EU & ELA NAQUELA NOITE TODAS AS NOITES - Naquele dia a gente navegou por nossas fronteiras mais arraigadas e se curtiu o dia todo, era o aniversário dela. Logo de manhã eu saboreei sua delícia na cozinha: a comida da comida. De tarde, namoramos todos os mormaços. E quando a noite chegou, eu acendi todas as estrelas com o prêmio da sua língua lua na varanda. Era a festa total, como se todas as noites estivessem nesta noite na rodada de sua saia estampada, mãos na cabeça e sussurros de vontades. Ali, de nós dois, todas as posses e bens despojados varridos pela nossa dança na sala, no quarto, nuvens e céus. Foi quando ela me agarrou com seu beijo Maragogi e me afogou nas ondas do seu corpo. Foi quando ela engatinhou faminta, engolidora de espadas e devoradora de desejos incendiando o meu sexo iluminado que a fazia rodopiar, se entreter e esfomear na cena explícita de nossa explosão pornô e na minha hipofixilia agoniada de gozo. Com a minha explosão ela me deu seu sorriso que dinamitou de vez todas as minhas neuras, traumas, frustrações. Ofegantes na cama, nossos corpos vencidos. Aí eu levitei com o aperto de seu abraço Porto Calvo. O seu beijo molhado fez o mundo girar mais depressa e caímos lentamente no Passo e bailamos nus na Matriz de Camaragibe. Eu sou seu par e ela se debruça na cama e me puxa com força sobre as costas lanhadas para que eu vença seus montes e sua carne rendida. Foi aí que venci a sua Paripueira, usurpei o seu Sonho Verde, venci a sua Guaxuma até fazer no seu corpo o Riacho Doce. Coração saindo pela boca, nosso suor lavou a minha vitória. E venci urrando de gozo sobre sua carne varada e servida sobre a bandeja do meu domínio. O meu peso sobre a rendição de sua maravilha dorsal. Os meus braços no seu corpo: o banho da noite. A água iluminava a sua pele nua na minha língua que percorria a sua Cruz das Almas, o seu Mata-Garrote, Jatiuca, Ponta Verde, Pajuçara até enfiá-la na mina do seu Pontal e ela me deu a Madalena do Francês rebolando na Barra, se espremendo no Gunga, se ajeitando na praia de Jequiá, enlouquecendo no Pontal de Coruripe, até rebolar seu Piaçabuçu na curva do Penedo que assaltou a minha loucura profana e a fez chorar de satisfação. O trem do meu tesão seguia os seus trilhos. E ela tributária de tudo se valia dos nossos nervos que reagiam na luta dos quereres mais safados. Não havia como saltar fora, soltar agora toda libidinagem visceral. Foi quando ela, frango assado, escancarou todos os segredos desvelando toda sua alma perversa. Ela Amanda Peet premiando o meu apetite. E se deitando no céu como se fosse um presente de natal, como se fosse toda folia de carnaval, como se fosse maior fungado de São João, como se fosse as bênçãos de ano novo, todas as festas juntas, todas as noites nessa noite. Era aniversário dela e por isso me olhava com seu jeito azul de me beijar a virilidade, quando eu enlouquecido sugava no seu ventre como quem bebe gasolina, gerando a todo vapor a nossa putaria, pele na pele nua e eu me apoderando de sua carne com a fúria dos gritos de quem ama aquilo tudo e muito mais. E insistia alisando a sua carne tocando cada milímetro de sua feitura, como se num walkaround com toda força vital. Ah, minha vulnerável Lois Lane que quando eu um simples Clark me fazia de Superman. E foi: todas as noites nessa noite. E sobreviventes, emergimos enquanto mergulhávamos um no outro. Aí, lá e loa. Ah, coisa tão boa. A gente mandava bem sem sossegar o facho, maior repasto. Foi quando ela então vira Madonna ousada e sacana e tudo outra vez e de novo. Puxa! Todas as noites nessa noite quando eu sonho nossas entregas que fazem viver. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui, aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - Dizem que o que procuramos é um sentido para a vida. Penso que o que
procuramos são experiências que nos façam sentir que estamos vivos...
Precisamos estar dispostos a nos livrar da vida que planejamos, para podermos
viver a vida que nos espera. A pele velha tem que cair para que uma nova possa
nascer. Na caverna que você tem medo de entrar está o tesouro que você procura.
Os mitos são sonhos públicos; os sonhos são mitos privados. Mitologia é o nome
que damos às religiões dos outros. Encontre um lugar em você onde haja alegria
e a alegria vai eliminar a dor. Siga a sua alegria, e o mundo abrirá portas
para você onde antes só havia paredes. O privilégio de uma vida é ser quem você
é. Pensamento do escritor, professor, mitologista e conferencista
estadunidense Joseph Campbell (1904-1987). Veja mais aqui e aqui.
ALGUÉM FALOU: Nada no mundo é permanente, e somos tolos em desejar que uma coisa
perdure, mas mais tolos ainda seríamos se não a apreciássemos enquanto a temos.
A grande tragédia da vida não é que os homens pereçam, e sim que eles parem de
amar. Só o amor e a arte tornam a existência tolerável. A arte, um dos grandes valores da vida, deve
ensinar aos homens: humildade, tolerância, sabedoria e magnanimidade. Pensamento
do escritor britânico William Somerset Maughan (1874-1965). Veja mais
aqui e aqui.
O QUE PRECISAMOS - Precisamos
de um mundo de sonhos para descobrir as características do mundo real que
acreditamos que habitamos. Se você quer alcançar algo, se quer escrever um
livro, pintar um quadro, certifique-se de que o centro da sua existência esteja
em outro lugar e que você esteja firmemente conectado à terra. Dessa forma,
poderá manter a calma e rir dos ataques que virão. O único princípio que não
inibe o progresso é: tudo vale a pena. Pensamento do filósofo e
físico austríaco, Paul Feyerabend
(1924-1994). Veja mais aqui e aqui.
DENTRO DE NÓS - Ninguém
sabe o que se passa dentro de ninguém, somos muralhas uns para os outros. A
gente deve falar sem medida, a gente deve falar sem medo, conforme dita a regra
do coração. A gente deixa sempre presença no mundo, nos outros. E o que fica, o
resto evapora. Os homens necessitam de espelho para se verem. Ou de uma ação
qualquer, de uma luta qualquer. Há muitas coisas escondidas dentro do homem,
que o pensamento jamais descobrirá. Não adianta se esconder sob mil disfarces,
a realidade sempre aparece. O lugar onde a gente vai é sempre tão diferente,
tão mais seco do que o lugar que a gente sonha. Nada é igual nas aparências,
mas tudo se identifica. O que não é um mal em si, pode até se transformar numa
virtude. Pensamento do
escritor, advogado e jornalista Autran Dourado (1926-2012). Veja mais
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EU-MULHER - Uma gota
de leite / me escorre entre os seios./ Uma mancha de sangue / me enfeita entre
as pernas. / Meia palavra mordida / me foge da boca. / Vagos desejos insinuam
esperanças. / Eu-mulher em rios vermelhos/ inauguro a vida. / Em baixa voz / violento
os tímpanos do mundo. / Antevejo. / Antecipo. / Antes-vivo / Antes – agora – o
que há de vir. / Eu fêmea-matriz. / Eu força-motriz. / Eu-mulher / abrigo da
semente / moto-contínuo / do mundo. Poema da escritora Conceição Evaristo.
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