VAMOS
APRUMAR A CONVERSA? VIVA MANGUABA - Quando
cheguei em Maceió no ano de 1994, conheci o parceiramigo Marcos Alexandre
Martins Palmeira que, entre outras coisas, me presenteou com a contemplação do
Alto do Cruzeiro, na Chã do Pilar, da panorâmica inenarravelmente maravilhosa
da Lagoa Manguaba. O impacto que me
provocou a visualização de toda extensão desse lindo complexo lagunar, da sua
nascente em Pilar até a sua foz na Praia do Francês, em Marechal Deodoro, fez
com que esse recurso natural passasse a compor as maravilhas que o meu coração
jamais teria visto e sentido. Trata-se, portanto, da maior laguna do estado
alagoano, com 42 quilômetros quadrados de extensão e formada dos estuários dos
rios Paraíba do Meio e Sumaúma, e que passou a compor o cenário predileto das
minhas incursões de lazer e arte. Por conta disso, participei efetivamente com
a comunidade e multidão de turistas das várias edições do Festival do Bagre, fato que me levou a encampar, por iniciativa o
citado parceiramigo, o projeto de Marketing Societal denominado de Folia Caeté, que contou com parceria do
artista plástico Rollandry Silvério.
Por causa desse projeto compus diversos frevos, entre eles o Manguaba, em homenagem às comunidades
banhadas por esse fantástico recurso hídrico. Com esse projeto pude aprofundar
meus estudos acerca das localidades alagoanas, culminando com a publicação do
meu livro infantil Alvoradinha – Calango Verde do Mato Bom, em 2001 e, em seguida,
escrever o livro Alvoradinha na Manguaba, este ainda inédito. Por consequência, dividi
meu trabalho em duas frentes: com o espetáculo infanto-juvenil Nitolino
no Reino Encantado de Todas as Coisas; e o show poético-musical Tataritaritatá
– Vamos aprumar a conversa! Em ambos, eu fecho as apresentações com a
execução do frevo Manguaba, deixando
a mensagem e a minha homenagem à lagoa e suas comunidades. Deu-se, então, mais
uma parceria com o amigo Palmeira, desta vez, com o projeto CDL Criança que proporcionou levar o
meu trabalho artístico para diversas escolas e instituições de Pilar, São
Miguel dos Campos e outras cidades da região. É quando recebo o convite do
escritoramigo e secretário de cultura de Marechal Deodoro, Carlito Lima, para
participar da 1ª edição da Festa
Literária de Marechal Deodoro, especificamente na sua Flimarzinha, quando tive oportunidade de me apresentar em cada
escola do Município. Um fato curioso aconteceu durante essas apresentações. Como
eu fechava a minha contação e cantação de história com o frevo Manguaba, o meu
personagem Nitolino, findava por perguntar onde ficava a referida lagoa para
fechar a história e descobrir o reino encantado de todas as coisas, ao passo
que ninguém, entre a garotada, sabia onde ficava. Deixei a mensagem no ar. Na 2ª
edição da Flimar, a Flimarzinha aconteceu na orla lagunar e eu ganhei uma tenda
que tinha a lagoa por cenário. Sempre que se aproximava o final de cada
apresentação, eu repetia a pergunta acerca da localidade da lagoa em
referência, ocorrendo o mesmo silêncio anterior: ninguém entre a garotada sabia.
Foi quando na 3ª edição da Flimarzinha, o frevo não só ganhou vida como passou
a ser o ponto alto das minhas apresentações, quando a garotada passou a
participar festejando comigo o nosso encontro com a lagoa, ocasião em que criei
a história do Bagre Zé & Zé Bagre,
fato que me levou a participar das seguintes edições, inclusive, a deste ano em
novembro passado. Durante todo esse tempo, a lagoa sofreu todo tipo de atentado
oriundo do deságue do esgoto sanitário das áreas urbanizadas do entorno, da
pesca predatória, do despacho de lixo e outras ações nefastas produzidas por
tipo intervenção humana às suas águas agora poluídas, com grande concentração
de coliformes fecais, provocando o desaparecimento de muitos peixes, entre eles
tilápias e, inclusive, do seu maior símbolo o bagre, afora colocar em risco a saúde
de todas as comunidades e do público turista. Por essa razão, começou-se uma
movimentação envolvendo artistas, executivos, instituições de classe e
comunidades, para a realização de um evento denominado Viva Manguaba, ocasião em que será apresentado o projeto de
pesquisa, estágio e extensão voltado para a contribuição da arte – Literatura,
Música, Teatro e Pintura – para a Psicologia Ambiental, Educação Ambiental e
Direito Ambiental nas comunidades da Lagoa Manguaba, e com o objetivo de
realizar intervenções acadêmicas e artísticas de recuperação, preservação e
manutenção da lagoa. O movimento está crescente e, oxalá, a gente possa
realizar alguma ação efetiva para chamar a atenção para essa importante lagoa.
E vamos aprumar a conversa aqui e aqui.
PICADINHO
Imagem: Reclining nude, do artista plástico Larry Vincent Garrison (1923 – 2007). Veja mais aqui.
Curtindo o
álbum internacional Brizzi do Brasil
(Amiata Records, 2004), do compositor italiano Aldo Brizzi.
EPÍGRAFE – Queira-me
bem que não custa dinheiro!, frase recolhida do livro Locuções tradicionais no Brasil (EdUFPE, 1970), do escritor e
folclorista Luís da Câmara Cascudo
(1899-1986), como sendo uma frase muita antiga que tornou-se comum e vulgar,
sendo utilizada pelo do poeta lusitano, poeta Luís de Camões (1524-1580), nos versos 433-434, de sua obra Eufatriões: - Não lhe negues teu querer, por te não custa
dinheiro. Veja mais aqui, aqui e aqui.
A
LITERATURA & A LITERATURA POPULAR
- No livro Literatura oral no Brasil
(Itatiaia, 1984), do escritor e folclorista brasileiro Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), encontro que: [...] A literatura que chamamos oficial, pela sua
obediência aos ritos modernos ou antigos de escolas ou de predileções
individuais, expressa uma ação refletida e puramente intelectual. A sua irmão
mais velha, a outra, bem velha e popular, age falando, cantando, representando,
dançando no meio do povo, nos terreiros das fazendas, nos pátios das igrejas
nas noites de novena, nas festas tradicionais do ciclo do gado, nos bailes do
fim das safras de açúcar, nas salinas, festas dos padroeiros, potirum, ajudas,
bebidas nos barracões amazônicos, espera de Missa do Galo; ao ar livre, solta,
álacre, sacudida, ao alcance de todas as criticas de uma assistência que
entende, letra e música, todas as gradações e mudanças do folguedo. Ninguém
deduzirá como o povo conhece a sua literatura e defende as características
imutáveis dos seus gêneros. É como um estranho e misterioso cânon para cujo
conhecimento não fomos iniciados. Iniciação que é uma longa capitalização de
contatos seculares com o espírito da própria manifestação da cultura coletiva.
Veja mais aqui e aqui.
TRAPIÁ – No livro Trapiá (Francisco
Alves, 1961); do escritor Caio Porfírio de Castro Carneiro, encontro a
narrativa que leva o título desse tópico a seguir transcrita: Naqueles tempos, era só uma oiticica,
dominando o descampado. E bem junto à grota, um velho trapiázeiro. Por ali se
cruzavam os caminhos que iam da vila do Coité ao serrote do Machado e da
fazenda Taimbé no rumo dos cafundós do sertão. Os cambiteiros arriavam suas
cargas debaixo da oiticica e ficavam horas e horas gozando a fresca, pernas
espichadas, no bem bom, descansando das caminhadas. Um dia, apareceram uns
retirantes, dizem que vindos de Pernambuco, e armaram uma venda ao pé do
trapiazeiro. Não demorou muito, chegaram outras famílias, tangids pela grande
seca do setenta e sete. Construíram-se casebres, alguns espalhados no descampado.
Aquilo tudo era terra muita, vastidão de caatinga sem serventia. Contam os mais
antigos que o cangaceiro Neste Amaricio amanheceu um belo dia dependurado do
galho de oiticica. Fora enforcado com a correia de cangalha de algum arrieiro.
Os feitos de Nestor Amaricio corria mundo. Nem depois de falecido deu sossego
aos vivos. Nas noites de temporal, seus gemidos vinham do pé da oiticica,
ganhavam lonjura. Então, derrubaram a árvore. O espírito de Nestor Amaricio se
aquietou. Ficou só o trapiazeiro dominando a paisagem, ali de junto à grota, no
oitão da venda dos pernambucanos. E nas épocas de safra, o chão amanhecia
coalhado de trapiás maduros. Até quando durou a vida do trapiazeiro ninguém dá
noticia ao certo. A tradição guardou muitas datas. Negra velha Aparecida conta
uma estória desconforme: a árvore se encantara. Para o violeiro Zé de Melo, dos
Melo do pé da serra, ela fora derrubada a mando do vigário do Coité, para
levantar uma capela. A velha capela de São Sebastião, mais tarde transformada
em igreja, com o seu cruzeiro, onde os filhos dos cororeis, nas festas do
padroeiro, amarravam seus cavalos para banhá-los com cerveja. Assim veio ao
mundo a vila do Trapiá. Irmão de Taimbé, irmã de Pitombeira. Viu secas e viu
farturas. Perdeu até muito sangue na briga que durou uns pares de anos dos
Castros com os senhores das Contendas. E o grito dos comboieiros dentro da
noite, tangendo as tropas, acompanha toda a sua estória. Veja mais aqui.
ÁGUA
ESBORRA DE AÇUDE – No
livro Desmanchando
o nordeste em poesia (Bagaço, 1986), do poeta
popular Manoel Bentevi, encontro no Livro das Glosas, o mote O açude de
bom gosto se arrombou, todo peixe que tinha foi embora: O açude de bom gosto se
arrombou todo peixe que tinha foi embora: Com
certeza o paredão não aguentou / toda a água que veio na enxurrada. / Quando
foi na primeira cabeçada, / o açude de Bom Gosto se arrombou, / toda água da
várzea se espalhou, / faz absurdo por aquele mundo afora, / resolveu tudo em
menos de uma hora: / arrancou cana, quebrou pau, encheu o rio, / o açude dessa
vez ficou vazio; / todo peixe que tinha foi embora. Veja mais aqui e aqui.
TEATRO
RENASCENTISTA – Na obra Teatro Vivo (Civita, 1976), organizada
por Sábato Magaldi, encontro que: Na Itália, onde uma rica classe de banqueiros
e comerciantes havia estabelecido as premissas do desenvolvimento capitalista
do Ocidente, a nova cultura artística aflorou mais rapidamente. Assim, já em
meados do século XVI, os atores e as companhias se profissionalizaram através
da commedia dell’arte – uma forma de teatro popular surgida em oposição á
comedia literária e erudita de Ludovico Ariosto (1474-1533), Pietro Aretino
(1492-1556) e Nicolau Maquiavel (1469-1527), autores renascentistas que seguiam
fielmente o modelo clássico romano estabelecido por Plauto e Terêncio. Veja
mais aqui e aqui.
ON
CONNAIT LA CHANSON – O
filme On connaît la chanson
(Amores Parisienses, 1997), do cineasta
francês Alain Resnais (1922-2014),
conta a história de envolvendo pessoas com díspares interesses que envolve
amor, paixões, negócios e relações pessoais. A partir
do tema das aparências, Resnais inspirado desta vez pelo autor Inglês Dennis
Potter, usou para integrar canções completas no corpo de suas ficções para
melhor castigar sociedade britânica, usando trechos de canções interpretadas em
reprodução a intervir por associação livre, nos acontecimentos dos seis
personagens principais. O destaque vai para a premiadíssima atriz e realizadora
francesa Sabine Florence Azéma. Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM
DO DIA
A arte do
ilustrador e artista visual Tomas
Spicolli
DEDICATÓRIA
A edição
de hoje é dedicada à amiga psicóloga, professora, arterapeuta e curadora Viviani Duarte.
AS
PREVISÕES DO DORO PARA 2016
LEITORA
TATARITARITATÁ