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quinta-feira, abril 11, 2019

EMERSON, CHARLES PEIRCE, MARIA LUÍSA MENDONÇA, ARAKI NOBUYOSHI & BRINCAPRENDENSINAR NOVEDUCAÇÃO


BRINCAPRENDENSINAR, NOVEDUCAÇÃO – Muito se fala da educação brasileira, pudera. Começa pelo reducionismo de que ela é escolarização, aí tome gente quantitativamente enclausurada em insalubres situações de ensino-aprendizado, em detrimento de relações humanas qualitativas. O que se fala a respeito, quando muito, soletra, nada mais que isso, o decorado art. 205 da Constituição vigente, de que ela é direito de todos, dever do Estado e da família, promovida e incentivada com a colaboração da sociedade (!?), visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Tá. Há quem invoque da boca pra fora o art. 2º da LDB 9394/96 de que ela é inspirada nos princípios da liberdade e nos ideais da solidariedade humana, com a finalidade constitucional, sendo cravado no artigo anterior que ela abrange os processos formativos que envolvem a vida familiar, a convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais, como se ela fosse vinculada ao mundo do trabalho e à prática social. Ah, é? Tá. Peraí, com base nessas previsões legais, ou estão fazendo tudo errado, ou isso de lei não é no Brasil. Tire a prova dos 9 e veja por si mesmo! Das duas, uma. E se a gente olhar direitinho, sem microscópio ou telescópio mesmo, na verdade não passa de instituição modelada como se hoje fosse o mesmo do que foi dito antes de Jesus e encerrada ao propósito mecanicista-positivista de séculos atrás, sem considerar que estamos em pleno século 21. Nada mais obsoleto, não é? Somente liquidando a fatura: no Brasil ninguém gosta de ler, muito menos de estudar. Poderia ser diferente? Se não fosse um horror, seria na base do vai lá que seja. Seja lá o que for, basta passar a vista na tragédia para encontrar uma rede pública exaurida e ineficiente que se tornou reino da discórdia, violência e descaso – o Estado não cumpre a sua parte -, como uma rede particular que mais parece um quartel-sanatório no fabrico de ciborgues prontos e moldados para o mercado, religiões e homogeneidade da estupidez. Aí quando alguém diz que a educação brasileira é emburrecedora, não se esboça a mínima indignação por aí, só discurso naturalizado e prato feito nas inflamadas conversas das esquinas e salões. Da mesma forma, é senso comum atribuir a qualquer problema do país a solução na educação, sobretudo flagrado na fala de autoridades e políticos, com o argumento de que ela um dia se tornar prioridade na pauta das gestões, resolverá tudo que atrapalha a vida dos brasileiros e das brasileiras. De boca em boca, ora, ora. À primeira vista, uma coisa parece líquida e certa: que a prática educativa desconhece ou ignora o universo relativístico-quântico, ou seja, não há liga entre o que pratica e os dias atuais, apesar do uso indiscriminado das tecnologias que nos certifica a participação num mundo em rede e serial em cenários instáveis e alterados por associações e justaposições, com mudanças incessantes e uma variedade de rearranjos na dispersão de sentidos múltiplos e dinâmicos, criando uma ponte entre o científico-racional e o estético-emocional e vice-versa, avalie. Parece que está tudo muito equivocado ou o mecanicismo-positivista causou danos brabos para incapacitação de uma leitura real do mundo ao redor. Parece? Prefiro brincaprendensinar, uma noveducação. E vamos aprumar a conversa! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] A única maneira de descobrir os princípios sobre os quais algo deve ser construído é considerar o que vai ser feito com aquilo que foi construído, depois que foi construído. [...] O objeto de uma representação não pode ser nada além de uma representação, da qual a primeira representação é o interpretante [...] De fato, não é nada além da representação, ela mesma concebida como despida de vestimentas irrelevantes. Mas estas vestimentas nunca podem ser completamente despidas; apenas podem ser trocadas por algo mais diáfano. [...]
Trechox extraídos da obra Escritos coligidos (Abril Cultural, 1974), do filósofo, pedagogista, cientista, linguista e matemático estadunidense Charles Sanders Peirce (1839-1914), criador da Semiose que é o processe de significação e a produção de significados, sendo identificada como uma ação ininterrupta de uma cadeia sígnica infinita de mediações, da natureza da continuidade, onde imprecisão e indeterminação constituem o próprio arcabouço da sua lógica. Contraditório e controvertido, seus escritos contribuíram para a história da filosofia sem, no entanto, conseguir comunicar-se com alunos ou público: “Minha obra destina-se a pessoas que desejam perquirir; os que desejam filosofia mastigada, podem buscar outro rumo; há botequins filosóficos em todas as esquinas, graças a Deus”. Veja mais aqui

A ARTE DE MARIA LUÍSA MENDONÇA
A arte da premiada e belamente charmosa atriz, apresentadora de TV e diretora Maria Luísa Mendonça, que atua no teatro, cinema e televisão. No teatro ela estreou com a peça Vestida de Noive (1987) e, em seguida, Os gigantes da montanha (1991), Romeu e Julieta (1993), Valsa nº 6 (1994), Futebol (1995), Os sete afluentes do rio Ota (2002), Na selva das cidades (2011), Zulmira e a falecida (2012), entre outras. No cinema ela estreou no filme Corazón iluminado (1998), Carandiru (2003), entre outros longas, curtas e documentários. Na tevê, entre outros trabalhos, apresentou o programa Contos da meia noite (2004), na TV Cultura e o programa Revista do Cinema Brasileiro, na TV Brasil. Ela também é artista visual e realizou a exposição Eu me registrarei sob um nome falso, em 2016. Veja mais aqui e aqui.

A FOTOGRAFIA DE ARAKI NOBUYOSHI
A arte do fotógrafo japonês Araki Nobuyoshi, autor dos livros Sentimental Journey (Jornada Sentimental), Winter Journey (Jornada de Inverno), Tokyo Lucky Hole, Shino e mais de outros 350 livros, sendo considerado um dos artistas mais produtivos do mundo. Sobre suas obra foi realizado o documentário Arakimentari, de Travis Klose, em 2005. Veja mais aqui e aqui.
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A OBRA DE RALPH WALDO EMERSON
A literatura é o esforço do homem para se indenizar pelas imperfeições da sua condição. A natureza e os livros pertencem aos olhos que os vêem. A natureza está constantemente a misturar-se com a arte.
A obra do escritor e filósofo estadunidense Ralph Waldo Emerson (1803-1882) aqui, aqui, aqui e aqui.


terça-feira, dezembro 08, 2015

INFÂNCIA, IMAGEM & LITERATURA, EPICURO, HERMILO, IXCHEL, HORÁCIO, RIVERA, SIBELIUS & ZIRALDO!

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? INFÂNCIA, IMAGEM E LITERATURA – A realização do projeto de extensão Infância, imagem e literatura: uma experiência psicossocial na comunidade do Jacaré-AL, levou os graduandos dos cursos de Psicologia e Jornalismo do Centro Universitário Cesmac, orientados pelo professor Ms Cláudio Jorge Gomes de Morais, a ter uma experiência marcante naquela comunidade deodorense. Da minha parte, confesso: foi uma experiência para lá de reveladora. É que a comunidade do estudo se encontrava há um pouco mais de dois anos instalada no Município em local de verdadeira calamidade pública, denominada de Jacaré, sendo, pois, numa iniciativa realizada com muito estardalhaço, mídia & tataritaritatá, transferida para onde hoje se encontra instalado o Condomínio Residencial Recanto da Ilha. Como disse, a transferência foi realizada num verdadeiro momento de festa, o que proporcionou a todos os contemplados a oportunidade de ter a felicidade de uma casa própria digna para moradia. Pouco tempo depois os moradores foram informados que o local era fruto do projeto Minha Casa, Minha Vida e que todos deveriam se cadastrar para a regularização da moradia. O tempo se passou e alguns reclamos começaram a surgir, iniciando pela destituição do presidente da Associação de Moradores por ele ter sido contemplado com a melhor casa de moradia, dando início a um processo de verdadeira balcanização com construção de muros para divisarem as residências. No processo de cadastramento dos moradores, alguns desistiram e negociaram com terceiros, enquanto a maioria permaneceu ali procurando regularizar a situação, passando a ser ameaçados de despejo caso não apresentassem imediatamente a documentação. Acontece, porém, que alguns outros problemas começaram a surgir como o processo de desagregação da comunidade - antes solidária e agora separada por muros -, falta de segurança, empoçamento de águas de esgoto nas vias, não disponibilidade de escola nem posto de saúde, a área de lazer é prejudicada tornando difícil o ambiente para as crianças por causa das praças inconclusas e abandonadas, campos de futebol que não foram concluídos e que quando chove fica intransitável com o lamaçal, reclamos quanto à cobrança das taxas de luz elétrica, entre outros problemas. Pudemos contactar as crianças e vê-las brincar na improvisada praça. Num segundo momento, recolhemos depoimentos de moradores que falaram a respeito da inexistência de espaço adequado para que as crianças pudessem desfrutar da sua infância, ocasião em que surgiram uma série de reclamos daquela população. De resto, os contatos com aqueles moradores revelaram-se bastante esclarecedores, possibilitando o entendimento da forma como as instituições públicas brasileiras atendem e prestam seus serviços ao povo brasileiro. Confira todo o relatório aqui. E veja mais aqui.


Imagem: a arte do pintor mexicano Diego Rivera (1886-1957)


Curtindo o álbum Concertos pour violon, serenedes, humoresque mutter, violon (Deutsche Grammophon, 1996), do compositor finlandês Jean Sibelius (1865-1957), com violino de Anne-Sophie Mutter, regência André Previn & Orchestra Staatskapelle Dresden.

A FILOSOFIA E SEU OBJETIVO – O filósofo grego Epicuro de Samos (341-271aC), possuía o proposito filosófico de atingir a felicidade, estado caracterizado pela aponia, a ausência de dor física e ataraxia ou imperturbabilidade da alma. Ele buscou na natureza as balizas para o seu pensamento: o homem, a exemplo dos animais, busca afastar-se da dor e aproximar-se do prazer. Estas referências seriam as melhores maneiras de medir o que é bom ou ruim. Utilizou-se da teoria atômica de Demócrito para justificar a constituição de tudo o que há. Das estrelas à alma, tudo é formado de átomos, sendo, porém de diferentes naturezas. A sua doutrina entende que o sumo bem reside no prazer, e, por isso, foi uma doutrina muitas vezes confundida com o hedonismo. O prazer, na sua visão, é o prazer do sábio, entendido como quietude da mente e o domínio sobre as emoções e, portanto, sobre si mesmo. É o prazer da justa medida e não dos excessos. Daí, portanto, entender-se que o epicurismo é o sistema filosófico que prega a procura dos prazeres moderados para atingir um estado de tranquilidade e de libertação do medo, com a ausência de sofrimento corporal pelo conhecimento do funcionamento do mundo e da limitação dos desejos. Da sua obra destaco os trechos: Todo desejo incomodo e inquieto se dissolve no amor da verdadeira filosofia. Nunca se protele o filosofar quando se é jovem, nem canse o fazê-lo quando se é velho, pois que ninguém é jamais pouco maduro nem demasiado maduro para conquistar a saúde da ama. E quem diz que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que ainda não chegou ou já passou a hora de ser feliz. Deve servir à filosofia para que possa alcançar a verdadeira liberdade. Assim como realmente a medicina em nada beneficia, se não liberta dos males do corpo, assim também sucede com a filosofia, se não libera das paixões da alma não pode afastar o temor que importa para aquilo a que damos maior importância quem não saiba qual é a natureza do universo e tenha a preocupação das fábulas míticas. Por isso não se podem gozar prazeres puros sem a ciência da natureza. Antes de tudo, considerando a divindade incorruptível e bem-aventurada, não se lhe deve atribuir nada de incompatível com a imortalidade ou contrario à bem-aventurança. Realmente não concordam com  a bem-aventurança preocupações, cuidados, iras e benevolências. O ser bem-aventurado e imortal não tem incômodos nem os produz aos outros, nem é possuído de iras ou de benevolências, pois é no fraco que se encontra qualquer coisa de natureza semelhante. Habitua-te a pensar que a morte nada é para nós, visto que todo o mal e todo o bem se encontram na sensibilidade: e a morte é a privação da sensibilidade. É insensato aquele que diz temer a morte, não porque ela o aflija quando sobrevier, mas que o aflige o prevê-la: o que não nos perturba também enquanto o esperamos. O limite da magnitude dos prazeres é o afastamento de toda a dor. E onde há prazer, enquanto existe, não há dor de corpo ou de espírito, ou de ambos. A dor do corpo não é de duração continua, mas a dor aguda dura pouco tempo, e aquilo que apenas supera o prazer da carne não permanece nela muitos dias. E as grandes enfermidades têm, para o corpo, mais abundante o prazer do que a dor. O essencial para a nossa felicidade é a nossa condição íntima: e desta somos nós os amos. Veja mais aqui, aqui e aqui.

ONDE ESTÁ O TIME? – No livro Palmares e o coração (FCCHBF, 1997), do escritor, jornalista e dramaturgo Hermilo Borba Filho (1917-1976), encontro a crônica Onde está o time?: Éramos doze, porque além dos onze jogadores ainda tínhamos o nosso juiz, meu sobrinho Elifas Levi, e só jogávamos em partida apitada por ele. Era uma garantia. Durante as férias, no chamado campo do camelo porque, no centro, fazia uma corcova, um pouco menor do que aquela tão gozada por Chico Anisio, em Palmares, treinávamos todos os admiráveis dias da semana, ataque contra defesa, preparando-nos para o que desse e viesse. Eu, às vezes, debaixo do arco, ficava ensimesmado e me abstraia a ponto de cercar um frango, porque contemplava o crepúsculo para os lados do Engenho Trombetas e me deliciava com aquele vento que me trazia o cheiro do mel e da bosta de boi. Havia na folhagem – canavial, mangueiras, cajueiros, goiabeiras – umas tonalidades deste verde-amarelado do nordeste que me deixavam cismando. E à noite, no Clube Literário ou nos assustados, no Ato do Lenhador ou no café de Nenê Milhaço comentávamos entre gargalhadas e cervejas, as peripécias do treino se fosse dia de semana ou do jogo se fosse dia de domingo. Descuidados, entre namoradas e mulheres, sambas de Assis Valente e Noel Rosa, valsas de Capiba, foxes e rancheiras, jamais pensávamos no tempo que corria. E não era mesmo para pensar. Hora de pensar no tempo é agora. Onde está o time? Elifas Levi, o juiz, de apelido familiar Vivi, eu o vejo esporadicamente, durante alguns minutos se tanto, nestes últimos anos. Está acomodado na vida, instalado, daqui em diante é para engordar. Eu, o goleiro, estou vivo, bolindo, tentando jogos mais difíceis na arte e na saúde, jogos mais amenos no amor. E não quero mas nada. A parelha de beques: Zeca Agrelli, extrovertido, gritador, a última vez em que o vi foi numa plateia de teatro em São Paulo, oficial do exército, a sua grande paixão, de uma das cadeiras me avistando, alvoroçando todo o mundo, já de braços abertos, e foi um nunca acabar de recordações; Arlindo, que havia sido seminarista, depois advogado, presidente do IAPETEC, sempre grave e sisudo, dançando valsas num passo aberto, encantou-se este ano e por isto, agora, só irei vê-lo no Festim dos Eleitos. Jogávamos na formação clássica WM e como tal a linha de halfes se compunha de: Zezé (irmão de Arlindo), magro, seco como um graveto, que se formou em Odontologia em cima de quem jamais voltei a por os olhos; Antero (meu sobrinho, irmão de Vivi), que saiu de Palmares definitivamente para ser aviador e que também já se encantou; Toinho (irmão de Arlindo e irmão de Zezé), metido a dançarino, outro encantado, eu o perdi muitos anos antes do seu encantamento de que só vim a saber há pouco. A linha atacante: Aloisio (meu sobrinho) formou-se também em Odontologia, nunca mais saiu de Palmares, a cidade é seu habitat natural, puxou ao pai, chamando todo mundo de qualquer idade de meu filho e de minha filha, deu-se a mania da caça, vem ao Recife todas as vezes em que o Esporte joga e carrega nas costas a adversidade de dez anos deste clube; Airton (irmão de Arlindo, de Zezé e de Tonho), mais conhecido como Apudi, acho que pode ser encontrado no Engenho Beleza, acho, não tenho a certeza, porque também nunca mais o vi; Rômulo, alourado, o primeiro sujeito que vi fumar cigarro americano – Luck Strike – e que se juntava comigo e Germinio para escandalizarmos os bem comportados, tomando cachaça, sem usar meias, sem pentear cabelo, gravata sem camisa, invadindo um picadeiro de circo, numa noite de maior bebedeira, para contracenarmos com o palhaço – não tenho noticia dele, não sei ao menos se se encantou; Ayton é deputado federal, chegou a jogar pelo Santa Cruz, aqui no Recife todos os domingos jogávamos voleibol em casa de Carlos Rios, seu pai, e lá em Palmares, atacávamos os timinhos que apareciam; e finalmente Djalma – Djalma de Zeza – um excelente ponta-esquerda metido a janota com seu paletó saco de ombreiras, também nunca mais o vi. Impossível fazer, nessa altura, como fazem os componentes de uma turma que se forma no ano tal, não somente pelos que já se encantaram como porque tomamos, os vivos, caminhos tão diferentes que é bem melhor pensar neles como figuras heroicas e não como simples viventes cada um com a sua mazela e com seus problemas cotidianos. Na impossível volta ao tempo, sinto uma imensa falta do time, mas não quero passar, jamais, pela experiência de voltar a vê-los em grupo. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

AS ODES – No livro As odes, epodos e carme secular do poeta lírico e satírico romano Quinto Horácio Flaco (65-8aC), destaco inicialmente a Ode 1,3: Que assim te guie a poderosa deusa de Chipre, Assim os irmãos de Helena, claros astros, E o pai dos ventos, presos os outros, afora Iapige, ó nau, que a ti confiado me deves Virgílio; aos confins da Ática, peço o entregues incólume, e a metade conserves de minha alma. Carvalho e triplo bronze tinha sobre o peito quem primeiro em fero pélago o frágil barco lançou, nem temeu o precípite Áfrico a combater Aquilões nem o funesto Híadas, nem a raiva do Noto, senhor do Adriático, onde ao bel-prazer ondas ergue e depõe. Que passo da morte temeu quem, de olhos secos, monstros natantes, quem viu túrbido mar einfames rochedos acroceráunios? Em vão um deus separou, prudente, com divisor Oceano as terras, se, entanto, ímpios barcos sobre passamos vaus intangíveis. Audaz em buscar a tudo, ruia gente humana em nefastas proibições; audaz o filho de Jápeto em maligna fraude o fogo levou às gentes; após furtá-lo da etérea casa, pobreza e nova multidão de febres caiu sobre as terras e de afastada morte a tardia necessidade abreviou o passo. Dédalo experto, os ares inanes com penas negadas ao homem; invadiu o Aqueronte hercúleo trabalho. Píncaros não há para os mortais; o próprio céu buscamos por loucura e por nosso crime sofremos que Jove não deponha os iracundos raios. Também a ode 1,11: Colha o dia, confia o mínimo no amanhã. Não perguntes, saber é proibido, o fim que os deuses darão a mim ou a você, Leuconoe, com os adivinhos da Babilônia não brinque. É melhor apenas lidar com o que cruza o seu caminho. Se muitos invernos Júpiter te dará ou se este é o último, que agora bate nas rochas da praia com as ondas do mar. Tirreno: seja sábio, beba seu vinho e para o curto prazo reescale suas esperanças. Mesmo enquanto falamos, o tempo ciumento está fugindo de nós. Colha o dia, confia o mínimo no amanhã. Podemos sempre ser melhores. Basta pensarmos melhor. Por fim a ode 4,2: Quem quer que se afane em emular Píndaro, ó Julo, se alça em asas de cera – obra de Dédalo! – para dar nome a um ítreo mar. Qual  rio que do monte corre, a que as chuvas nutriram para além das conhecidas margens, ferve e, imenso, se precipita Píndaro, o de voz profunda: digno de receber o laurel de Apolo, quer em audazes ditirambos arroje novas palavras e seja levado em ritmos libertos de leis; quer cante deuses e reis – dos deuses sangue – por que tombaram os Centauros por morte justa e caiu a flama da hórrida Quimera; quer cante o pugilista e o cavalo que a palma Eléia conduz, divinos, de volta a casa dando um presente mais valioso que cem estátuas; quer chore o jovem arrancado à esposa flébil e as forças, o ânimo e os costumes áureos leve aos astros e cause inveja ao negro Orco. Um grande sopro eleva o cisne de Tebas, ó Antônio, sempre que chega às altas regiões das nuvens: eu, pequeno, segundo o modo e a maneira da abelha de Matino que colhe  a muito custo pelos bosques e margens do orvalhado Tíbur o tomilho grato, canções eu forjo trabalhadas. Cantarás César, ó poeta de maior plectro, quando, ornado com a merecida trouxer os ferozes Sigam bros pelo monte sacro, ele, de quem nada maior ou melhor os fados e os bons deuses concederam à terra nem concederão, conquanto os tempos tornem ao prístino ouro. Cantarás e os ledos dias e da Urbe o jogo público pelo ansiado retorno do forte Augusto e o fórum livre de litígios. Então da minha voz, se algo falar digno de ouvir, grande parte acederá e “ave, ó belo sol” cantarei feliz pela volta de César. E a ti, enquanto desfilas, “ió Triunfo”, não uma só vez toda a cidade diremos, “ió Triunfo”, e incenso queimaremos aos benignos deuses. A ti dez touros e dez vacas remirão os votos, a mim tenro bezerro que, deixada a mãe, crescerá em largo pasto para remir os meus: ele que na fronte imita os cornos ígneos da lua em seu terceiro ciclo: lua, que, marcada, ele trouxe, branco ali de ver, fulvo, no restante. Veja mais aqui e aqui.

IRKUSTSK & OS HOMENS SÃO DE MARTE (Foto: Mônica Imbuzeiro) - A trajetória da atriz diretora teatral Irene Ravache começou com o seu sonho de infância até que começou a fazer um curso de interpretação na Fundação brasileira de Teatro (FBT), em 1962. No ano seguinte se formou em seu curso profissional, iniciando um novo curso em 1964, no Teatro dos Quatro e se formando em 1965. Em 1970, realiza o curso de técnica vocal, Método Espaço Direcional, viajando para São Paulo onde frequentou aulas com a atriz Maura Baiochi. Nesse período, como atriz atuou nas peças Aconteceu em Irkustsk (1961), Eles Não Usam Black-Tie (1963), Aonde Vais, Isabel? (1963), Pindura a saia (1966), A cozinha (1968), A ratoeira (1971), Os inocentes (1972), Roda cor de roda (1975), Os filhos de Kennedy (1977), Bodas de papel (1978), Tem um psicanalista na nossa cama (1980), Pato com laranja (1980), Afinal uma mulher de negócios (1981), Filhos do silêncio (1982), De braços abertos (1984), Uma relação tão delicada (1989), Eu me lembro (1995), Brasil S/A (1996), Inseparaveis (1997), Intimidade indecente (2001) e A reserva (2008). Como diretora de teatro As avestruzes (1979), A gema do ovo da ema (1979), Beijo de humor (1995), Clarice em casa (1995) e As vantagens de ser bobo (1998). No cinema ela atuou em Geração em fuga (1972), O supermanso (1974), Lição de amor (1975), Curumim (1978), Doramundo (1978), Que bom te ver viva (1989), Ed Morte (1997), Até que a vida nos separe (1999), Amores impossíveis (2001), Viva sapato (2002), Depois daquele baile (2005) e Os homens são de marte... e é pra lá que eu vou! (2014). Também fez sucesso por suas participações na televisão, sendo indicada ao prêmio Emmy Internacional, em 2008. Veja mais aqui.

MANDRAKE – A série de televisão brasileira produzida pelo canal HBO Brasil em parceria com a Conspiração Filmes, Mandrake (2007), foi duas vezes finalista do International Emmy Awards. A série foi baseada nos livros A grande arte e e Mandrake, a Bíblia e a Bengala, ambos do escritor Rubem Fonseca e escrita por  José Henrique Fonseca, Felipe Braga e Tony Belloto. A serie conta a história de Mandrake que é um advogado, especializado em resolver casos de chantagem e extorsão, se envolvendo tanto com indivíduos da alta sociedade carioca, como com as camadas mais baixas da sociedade. O trabalho de Mandrake é lidar com esses elementos para ajudar seus clientes. O destaque da série vai para a atriz Maria Luísa Mendonça que interpreta a personagem Berta Bronstein, namorada de Mandrake, sempre suspeita das traições e mentiras de seu namorado. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
No Dia da Mulata, os desenhos de Ziraldo. Veja mais aqui e aqui.

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada ao Festival de Ixchel (“A Branca”), a dama da noite, deusa da Lua, na mitologia maia, deusa da medicina, do parto, dos trabalhos têxteis e da lua. As lendas contam que um deus todo poderoso, Itzamna, criou o mundo e se casou com a deusa procriando os deuses Yum (deus do milho), Ek Chuah aos deuses dos sacrifícios e das estrelas; suas filhas foram as deusas das águas, da noite e do paraíso. À deusa Ixchel se atribuem os fenômenos relacionados à Lua, a gravidez, a cura e a tecelagem. É representada como uma anciã derramando um jarro cheio de água sobre a terra e, também, como uma anciã tecendo em um tear de cintura. Seu templo se localiza na ilha Dcuzamil, da província de Ecab (hoje Cozumel). Do porto de Pole (hoje Xcaret) partiam as canoas de peregrinos até o templo em Dcuzamil para solicitar o oráculo desta deusa; nesta peregrinação, ajudavam, também, as mulheres jovens a pedir em suas gestações a procriarem os filhos que seus esposos queriam.


segunda-feira, dezembro 07, 2015

CHOMSKY, CASCUDO, BABENCO, PÊRA, RABICHO DA GERALDA & MUITO MAIS!

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? DAS DECEPÇÕES COM AS MAZELAS NA VIDA - Quando almejarem lhe destruir, sorria porque o que se considera destruição é só um estágio da mudança do que pode ser péssimo para o que haverá de ser melhor. Quando sentir-se vítima de uma falta de consideração, não ligue porque não só existe uma pessoa na face da terra, outros podem dar a atenção que você merece ter. Quando constatar que uma desfeita lhe foi feita, não desmorone, nem se entristeça, há sempre um horizonte enorme para sua melhor visualização e, com certeza, há muito mais superioridade a se alcançar na vida. Quando alguém lhe tratar com ignorância ou falta de educação, saiba que existem pessoas menores que seu próprio tamanho, que são tão mesquinhas que não merecem sequer um mínimo aceno ou pensamento. Quando se decepcionar ou se encontrar desapontado com a atitude de quem quer que seja, não esmoreça nem passe a habitar o reino depressivo da consternação, muito menos sinta-se constrangido, é que muita gente não sabe lidar com seres humanos, apenas com a submissão daqueles que devam se render aos seus caprichos e ao umbigocentismo de sua própria vaidade narcísica, desconsiderando que o outro também tem coração. Se um dia sentir-se injustiçado pelas circunstancias que levaram a um mal entendimento a seu respeito, não precisa erguer a voz, mudar a face, ficar furiosa ou detonando isso ou aquilo de quem se equivocou; o mundo está cheio de mal entendidos, incompreensões, desaforos e miudezas. Não esqueça que o Sol dá um espetáculo todos os dias, desde a alvorada até o crepúsculo, e quase ninguém se dá conta disso. E se um astro da envergadura do Sol passa despercebido por muita gente que se acha dono de um nariz que nem sabe nem que direção tomar, faz-se necessário relevar tudo, sem guardar rancor nem mágoas, sem condenar nem julgar, sem atacar nem maldizer, sem desleixar nem tratar nada nem ninguém da desimportância. É passar a entender a missão da natureza que nos faz bem, mas que não sabe nada do que é bem ou bom, dá-se naturalmente e o faz sem que precise de agradecimentos, nem homenagens, nem fingimentos, nem hipocrisia. Assim é que aprendemos que a vida é pra ser vivida. E vamos aprumar a conversa aqui.

 Imagens: a arte do cineasta, artista plástico, ilustrador, desenhista e roteirista de história de quadrinhos francês Enki Bilal.


Curtindo o álbum The Blessed Unrest (2013), da cantora e compositora estadunidense Sara Bareilles.

A RESPONSABILIDADE DO ESCRITOR – No livro Notas sobre anarquismo (Imaginário/Sedição, 2004), do filosofo e ativista político norte-americano, Noam Chomsky, encontro que: A responsabilidade do escritor como um agente moral é tentar apresentar a verdade sobre assuntos de significância humana para um publico que poder fazer alguma coisa a respeito. Isso é parte do que significa ser um agente moral ao invés de um monstro [...] Ao brigarmos contra todos deixamos que vençam os piores [...] As ideias sobreviveram (ou foram reinventadas) de várias formas na cultura da resistências às novas formas de opressão, servindo como uma visão animadora para as lutas populares que expandiram, consideravelmente, o alcance da liberdade, justiça e direitos [...] Pode-se perguntar qual é o valor de se estudar uma tendência definida do desenvolvimento histórico humano que não articula uma teria social detalhada e especifica. De fato, muitos críticos desconsideram o anarquismo por o acharem utópico, sem forma, primitivo ou incompatível com as realidades de uma sociedade complexa. No entanto, pode-se argumentar diferentemente: que em todo estágio da história, nossa preocupação deve ser desmantelar as formas de autoridade e opressão, que sobrevivem de uma época que podem ter sido justificadas pelas necessidades de segurança, sobrevivência ou desenvolvimento econômico, mas que agora contribuem para – ao invés de aliviar – a deficiência cultural e material. Neste caso, não existirá doutrina de mudança social fixa no presente e no futuro, nem mesmo, necessariamente, um conceito imitável e especifico dos objetivos de mudança social deva visar. Certamente, nossa compreensão da natureza do homem ou das possibilidades de longo alcance deve ser tratada com grande ceticismo, exatamente como nos tornamos céticos quando ouvimos que a natureza humana ou as exigências de eficiência ou a complexidade da vida moderna exigem essa ou aquela forma de opressão e regra autocrática. [...] Veja mais aquiaqui, aqui e aqui.

QUIRINO, VAQUEIRO DO REI – No livro Contos tradicionais (América, 1972), do historiador, antropólogo, advogado e jornalista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), encontro a história de Quirino, vaqueiro do rei: Era uma vez um rei que possuía muitas fazendas de gado entregues a vaqueiros de confiança. Uma das melhores propriedades era confiada ao negro Quirino, que tinha fama de não mentir. O rei vivia gabando o vaqueiro, apontando-o como modelo de veracidade. Essa opinião despertava inveja entre os fidalgos e um deles, rico e poderoso, resolveu acabar com a celebridade moral de Quirino, vaqueiro do rei. Na fazenda de que Quirino se encarregava, o orgulho do rei era um boi barroso, bonito como não havia outro. Cada ano o vaqueiro ia até a casa do rei prestar contas. Chegava, riscando o cavalo e dizia por aqui assim: — Pronto, meu amo! Aqui está Quirino, vaqueiro do rei! O rei perguntava: — Como vai, Quirino? — Com a graça de Deus e o favor do meu amo! — A obrigação? — Em paz e a salvamento. — As vacas? — Umas gordas outras magras. — O boi barroso? — Vai forte, valente e mimoso! O fidalgo disse ao rei que Quirino era capaz de mentir. O rei repeliu a ideia. — Vamos apostar, majestade? — Pois vamos! Dez fazendas de gado, cem touros escavadores e duzentas vacas leiteiras com chifres dourados? — Está apostado! O fidalgo tinha uma filha muito bonita, chamada Rosa. Chamou a moça e contou a aposta. Por dinheiro, Quirino não peca. Com ameaça, Quirino não peca. Abaixo de Deus, a mulher pode com tudo que tem fôlego. Rosa se vestiu como uma mulher do povo e foi até a fazenda onde estava o boi barroso. Encontrou Quirino e conversou com ele, fazendo tanto trejeito, dando tanta volta no corpo que o vaqueiro ficou alvoroçado e se apaixonou por ela. Ficaram muitos meses vivendo juntos, andando para lá e para cá, no serviço do campo. Numa manhã Rosa disse: — Quirino, você gosta de mim? — Como demais... — Quer bem ao seu filhinho que vai nascer? — Mais do que a luz do dia! — Pois se não quiser que seu filho morra, mate o boi barroso que eu quero comer o fígado bem assadinho... Quirino ficou assombrado mas obedeceu. Matou o boi barroso e a mulher comeu o fígado assado. Dias depois era o tempo de o vaqueiro ir até a presença do rei. Rosa mandou dizer ao seu pai que o boi barroso fora morto. Quirino vestiu a véstia de couro, perneiras, gibão, guarda-peito, calçou o guante, pôs o chapéu na cabeça, passou o barbicacho, montou no cavalo de confiança e galopou para a casa do rei. Foi viajando e pensando. Finalmente avistou o palácio e parou o cavalo. Que ia dizer ao rei? Era melhor preparar a conversa. Deu de rédeas, andou uns passos, riscou o cavalo e disse: — Chego e digo assim: "Pronto senhor meu amo! Aqui está Quirino, vaqueiro do rei!" Ele diz: "Como vai, Quirino?" Eu respondo: "Com a graça de Deus e o favor do meu amo!" "Obrigação?" "Em paz e a salvamento!" "As vacas?" "Umas gordas outras magras!" "E o boi barroso?" Eu faço que estou triste e digo: "Saiba el-rei meu senhor que o boi barroso saltou um serrote e quebrou o pescoço..." Interrompendo-se, falava alto, indignado: — Isso não é palavra de Quirino, vaqueiro do rei! — Posso dizer que o boi barroso ia passando o açude e se afogou. Só pude salvar o couro. — Isso não é palavra de Quirino, vaqueiro do rei! E, chega-não-chega no pátio do palácio do rei, Quirino resolveu a questão. Pulou do cavalo, amarrou-o subiu as escadas, pediu para falar ao rei. Entrou na sala e o rei estava com o dito fidalgo que fizera a aposta, todo satisfeito, certo de ganhar. — Pronto, meu amo! — Como vai, Quirino? — Com a graça de Deus e o favor do meu amo! — A obrigação? — Em paz e a salvamento! — As vacas? — Umas magras e outras gordas! — E o boi barroso? — Saiba o senhor meu amo que o boi barroso deu o fígado para o meu filhinho não morrer! — Que história é essa, Quirino? Quirino contou toda a história e, quando terminou, disse: — Assim é que fala Quirino, vaqueiro dor Rei! O fidalgo ficou preto de vergonha. O rei findou dizendo: — Quirino, vaqueiro do rei, o que eu ganhei na aposta com esse amigo é o dote para casares com a mãe do teu filhinho... O que estava feito, estava feito. Quirino casou com Rosa e foram felizes como Deus com os anjos. Veja mais aqui e aqui.

O RABICHO DA GERALDA – No livro Cancioneiro do norte (Conselho Estadual de Cultura, 1928), de Rodrigues de Carvalho (1867-1936), encontro o poema em cordel O rabicho da Geralda: Sou o boi liso, rabicho,/ Boi de fama, conhecido, / Minha senhora Geralda / Já me tinha por perdido. / Era minha fama tanta, / Nestes sertões estendida... / Vaqueiros vinham de longe / Pra me tirarem a vida. / Onze anos morei eu / Lá na serra da Preguiça, / Minha senhora Geralda / De mim não tinha notícia. / Morava em cima da serra, / Naqueles altos penhascos, / Só davam notícias minhas / Quando me viam os rastos. / Ao cabo de onze anos / Saí na Várzea do Cisco, / Por minha infelicidade / Por um caboclo fui visto. / Quando o caboclo me viu / Saiu por ali aos topes, / Logo foi dar novas minhas / Ao vaqueiro José Lopes. / Quando o caboclo chegou / Foi com grande matinada: / - Oh! José Lopes, eu vi / O rabicho da Geralda. / Estava na Várzea do Cisco / C’um magotinho de gado, / Lá na pontinha de cima, / Onde entra pra talhado. / José Lopes chamou logo / Por seu filho Antonio João: / "Vá buscar o barbadinho, / "E o cavalo tropelão. / "Diga ao senhor José Gomes / "Que traga sua guiada / "E venha pronto pra irmos / "Ao rabicho da Geralda". / Chegados eles que foram, / Montaram, fizeram linha, / A quem eles encontravam / Perguntavam novas minhas. / Encontrando Zé Tomás, / Que vinha lá da Queimada... / "Camarada, dá-me novas / "Do rabicho da Geralda?" / - Ainda mesmo que eu visse, / Eu não daria passada, / Pois será muito o trabalho, / E o lucro não será nada. / - Não senhor, meu camarada, / A coisa está conversada: / A dona mesmo me disse / que desse boi não quer nada. / Uma das bandas e o couro / Fica pra nós de bocório; / A outra vai se vender / Pras almas do purgatório. / Despediram-se uns dos outros, / No carrasco se internaram, / Caçaram-me todo o dia / Porém não me alcançaram. / Deram de marcha pra casa, / Já todos mortos de fome, / Foram comer um bocado / Na casa do José Gomes. / Passados bem cinco dias, / Estando eu na ribanceira, / Quando fui botando os olhos, / Vejo vir Manuel Moreira. / Um dos vaqueiros de fama / Que naquele tempo havia, / Que muita gente supunha / Só ele me pegaria. / Olhei para o outro lado, / Para ver se vinha alguém: / Divisei Manuel Francisco / E seu sobrinho Xerém. / Fui tratando de correr / Pelo lugar mais fechado, / Quando o Moreira gritou-me / Aos pés juntos, enrabado, / Corra, corra, camarada, / Pise seguro no chão, / Que hoje sempre dou fim / Ao famanaz do sertão. / Tiremos uma carreira / Assim por uma beirada; / Eu mesmo desconfiei / Do rabicho da Geralda. / Mais adiante pus-me em pé / Para ver o zuadão: / Enxerguei Manuel Francisco / Caído num barrocão. / Estive ali muito tempo, / Ali posto e demorado; / A resposta que me deram / Foi dizer: vai-te malvado! / Toda vida terei pena / De correr atrás de ti; / Bem me basta minha faca, / E minha esposa que perdi! / Daí seguiu para trás / Ajuntando o que era seu, / E juntamente caçando / O Xerém, que se perdeu. / Nesse tempo tinha ido / A Pajeú ver um vaqueiro; / Dentre muitos que lá tinha, / Viera o mais catingueiro. / Este veio por seu gosto, / Trazendo sua guiada, / E desejava ter encontro / Com o rabicho da Geralda. / Chamava-se Inácio Gomes, / Era cabra curiboca, / O nariz achamurrado / Cara cheia de pipoca. / Na fazenda da Concórdia, / Chegou ele a uma hora; / Muita gente já dizia: / O rabicho morre agora. / Dizia que pra matar-me / Não precisava de mais: / Bastava dar-me no rasto / De oito dias atrás. / Deram-lhe então um guia / Que bem soubesse do pasto, / E que também conhecesse / Dentre todos o meu rasto. / Onze dias me caçaram / Com grande empenho e cuidada: / Não puderam descobrir / Nem novas e nem mandado. / Passados os onze dias / Lá no Riacho do Agudo, / Quando fui botando os olhos, / Vi o cabra topetudo. / Disse o guia me avistando: / - Venha ver, meu camarada, / Eis ali o boi de fama, / O rabicho da Geralda. / Bem cedo, ao sair do sol, / Vimo-nos de cara a cara, / E nos primeiros arrancos / Logo lhe caiu a vara. / Ele disto não fez caso, / Relho ao cavalo chegou / E em poucas palhetadas / Bem pertinho me gritou: / - Corra, corra, camarada, / Puxe bem pela memória / Que não vim da minha terra / Para vir contar estória. / Gritou-me da outra banda / O senhor guia também: / - Tu cuidas que sou Moreira, / Ou seu sobrinho Xerém? / Tinha um pau atravessado / Na passagem dum riacho: / O cabra passou por cima / E o cavalo por baixo. / Segui a meia carreira, / No meu correr costumado, / E antes de meia légua, / Ambos já tinham ficado. / Pôs-se o cabra topetudo / A pensar o que faria, / E quando chegasse em casa / Que estória contaria!... / Na fazenda da Botica / Tinha gente em demasia, / Esperando ter notícia / Do rabicho nesse dia. / Perguntou José de Góis, / Morador no Carrapicho: / - Amigo, seja benvindo! / Dá-me novas do rabicho? / - Eu o vi, mas não fiz nada, / Pois nunca vi correr tanto, / Como esse boi, o rabicho, / É coisa que causa espanto! / - Nesta terra eu não vejo / Quem o pegue pelo pé, / Aquele morre de velho / Ou de cobra cascavel. / Respondeu José de Góis, / Morador no Carrapicho: / - Eu pelos olhos conheço / Quem dá voltas ao rabicho. / - Já anda em dezoito anos / Que Zé Lopes o capou, / Era ele então garrotinho, / Por isso foi que pegou. / Foi-se o cabra topetudo / E não sei se lá chegou, / Só sei é que ele foi / Com os beiços com que mamou. / Chega enfim - noventa e dois - / Aquela seca comprida; / Logo vi que era a causa / De eu perder a minha vida. / Secaram-se os olhos d’água, / Não tive onde beber, / E botei-me aos campos grandes / Já bem disposto a morrer. / Desci por uma vereda / E disse: esta me socorra; / Quando quis cuidar em mim / Estava numa gangorra. / Fui à fonte beber água, / Refresquei o coração! / Quando quis sair não pude, / Tinham fechado o portão. / Corri logo a cerca toda / E sair não pude mais: / Quem me fez prisioneiro / Foi apenas um rapaz. / Este saiu às carreiras, / E, vendo um seu camarada, / Gritou logo: já está preso / O rabicho da Geralda. / Espalhando-se a notícia, / Correram todos a ver, / E vinham todos gritando: / O rabicho vai morrer! / Trouxeram três bacamartes, / Todos três me apontaram, / Quando dispararam as armas, / Todas três me traspassaram! / Ferido caí no chão! / Saltaram a me pegar / Uns nos pés, outros nas mãos, / Outros para me sangrar! / Disse então um dentre eles: / - Só assim, meu camarada, / Nós provaríamos todos / Do rabicho da Geralda / Assim findo-se este drama, / Tudo assim se findará, / Como este boi, nesta terra / Não houve, nem haverá. Veja mais aqui e aqui.

BAND-AID ATÉ XANADU – A trajetória da belíssima atriz de teatro, cinema e televisão Danielle Winits, começou quando ele resolveu fazer cursos de balé, artes e interpretação. No teatro, atuou em diversos musicais, destacando-se como bailarina e cantora. Iniciou sua carreira na televisão em 1993, na minissérie Sex Appeal e, no teatro sua estreia se deu no ano seguinte, com a peça musical Band-Aid, e no cinema sua primeira atuação aconteceu em 1999, com o longa-metragem Até que a vida nos separe. Depois vieram as peças teatrais A volta de Chico Mau (1996), Cabaret Brazil (1998), Relax, it’s sex (1999), Lancelot (1999), Meu amor: você perfeita, agora muda (2002), Amo-te (você nunca amou alguém assim) (2005), Chicago (2005), Hairspray (2009) e Xanadu (2012). Com uma carreira dedicada ao teatro, ao cinema e à televisão, a atriz ganhou prestígio e tem se mantido na arte, incluindo, programas de humor, projetando com firmeza e competência uma carreira consagrada de sucesso e firmando seu nome entre as mais importantes atrizes da atualidade. Veja mais aqui.

CORAÇÃO ILUMINADO – O drama autobiográfico Coração iluminado (Corazón iluminado, 1998), do cineasta Hector Babenco, conta a história das mágoas e catarse de um argentino na década de 1960, que vive um romance intenso e tumultuado com uma mulher neurótica e passional. A relação conflituosa com o pai e a vocação artística levam-no a deixar o país para estudar cinema e realizar um pacto suicida com a namorada. Vinte anos depois ele regressa à cidade e se envolve com uma mulher madura que incorpora o amor adolescente. O destaque do filme é duplo para as atrizes: a lindíssima Maria Luísa Mendonça e Xuxa Lopes. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Capa da revista londrina de arte contemporânea Frieze Magazine.

DEDICATÓRIA
 A edição de hoje é dedicada como homenagem à grande atriz, cantora e diretora Marília Pêra (1943-2015). Veja aqui.


NOÉMIA DE SOUSA, PAMELA DES BARRES, URSULA KARVEN, SETÍGONO & MARCONDES BATISTA

  Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Sempre Libera (Deutsche Grammophon , 2004), Violetta - Arias and Duets from Verdi's La Tra...