VAMOS
APRUMAR A CONVERSA? MINHA VOZ (Imagem
arte de Meimei Corrêa)– Escrevi esse
poema na segunda metade dos anos 1980, incluindo-o no meu livro Paixão legendária (Bagaço, 1991) e,
posteriormente, na minha antologia Primeira
Reunião (Bagaço, 1992). Foi a partir de então que ele ganhou o mundo, sendo
publicado em suplementos literários, alternativos e zines do país inteiro.
Deu-se, então, da cantora Sônia Mello colocar sua maravilhosa interpretação e inseri-lo juntamente com a minha música
Aurora, no seu álbum Desejo. Com a gravação veio, então, um
belíssimo clipe feito pro poema e canção realizado pela saudosa e inesquecível Derinha Rocha. Depois,
no meio de uma parceria de quatro anos, ganhei um clipe do poema feito pela
arte da adorável poeta e radialista Meimei Corrêa – um belíssimo clipe, diga-se de
passagem, publicando-o, inclusive, no seu maravilhoso blog Baú de Ilusões. Ao longo dos anos acumulei muitas alegrias com este
poema e, agora, foi a vez da poetamiga, jornalista e cantora Gal Monteiro,
emprestar sua voz ao meu poema, com música da dupla Arnaud Borges e Gama
Júnior. Confesso que tudo isso me faz mais que um premiado da vida. Restando,
portanto, a minha eterna gratidão a todos que fizeram deste poema, a sua
própria voz, a sua arte. Obrigado, obrigado, obrigado. Por isso ele vem aqui: Minha
voz é a coragem de amar no ultraje dos desencontros e eu sou navio com rota
esquecida e naufrágios muitos. Quando minha voz é torrente de dor no exagero sombrio de uma canção, não é nada, é tempestade
que passou e deixou danos. Quando minha voz é a coragem de amar, não é a sombra
de um vendaval. É a sujeição de um eterno pavio que aceso nunca apagará. (Minha voz, Primeira Reunião. Bagaço,
1992). E veja mais aqui.
Imagem: Female Nude (1927), do pintor do
Expressionismo alemão Karl Hofer
(1878-1955)
Curtindo: Symphonie Fantastique, op. 14 (1830 – Decca Eloquence, 1972),
do compositor francês Hector Berlioz
(1803-1869), with Chicago Symphony Orchestra/Sir Georg Solti.
TERCEIRO DISCURSO – No livro Nem água, nem lua: dez discursos sobre histórias zen (Pensamento,
1975), do filósofo místico indiano Bhagwan Shree Rajneesh (1931-1990),
destaco os trechos do Terceiro discurso: [...] Um homem inocente não sabe quem é Deus e quem é o demônio. Um homem
inocente vive de sua inocência, não de seu calculo. Não é astuto, é simples.
Vive cada momento. O passado e o futuro não significam nada. Cada momento é
suficiente em si mesmo [...] Como uma
avaliação pode tornar-se inocente? E sem se tornar inocente – inocente como as
árvores, inocente como os animais, inocente como os bebês – como pode a pureza
ser sentida? Não é algo que você possa controlar. Se controlar, estará se
reprimindo e o oposto permanecerá presente. Se você se tornar um celibatário, o
sexo permanecerá escondido no seu inconsciente, esperando pelo momento de se
declarar, de se rebelar. Se você se tornar não-violento, a violência
permanecerá em seu interior. O oposto não pode ser jogado fora. Se existir
escolha, o não-escolhido permanecerá em forma de repressão. E é só isso que
você consegue fazer. Apenas numa mente inocente o oposto desaparece porque nada
foi escolhido. O oposto não pode existir sem a escolha. [...] Não escolha, apenas compreenda. Não escolha
nem mesmo a não-escolha. Simplesmente compreenda toda a situação. Observe como
tudo o que escolhe, tudo o que faz, bem da sua mente calculadora, não da
realidade. Sua mente produz apenas sonhos, não produzir verdade. A verdade não
pode ser produzida por ninguém. Ela está aí! Basta vê-la. Não existe nada para
ser feito, somente um olhar é necessário, um olhar sem qualquer preconceito, um
olhar sem qualquer escolha, um olhar sem qualquer distinção. [...] Um homem puro não é um soldado, é um santo.
Um homem de moral é um soldado, não um santo. Naturalmente, sua briga é
interna, não externa. Sua briga não é com os outros, é consigo mesmo. Mas
continua existindo. [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.
UMA PALAVRA DE VERDADE – No livro Uma palavra de verdade... (Hemus, 1972), do escritor, dramaturgo e
historiador russo Alexander Soljenítsin
(1918-2008), destaco o trecho: Como um
selvagem que, perplexo, apanha algo estranho – trazido pelo oceano?- ou
aflorando na areia? – ou então um objeto esquisito, caído dos céus? – todo
enredado de curvas, que no começo reluz suavemente e depois brilha com um claro
lampejo; da mesma forma em que ele o revolve entre as mãos, girando-o em todas
as direções, tentando adivinhar o que fazer com ele, tentando descobrir nele
alguma utilidade mundana ao seu próprio alcance, sem perceber sua função mais
importante: assim somos nós, quando seguramos a Arte em nossas mãos e
acreditamos, confiantes, ser seus amos; mandamos nela audaciosamente, renovamo-la,
reformamo-la e manifestamo-la; vendemo-la por dinheiro, usamo-la para agradar
aos poderosos; desfrutamos dela, a um certo ponto, por nossa diversão – até nas
canções populares e nas boates – e em outros momentos, agarram0-la como a arma
mais próxima, para reprimir ou ferir – em prol das necessidades passageiras da
politica ou de mesquinhas finalidades sociais. Apesar de nossos esforços a
Arte, porém, não se torna poluída e nem se afasta de sua própria natureza, mas
todas as ocasiões e em toda aplicação ela nos proporciona uma parte de sua
secreta luz interior. Será que jamais compreenderemos essa luz em sua
totalidade? Quem ousara afirmar ter definido a Arte, enumerado todas as suas
facetas? Talvez em tempos idos alguém compreendeu e nos explicou, mas não
conseguimos satisfazer-nos com isso por muito tempo; ouvimos e fomos
negligentes, afastando logo a explicação, ansiosos como sempre em trocar até o
melhor que tínhamos – simplesmente por algo que fosse novo! E quando alguém nos
contar mais uma vez a antiga verdade, não nos lembraremos que já houve um em
que a possuímos. [...] Veja mais aqui.
O POETA – No livro Les Nuits (Nuits de mai,
d'août, d'octobre, de décembre) (1835-1837), do poeta, novelista e
dramaturgo francês Alfred Musset
(1810-1857), destaco o poema O poeta: Quando
eu ainda era escolar, / Estava uma noite a velar / Em nossa sala, em solidão. /
Veio-me à mesa, àquele instante, / Vestido de negro, um infante / Tão
semelhante como irmão. / Sua face era triste e bela; / E pela luz de minha vela
/ Veio ler o livro que eu lia. / Sobre u’a mão pendeu a fronte, / Pensativo, de
mim defronte, / E, na manhã, ainda sorria. / Quando fazia quinze anos, / Eu
caminhava, sem enganos, / Na floresta, por um desvão. / E a um arbusto me veio,
em paz, / Vestido de negro, um rapaz / Tão semelhante como irmão. / Indaguei
por onde seguira; / Numa das mãos, portava a lira; / Na outra, um buquê de
eglantina. / Ele saudou-me como amigo / E após, sem mais se abrir comigo, /
Mostrou-me com o dedo a colina. / Na idade em que se crê no amor, / Chorava em
meu quarto o amargor / Da primeira desilusão. / E me veio, junto ao braseiro, /
Vestindo negro, um estrangeiro, / Tão semelhante como irmão. / Ele era triste e
andava ao léu; / Com u’a mão apontava o céu / E, na outra, um gládio portava. /
De minha pena se doía, / Mas só suspiros emitia / E se esvaiu como uma larva. /
Na idade da libertinagem, / Para um brinde, nessa voragem, / Ergui meu copo num
salão. / E veio a mim, feição altiva, / Vestido de negro, um conviva, / Tão semelhante
como irmão. / Ele agitava sob o trajo / Trapos de púrpura, um andrajo; / Sobre
a cabeça um mirto estéril. / Seu braço procurava o meu; / E meu copo, ao tocar
o seu, / Quebrou-se na minha mão débil. / Um ano após, eu em respeito / Dentro
da noite, junto ao leito / Onde meu pai morrera então, / Veio postar-se do meu
lado, / Vestindo negro, um deserdado / Tão semelhante como irmão. / Os olhos
imersos em pranto; / E, como anjos, de desencanto, / De espinho a testa
coroada. / A sua cítara, caída; / A sua púrpura, roída; / E, no seu peito, a
sua espada. / Lembra-me bem tudo isso aí. / Desde sempre o reconheci, / A todo
instante desta vida. / E esta é uma visão de sonho. / Entretanto, ou anjo ou
demônio, / Via em tudo a sombra querida. / Quando, cansado de sofrer, / Pra
renascer ou pra morrer / Pretendi me exilar da França; / Quando, impaciente por
mudar, / Eu quis partir e procurar / Os vestígios de uma esperança; / Junto aos
Apeninos, em Pisa; / Em Nice, numa encosta lisa; / Em face do Reno, em Colônia;
/ Em Florença, num régio abrigo; / Em Brigues, num castelo antigo; / Nos Alpes,
de neve tristonha; / Em Gênova, nos arvoredos; / Em Vevey, nos pomares quedos;
/ Em face do Atlântico, em Havre; / Em Veneza, no horrendo Lido, / Onde, num
túmulo florido, / O Adriático sucumbe, grave; / Por toda parte onde, no chão, /
Deitei olhos e coração, / Sangrando de um eterno peso; / E sempre aonde o manco
Tédio, / Com uma fadiga sem remédio, / Me levava como se preso; / Por toda
parte onde, crispado / À sede de um mundo ignorado, / Segui a sombra das
quimeras; / E sempre onde, sem dar por isto, / Revi o que já tinha visto, / A
face humana e suas misérias; / A noite de dezembro / Por toda parte, nos
desvãos / Onde pus a fronte nas mãos, / Como uma mulher soluçando; / E sempre
onde, como um carneiro / Que larga a lã pelo espinheiro, / Senti minh’alma
fraquejando; / E sempre onde só quis dormir, / E sempre onde só quis sumir, / E
sempre onde toquei o chão, / Sempre sentou-se do meu lado, / Vestindo negro, um
desgraçado / Tão semelhante como irmão. / Quem és então, ó tu, que nesta vida /
Eu vejo sempre em meu caminho? / Não posso, pela face tão dorida, / Crer que
sejas meu mau Destino. / Teu sorriso tem muito de clemência; / Teu pranto,
muito de piedade. / Só em te ver, eu amo a Providência; / Tua dor é irmã da
minha na insistência: / Ela parece com a Amizade. / Quem és então? Não és meu
guardião, / Pois nunca me vens prevenir. / É muito estranho: vês minha aflição
/ E me contemplas sem agir. / Há vinte anos, vens por minha via, / E sequer sei
te nomear. / Quem és então? Será Deus quem te envia? / Sorris sem partilhar
minha alegria, / Lamentas sem me consolar. / Ainda esta noite, triste, eu te
revia. / Era outra noite de aflição. / O vento na janela me batia. / E eu preso
ao leito, em solidão. / Contemplava uma praça tão querida, / Ainda morna de um
beijo quente. / E então sonhei como a mulher olvida, / E senti que u’a porção
de minha vida / Se destroçava lentamente. / Cartas, cabelos – eu me abandonava
/ A essas ruínas da alegria. / E o passado aos ouvidos me gritava / Eternas
juras de um só dia. / Fitava essas relíquias consagradas, / A me fazer tremer a
mão. / Lágrimas d’alma, n’alma devoradas; / E que os olhos, que as tinham
derramadas, / Depois não reconhecerão! / Envolvi esses restos de ventura / Como
num manto imaculado. / E me disse que aqui tudo que dura / É uma mecha do
passado. / Como um mergulhador num mar profundo, / Eu me perdi, de abandonado.
/ Procurava um caminho mais fecundo; / E chorava, tão só, longe do mundo, / Meu
pobre amor amortalhado. / Eu ia pôr um selo, um negro círio / Neste caro e
frágil tesouro. / E devolvê-lo; mas, em tal martírio, / Hesitei, afogado em
choro. / Pobre mulher, de orgulho e fingimento. / Pesar de tudo, hás de
lembrar! / Por que, meu Deus, mentir ao pensamento? / E por que este pranto,
este tormento, / Estes soluços, sem amar? / Sim, tu definhas, sofres, e ainda
choras / Mas tua quimera está aqui. / Adeus! Adeus! Tu contarás as horas / Que
me separarão de ti. / Podes partir. E em tua alma gelada / Carrega o orgulho
satisfeito. / Eu sinto a minha ainda motivada, / E podem muitos males ter
morada / Em torno ao mal que me tens feito. / Podes partir. A imortal natureza
/ Não pretendeu tudo te dar. / Pobre criança, sonhas com a beleza / Porém não sabes
perdoar. / Podes partir. E segue a estrada infinda. / Quem te perde, não perde
o mais. / Atira ao vento esta ilusão já finda. / Ó Deus eterno! E tu, que eu
amo ainda, / Como me amavas, se te vais? / Súbito, deslizou, na noite oculto, /
Um espectro, sem um rumor. / Passou pela cortina um negro vulto / Que no meu
leito se assentou. / Mas quem és, morna e pálida miragem, / Réplica de preto
vestida? / Que me queres, triste ave de passagem? / É um sonho vão? É minha
própria imagem / Por este espelho refletida? / Quem, espectro da minha
mocidade, / Aventureiro sem cansaço. / Diz-me por que essa sombra sempre invade
/ Qualquer lugar por onde passo. / Quem és, ó viajor da solidão, / Hóspede do
meu desencanto? / Por que na terra hás de seguir-me tanto? / Quem és tu, quem
és tu, ó meu irmão, / Que só surges nos dias de pranto? Veja mais aqui.
DE HÉRCULES ATÉ GETÚLIO – A trajetória da premiadíssima atriz de
teatro, cinema e televisão Drica Moraes começou quando ela fazia teatro
ainda no colegial, passando aos treze anos de idade a estudar no Tablado,
atuando já no teatro infantil, em 1983, nas montagens de Os doze trabalhos de
Hércules, seguindo-se Nossa cidade (1984) e Chapeuzinho vermelho (1985).
Profissionalmente ela estreou em 1985 com o espetáculo O segredo de Cocachim,
ganhando o primeiro Prêmio Coca-Cola, seguindo-se A Bao A Qu (1990), A morta
(1992), Só eles sabem (1992), Pianíssimo (1992), Pixinguinha (1992), O crime de
Dr. Alvarenga (1999), Melodrama (1999), O rei da vela (2000), Vitor ou Vitoria
(2001), Mamãe não pode saber (2002), Notícias cariocas (2004), A ordem do mundo
(2008) e À primeira vista (2012). No cinema ele começou com o curta Vaidade
(1990), depois atuando na produção americana Manôushe (1992), seguindo-se Mandarim (1995),
As meninas (1995), Traição (1998), Bossa Nova (2000), Amores possíveis (2001),
Onde anda você (2004), Os normais 2 (2009), O bem-amado (2010), Bruna
Surfistinha (2011) e Getúlio (2014). Também fez muito sucesso na televisão em
novelas e séries, arrebatando prêmios e mais prêmios. Veja mais aqui.
SINGULARIDADES DE UMA
RAPARIGA LOURA – O
premiado filme Singularidades de uma
rapariga loura (2009), dirigido pelo cineasta português Manoel de Oliveira, é baseado no conto
homônimo do livro Contos (1902), do escritor português Eça de Queiroz, contando
a história de uma viagem de comboio para o Algarve, trazendo as atribulações da
vida amorosa de um certo cidadão a uma desconhecida senhora. Ocorre que ele se
apaixona perdidamente por uma rapariga loura que é vizinha do armazém do seu
tio em Lisboa. Por conta disso ele é expulso de casa pelo tio, porém recebe seu
consentimento para casar-se com ela, descobrindo, então, a singularidade do
caráter dela. O destaque do filme vai para a atriz portuguesa Catarina Wallenstein que arrebatou o prêmio
de melhor atriz no Globo de Ouro de 2011. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA:
A arte do desenhista, ilustrador e artista plástico japonês Namio Harukawa.
DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à poetamiga,
cantora e jornalista Gal Monteiro, como
gesto de gratidão pelo apoio e amizade de sempre dispensada desde quando editora do caderno de cultura
de O Jornal, como no Vida de Artista na Educativa FM e TV
Educativa. Obrigado Gal, você é um amor de gente, beijabrações. Veja aqui.