CREDIBILIDADE
DA IMPRENSA BRASILEIRA –
No início dos anos 1980, eu participei e fundei com amigos a revista A
Região – projeto que redundou depois na fundação das Edições
Bagaço, então Movimento de Apoio Cultural Edições Bagaço -, o que me
proporcionou a apresentação do programa radiofônico semanal Horagá,
na Rádio
Cultura dos Palmares AM e me tornar membro da Associação de Imprensa de Pernambuco (AIP). Por causa disso, anos
depois assumi o Departamento de Jornalismo da emissora Quilombo dos Palmares FM,
na qual escrevia e apresentava as notícias e o Grande Jornal, bem como um
programa semanal aos domingos, Panorama, com a seção Destaque,
veiculando entrevistas realizadas com grandes nomes da música brasileira e das
artes em geral. Por essas atividades me tornei diretor regional do Sindicato
dos Radialistas de Pernambuco, na gestão de Roberto Calou, afora
escrever artigos opinativos na seção Opinião, do Diário de Pernambuco. A
partir de então comecei a me debruçar em estudos sobre a imprensa brasileira, enquanto
na segunda metade dos anos 1990, escrevia regularmente artigos opinativos que
foram publicados na seção Opinião do jornal Gazeta de Alagoas e em
outros órgãos da imprensa de outros estados brasileiros. Nos anos 2000, tive a
experiência de levar o meu programa Tataritaritatá para integrar o
Alagoas Frente e Verso, na Rádio Difusora de Alagoas e,
posteriormente, encetar a parceria que redundou no Projeto MCLAM, em Minas
Gerais. Nesse tempo todo, entre estudos e reflexões, tentei discernir sobre o desenvolvimento
histórico da imprensa brasileira, fato que me levou a indagar em que mãos e
reduto se encontravam atrelados os veículos de comunicação de massa neste país.
Tive a triste constatação de que mesmo se tratando de uma concessão pública, os
veículos de comunicação nos mais diversos estados da federação, fazem parte da
propriedade de um poderio privado bastante robusto e tentacular que, mesmo insistentemente
tidos por seus proprietários como imparciais, não conseguem esconder o rabo
preso até o pescoço da parcialidade, além de se configurarem na confusão entre
os interesses corporativos privados e o princípio da supremacia do interesse
público. Quer dizer, no frigir dos ovos, é só o que vemos hoje em dia na
privatização do público e publicização do privado. Exemplos disso, os jornais
impressos são invariavelmente possessões de famílias tradicionais detentoras de
poder que cultuam hoje apenas a veiculação de matéria paga e o engessamento da
cultura do release, manchetes criadas na emergência do momento, fotos, palavras
e mais praticamente nada. As emissoras de rádio, idem e que além da famigerada
cultura do jabá e das panelinhas balcanizadas, estão enriquecidas de blábláblá,
alardes sanguinolentos, abobrinhas e entretenimento duvidoso. As redes de TV –
algumas nem deveriam ser consideradas redes de televisão de tão decadentes e por
não passarem de canais de marketing -, quando não são fábricas de alienados e
estúpidos, são ridiculamente promotoras de um entretenimento pernicioso de
baixo nível e fabricação de celebridades para satisfação do lazer da nossa
carência econômica, afetiva e educacional. Espremendo tudo, duas coisas: uma,
tudo isso não é nada mais nada menos do que já dizia Emily Dickinson: a punição
do mérito e o castigo do talento; dois, o resultado de tudo é ter de digerir um
caldo bastante abjeto e que é resultado dos equívocos paradoxais da patriamada.
Enfim, tudo medido pela usual inflação da audiência, quando não, no atendimento
dos mais escusos interesses, atropelada pela oferta de brebotes baratos e por
eventos que se tornam espetaculares para perplexidade geral. Até aquelas da TV
paga estão contaminadas, salvo, no meio de tudo isso, raríssimas exceções aqui
e ali. Tudo isso só me faz concluir que imprensa hoje signifique show business e sirva apenas para o
flagelo de nossa indigência intelectual para o voyeurismo e vampirismo modernos,
consagrados à promoção patética dos segundos de fama de todos os infelizes
insatisfeitos com a vida, com as pessoas e com o mundo. Aí vem a questão: qual
a credibilidade da imprensa brasileira? No mínimo, duvidosa. Ela só poderá ter
valia pros babaovos dos oportunistas vencedores da nossa malfadada história. Isso
é uma bronca e das brabas, que o digam Observatório da Imprensa, do
jornalista e escritor Alberto Dines, e o Ver TV, do sociólogo e jornalista
Lalo Leal – quem os vê? Sei não. Por isso que a gente vez ou outra vê
protestos da população contra determinados canais de TV e outras emissoras e
jornais que se posicionam a serviço de poderosos e outras coisitas mas. Tenho pra mim que ou estou mais que redondamente equivocado entre a
queda e o abismo da existência, ou isso é pra lá de perigosíssimo. Sei não,
mesmo. Mas isso nem vem ao caso, tudo que se vê nos jornais, nas rádios e tvs
são pra lá de efêmeros, eclodem aqui, fazem estrago ali e dias depois todo
mundo esqueceu e a vida prossegue. A coitada da alma maculada que vai penar com
o preconceito e o opróbrio pro resto da vida. Se não tiver culpa no cartório,
tem que dar a volta por cima. Pois é. Sei não. Talvez eu que esteja acometido pelo
saudosismo estéril e senil que tanto combati a minha vida inteira, ou pela
ranzinzice peculiar aos que se acham ver além do visível, ou, ainda, que por
cegueira progressiva da idade, tenha me tornado um refém da próxima velhice
incorrigível e rabugenta. Acredito que não, quem sabe? Que coisa! Mas vamos
aprumar a conversa & tataritaritatá! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.
EPÍGRAFE
O pensamento
sobre a imprensa do desenhista, humorista, dramaturgo, escritor, poeta,
tradutor e jornalista brasileiro Millôr
Fernandes (1923-2012). Veja mais aqui, aqui e aqui.
Imagem:
a imprensa do Brasil.
Curtindo
o antológico álbum Eduardo Gudin &
Notícias dum Brasil (Dabliú, 1994), do violonista e compositor Eduardo Gudin & participação da
cantora Mônica Salmaso, do baixista Arismar do Espírito Santo &
participação especial de Ivan Lins.
PESQUISA
História da Imprensa no Brasil (Mauad, 1998), do
historiador Nelson Werneck Sodré
(1911-1999). Veja mais aqui.
LEITURA
Beijo no asfalto (Teatro, 1960 - Nova Fronteira, 1995),
do escritor, jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980). Veja
mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA
Já
dizia o escritor
espanhol Miguel de Cervantes y Saavedra
(1547-1616): Onde quer que a virtude se encontre em grau eminente, é
perseguida; poucos ou nenhum dos famosos varões do passado deixou de ser
caluniado pela malícia.
Veja mais aqui.
Veja mais Machado de
Assis, Safo, Herbert Marcuse, Amos Oz,
Anton Vivaldi, Frederic Edwin Church,
Caroline Dale, François Gerard, Ronald Golias, Audrey Hepburn & Keith
Haring aqui. E também Alvorada,
Karl Marx, Miklós Radnóti, Soren Kierkegaard, Constantin Stanislavski, Luiz
Ruffato, Ingmar Bergman,
Federico Fellini, Isabel Magalhães, Anna Maria Kieffer & Harriet Andersson aqui.
CRÔNICA
DE AMOR POR ELA
CANTARAU:
VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá