O GOSTO DA ÚLTIMA VEZ – Imagem: Lady with Lotus, art by Unnati S Khare - “Quem
é esta que aparece / como a alva do dia, / formosa como a lua, / pura como o
sol..." (Cânticos de Salomão, 6, 10). ... A falta que Pomona me
fazia ao coração, levou-me a loucuras sentimentais estabanadas. E enamorei por
paixões carnais, tanto em contatos imediatos de quarto grau, quanto em
devaneios exacerbados. Foram desfilando no cenário da minha retina mulheres
várias, ternas e inescrupulosas, enredeiras e pin-ups, caras-metades e
linguarudas, deusas e profanas, lívidas e resolvidas. Era Diana, a deusa latina
da lua que lavava seu corpo virginal na água espumejante da fonte como Artêmis
para um sujeito selenito como eu. Era Íris, a deusa do arco-íris, a raínha dos
deuses; era a árabe Amália, abelha do lar; era a grega Cora, virgem; a hebraica
Ana, graciosa; a latina Celestina, vinda do céu; era Cleópatra, a glória da
terra; a Amanda, digna do amor; a Vênus, Afrodite, com o seu cinto bordado que
tinha o poder de inspirar o amor; ou Hero, sacerdotisa de Vênus, amada por
Leandro; ou Dânae da torre de bronze onde seu pai a havia aprisionado; Calíope
com a poesia épica; Euterpe, com a poesia lírica; Melpômene, com a sua
tragédia; Terpsícore, com a dança e o canto; Érato e sua poesia erótica;
Polínia e a sacralização poética; Urânia e a astronomia; Talita e a comédia; a
teia de Penélope; a solidão de Ariadne; Dafne que fora o primeiro amor de
Apolo; Prócris, a amada de Céfalo; Coatlicue com o seu manto feito de serpentes
entrelaçadas; ou Xochiquetzal, a deusa do amor, mentora das volúpias sexuais, protetora
das prostitutas e dos hermafroditas, reinando sobre todos os prazeres
terrestres e sobre as flores; Sila, a linda donzela favorita das ninfas da
água, caminhando ao longo da praia à procura de um ponto tranqüilo; Shiva, a
terceira pessoa da divindade hindu; Antígona, uma frágil jovem de vontade
indomável; e aquelas que os tempos se ocuparam de escorrer pelas minhas mãos.
Nas minhas andanças em busca de Pomona, o magistrado Armstrong me dissera um
alerta que se a mulher possuir olhos francos e vivos, ou se tiver ímpeto
felino, deve fugir dela; se for do tipo que está sempre querendo que o marido
vá com ela aos bailes, esteja cansado ou não, fuja enquanto for tempo; se for
pouco inteligente por mais atraente que seja, dá sempre errado, além dos filhos
correrem o risco de nascerem bestas quadradas; e, finalmente, se forem santas,
cuidado, é muito difícil para um pecador dividir existência com uma santa.
Nisso, eis que aparece Kisagotami procurando uma semente de mostarda. Eu senti
a dor do seu sofrimento. Queria salvar o filho morto procurando a semente da
mostarda em casa que não tivesse morrido ninguém. O Buda assim exigira para a
ressurreição. Eu chorei com ela, vez que em todas as residências choravam os
mortos de suas reminiscências. Ela deixou-me tonto até que me recolhi num
ambiente amigo. Desfeito o sonho esbarro com a realidade. David saíra para
fotocopiar uns textos que eu fizera, deixando-me à vontade em seu apartamento,
bisbilhotando umas partituras. Ouvi o barulho de que alguém chegara por ali.
Olhei em volta, certo que seria David que retornara. Não fora. O barulho se
repetia, embora ninguém aparecesse, nenhum sinal de vida. Investigando, não
havia ninguém por ali, nem no sanitário, ninguém em qualquer cômodo do
apartamento, senão teria visto quem deveria ser. Aquele bulício me incomodava,
onde era? Investiguei tudo com o olhar e constatei que não havia vivalma ali. A
minha curiosidade se acentuava. Vôte! Quem roubava meus sentidos? Algum
fantasma, encosto, duendes, lêmures, flibusteiros, assombração, não acreditara
nisso nunca. Depois de muita curiosidade descobri uma pequena fresta no piso de
madeira e fui levado a verificar o que se passava, lembrando do tempo em que me
punha por curioso menino nas fechaduras de mulheres alheias. Não, não era aqui
isso. Agachei-me e vi pelo buraco no chão: era ela, linda e faceira se
desnudando, jogando suas vestes com calma, alisando seu corpo branquinho e
liso. Era ela, meu, eu que perseguia seu jeito dia a dia, me excitava a cada
peça do seu vestuário arrancada, parecia um streep tease só para mim. Logo eu
que a desejava muitas e tantas vezes quando cruzávamos nas visitas
imprevisíveis que fazíamos ao David, para que pudéssemos exercitar nossos
instrumentos, visando maior virtuose durante a execução de nossos modestos
concertos. Líamos partituras com o fito de decorá-las e executarmos com maior
sentimento após a compreensão de suas notas e contornos musicais. Ele, o meu
amigo, morava ali, no sótão da casa do pastor, um apartamento modesto mas
acolhedor. Morava sozinho, viera de Paulo Afonso, quinhentos e tantos
quilômetros daqui, para ser o pianista da igreja. Eu, um ateu convicto, ali no
sótão da casa de um pastor batista. Prendi a respiração para não ser notado,
nada poderia atrapalhar aquele espetáculo exclusivo. A mulher do pastor estava
ali embaixo, nua, linda, no meu tope, cabelos negros, olhos pretos, lábios
carnudos, carinha bem desenhada, corpinho roliço e sensual, pernas bem
torneadas, toda uma elegância de forma combinada com sua vozinha sensual e mansa.
A pele branca, lívida e casta para minha loucura, se sobressaía nas vestimentas
em cores escuras e discretas, sempre se vestindo de tons sombrios, dando-lhe um
ar senhorial, uma transparência de idade maior do que na verdade possuía,
contudo, bem aquinhoada na composição corporal. Vendo-a ali imaginava mil
peripécias sexuais explorando sua branquitude no menir do amor. Eu bailaria com
ela por imensidões infinitas, estrelas candentes, planetas inabitáveis,
galáxias vindouras. Era a promessa do amor, secreto. Ela depois desapareceu
nua, não sei para onde, recompondo-me, então, para não ser flagrado ali.
Acomodei-me na cadeira, não antes, de vez em quando, voltar curioso, para a
fresta aguardando seu retorno para aquele palco exclusivo e íntimo. Não, demorou
muito e David já estava de volta exigindo-me concentração na papelada. E assim
ficamos na empreitada. Certa tarde depois, eu e David estávamos ensaiando uma
sonata que eu havia composto às escondidas para ela, quando o seu vulto
aproximou-se de nós. Empalideci com a surpresa, o sangue sumira da minha tez.
Eu nada dissera ao amigo, nunca diria, nunca revelaria nem com uma espada na
goela, tá doido? - Que bonito! -, elogiou-me, flertando meu coração, ela sem
saber disso. - Obrigado. -, agradeci meio que cheio de pernas, vermelho da
febre de timidez. Reunindo todas as forças que ainda restariam em meu ser,
tentei mais algumas sílabas em sua direção e fiz convite oportuno para a
apresentação da peça no próximo final de semana. Eu que ensaiara palavra por parágrafo,
ordenando frases sintaticamente corretas no quengo, tudo certinho para quando
ela aparecesse faceira, assim, mas, não tinha jeito, uma confusão explodia na
minha cabeça, eu não sabia mais nada, tartamudeava, pisando na bola, enrolando
a língua, dando nó na idéia, pára! - É mesmo? -, respondia ela provocando-me as
entranhas. - É sim, será no teatro e melhor ainda se a senhora se fizer
presente -, enrolei-me e fiz o maior esforço para concatenar as idéias,
continuando: - Eu e David apresentaremos umas novas canções que compus, dentre
elas, essa sonata que eu... - Que bom, vou ver a agenda do meu marido para ver
se a gente pode ir, você sabe, a gente tem culto no final de semana. - O
concerto só começa depois das vinte e uma horas, depois, claro, do culto. -,
interrompi, temendo sua recusa: - Podem ir, eu esperarei ansioso por vocês. -
Tudo bem. Vou ver se dá, tá bom? - Tá. Sangue de Cristo tem poder! Notei lá no
fundo que ela estava trêmula, não sei. Eu, pelo menos, estava por um fio.
Disfarcei o máximo. David nem notara, creio. Ela saiu e nós continuamos a
ensaiar a tarde inteira, noite adentro até quase de madrugada. Trabalhamos mais
no dia seguinte, no outro, três dias depois, ela nada de aparecer, até que
resolvemos descansar para o show de sábado. Por volta das dezenove horas eu,
David e os músicos, passávamos a afinação, corrigindo algumas dúvidas até
acertarmos que eu faria, naquela sonata que virara balada, um momento solo.
Isso, ela não me saía da cabeça. Encerramos o ensaio geral e liberamos todos
para se aprontarem. Fui para o camarim visando relaxar, tomei um banho e deitei
no divã, folheando uma revista que levara para dissipar a tensão nervosa. A
figura dela ocupava minha mente, não conseguia me desvencilhar de sua imagem.
Cochilei com um sonho, finalmente juntos e sozinhos, ninguém por perto e não
dizíamos qualquer palavra. Fitávamos um ao outro, irresistivelmente. Líamos em
nosso olhar que também mexera com as suas estruturas, éramos cúmplices de um
idílio impossível. Ela estava mais linda que nunca e o sol iluminara a sua
beleza celestial, sentindo que dos pés à cabeça, seu corpo me imantava, seu
lábio me necessitava, tudo me depusera a sua disposição. Não nos tocávamos, não
precisávamos, pois que nosso abraço espiritual era suficiente, comungávamos
nosso deleite acima das necessidades corporais num acasalamento de sentimentos
recíprocos. Abruptamente o sonho se espatifara, era meu secretário que me
retirava daquele espasmo, avisando-me que eu devia me aprontar para o início do
espetáculo. Calmamente me recompus sob a exigência de pressa, concentrei-me e
abri o peito no palco. Esgoelei o tempo inteiro sem encontrar sua presença na
platéia. Desfilei canções oriundas do coração. E lá para as tantas chegou o
momento xis, os músicos depuseram seus instrumentos e foram para o camarim.
Sozinho, fui até o piano e recitei algumas palavras sobre este amor impossível
que me envolvia por dentro naquele momento. Dedilhei os acordes iniciais da
balada e interpretei o meu poema de amor, entregue por inteiro. Ao término da
minha façanha os aplausos me afagaram o ego, levantei-me e fui até o proscênio
onde agradeci a todos os presentes. Eita! Ela estava na terceira fila, vi-lhe,
sozinha, aplaudindo e com os olhos brilhantes. Uh, ru! Aí sim, a banda retornou
e continuamos o show até o seu término. Ao final atendemos bis, depois outro e
encerramos as atividades numa jam session apoteótica. Fora a minha catarse. Um
bando de gente veio parabenizar pelo feito no corredor que dava para os
camarins. Fotos, entrevistas, autógrafos e abraços muitos. Tudo muito efusivo.
Eu não tinha nem onde me escorar com tanta receptividade, os dentes no
coarador. No meio dessa maratona eis que ela me apareceu timidamente, me lançou
um olhar de grata e com um ar de quem sabia o que se sucedia comigo, leu-me a
alma. Fiquei empulhado. Será que a minha canção tocara-lhe o coração? E no meio
daquela multidão fez menção de falar ao meu ouvido e me beijou a face,
sussurrando... "o
seu falar é muitíssimo doce; / sim, ele é totalmente desejável." (Cântico,
5,16) E que me amava e partiu imediatamente. O seu sussurro: - Te amo! -,
nossa! Fiquei cheio de uma alegria imensurável, estava vitorioso, feliz,
alcançara a graça de ouvir de seus lábios singelos uma declaração voraz.
Ninguém notara a cena, acredito, havia muita gente no recinto, contudo meu
ímpeto estava flagrante. Viajei minha ilusão. No dia seguinte aquilo não me
saía da cabeça, inventei uma maneira de ir até à casa do David resolver alguma
pendência. O quê? Sei lá! Qualquer coisa, inventa aí, meu, qualquer propósito,
vai, arruma na hora um motivo qualquer. E fui. Contornei o templo e fui ao
portão lateral que dava na casa do pastor, abri a fechadura com certo barulho
para que fosse notada a minha presença ali e me encaminhei ao cubículo para
pegar a escada que dava para o aposento do David. Ao passar pela porta da
residência em direção à escada ela me interpelou. Que susto! Ela, justo ela!
Surpresa mais que agradável. Minha cabeça rodou, rodou. Sua mão sobre o músculo
do meu braço me aplacara a caminhada. Nada dissera, olhávamos um para o outro,
de repente, fiz menção de beijá-la, rejeitou-me, entretanto, segurou minha mão.
Eu disse... "Arrebataste-me
o coração com um dos / teus olhares;"
(Cântico, 4,9) Olhou dos lados e me
puxara até outra dependência onde se instalara a biblioteca. Disse-me... "De noite no meu leito, busquei / amado de
minha alma!" (Cântico, 3,1) Lá, avidamente, me beijou, senti seus
lábios, sua língua, enamorado no enleio da paixão profunda. Ela arrematou:
"...Que desfaleço de amor." (Cântico,
5,8 ) Demoramos não sei quanto tempo até que ela se assustou e me empurrou
porta afora, recompondo-me até a saída dali. Na rua meu coração era verdadeiro
espalhafato a dar cambalhotas doidas. Liguei o carro e saí sem direção, até que
divisei um bar e lá ancorei numa mesa, sozinho com meus pensamentos, ingerindo
uma cerveja gelada, fumando um cigarro atrás do outro. Passei por rabiscar um
poema no guardanapo, solfejando cada verso como numa canção... e guardei ao
bolso: Ao prever o amor afinal / Em meu peito desabrochou /
Toda gula da sedução / Toda opção na avidez do querer / Quando o truque do amor
dominou / Foi capaz de ter emoção / Assustando o meu coração / Sem ter razão
prá se defender... Fiquei imaginando como seria possível aquilo
acontecer outra vez. De novo? Claro, a sanha acesa. O pior é que não via
qualquer possibilidade, já que era casada e, por sinal, muito bem casada, de
vida resolvida e equilibrada, possuindo seus afazeres religiosos e, na certa,
cumpriria à risca os mandamentos. Se parecia até com um casal feliz, feito
Filemon e Baucis, os bem casados. Ou mesmo Adah, deus do raio e da tempestade
com seu touro; ou Ishtar, deusa da fecundidade e também da guerra, com o leão e
a pomba. Ou aqueles cônjuges de Hanra-roa, quando ela não quis deixar seu
marido que estava leproso, acompanhando-o no leprosário onde também contraiu a
terrível doença. Não haveria espaço para mim, sabia. Morria a esperança, sabia
que aquilo era impossível, jamais ela trocaria uma vida ajustada por uma aventura
estabanada com um reles compositor maluco que ainda não havia resolvido nada de
sua vida, ateu, perdulário, descompromissado com tudo e todos e sem direção na
venta, guiado pelo devaneio, de embarcação onde o vento levar. Era trocar o
certo pelo duvidoso. Eu sei, a cara do pastor não era lá das boas, não me
parecia de boa feição, havia, inclusive, a minha predisposição em odiá-lo
porque não cria em nada do que ele pregava, rótulo de um charlatão, a exemplo
do que pensava de padres e mensageiros estúpidos que se diziam discípulos de
uma mentira inventada para enganar incautos e prosperar deslavados sobre as
dúvidas dos desmiolados. Era a vida dela, isso sim. Será que eu poderia invadir
com meu despudor desestabilizando tudo com o meu egoísmo? Será que eu mereceria
ter aquela a quem endoidara meu coração com sua santa inocência? Era pouco
provável que aquele episódio se repetisse. Teria de lutar para ter-lhe de novo.
E todos os dias eu inventava o que fazer no sótão, falando alto para que me
escutasse e já me desencantando pelas repetidas vezes sem sucesso. Mais de mês
se passara, eu morrendo por dentro, me matando, cumprindo a minha própria pena
de ser solto, heterodoxo e poeta, inventei de viajar, avisei ao David que iria,
no dia seguinte, até à capital alagoana, tentar desaparecer daquilo e me
despedi. Ao descer a escada me assustei, o pastor. Meu coração foi nos pés,
será que ele descobrira alguma coisa? Será que ele iria me proibir de ir ali ou
mesmo tirar alguma satisfação comigo? Que terá sido? Fui descendo a escada de
cabeça baixa, nunca trocara qualquer palavra sequer com ele e não seria agora
que trocaria, justo agora que era meu algoz. Fiz apenas um aceno com a cabeça e
segui meu caminho quando me chamou pelo nome. - Pois não? -, disse-lhe. - Você
está indo para Maceió? -, perguntou-me. - Sim, por que? -, respondi
desconfiado. - É que Idalice está precisando de resolver umas pendências minhas
lá, será que você poderia dar uma carona para ela, isto é, se tiver vaga no seu
carro, claro? Puta-que-o-pariu! -, pensei comigo, estourando de alegria,
esbugalhei os olhos e disse: - Claro! Tem vaga sim. - Então, que horas você
vai? - Vou sair cedo, umas sete e meia, tá bom? - Idalice, Idalice! Ele vai lá
pelas sete e meia, fique pronta, onde ela espera o senhor? - Não se incomode,
passo aqui e apanho. - Oh! quanta gentileza sua! - Nada, passo aqui sim! - Não
será incômodo? - Que é isso? Pelo contrário, será um prazer! - Muito grato. -
Até amanhã. - Até amanhã! Porra, meu! Meu coração estufou de alegria, nossa!
Saí doidinho dali sem saber nem para onde ir, inventei uma viagem sem nem
esperar para quê, quando já desistia daquele affair e a coisa cai do céu assim,
sem mais nem menos, será obra do acaso? O acaso não existe, sim, será
predestinação? Ôrra, meu, que coisa! Saí dali e fui logo abastecer o veículo.
Depois em casa arrumei as coisas que tinha por fazer, na verdade não tinha
nada, inventaria qualquer coisa, o mais importante é que ela iria comigo e
sozinha e se ela não quisesse ir sozinha comigo? Eu arrasto assim mesmo, digo
que vou pegar algumas pessoas e depois dou umas rodadas e faço então que as
outras desistiram de viajar. E assim foi, nem dormi direito, passei a noite em
claro. Às sete e meia estava eu na sua porta, ela pronta já, sozinha, me esperando.
Veio até o carro, abri-lhe a porta e assentou, seguindo viagem. Nada dissera.
Eu tremia, nem acreditava; As coisas faziam confusão na minha cabeça, davam
reviravoltas e não conseguia concatenar as idéias. Estava perdido,
completamente néscio, quando lembrei do som, empurrei um cd e a música rolou.
Adivinhei: Debussy, nada mais encantador. - Isso é lindo -, dissera ela. - Mais
linda é você! -, dissera eu. Enrubescera e nada dissera. Pra que eu disse isso?
Condenei-me. Tinha que dizer, não agüentava mais o escalpelo. Já estávamos na
BR 101, um silêncio devastador. - Você vai para que bairro em Maceió? -, tentei
abrir um diálogo depois de horas e horas de confusão na minha cabeça. - Vou
para a Jatiúca, mas não se atrapalhe por mim, pode me deixar em qualquer lugar
que eu pego um táxi e vou. - Que é isso? deixarei você lá, tranqüilamente. E a
que horas você pretende voltar? - Não se atrapalhe por mim, pode resolver suas
coisas que eu volto de ônibus hoje mesmo. -, frisou rispidamente. - Eu também
volto hoje, posso passar lá e lhe apanhar. - Não se embrome por mim, vou
resolver umas coisas e volto logo -, sentenciou sem querer dar trela nem abrir
espaço para a minha ousadia. Friamente respondia e nem sequer olhava para mim,
eu quase grito com tanta indiferença. E aquele beijo? Foi de graça? Não havia
nada, será? Pensei já me aborrecendo com a atitude fria dela, tentando me
recompor. - Que nada, será um prazer, eu também tenho pouca coisa para fazer,
aliás, para ser mais sincero, eu não tenho nada que fazer em Maceió, foi só um
pretexto para lhe ver ou conseguir alguma reação sua depois daquele beijo,
agora que já estamos em Ribeirão indo para Maceió, vou levá-la até lá e
trazê-la de volta quando quiser, na hora que achar por bem sua conveniência,
estando, portanto, meu coração e eu à sua inteira disposição. Peço desculpas
por essa ardilosa situação, é que eu não agüentava mais... Pôxa, danei-me a
falar que quase não paro mais, abri o jogo, que coisa! Agora eu quem estava
avermelhado, tímido do jeito que eu sou, falando assim, ela viu, finalmente,
olhou pra mim e pôs a sua mão sobre a minha. Encostei o veículo no acostamento
e fitei fundo seu jeitinho manso. Aos poucos fui me aproximando. Senti-lhe a
respiração. Encostei bem devagar meus lábios nos seus. Ela nem ofereceu
resistência. Lentamente fui me aproximando, a respiração, o aroma do batom, a
sua face trêmula, seus lábios carnudos, me apoderei de sua alma indefesa e
fechei os olhos ante o labirinto do amor. Nos beijamos longamente. Assustados,
ficamos com a velocidade dos caminhões que passavam e nos recompomos do
mergulho fundo nas águas violentas da paixão. Agora poderíamos falar mais
abertamente, ela repousou sua mão sobre a minha coxa e meu pênis já forçava
para sair da calça, não havia como evitar a saliência, ela já notara, tinha
certeza, assim deixei, repousei a minha mão sobre a sua, alisei; ela apertava a
minha perna, pôrra, por que não coloquei meu caralho do lado direito, se ali
estivesse ela estaria a mílimetros da minha glande. Mas do outro lado, que distância,
essa mania de guardar a rola do lado esquerdo é estranha. O que faço? A mão
dela sobre a minha coxa, apertando-a carinhosamente e eu alisando-a com maior
furor, não me continha de tanta satisfação, quando busquei seus dedos e
entrelaçamos os meus nos seus, de mãos dadas prosseguimos. Mais na frente
estacionei novamente no acostamento e me agarrei aos seus cabelos, sedento,
minhas mãos buliçosas contornavam seus seios, seu ventre, lambuzei-lhe a face,
ela ofegante; busquei suas pernas, levantei-lhe a saia e alcancei-lhe o ventre,
estava úmida, investi um dos dedos entre a calcinha e com o indicador acariciei
sua vagina, quase desmaia, respirando fundo pela boca, senti seu hálito, deitei
minha cabeça sobre suas pernas e beijei suas entranhas e lambi sua vulva.
Desfaleceu, arrancando-me ferozmente dali. Abaixou a cabeça e ficou com a mão
direita sustentando a testa como que se auto-reprovando daquilo, da minha
atitude, silente, arfante, descontrolada. Virei as chaves do veículo, debreei e
continuei a viagem. Estava em chamas, tudo queimava dentro de mim. Ela, após um
bom pedaço de tempo, permaneceu imóvel, alisei sua mão esquerda que descansava
agora sobre a sua coxa, acariciei e novamente entrelaçamos os dedos. Ela
parecia rezar. Trouxe-lhe então sua mão para a minha coxa e fiquei massageando
sua palma, o seu braço, emborquei e toquei suas unhas, seus dedos e aos poucos
a cada vez que passava a minha sobre a sua, puxava-a um pouquinho em direção ao
meu ventre, aos poucos e com muito cuidado, lentamente, meu caralho ereto quase
fazendo buraco na calça, pronto para desabar cueca e zíper, pulando fora doido,
quando consegui, finalmente, remover sua mão até ele, atos imobilizados,
apertou carinhosamente, alisou, quase morro, e assim ficamos, sozinha me bolinando,
me punhetando, soltei o botão da calça, arriei o zíper até embaixo e trouxe-o
de dentro para fora da cueca e sua mão afagou-o com determinação. Ao mesmo
tempo rocei-lhe as pernas, incendiei sua alma e, a certa altura da ida, divisei
um motel e fiz que ia entrar. - Podemos? - O quê? - Podemos parar um pouco
aqui? - O que é? - É um lugar aprazível, ninguém por perto para que a gente
possa se conhecer melhor. - Não, por favor, tenho hora para chegar ao
compromisso. Obediente, segui em frente. Coloquei um cd de Egberto Gismonti no
som, trouxe sua mão de volta às carícias anteriores e rumei para Maceió.
Ouvimos entre carícias Keith Jarret, Edson Natale, Kitaro, Duofel. Uma hora e
meia depois estávamos próximos do lugar que ela ficaria e, preocupado com a volta,
marquei às treze e trinta da tarde para apanhá-la e podermos almoçar. Acertamos
tudo, ela me pediu que não lhe beijasse ali, se recompôs e desceu para os seus
acertos pessoais. Fiquei zanzando: Ponta Verde, Jatiuca, Mangabeiras, Pajuçara,
Cruz das Almas, Jacarecica, Guaxuma, Sonho Verde, Ipioca, Riacho Doce, quase
indo pelo litoral norte ao som de Djavan, de Hermeto Pascoal, o Mirante da
Sereia, Ilha da C'roa, Paripueira, Barra de Santo Antonio, os poemas de Arriete
Vilela, até me debruçar numa mesa dum bar da orla belíssima dali. Era como se
estivesse no meio da criação de Jorge de Lima, de Graciliano Ramos, Ledo Ivo,
ou num poema erótico de Marcos Farias Costa. Um calor brabo naquelas paragens,
apesar do vento da praia. Falaram do litoral sul, Francês, Barra de São Miguel,
Jequiá da Praia, o Gunga, Lagoa Azeda, Miaí, Lagoa do Pau, Pontal de Coruripe,
Pontal do Peba onde o São Francisco se encontra com o Atlântico. Lia poemas de
Arriete Vilela, Ari Lins Pedrosa, Sidney Wanderley. Uma e meia, suado que só
pelo álcool ingerido, estava eu aguardando a sua chegada. Atrasou-se. Duas e
meia, uma hora depois, esbaforida chegou.. - Desculpe, foi que eu tive que
pagar uma conta num banco do centro e demorei muito lá na fila, alem de ter de
trazer o comprovante do pagamento para o escritório daqui, mil desculpas. - Não
precisa se desculpar. Podemos almoçar? Se não for incômodo. - Claro que não. -
Vou escolher um restaurante ideal ou prefere um local discreto, eu mesmo
precisaria tomar um banho, este calor me deixou bastante suado. - Você é quem
sabe -, disse-me. Ora, acionei o motor e segui rumo a Jacarecica. Lá chegando
adentrei num motel e pedi nosso almoço com uma garrafa de vinho. Ela estranhou
o local, olhava os quatro cantos, a cama, os vidros, os espelhos, deixei que se
aclimatasse, fitando toda sua feitura grácil. O vinho chegara, apanhei duas
taças e servi, degustou com classe e, finalmente, brindamos. Ela sorriu com a
minha atitude. Recitara-me, sussurrando, novamente, parte do Cântico dos
Cânticos de Salomão. "Beija-me
com os beijos de tua boca."
(Cântico 1,2) Aproximei-me com
cuidado e beijei-lhe ardentemente. Levantamos e sai conduzindo-a até a cama
onde estatelou-se. Agachei, beijei-lhe os pés, as pernas, as coxas, a vulva,
ela gemeu horas e horas, contorcendo-se toda e gritando. Entoei-lhe: "Como és formosa, querida minha, / como és
formosa!" (Cântico, 4,1) -
Não aguento mais! Não aguento mais! -, gritou-me ao ouvido e prosseguiu: "o meu amado é para mim / um sequitel de
mirra, / posto entre os meus seios..."
(Cântico, 1,13) E mais eu enfiava
minha língua no seu alçapão, alcançando seu clitóris, "manancial recluso, fonte selada." (Cântico,
4, 12) ela jogando a cabeça de um lado pro outro, gemendo, gritando, até que
puxou-me pelos cabelos e me beijou ardentemente, "a sua mão esquerda esteja debaixo / da
minha cabeça, e a direita / me abrace..." (Cântico, 2,6)
reabri a calça, livrei-me da cueca e introduzi-me todo em sua buceta molhada,
dando-lhe estocadas violentas. Oh! que méquia! "Às éguas dos carros de Faraó / te
comparo, ó querida minha!"
(Cântico, 1,9) - Meu amor! Meu amor!
-, gritava ela: - eu te amo! Te amo! Cheguei ao ápice, o mundo rodando num
bailado frenético, faíscas, relâmpagos, girava a valsa eterna do prazer e
gozamos juntos. "Os
meneios dos teus quadris são como / colares trabalhados por mãos de artista." (Cântico,
7,1). O oxigênio era pouco para os nossos corações disparados. Fiquei um tempão
jogado em cima dela, beijando-lhe os lábios, as faces, os olhos, o pescoço,
minha bimba lá dentro presa, ela apertava-me de forma de não poder retirar meu
caralho de suas entranhas. "O
meu amado meteu a mão por / uma fresta, e o meu coração / se comoveu por amor
dele!" (Cântico 5,4) Depois de um tempão, descontraída, deixou
que deslizasse pro seu lado, encolhendo-se toda, esfregando-se em mim. "O teu ventre é monte de trigo, / cercado
de lírios!" (Cântico, 7,2) Mirávamo-nos, ela entregue à minha sanha.
Passamos muito tempo assim. Levantei-me e fui ao banho. Seguiu-me, ficando em
pé na porta do box, fiscalizando a me molhar. "Desejo muito a sua sombra / e debaixo
dela me sento, / e o seu fruto é doce ao meu paladar." (Cântico,
2,3) Veio então de mansinho, passeando seu tato levemente por todo meu corpo,
segurou firme meu caralho, esfregou-o, ensabuou-o, alisou-o, até que ficasse
enrijecido novamente; de cócoras deu-lhe um beijo... mais outro... até que sua
língua chegou a tocá-lo... "os
teus lábios são como um fio / de escarlate, e tua boca é formosa!" (Cântico,
4,3) ...a glande engulida, o aguaceiro da ducha molhando-lhe, ela chupando-me.
Que doçura! Ronronei: "Mel
e leite se acham debaixo da tua língua!" (Cântico, 4,11)
Excitação total, mais rápido, aninhei meus dedos entre os seus cabelos
prendendo-os mais e mais, eu louco, virando o globo ocular, já não agüentando
mais sua perícia, ejaculei na sua boca vertiginosa, largando-me no seu terreno
abissal. Enguliu tudo e continuou com sisifismo na felação, como se fosse um
doce predileto, devaneios múltiplos, quimeras mil, loucuras extremas, ah!
Ahhhh! Estava vencido, dominado, entregue, reconfortado, rendido, oh! quanta
ebulição. Por fim, concluindo o banho, almoçamos com os olhos pregados no olhar
do outro. Beijamo-nos ininterruptamente, prova do amor e do carinho que nos
dedicávamos. "Quão
formosa e quão aprazível és, / ó amor em delícias!" (Cântico,
7,6) Saímos dali, eu mais ancho que de costume, retornamos da viagem e ao
chegarmos deixei-lhe em sua casa e parti para os meus aposentos. Durante toda
noite sonhei com aquele bailado inesquecível. Ela já estava toda por dentro do
arcabouço do meu corpo. Ela era tudo em mim, minhas veias, meu sangue, meus
pensamentos, minha vontade, meu desejo, tudo. No dia seguinte fui visitar David
com o intuito de vê-la. Ao passar pela passagem lateral de lá, notei a porta do
templo aberta, entrei e olhei, lá estava sozinha, ajoelhada, rezando. Me viu e
abriu um sorriso lindo. "Vem
depressa, amado meu, / faze-te semelhante ao gamo / ou ao filho da gazela, /
que saltam sobre montes aromáticos!"
(Cântico, 8,l4) Não me contive, fui até
seu encontro, abracei seu corpo e beijei com fervor. Nada falamos. "dar-te-ei ali o meu amor!" (Cântico,
7,12) Ali mesmo, ensandecido, levantei seu vestido negro, encostei seu corpo no
púlpito e me servi: "os
teus beijos são como o bom vinho!"
(Cânticos, 7,9) Amei demais.
Ejaculei. Ainda gozando empurrou-me, fiz força para agarrá-la, rejeitou-me
violentamente e tive de sair até a rua. Havia o gosto da última vez. Nunca mais
sequer dedicara qualquer palavra a mim, estava sempre com o seu marido, no sacrossanto
reino do lar. Algumas vezes o telefone tocava e quando atendia uma voz
sussurrava: eu te amo! E desligava imediatamente. Três a quatro vezes ao dia o
trinado do telefone me sacudia, às vezes nem falava, ouvia só a respiração. Era
ela, tinha certeza. Aproveitava o silêncio e a respiração e recitava poemas
tórridos de amor, declamava loucuras mil, solicitava sua presença, exigia,
intimava, enlouquecia e o sussurro no fim: eu te amo! Era ela. Eu marcava
encontros, ela não ia. Ensaiava ir buscá-la, ousava invadir sua residência e
estuprá-la lá mesmo, nada, ninguém. Só o sussurro mais nada, como na Cantilena:
...Sacudiu a vida em mim / Coloriu como a um jardim /
Foi depressa foi sem pena / Rebuscou na cantilena / Toda fúria do que quis /
Não previu todo embaraço / Veio com estardalhaço / Pra me fazer feliz. / Tão
aguda, tão insana / Percebi que essa fulana / Era a deusa do meu sim. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992). ©Luiz Alberto Machado. Direitos reservados do autor. Veja mais aqui, aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS – A
gratidão é a memória do coração. A riqueza e a pobreza das pessoas encontram-se
não em seus bens imóveis, mas em seus corações. Os corvos devoram os mortos e
os aduladores devoram os vivos. A ciência mais difícil é desaprender o mal.
Pensamento do filósofo grego fundador da filosofia cínica Antístenes (445-365aC). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
ALGUÉM FALOU: A barbárie
dura séculos. Parece que seja ela o nosso elemento: a razão e o bom gosto não
fazem senão passar... Extraído do Discours
preliminaire de l’Encyclopédie, do filósofo, matemático e físico francês Jean le Rond d'Alembert (1717-1783).
ALGUÉM
FALOU DE NOVO: Dar conselhos a um homem culto é supérfluo;
aconselhar um ignorante é inútil. Pensamento do tragediógrafo e filósofo
estoico latino Lúcio Aneu Sêneca (4ac-65). Veja mais aqui, aqui e aqui.
A
PENÚLTIMA VISÃO DO PARAÍSO
– [...] Restaurar a memória das origens
como primeiro passo para a construção artística de uma sociedade radicalmente
renovada. Essa foi a experiência intelectual que atravessou a aventura
antropofágica brasileira de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, a poética do
Pau-Brasil e a posterior Revista de Antropofagia e, enfim, a novela épica de
Mário de Andrade: Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. Talvez seja também a
experiência que anima outros muitos marcos da cultura brasileira, desde a
arquitetura da Pampulha aos filmes de Glauber Rocha, sem esquecer as magníficas
expressões populares em sua música, dança, expressões plásticas, tradições
orais e festas, até os dias de hoje. [...] A
oposição entre razão e barbárie é muito mais um preconceito teológico e
epistemológico da colonização européia. A perspectiva oswaldiana, ao contrário,
punha em evidência a irracionalidade de uma civilização que, em nome da Razão,
destruiu o Paraíso. [...] Trechos extraídos da obra A penúltima visão do paraíso: ensaios sobre memória e globalização
(Studio Nobel, 2001), do
filósofo espanhol itinerante Eduardo
Subirats. Veja mais aqui.
OS DEZ MANDAMENTOS DA PUTA – Primeiro mandamento da puta: serás
discreta. Jamais apontarás um homem na rua e dirás que ele é teu cliente. Segundo
mandamento: não beijarás na boca. Beijo na boca é afetivo, só o darás a quem quiseres.
Terceiro mandamento: não terás cafetão. Não cairás nesta cilada, sob pena de
acabares na sarjeta. Quarto mandamento: não revelarás a fantasia do próximo. A
fantasia do teu cliente é secreta e sua identidade jamais poderá ser violada. Quinto
e mais importante de todos os mandamentos: não te apaixonarás pelo teu cliente.
Sexto mandamento: não sairás da zona para morar com o cliente, sob pena de na
primeira briga ele jogar na tua cara: “fui eu que te tirei da vida!” e tu voltarás
para a zona com o rabinho entre as pernas. Sétimo mandamento: terás ética.
Nunca misturarás diversão e trabalho, mas deverás desfrutar das duas coisas. Oitavo
mandamento: cobrarás. Dentro da zona jamais poderás receber um cliente sem que
ele pague por teus serviços. Nono mandamento: desconfiarás da cafetina. Por
mais que a dona da casa seja boazinha, não poderás ficar na mão dela. Terás que
mostrar, com educação, que tu também és esperta. Décimo mandamento: terás
orgulho da tua profissão e usarás camisinha. Extraído
da obra Filha, Mãe, Avó e Puta – A história
de uma mulher que decidiu ser prostituta (Objetiva, 2009), da ativista Grabriela Leite (1951-2013), também
autora da obra Sem vergonha de ser puta (Beijo da
Rua, 2002), da qual destaco os trechos: Sintam que palavra linda, sonora e
importante. Puta que é o nome da nossa atividade e também um grande palavrão,
uma grande ofensa. […] Quer dizer também que nossos filhos são nada
mais, nada menos, que filhos da puta. Percebem? Nossos filhos nunca, se
assumirmos nossa identidade, se sentirão ofendidos se forem chamados de filhos
da puta. E um dia, que tenho certeza chegará, ser filho da puta haverá de ser um
elogio, e não uma ofensa. Mas isso depende de nós, putas. Se continuarmos a ter
vergonha de ser chamadas de putas e continuarmos a inventar nomes babacas para
a nossa atividade profissional, não só os nossos filhos continuarão a ter vergonha
de nós, como o preconceito com relação ao que fazemos continuará forte. Veja
mais aqui, aqui e aqui.
O HOMEM DE AREIA – [...] Algo tremendo
penetrou na minha vida... Obscuros presságios de um horrível destino que me
ameaça se estendem como as sombras de negras nuvens, impenetráveis a qualquer
amável raio de sol. Era eu Nathanael dizendo para minha noiva Clara... [...].
Trecho extraído do conto Der Sandmann (Insel
Verlag, 1967), do escritor, compositor, desenhista e jurista alemão Ernst
Theodor Amadeus Wilhelm Hoffmann (1776-1822). Veja mais aqui.
EU
TE AMO, MEU POETA – Eu te amo meu poeta, e
leio teu nome compulsivamente em meus pensamentos a cada segundo de minha vida,
como se o sol ou a lua, todos os mistérios dependessem do meu amor. Como se
nada pudesse existir sem ele. Eu te amo nos dias claros e amenos, na agitação
das ruas, no equilíbrio do planeta ou nas tempestades devastadoras. Eu te amo,
meu poeta, cada segundo mais intensamente, e já não importa todo o resto, se
existem ódios ou incompreensões, se já não posso apreciar o mar ou as estrelas
porque tudo se resume em ti. Eu te amo e sinto tuas mãos em meu corpo a
aturdir-me, teu olhar a dominar-me excitante, teu corpo a cobrir-me e
penetrar-me soberbo, enquanto já nada existe senão a tua presença. Eu te amo,
meu poeta e fascinada acompanho teu desejo que se mistura num desvario com o
meu metamorfoseando nossa vidas em uma avalanche de prazeres e paixão sublimes
e imorredouras. Eu te amo, nos momentos de harmonia plena, de conflitos,
seriedade ou diversões, quando nossos risos enfeitam pedaços da vida ou quando
lágrimas escorrem lentas e cheias de emoção. Eu te amo, meu poeta, quando a
aflição do desejo encontra em teus braços o alívio e quando retorna cada vez
mais urgente procurando o tesouro que penetras entre gemidos de prazer. Eu te
amo, meu poeta, quando pressuroso compreendes meus momentos de dor e me abraças
apertando-me no teu corpo quente e tão amado ou nas alegrias brilhantes em que
teu peito transborda da minha felicidade. Eu te amo, meu poeta, quando comemoro
contigo ou te consolo, quando me procuras indefeso ou possessivo, nas horas de
suavidade ou rigidez, e quando já nem sei como cabe esse sentimento desmesurado
a compartilhar desse amor cada vez maior e mais devastador. Eu te amo, meu
poeta quando te procuro mimada e dengosa, faceira ou frágil e encontro na tua
paixão a força para enfrentar as seqüelas da vida, o sol que tudo inebria ou o
crepitante anseio de minha alma apaixonada. Eu te amo meu poeta, quando no
delírio nada mais vejo, em transe de prazer e de loucura a sentir teu corpo, a
aspirar tua respiração, a vibrar no teu beijo, encontrando a vida somente na
tua, morrendo por ti e revivendo por teu amor. Eu te amo, meu amado poeta...
Poema da escritora Vânia Moreira Diniz. Veja mais aqui.
PALAVRAS
SOLIDÁRIAS – Sua trajetória é de uma vida dedicada à arte musica literatura mas
sobretudo dedicada a dar lugar a tantos! Você faz parte de minha história, em
seus espaços... Minha Poesia,lembrando aqui sua chamada há anos para versos
sobre o Rio São Francisco,quando publicou meu ' "Velho Chico"...do
espaço dado à Poiesis de meu livro " Erotíssima-", à chamada para a
Antologia " Habemus Papa',de cordel,onde publiquei minha própria
estilística e da qual cada autor recebeu sem custos,vinte volumes...Amizade
antiga,a nossa,estar com você em Pedezinho, com nossos textos para crianças,uma
de suas vertentes,nas edições de PD,quando encantei- me com sua dedicação à
infância...Abrir e- mais e encontrar sua voz e violão,que alegria para mim e
seus seguidores !...E por aí vão as múltiplas lembranças e meus sempiternos e
eternais agradecimentos...Hoje muita gente tenta fazer o que você sempre
fez...Amo esse seu desprendimento responsável,sem deixar de cuidar da própria
carreira ...Tenho muito orgulho em ser sua amiga,sua seguidora e amos estar em
todos os espaços que você nos oferece há tantos anos!!! Abraço Cordifraternal
,Luiz Alberto Machado!Parabéns pelo expressivo e raro número de seguidores...
Ouça aí meus aplausos!!! Texto da escritora, psicóloga, ilustradora, conferencista e consultora Clevane
Pessoa de Araújo Lopes. Veja
mais aqui e aqui.