VAMOS
APRUMAR A CONVERSA? SEGUNDA NOVA - É
segunda-feira. De fato, 2016 já começou hoje para mim: um novo dia, uma nova
vida, nova forma de pensar. Sei que tudo que almejo não está logo ali. No final
das contas, isso pouco importa, traço meu itinerário entre o que se mostra de descompasso
nas trevas do niilismo e da desesperança, e o repertório de possibilidades que
se ampliam no frescor da existência, da alegria e da leveza na doçura da
delicadeza. A despeito de ter estado no olho do furacão, nem aí, pois, se
imperarem as velhas circunstâncias tolas derrapando banalidades e outros
expedientes detestáveis por vias oblíquas e até repugnantes, de todo modo, vou
firme com meus pés grudados no chão e minha cabeça ainda com a capacidade de
sonhos e esperança. Botei a mão na massa e sem meias medidas no meu plano de
voo, e mais que tudo vou migrante desossando nosso tempo pós-utópico a
desconsiderar do fiel da balança pelos possíveis dias hostis e atrozes com suas
rupturas nos caminhos e por todos os quadrantes do planeta. Eu vou. E no meu
voo não abro mão, passado na lata no lixo, sem remorsos nem memória. Do que
passou, nem vaga lembrança ficou: o coração em paz. Não me lembro nem de 2015
nem dos anos anteriores. A vida respira nova e começa agora. Momentos bons?
Talvez sirvam apenas de alento, o melhor é agora. Exorcizei tudo, o bem e o mal
– antípodas que pertencem ao mesmo balaio -, hoje harmônicos de nem fazer
diferença. Sei que estava morto até anteontem, hoje tudo isso virou uma poeira
que o vento levou e me deixou pra lá de vivo. Afinal, Deus está nos detalhes. E
meu corpo antes combalido, agora disposto para novos enfrentamentos e minha
reconstrução. Se perdi tudo, isso me basta: não tenho nada, mas minhas mãos
estão dispostas pro carinho e a luta, meu coração pro amor, minha alma em
comunhão com o universo e todas as coisas e pessoas. E vamos aprumar a conversa
aqui.
PICADINHO
Imagem: a arte do pintor ítalo-brasileiro
Fulvio Pennacchi (1905-1992).
Curtindo o álbum Brincadeira de viola (2003),
do violeiro Paulo Freire.
EPÍGRAFE – Magister
artis ingenique largitor venter, do poeta satírico e estóico romano Aulo
Pérsio Flaco (34dC-62dC), também conhecido apenas como Pérsio, que
significa: O estômago, mestre das artes e distribuidor do gênio. Ou melhor: a
necessidade é a mãe das invenções. Veja mais aqui.
A
SUBJETIVIDADE NA COMPLEXA TOPOLOGIA DA DOBRA - No livro A dobra,
Leibniz e o barroco (Papirus, 1991), o filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995),
é tratado sobre a permissão de percorrer labirintos e diversas camadas,
coisas diferentes no continuum das transições insensíveis e transversalidade de
planos. Da obra destaco o trecho: O mundo
só existe em seus representantes tais como estão incluídos em cada mônada. É um
marulho, um rumor, uma névoa, uma dança de poeira. É um estado de morte ou de
catalepsia, de sonho ou de adormecimento, de desvanecimento, de aturdimento. É
como se o fundo de cada mônada fosse constituído por uma infinidade de pequenas
dobras (inflexões) que não param de se fazer e se desfazer em todas as
direções, de modo que a espontaneidade da mônada é como a de um adormecido que
rola de um lado para o outro em sua cama. Veja mais aqui e aqui.
O
BEIJO DA MULHER ARANHA –
No livro O beijo da mulher aranha (El
beso de la mujer araña, 1976), do escritor argentino Manuel Puig, encontro o trecho: [...] – É que me falha a memória. Mas não tem importância. O que Irena conta
e disso eu me lembro direito, é que na montanha continuam nascendo
mulheres-panteras. De qualquer modo aquele soldado já tinha morrido, mas outro
cruzado percebeu que era a mulher quem o tinha matado e começou a segui-la pela
neve e ela fugiu e primeiro eram marcas de mulher as pegadas que deixava e ao
aproximar-se da floresta eram de panteras, e o cruzado a seguiu e se meteu na
floresta que era de noite, até que avistou na escuridão os olhos verdes
brilhantes de alguém que o esperava na tocaia, e fez com a espada e o punhal
uma cruz e a pantera ficou quita e virou de novo mulher, ali deitada meio
dormindo, como que hipnotizada, e o cruzado recuou porque ouviu outros rugidos
que se aproximavam e eram as feras, que farejavam a mulher e a comeram. O cruzado
chegou à aldeia quase desfalecendo e contou a história. E a lenda é que a raça
das mulheres-panteras não acabou e estão escondidas em algum lugar do mundo, e
parecem mulheres normais, mas se um homem as beija podem transformar-se numa
fera selvagem. [...]. Em 1985, a obra transformada em filme pelas mãos do
cineasta argentino Héctor Babenco. E veja mais aqui.
CANÇÃO
DO AMOR IMPREVISTO – No
livro Nova antologia poética
(Codecri, 1981), do poeta, tradutor e jornalista Mário Quintana (1906-1994), encontro o belíssimo poema Canção do
amor imprevisto: Eu sou um homem fechado.
/ O mundo me tornou egoísta e mau. / E a minha poesia é um vício triste, /
desesperado e solitário / que eu faço tudo por abafar. / Mas tu apareceste com
a tua boca fresca de madrugada, / com o teu passo leve, / com esses teus
cabelos... / e o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender nada, numa
alegria incontida... / a súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil /
aonde viessem pousar os passarinhos! Veja mais aqui e aqui.
TRÁGICO,
CÔMICO E SATÍRICO – No livro
Cornación – Preâmbulo Segundo –, o
poeta medieval trovadoresco espanhol Juan de Mena
(1411-1456), trata a respeito do trágico, do cômico e do satírico: Fiquem a saber os que ignoram, que os poetas
escrevem ou escreveram em um destes três estilos: o estilo trágico, o satírico
ou o cômico. Trágico diz-se do que fala de feitos elevados num estilo
empolgado, soberbo, grandioso, como fizeram Homero, Virgilio, Lucano e Estácio;
para a tragédia, uma vez que começa por elevados princípios, a sua forma de
acabar é em tristes e acidentes desenlaces. A sátira é o segundo estilo de escrever;
a natureza deste estilo e o seu objetivo é admoestar os vícios como fizeram
Horacio, Persio e Juvenal. O terceiro estilo é a comedia, que trata de temas
baixos e vis, sendo o seu estilo baixo e humilde; o inicio é triste e o final
alegre, tal como escreveu Terêncio. Vistas estas três maneiras de escrever,
podemos agora dizer que o estilo destas coplas é o comico e o satírico: cômico
porque começa num estilo humilde e baixo, com um início triste, e acaba
divertido e alegre como se demonstrará. É satírico, pois se pode dizer que
repreende os vícios do maus e glorifica a gloria dos bons; destes três estilos,
das suas origens e significados bem mais largamente fala o comentador sobre a
Comédia de Dante no Quarto Preâmbulo. Veja mais aqui.
IL
CUORE ALTROVE – O premiadíssimo
Il cuore altrove (Um coração pra
sonhar, 2003), dirigido por Pupi Avati, conta a história de um professor de latim, que trabalha em Bolonha, enviado por seu
pai para encontrar uma esposa e se encontra com um rapaz que quer apresentar
uma mulher cega, a irmã de sua namorada, uma garota de boa família pertencente
ao melhor da burguesia bolonhesa. Ao ser submetida à intervenção cirúrgica, ela
se apaixona por um médico e os dois decidem se casar. Um belo filme com
destaque para a atuação da belíssima atriz espanhola Vanessa Incontrada. Veja mais aqui.
IMAGEM
DO DIA
A arte do artista visual chinês Walasse Ting (1929-2010).
DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à poetamiga Sarinha Freitas. Veja aqui.
AS PREVISÕES DO DORO PARA 2016
Confira as previsões dos signos e as
simpatias aqui.
LEITORA TATARITARITATÁ