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quarta-feira, novembro 06, 2019

SOPHIA BREYNER, ADORÉE VILLANY & CORREIO SENTIMENTAL


SOPHIA ETERNA POESIA - O que foi feito ou dito, aconteceu. O que não se perdeu, quase não mais. A vida passou, nenhum temor, explicação alguma e nenhuma data, morada, simulacro ou inutescência: o mundo é o lugar da imperfeição. De fato, o que ficou, nada mais que a lembrança de sua raiz dinamarquesa do Porto na quinta fabulosa, a memória das casas que desapareceram com a nau de Laura, as manhãs da Granja, o jardim perdido e dali a noite para as historietas infantis da menina do mar e a floresta, coisas do coração e de viver. Sou rio na praia abandonada como Endymion - como o rio que atravessou a sua vida no estio da paixão cega e nua. E nos cruzamos no frio da noite entre o silêncio e a solidão, nos estiramos na rua de abril e foi possível que cometesse a sua escrita na carne do meu peito que sangrou e sorrio enquanto exaltações se fizeram de amor e amante. A brisa trouxe o beijo da sua boca amena e eu entrei pela manhã que era sua e passamos Antinoo, um ao outro, exilados na inteireza e a sós. Eu possuí todas as praias em que você foi mar e abraçou a minha alma perdida para que eu vivesse no bailado dos seus sonhos que voltaram e tomaram os meus que serão sempre seus. Justa foi a forma do seu corpo ao meu nos dias de verão e longos desejos inquietos de tocar e não prender entre quatro paredes a libertação madura da carne que exultou de felicidade, ao mesmo tempo que sangrou na distância que dilatou músculos e dores persecutórias. Acontecia-lhe o poema escrito por ninguém, feito por si só e a falar de si e o que não se vê, aprendi da poesia do seu sorriso e na entrega do seu amor. Não posso ignorar a sua Cantata da Paz, o Nome das Coisas, as Cidades Acesas, o Tempo Dividido e a reza pelos pescadores em alto mar. A busca pela justiça foi tudo no tempo em que vivemos. Nunca mascarei a virtude nem comprei perdão, não me calo, nem tenho medo, muito menos germino na podridão, voo de mãos dadas com o perigo e a morte. Perfeito é não quebrar, porque os outros sempre chegam tarde, não sabem de si nem de nós, só deles. Na sua e na ausência de todos, também a minha loucura de florir a vida, de beber a lua cheia, a minha biografia no tempo e no chão da minha terra. Eu que sempre fui rio, um dia serei mar e areia aos seus pés, também jamais amarei quem não possa viver sempre, nem darei ao tempo a minha vida. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: Há mulheres que trazem o mar nos olhos / Não pela cor / Mas pela vastidão da alma / E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos / Ficam para além do tempo / Como se a maré nunca as levasse / Da praia onde foram felizes. / Há mulheres que trazem o mar nos olhos / pela grandeza da imensidão da alma / pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens… / Há mulheres que são maré em noites de tardes… / e calma. Poema O mar dos meus olhos, da poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004). Veja mais aqui, aqui & aqui.

TELEGRAMA SENTIMENTAL
Amor com amor se paga
Isto é modo de dizer
Por mais amor que me pague
Ficará sempre a dever
TELEGRAMA SENTIMENTAL – (Imagem: Quermesse, de Anita Malfati) – Quadra extraída da obra Quadras anônimas (Olimpia, 1997), de José Sant’Anna, registrada por Luís da Câmara Cascudo, no seu Dicionário do folclore brasileiro (Global, 2001), dando conta do correio-elegante que era um entretenimento que consistia em enviar mensagens escritas, em versos ou não, a alguém com quem se desejava estabelecer contato. Outra quadra como: O passado está gravado / neste correio tão puro / quero guardar para sempre / recordação pro futuro. Mais outra: Nesta quermesse tão bela / onde tudo é alegria / falta somente você / para a minha companhia. Cascudo assinala que era costume tradicional rapazes e moças trocarem mensagens por ocasião de quermesses, festas religiosas, até mesmo pelo sistema de alto-falantes, em cidades do interior. Em forma de quadrinhas, são em geral verdadeiras declarações de amor. Veja mais aqui.

A ARTE DE ADORÉE VILLANY
A arte da coreógrafa e bailarina francesa Adorée Villany, que iniciou sua carreira no teatro, quando apresentou a Dança dos Sete Véus e, posteriormente, incorporou o texto da peça Salomé, de Oscar Wilde, em sua performance. Seus trabalhos exploraram temas míticos, históricos e orientais, além de possuírem qualidades abstratas, afora temas de pinturas de artistas contemporâneos como Franz Stuck e Arnold Böcklin. Ela desenhou suas próprias roupas e descobriu seu corpo durante suas apresentações. Foi processada por obscenidade em Munique em 1911, sendo posteriormente absolvida; o júri constatou que seu desempenho estava no "maior interesse da arte". Sua pena foi uma multa em 200 francos pelo Tribunal Correctnel em Paris por exposição indecente. Publicou um livro sobre dança, Tanz-Reform und Pseudo-Moral, em 1912, que expressava seus princípios estéticos. Veja mais aqui.
 

quarta-feira, dezembro 30, 2015

MANGUABA, CAMÕES, CASCUDO, BENTEVI, RESNAIS, BRIZZI, TRAPIÁ, VIVIANI DUARTE & MUITO MAIS!!!

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? VIVA MANGUABA - Quando cheguei em Maceió no ano de 1994, conheci o parceiramigo Marcos Alexandre Martins Palmeira que, entre outras coisas, me presenteou com a contemplação do Alto do Cruzeiro, na Chã do Pilar, da panorâmica inenarravelmente maravilhosa da Lagoa Manguaba. O impacto que me provocou a visualização de toda extensão desse lindo complexo lagunar, da sua nascente em Pilar até a sua foz na Praia do Francês, em Marechal Deodoro, fez com que esse recurso natural passasse a compor as maravilhas que o meu coração jamais teria visto e sentido. Trata-se, portanto, da maior laguna do estado alagoano, com 42 quilômetros quadrados de extensão e formada dos estuários dos rios Paraíba do Meio e Sumaúma, e que passou a compor o cenário predileto das minhas incursões de lazer e arte. Por conta disso, participei efetivamente com a comunidade e multidão de turistas das várias edições do Festival do Bagre, fato que me levou a encampar, por iniciativa o citado parceiramigo, o projeto de Marketing Societal denominado de Folia Caeté, que contou com parceria do artista plástico Rollandry Silvério. Por causa desse projeto compus diversos frevos, entre eles o Manguaba, em homenagem às comunidades banhadas por esse fantástico recurso hídrico. Com esse projeto pude aprofundar meus estudos acerca das localidades alagoanas, culminando com a publicação do meu livro infantil Alvoradinha – Calango Verde do Mato Bom, em 2001 e, em seguida, escrever o livro Alvoradinha na Manguaba, este ainda inédito. Por consequência, dividi meu trabalho em duas frentes: com o espetáculo infanto-juvenil Nitolino no Reino Encantado de Todas as Coisas; e o show poético-musical Tataritaritatá – Vamos aprumar a conversa! Em ambos, eu fecho as apresentações com a execução do frevo Manguaba, deixando a mensagem e a minha homenagem à lagoa e suas comunidades. Deu-se, então, mais uma parceria com o amigo Palmeira, desta vez, com o projeto CDL Criança que proporcionou levar o meu trabalho artístico para diversas escolas e instituições de Pilar, São Miguel dos Campos e outras cidades da região. É quando recebo o convite do escritoramigo e secretário de cultura de Marechal Deodoro, Carlito Lima, para participar da 1ª edição da Festa Literária de Marechal Deodoro, especificamente na sua Flimarzinha, quando tive oportunidade de me apresentar em cada escola do Município. Um fato curioso aconteceu durante essas apresentações. Como eu fechava a minha contação e cantação de história com o frevo Manguaba, o meu personagem Nitolino, findava por perguntar onde ficava a referida lagoa para fechar a história e descobrir o reino encantado de todas as coisas, ao passo que ninguém, entre a garotada, sabia onde ficava. Deixei a mensagem no ar. Na 2ª edição da Flimar, a Flimarzinha aconteceu na orla lagunar e eu ganhei uma tenda que tinha a lagoa por cenário. Sempre que se aproximava o final de cada apresentação, eu repetia a pergunta acerca da localidade da lagoa em referência, ocorrendo o mesmo silêncio anterior: ninguém entre a garotada sabia. Foi quando na 3ª edição da Flimarzinha, o frevo não só ganhou vida como passou a ser o ponto alto das minhas apresentações, quando a garotada passou a participar festejando comigo o nosso encontro com a lagoa, ocasião em que criei a história do Bagre Zé & Zé Bagre, fato que me levou a participar das seguintes edições, inclusive, a deste ano em novembro passado. Durante todo esse tempo, a lagoa sofreu todo tipo de atentado oriundo do deságue do esgoto sanitário das áreas urbanizadas do entorno, da pesca predatória, do despacho de lixo e outras ações nefastas produzidas por tipo intervenção humana às suas águas agora poluídas, com grande concentração de coliformes fecais, provocando o desaparecimento de muitos peixes, entre eles tilápias e, inclusive, do seu maior símbolo o bagre, afora colocar em risco a saúde de todas as comunidades e do público turista. Por essa razão, começou-se uma movimentação envolvendo artistas, executivos, instituições de classe e comunidades, para a realização de um evento denominado Viva Manguaba, ocasião em que será apresentado o projeto de pesquisa, estágio e extensão voltado para a contribuição da arte – Literatura, Música, Teatro e Pintura – para a Psicologia Ambiental, Educação Ambiental e Direito Ambiental nas comunidades da Lagoa Manguaba, e com o objetivo de realizar intervenções acadêmicas e artísticas de recuperação, preservação e manutenção da lagoa. O movimento está crescente e, oxalá, a gente possa realizar alguma ação efetiva para chamar a atenção para essa importante lagoa. E vamos aprumar a conversa aqui e aqui.

PICADINHO
Imagem: Reclining nude, do artista plástico Larry Vincent Garrison (1923 – 2007). Veja mais aqui.


Curtindo o álbum internacional Brizzi do Brasil (Amiata Records, 2004), do compositor italiano Aldo Brizzi.

EPÍGRAFEQueira-me bem que não custa dinheiro!, frase recolhida do livro Locuções tradicionais no Brasil (EdUFPE, 1970), do escritor e folclorista Luís da Câmara Cascudo (1899-1986), como sendo uma frase muita antiga que tornou-se comum e vulgar, sendo utilizada pelo do poeta lusitano, poeta Luís de Camões (1524-1580), nos versos 433-434, de sua obra Eufatriões: - Não lhe negues teu querer, por te não custa dinheiro. Veja mais aqui, aqui e aqui.

A LITERATURA & A LITERATURA POPULAR - No livro Literatura oral no Brasil (Itatiaia, 1984), do escritor e folclorista brasileiro Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), encontro que: [...] A literatura que chamamos oficial, pela sua obediência aos ritos modernos ou antigos de escolas ou de predileções individuais, expressa uma ação refletida e puramente intelectual. A sua irmão mais velha, a outra, bem velha e popular, age falando, cantando, representando, dançando no meio do povo, nos terreiros das fazendas, nos pátios das igrejas nas noites de novena, nas festas tradicionais do ciclo do gado, nos bailes do fim das safras de açúcar, nas salinas, festas dos padroeiros, potirum, ajudas, bebidas nos barracões amazônicos, espera de Missa do Galo; ao ar livre, solta, álacre, sacudida, ao alcance de todas as criticas de uma assistência que entende, letra e música, todas as gradações e mudanças do folguedo. Ninguém deduzirá como o povo conhece a sua literatura e defende as características imutáveis dos seus gêneros. É como um estranho e misterioso cânon para cujo conhecimento não fomos iniciados. Iniciação que é uma longa capitalização de contatos seculares com o espírito da própria manifestação da cultura coletiva. Veja mais aqui e aqui.

TRAPIÁ – No livro Trapiá (Francisco Alves, 1961); do escritor Caio Porfírio de Castro Carneiro, encontro a narrativa que leva o título desse tópico a seguir transcrita: Naqueles tempos, era só uma oiticica, dominando o descampado. E bem junto à grota, um velho trapiázeiro. Por ali se cruzavam os caminhos que iam da vila do Coité ao serrote do Machado e da fazenda Taimbé no rumo dos cafundós do sertão. Os cambiteiros arriavam suas cargas debaixo da oiticica e ficavam horas e horas gozando a fresca, pernas espichadas, no bem bom, descansando das caminhadas. Um dia, apareceram uns retirantes, dizem que vindos de Pernambuco, e armaram uma venda ao pé do trapiazeiro. Não demorou muito, chegaram outras famílias, tangids pela grande seca do setenta e sete. Construíram-se casebres, alguns espalhados no descampado. Aquilo tudo era terra muita, vastidão de caatinga sem serventia. Contam os mais antigos que o cangaceiro Neste Amaricio amanheceu um belo dia dependurado do galho de oiticica. Fora enforcado com a correia de cangalha de algum arrieiro. Os feitos de Nestor Amaricio corria mundo. Nem depois de falecido deu sossego aos vivos. Nas noites de temporal, seus gemidos vinham do pé da oiticica, ganhavam lonjura. Então, derrubaram a árvore. O espírito de Nestor Amaricio se aquietou. Ficou só o trapiazeiro dominando a paisagem, ali de junto à grota, no oitão da venda dos pernambucanos. E nas épocas de safra, o chão amanhecia coalhado de trapiás maduros. Até quando durou a vida do trapiazeiro ninguém dá noticia ao certo. A tradição guardou muitas datas. Negra velha Aparecida conta uma estória desconforme: a árvore se encantara. Para o violeiro Zé de Melo, dos Melo do pé da serra, ela fora derrubada a mando do vigário do Coité, para levantar uma capela. A velha capela de São Sebastião, mais tarde transformada em igreja, com o seu cruzeiro, onde os filhos dos cororeis, nas festas do padroeiro, amarravam seus cavalos para banhá-los com cerveja. Assim veio ao mundo a vila do Trapiá. Irmão de Taimbé, irmã de Pitombeira. Viu secas e viu farturas. Perdeu até muito sangue na briga que durou uns pares de anos dos Castros com os senhores das Contendas. E o grito dos comboieiros dentro da noite, tangendo as tropas, acompanha toda a sua estória. Veja mais aqui.

ÁGUA ESBORRA DE AÇUDE – No livro Desmanchando o nordeste em poesia (Bagaço, 1986), do poeta popular Manoel Bentevi, encontro no Livro das Glosas, o mote O açude de bom gosto se arrombou, todo peixe que tinha foi embora: O açude de bom gosto se arrombou todo peixe que tinha foi embora: Com certeza o paredão não aguentou / toda a água que veio na enxurrada. / Quando foi na primeira cabeçada, / o açude de Bom Gosto se arrombou, / toda água da várzea se espalhou, / faz absurdo por aquele mundo afora, / resolveu tudo em menos de uma hora: / arrancou cana, quebrou pau, encheu o rio, / o açude dessa vez ficou vazio; / todo peixe que tinha foi embora. Veja mais aqui e aqui.

TEATRO RENASCENTISTA – Na obra Teatro Vivo (Civita, 1976), organizada por Sábato Magaldi, encontro que: Na Itália, onde uma rica classe de banqueiros e comerciantes havia estabelecido as premissas do desenvolvimento capitalista do Ocidente, a nova cultura artística aflorou mais rapidamente. Assim, já em meados do século XVI, os atores e as companhias se profissionalizaram através da commedia dell’arte – uma forma de teatro popular surgida em oposição á comedia literária e erudita de Ludovico Ariosto (1474-1533), Pietro Aretino (1492-1556) e Nicolau Maquiavel (1469-1527), autores renascentistas que seguiam fielmente o modelo clássico romano estabelecido por Plauto e Terêncio. Veja mais aqui e aqui.

ON CONNAIT LA CHANSON – O filme On connaît la chanson (Amores Parisienses, 1997), do cineasta francês Alain Resnais (1922-2014), conta a história de envolvendo pessoas com díspares interesses que envolve amor, paixões, negócios e relações pessoais. A partir do tema das aparências, Resnais inspirado desta vez pelo autor Inglês Dennis Potter, usou para integrar canções completas no corpo de suas ficções para melhor castigar sociedade britânica, usando trechos de canções interpretadas em reprodução a intervir por associação livre, nos acontecimentos dos seis personagens principais. O destaque vai para a premiadíssima atriz e realizadora francesa Sabine Florence Azéma. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
A arte do ilustrador e artista visual Tomas Spicolli

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à amiga psicóloga, professora, arterapeuta e curadora Viviani Duarte.

AS PREVISÕES DO DORO PARA 2016
Confira as previsões dos signos e as simpatias aqui.

LEITORA TATARITARITATÁ
 

segunda-feira, dezembro 07, 2015

CHOMSKY, CASCUDO, BABENCO, PÊRA, RABICHO DA GERALDA & MUITO MAIS!

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? DAS DECEPÇÕES COM AS MAZELAS NA VIDA - Quando almejarem lhe destruir, sorria porque o que se considera destruição é só um estágio da mudança do que pode ser péssimo para o que haverá de ser melhor. Quando sentir-se vítima de uma falta de consideração, não ligue porque não só existe uma pessoa na face da terra, outros podem dar a atenção que você merece ter. Quando constatar que uma desfeita lhe foi feita, não desmorone, nem se entristeça, há sempre um horizonte enorme para sua melhor visualização e, com certeza, há muito mais superioridade a se alcançar na vida. Quando alguém lhe tratar com ignorância ou falta de educação, saiba que existem pessoas menores que seu próprio tamanho, que são tão mesquinhas que não merecem sequer um mínimo aceno ou pensamento. Quando se decepcionar ou se encontrar desapontado com a atitude de quem quer que seja, não esmoreça nem passe a habitar o reino depressivo da consternação, muito menos sinta-se constrangido, é que muita gente não sabe lidar com seres humanos, apenas com a submissão daqueles que devam se render aos seus caprichos e ao umbigocentismo de sua própria vaidade narcísica, desconsiderando que o outro também tem coração. Se um dia sentir-se injustiçado pelas circunstancias que levaram a um mal entendimento a seu respeito, não precisa erguer a voz, mudar a face, ficar furiosa ou detonando isso ou aquilo de quem se equivocou; o mundo está cheio de mal entendidos, incompreensões, desaforos e miudezas. Não esqueça que o Sol dá um espetáculo todos os dias, desde a alvorada até o crepúsculo, e quase ninguém se dá conta disso. E se um astro da envergadura do Sol passa despercebido por muita gente que se acha dono de um nariz que nem sabe nem que direção tomar, faz-se necessário relevar tudo, sem guardar rancor nem mágoas, sem condenar nem julgar, sem atacar nem maldizer, sem desleixar nem tratar nada nem ninguém da desimportância. É passar a entender a missão da natureza que nos faz bem, mas que não sabe nada do que é bem ou bom, dá-se naturalmente e o faz sem que precise de agradecimentos, nem homenagens, nem fingimentos, nem hipocrisia. Assim é que aprendemos que a vida é pra ser vivida. E vamos aprumar a conversa aqui.

 Imagens: a arte do cineasta, artista plástico, ilustrador, desenhista e roteirista de história de quadrinhos francês Enki Bilal.


Curtindo o álbum The Blessed Unrest (2013), da cantora e compositora estadunidense Sara Bareilles.

A RESPONSABILIDADE DO ESCRITOR – No livro Notas sobre anarquismo (Imaginário/Sedição, 2004), do filosofo e ativista político norte-americano, Noam Chomsky, encontro que: A responsabilidade do escritor como um agente moral é tentar apresentar a verdade sobre assuntos de significância humana para um publico que poder fazer alguma coisa a respeito. Isso é parte do que significa ser um agente moral ao invés de um monstro [...] Ao brigarmos contra todos deixamos que vençam os piores [...] As ideias sobreviveram (ou foram reinventadas) de várias formas na cultura da resistências às novas formas de opressão, servindo como uma visão animadora para as lutas populares que expandiram, consideravelmente, o alcance da liberdade, justiça e direitos [...] Pode-se perguntar qual é o valor de se estudar uma tendência definida do desenvolvimento histórico humano que não articula uma teria social detalhada e especifica. De fato, muitos críticos desconsideram o anarquismo por o acharem utópico, sem forma, primitivo ou incompatível com as realidades de uma sociedade complexa. No entanto, pode-se argumentar diferentemente: que em todo estágio da história, nossa preocupação deve ser desmantelar as formas de autoridade e opressão, que sobrevivem de uma época que podem ter sido justificadas pelas necessidades de segurança, sobrevivência ou desenvolvimento econômico, mas que agora contribuem para – ao invés de aliviar – a deficiência cultural e material. Neste caso, não existirá doutrina de mudança social fixa no presente e no futuro, nem mesmo, necessariamente, um conceito imitável e especifico dos objetivos de mudança social deva visar. Certamente, nossa compreensão da natureza do homem ou das possibilidades de longo alcance deve ser tratada com grande ceticismo, exatamente como nos tornamos céticos quando ouvimos que a natureza humana ou as exigências de eficiência ou a complexidade da vida moderna exigem essa ou aquela forma de opressão e regra autocrática. [...] Veja mais aquiaqui, aqui e aqui.

QUIRINO, VAQUEIRO DO REI – No livro Contos tradicionais (América, 1972), do historiador, antropólogo, advogado e jornalista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), encontro a história de Quirino, vaqueiro do rei: Era uma vez um rei que possuía muitas fazendas de gado entregues a vaqueiros de confiança. Uma das melhores propriedades era confiada ao negro Quirino, que tinha fama de não mentir. O rei vivia gabando o vaqueiro, apontando-o como modelo de veracidade. Essa opinião despertava inveja entre os fidalgos e um deles, rico e poderoso, resolveu acabar com a celebridade moral de Quirino, vaqueiro do rei. Na fazenda de que Quirino se encarregava, o orgulho do rei era um boi barroso, bonito como não havia outro. Cada ano o vaqueiro ia até a casa do rei prestar contas. Chegava, riscando o cavalo e dizia por aqui assim: — Pronto, meu amo! Aqui está Quirino, vaqueiro do rei! O rei perguntava: — Como vai, Quirino? — Com a graça de Deus e o favor do meu amo! — A obrigação? — Em paz e a salvamento. — As vacas? — Umas gordas outras magras. — O boi barroso? — Vai forte, valente e mimoso! O fidalgo disse ao rei que Quirino era capaz de mentir. O rei repeliu a ideia. — Vamos apostar, majestade? — Pois vamos! Dez fazendas de gado, cem touros escavadores e duzentas vacas leiteiras com chifres dourados? — Está apostado! O fidalgo tinha uma filha muito bonita, chamada Rosa. Chamou a moça e contou a aposta. Por dinheiro, Quirino não peca. Com ameaça, Quirino não peca. Abaixo de Deus, a mulher pode com tudo que tem fôlego. Rosa se vestiu como uma mulher do povo e foi até a fazenda onde estava o boi barroso. Encontrou Quirino e conversou com ele, fazendo tanto trejeito, dando tanta volta no corpo que o vaqueiro ficou alvoroçado e se apaixonou por ela. Ficaram muitos meses vivendo juntos, andando para lá e para cá, no serviço do campo. Numa manhã Rosa disse: — Quirino, você gosta de mim? — Como demais... — Quer bem ao seu filhinho que vai nascer? — Mais do que a luz do dia! — Pois se não quiser que seu filho morra, mate o boi barroso que eu quero comer o fígado bem assadinho... Quirino ficou assombrado mas obedeceu. Matou o boi barroso e a mulher comeu o fígado assado. Dias depois era o tempo de o vaqueiro ir até a presença do rei. Rosa mandou dizer ao seu pai que o boi barroso fora morto. Quirino vestiu a véstia de couro, perneiras, gibão, guarda-peito, calçou o guante, pôs o chapéu na cabeça, passou o barbicacho, montou no cavalo de confiança e galopou para a casa do rei. Foi viajando e pensando. Finalmente avistou o palácio e parou o cavalo. Que ia dizer ao rei? Era melhor preparar a conversa. Deu de rédeas, andou uns passos, riscou o cavalo e disse: — Chego e digo assim: "Pronto senhor meu amo! Aqui está Quirino, vaqueiro do rei!" Ele diz: "Como vai, Quirino?" Eu respondo: "Com a graça de Deus e o favor do meu amo!" "Obrigação?" "Em paz e a salvamento!" "As vacas?" "Umas gordas outras magras!" "E o boi barroso?" Eu faço que estou triste e digo: "Saiba el-rei meu senhor que o boi barroso saltou um serrote e quebrou o pescoço..." Interrompendo-se, falava alto, indignado: — Isso não é palavra de Quirino, vaqueiro do rei! — Posso dizer que o boi barroso ia passando o açude e se afogou. Só pude salvar o couro. — Isso não é palavra de Quirino, vaqueiro do rei! E, chega-não-chega no pátio do palácio do rei, Quirino resolveu a questão. Pulou do cavalo, amarrou-o subiu as escadas, pediu para falar ao rei. Entrou na sala e o rei estava com o dito fidalgo que fizera a aposta, todo satisfeito, certo de ganhar. — Pronto, meu amo! — Como vai, Quirino? — Com a graça de Deus e o favor do meu amo! — A obrigação? — Em paz e a salvamento! — As vacas? — Umas magras e outras gordas! — E o boi barroso? — Saiba o senhor meu amo que o boi barroso deu o fígado para o meu filhinho não morrer! — Que história é essa, Quirino? Quirino contou toda a história e, quando terminou, disse: — Assim é que fala Quirino, vaqueiro dor Rei! O fidalgo ficou preto de vergonha. O rei findou dizendo: — Quirino, vaqueiro do rei, o que eu ganhei na aposta com esse amigo é o dote para casares com a mãe do teu filhinho... O que estava feito, estava feito. Quirino casou com Rosa e foram felizes como Deus com os anjos. Veja mais aqui e aqui.

O RABICHO DA GERALDA – No livro Cancioneiro do norte (Conselho Estadual de Cultura, 1928), de Rodrigues de Carvalho (1867-1936), encontro o poema em cordel O rabicho da Geralda: Sou o boi liso, rabicho,/ Boi de fama, conhecido, / Minha senhora Geralda / Já me tinha por perdido. / Era minha fama tanta, / Nestes sertões estendida... / Vaqueiros vinham de longe / Pra me tirarem a vida. / Onze anos morei eu / Lá na serra da Preguiça, / Minha senhora Geralda / De mim não tinha notícia. / Morava em cima da serra, / Naqueles altos penhascos, / Só davam notícias minhas / Quando me viam os rastos. / Ao cabo de onze anos / Saí na Várzea do Cisco, / Por minha infelicidade / Por um caboclo fui visto. / Quando o caboclo me viu / Saiu por ali aos topes, / Logo foi dar novas minhas / Ao vaqueiro José Lopes. / Quando o caboclo chegou / Foi com grande matinada: / - Oh! José Lopes, eu vi / O rabicho da Geralda. / Estava na Várzea do Cisco / C’um magotinho de gado, / Lá na pontinha de cima, / Onde entra pra talhado. / José Lopes chamou logo / Por seu filho Antonio João: / "Vá buscar o barbadinho, / "E o cavalo tropelão. / "Diga ao senhor José Gomes / "Que traga sua guiada / "E venha pronto pra irmos / "Ao rabicho da Geralda". / Chegados eles que foram, / Montaram, fizeram linha, / A quem eles encontravam / Perguntavam novas minhas. / Encontrando Zé Tomás, / Que vinha lá da Queimada... / "Camarada, dá-me novas / "Do rabicho da Geralda?" / - Ainda mesmo que eu visse, / Eu não daria passada, / Pois será muito o trabalho, / E o lucro não será nada. / - Não senhor, meu camarada, / A coisa está conversada: / A dona mesmo me disse / que desse boi não quer nada. / Uma das bandas e o couro / Fica pra nós de bocório; / A outra vai se vender / Pras almas do purgatório. / Despediram-se uns dos outros, / No carrasco se internaram, / Caçaram-me todo o dia / Porém não me alcançaram. / Deram de marcha pra casa, / Já todos mortos de fome, / Foram comer um bocado / Na casa do José Gomes. / Passados bem cinco dias, / Estando eu na ribanceira, / Quando fui botando os olhos, / Vejo vir Manuel Moreira. / Um dos vaqueiros de fama / Que naquele tempo havia, / Que muita gente supunha / Só ele me pegaria. / Olhei para o outro lado, / Para ver se vinha alguém: / Divisei Manuel Francisco / E seu sobrinho Xerém. / Fui tratando de correr / Pelo lugar mais fechado, / Quando o Moreira gritou-me / Aos pés juntos, enrabado, / Corra, corra, camarada, / Pise seguro no chão, / Que hoje sempre dou fim / Ao famanaz do sertão. / Tiremos uma carreira / Assim por uma beirada; / Eu mesmo desconfiei / Do rabicho da Geralda. / Mais adiante pus-me em pé / Para ver o zuadão: / Enxerguei Manuel Francisco / Caído num barrocão. / Estive ali muito tempo, / Ali posto e demorado; / A resposta que me deram / Foi dizer: vai-te malvado! / Toda vida terei pena / De correr atrás de ti; / Bem me basta minha faca, / E minha esposa que perdi! / Daí seguiu para trás / Ajuntando o que era seu, / E juntamente caçando / O Xerém, que se perdeu. / Nesse tempo tinha ido / A Pajeú ver um vaqueiro; / Dentre muitos que lá tinha, / Viera o mais catingueiro. / Este veio por seu gosto, / Trazendo sua guiada, / E desejava ter encontro / Com o rabicho da Geralda. / Chamava-se Inácio Gomes, / Era cabra curiboca, / O nariz achamurrado / Cara cheia de pipoca. / Na fazenda da Concórdia, / Chegou ele a uma hora; / Muita gente já dizia: / O rabicho morre agora. / Dizia que pra matar-me / Não precisava de mais: / Bastava dar-me no rasto / De oito dias atrás. / Deram-lhe então um guia / Que bem soubesse do pasto, / E que também conhecesse / Dentre todos o meu rasto. / Onze dias me caçaram / Com grande empenho e cuidada: / Não puderam descobrir / Nem novas e nem mandado. / Passados os onze dias / Lá no Riacho do Agudo, / Quando fui botando os olhos, / Vi o cabra topetudo. / Disse o guia me avistando: / - Venha ver, meu camarada, / Eis ali o boi de fama, / O rabicho da Geralda. / Bem cedo, ao sair do sol, / Vimo-nos de cara a cara, / E nos primeiros arrancos / Logo lhe caiu a vara. / Ele disto não fez caso, / Relho ao cavalo chegou / E em poucas palhetadas / Bem pertinho me gritou: / - Corra, corra, camarada, / Puxe bem pela memória / Que não vim da minha terra / Para vir contar estória. / Gritou-me da outra banda / O senhor guia também: / - Tu cuidas que sou Moreira, / Ou seu sobrinho Xerém? / Tinha um pau atravessado / Na passagem dum riacho: / O cabra passou por cima / E o cavalo por baixo. / Segui a meia carreira, / No meu correr costumado, / E antes de meia légua, / Ambos já tinham ficado. / Pôs-se o cabra topetudo / A pensar o que faria, / E quando chegasse em casa / Que estória contaria!... / Na fazenda da Botica / Tinha gente em demasia, / Esperando ter notícia / Do rabicho nesse dia. / Perguntou José de Góis, / Morador no Carrapicho: / - Amigo, seja benvindo! / Dá-me novas do rabicho? / - Eu o vi, mas não fiz nada, / Pois nunca vi correr tanto, / Como esse boi, o rabicho, / É coisa que causa espanto! / - Nesta terra eu não vejo / Quem o pegue pelo pé, / Aquele morre de velho / Ou de cobra cascavel. / Respondeu José de Góis, / Morador no Carrapicho: / - Eu pelos olhos conheço / Quem dá voltas ao rabicho. / - Já anda em dezoito anos / Que Zé Lopes o capou, / Era ele então garrotinho, / Por isso foi que pegou. / Foi-se o cabra topetudo / E não sei se lá chegou, / Só sei é que ele foi / Com os beiços com que mamou. / Chega enfim - noventa e dois - / Aquela seca comprida; / Logo vi que era a causa / De eu perder a minha vida. / Secaram-se os olhos d’água, / Não tive onde beber, / E botei-me aos campos grandes / Já bem disposto a morrer. / Desci por uma vereda / E disse: esta me socorra; / Quando quis cuidar em mim / Estava numa gangorra. / Fui à fonte beber água, / Refresquei o coração! / Quando quis sair não pude, / Tinham fechado o portão. / Corri logo a cerca toda / E sair não pude mais: / Quem me fez prisioneiro / Foi apenas um rapaz. / Este saiu às carreiras, / E, vendo um seu camarada, / Gritou logo: já está preso / O rabicho da Geralda. / Espalhando-se a notícia, / Correram todos a ver, / E vinham todos gritando: / O rabicho vai morrer! / Trouxeram três bacamartes, / Todos três me apontaram, / Quando dispararam as armas, / Todas três me traspassaram! / Ferido caí no chão! / Saltaram a me pegar / Uns nos pés, outros nas mãos, / Outros para me sangrar! / Disse então um dentre eles: / - Só assim, meu camarada, / Nós provaríamos todos / Do rabicho da Geralda / Assim findo-se este drama, / Tudo assim se findará, / Como este boi, nesta terra / Não houve, nem haverá. Veja mais aqui e aqui.

BAND-AID ATÉ XANADU – A trajetória da belíssima atriz de teatro, cinema e televisão Danielle Winits, começou quando ele resolveu fazer cursos de balé, artes e interpretação. No teatro, atuou em diversos musicais, destacando-se como bailarina e cantora. Iniciou sua carreira na televisão em 1993, na minissérie Sex Appeal e, no teatro sua estreia se deu no ano seguinte, com a peça musical Band-Aid, e no cinema sua primeira atuação aconteceu em 1999, com o longa-metragem Até que a vida nos separe. Depois vieram as peças teatrais A volta de Chico Mau (1996), Cabaret Brazil (1998), Relax, it’s sex (1999), Lancelot (1999), Meu amor: você perfeita, agora muda (2002), Amo-te (você nunca amou alguém assim) (2005), Chicago (2005), Hairspray (2009) e Xanadu (2012). Com uma carreira dedicada ao teatro, ao cinema e à televisão, a atriz ganhou prestígio e tem se mantido na arte, incluindo, programas de humor, projetando com firmeza e competência uma carreira consagrada de sucesso e firmando seu nome entre as mais importantes atrizes da atualidade. Veja mais aqui.

CORAÇÃO ILUMINADO – O drama autobiográfico Coração iluminado (Corazón iluminado, 1998), do cineasta Hector Babenco, conta a história das mágoas e catarse de um argentino na década de 1960, que vive um romance intenso e tumultuado com uma mulher neurótica e passional. A relação conflituosa com o pai e a vocação artística levam-no a deixar o país para estudar cinema e realizar um pacto suicida com a namorada. Vinte anos depois ele regressa à cidade e se envolve com uma mulher madura que incorpora o amor adolescente. O destaque do filme é duplo para as atrizes: a lindíssima Maria Luísa Mendonça e Xuxa Lopes. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Capa da revista londrina de arte contemporânea Frieze Magazine.

DEDICATÓRIA
 A edição de hoje é dedicada como homenagem à grande atriz, cantora e diretora Marília Pêra (1943-2015). Veja aqui.


NOÉMIA DE SOUSA, PAMELA DES BARRES, URSULA KARVEN, SETÍGONO & MARCONDES BATISTA

  Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Sempre Libera (Deutsche Grammophon , 2004), Violetta - Arias and Duets from Verdi's La Tra...