo é tão rápido que, quando a gente dá
fé, só vê a tuia de lixo tão grande, chega não dá pra varrer pra baixo do
tapete. Nesse tempo de umbigocentrismo e relações descartáveis, o monturo é tão
grande que tem gente que diz que de palavrório, intenção, promessa e enrolação
o inferno está entupido de esborrar pelo ladrão. Por conta disso, a gente só se
depara com tudo muito confuso: o que é, deixou de ser e já nem é mais a versão
mais atualizada do troço. O que se apresentou agorinha como a última novidade,
daqui a pouco já ficou obsoleta porque algo muito mais trancham já suplantou a
estreia da moda que virou instantaneamente peça de museu. Mesmo com essa
velocíssima mudança, é preciso ficar por dentro de tudo sem ao menos discernir
de notícias, manchetes, boatos ou fofoca, porque tudo hoje é propaganda, tanto
pela carga ideológica carregando de eufemismo o que é dito, como pela rede de
litígios dos interesses. Pra muita gente, hoje é bem difícil de distinguir
entre um sofisma e uma verossimilhança. A confusão é tanta de não mais se
diferençar um minúsculo peidinho de véia de um míssil tomahawk, ou um
inofensivo sibito de um foguete espacial. Tudo é metido dentro do mesmo saco,
brincando de jogo dos contrários pro óbvio ululante do duplipensar. Se for
apreciar de mesmo, a gente finda escorregando no mais farto paralogismo. Nem dá
mesmo pra sacar quanta chicana na fineza da mentira embecada, glamourizada, no
maior tom de seriedade de uma voz maviosa dum locutor ou âncora de TV, na maior
das aparências, chega virar um espetáculo de deixar a gente de boca aberta e
queixo caído. Aliás, tudo hoje é espetacularizado, até mesmo os tropicões, as
besteiradas e pegadinhas. Não se dá conta de quanta cavilação na exposição das
grifes nos bolsos, nas testas, nas costas, nos braços e bundas, nos vidros dos
carros, nas paredes, nos postes, nos outdoors, dentifrícios, desodorantes, tudo
virou gôndola de ofertas. Quantos ardis nos informes publicitários de governos
corruptos, incompetentes e disfuncionais – propaganda institucional do que é,
na verdade, a prática operacional do Estado brasileiro -, que viram decisões e
leis de se ensinar na sala de aula pelos meios e vias inadmissíveis, como se
fosse mais fácil ensinar o falso. Acabei de crer que de tanto ser dita e
repetida de pai pra filho, qualquer pinoia vira verdade absoluta. Assim, como a
roubalheira já faz parte do costume nacional, a honestidade passou a ser
exceção à regra, quando nunca mais uma virtude, antes uma idiotice. Admite-se
até aquela do “rouba, mas faz”, pode? Está valendo. Ora, com o engodo se faz
fortuna, o embuste é lucrativo, muito se paga pra dizer que é o que não é e segue
a cartilha usual do mais sabido levar a maior parte negligenciada pelo leso –
isso se não levar tudo e deixar o cara liso e nu, dizendo que foi assaltado.
Este, perdido e sem saber de nada, não tem o que fazer e nem sabe a quem
recorrer. Pronde correr será lesado: polícia, justiça, o que for. Resultado:
hoje a gente vive na maior insegurança das relações insalubres, cada qual que
defenda o seu e reze pra Deus ajeitar os pauzinhos pra dar tudo certo pra sua
banda. E quem não tiver seu pedido de oração atendido – garante uma das igrejas
de plantão -, pula fora e parte pra outra, de preferência uma que tenha maior
prestígio com o Criador para facilitar os pedidos e dar um jeitinho nas suas
preces e penitências. Precaução nunca é demais nesse tempo de recall, um olho
aberto e outro fechado, apelando pra sorte – como se a sorte fosse a fonte dos
privilégios, o reino das benesses -, pra sair impune dos chatos de galocha da
lei e cortar caminho, furar fila, avançar sinal vermelho, ultrapassar pela direita,
enfim, tudo sem o menor escrúpulo pra que seja premiado com as maiores
regalias. Tem gente pra tudo no meio da esculhambação geral e no fim ninguém
quer saber de retratação ou quem foi que pintou a zebra, injustiça seja feita!
Tá doido? Para o mundo que eu quero descer! © Luiz Alberto Machado. Veja mais
aqui.
Curtindo o álbum Vem Ver (Independente, 2013) do premiado duo Vanessa Moreno & Fi
Maróstica.
Veja mais sobre:
Derluza, saúde na justiça, Federico García Lorca, Marquês de Sade, Robert
Burns, Jean-Luc Godard, Reay Tannahill, Fernanda Chaves Canaud, Virgílio, Jules Ralph Feiffer, Sebastian
Llobet Ribas & Chilica Contadora de
Histórias aqui.
E mais:
Tom Jobim, Virginia Woolf, William Somerset Maughan,
Adelaide Cabete, Pompeu Girolamo Batoni, Renata Bonfiglio Fan, Vivendo &
Aprendendo a Jogar & Servidão humana
aqui.
Crônica de amor por ela & Todo dia é dia da mulher aqui.
Contratos Administrativos aqui.
Big Shit Bôbras: a
chegada, primeira emboança aqui.
Octavio Paz, Gestão Ambiental
do Trabalho, Psicodrama & Role-Playing aqui.
Fecamepa: antecedentes & consequências aqui.
Sócrates & a sofística no pensamento grego aqui.
A justiça & a injustiça aqui.
&
DESTAQUE:
[...] Cada
pessoa deve ter direito ao sistema mais largo de liberdade, de bases iguais
para todos, compatível com um sistema similar para todos os outros. As
desigualdades sociais e econômicas devem ser tais que: nos limites de um justo
princípio de poupança, garantam a maior vantagem possível aos menos
favorecidos; sejam ligadas a tarefas e posições acessíveis a todos em função de
uma justa igualdade de oportunidades [...].
Trecho da obra La Justice Comme (Boreal, 2004), do professor de filosofia política
da Universidade de Havard, John Rawls
(1921-2002). Veja mais aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA; TODO DIA É DIA DA
MULHER
A mulher não é rosa com
espinhos / não é boneca de vidro / nem estátua de mármore / a mulher é um ser
humano / que sente / pensa / sonha / e tem o direito de escolher o seu caminho.
Ser mulher, poema
da poeta Isabel Furini, extraído do Mulheres em Marcha. Imagem: arte da
autora
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra!
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.