segunda-feira, dezembro 28, 2015

SEGUNDA, DELEUZE, QUINTANA, PUIG, MENA, PÉRSIO, SARINHA FREITAS & MUITO MAIS!!!!

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? SEGUNDA NOVA - É segunda-feira. De fato, 2016 já começou hoje para mim: um novo dia, uma nova vida, nova forma de pensar. Sei que tudo que almejo não está logo ali. No final das contas, isso pouco importa, traço meu itinerário entre o que se mostra de descompasso nas trevas do niilismo e da desesperança, e o repertório de possibilidades que se ampliam no frescor da existência, da alegria e da leveza na doçura da delicadeza. A despeito de ter estado no olho do furacão, nem aí, pois, se imperarem as velhas circunstâncias tolas derrapando banalidades e outros expedientes detestáveis por vias oblíquas e até repugnantes, de todo modo, vou firme com meus pés grudados no chão e minha cabeça ainda com a capacidade de sonhos e esperança. Botei a mão na massa e sem meias medidas no meu plano de voo, e mais que tudo vou migrante desossando nosso tempo pós-utópico a desconsiderar do fiel da balança pelos possíveis dias hostis e atrozes com suas rupturas nos caminhos e por todos os quadrantes do planeta. Eu vou. E no meu voo não abro mão, passado na lata no lixo, sem remorsos nem memória. Do que passou, nem vaga lembrança ficou: o coração em paz. Não me lembro nem de 2015 nem dos anos anteriores. A vida respira nova e começa agora. Momentos bons? Talvez sirvam apenas de alento, o melhor é agora. Exorcizei tudo, o bem e o mal – antípodas que pertencem ao mesmo balaio -, hoje harmônicos de nem fazer diferença. Sei que estava morto até anteontem, hoje tudo isso virou uma poeira que o vento levou e me deixou pra lá de vivo. Afinal, Deus está nos detalhes. E meu corpo antes combalido, agora disposto para novos enfrentamentos e minha reconstrução. Se perdi tudo, isso me basta: não tenho nada, mas minhas mãos estão dispostas pro carinho e a luta, meu coração pro amor, minha alma em comunhão com o universo e todas as coisas e pessoas. E vamos aprumar a conversa aqui.

PICADINHO


Imagem: a arte do pintor ítalo-brasileiro Fulvio Pennacchi (1905-1992).

 Curtindo o álbum Brincadeira de viola (2003), do violeiro Paulo Freire.

EPÍGRAFEMagister artis ingenique largitor venter, do poeta satírico e estóico romano Aulo Pérsio Flaco (34dC-62dC), também conhecido apenas como Pérsio, que significa: O estômago, mestre das artes e distribuidor do gênio. Ou melhor: a necessidade é a mãe das invenções. Veja mais aqui.

A SUBJETIVIDADE NA COMPLEXA TOPOLOGIA DA DOBRA - No livro A dobra, Leibniz e o barroco (Papirus, 1991), o filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995), é tratado sobre a permissão de percorrer labirintos e diversas camadas, coisas diferentes no continuum das transições insensíveis e transversalidade de planos. Da obra destaco o trecho: O mundo só existe em seus representantes tais como estão incluídos em cada mônada. É um marulho, um rumor, uma névoa, uma dança de poeira. É um estado de morte ou de catalepsia, de sonho ou de adormecimento, de desvanecimento, de aturdimento. É como se o fundo de cada mônada fosse constituído por uma infinidade de pequenas dobras (inflexões) que não param de se fazer e se desfazer em todas as direções, de modo que a espontaneidade da mônada é como a de um adormecido que rola de um lado para o outro em sua cama. Veja mais aqui e aqui.

O BEIJO DA MULHER ARANHA – No livro O beijo da mulher aranha (El beso de la mujer araña, 1976), do escritor argentino Manuel Puig, encontro o trecho: [...] – É que me falha a memória. Mas não tem importância. O que Irena conta e disso eu me lembro direito, é que na montanha continuam nascendo mulheres-panteras. De qualquer modo aquele soldado já tinha morrido, mas outro cruzado percebeu que era a mulher quem o tinha matado e começou a segui-la pela neve e ela fugiu e primeiro eram marcas de mulher as pegadas que deixava e ao aproximar-se da floresta eram de panteras, e o cruzado a seguiu e se meteu na floresta que era de noite, até que avistou na escuridão os olhos verdes brilhantes de alguém que o esperava na tocaia, e fez com a espada e o punhal uma cruz e a pantera ficou quita e virou de novo mulher, ali deitada meio dormindo, como que hipnotizada, e o cruzado recuou porque ouviu outros rugidos que se aproximavam e eram as feras, que farejavam a mulher e a comeram. O cruzado chegou à aldeia quase desfalecendo e contou a história. E a lenda é que a raça das mulheres-panteras não acabou e estão escondidas em algum lugar do mundo, e parecem mulheres normais, mas se um homem as beija podem transformar-se numa fera selvagem. [...]. Em 1985, a obra transformada em filme pelas mãos do cineasta argentino Héctor Babenco. E veja mais aqui.

CANÇÃO DO AMOR IMPREVISTO – No livro Nova antologia poética (Codecri, 1981), do poeta, tradutor e jornalista Mário Quintana (1906-1994), encontro o belíssimo poema Canção do amor imprevisto: Eu sou um homem fechado. / O mundo me tornou egoísta e mau. / E a minha poesia é um vício triste, / desesperado e solitário / que eu faço tudo por abafar. / Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada, / com o teu passo leve, / com esses teus cabelos... / e o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender nada, numa alegria incontida... / a súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil / aonde viessem pousar os passarinhos! Veja mais aqui e aqui.

TRÁGICO, CÔMICO E SATÍRICO – No livro Cornación – Preâmbulo Segundo –, o poeta medieval trovadoresco espanhol Juan de Mena (1411-1456), trata a respeito do trágico, do cômico e do satírico: Fiquem a saber os que ignoram, que os poetas escrevem ou escreveram em um destes três estilos: o estilo trágico, o satírico ou o cômico. Trágico diz-se do que fala de feitos elevados num estilo empolgado, soberbo, grandioso, como fizeram Homero, Virgilio, Lucano e Estácio; para a tragédia, uma vez que começa por elevados princípios, a sua forma de acabar é em tristes e acidentes desenlaces. A sátira é o segundo estilo de escrever; a natureza deste estilo e o seu objetivo é admoestar os vícios como fizeram Horacio, Persio e Juvenal. O terceiro estilo é a comedia, que trata de temas baixos e vis, sendo o seu estilo baixo e humilde; o inicio é triste e o final alegre, tal como escreveu Terêncio. Vistas estas três maneiras de escrever, podemos agora dizer que o estilo destas coplas é o comico e o satírico: cômico porque começa num estilo humilde e baixo, com um início triste, e acaba divertido e alegre como se demonstrará. É satírico, pois se pode dizer que repreende os vícios do maus e glorifica a gloria dos bons; destes três estilos, das suas origens e significados bem mais largamente fala o comentador sobre a Comédia de Dante no Quarto Preâmbulo. Veja mais aqui.

IL CUORE ALTROVE – O premiadíssimo Il cuore altrove (Um coração pra sonhar, 2003), dirigido por Pupi Avati, conta a história de um professor de latim, que trabalha em Bolonha, enviado por seu pai para encontrar uma esposa e se encontra com um rapaz que quer apresentar uma mulher cega, a irmã de sua namorada, uma garota de boa família pertencente ao melhor da burguesia bolonhesa. Ao ser submetida à intervenção cirúrgica, ela se apaixona por um médico e os dois decidem se casar. Um belo filme com destaque para a atuação da belíssima atriz espanhola Vanessa Incontrada. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
A arte do artista visual chinês Walasse Ting (1929-2010).
 
DEDICATÓRIA
 A edição de hoje é dedicada à poetamiga Sarinha Freitas. Veja aqui.

AS PREVISÕES DO DORO PARA 2016
Confira as previsões dos signos e as simpatias aqui.

LEITORA TATARITARITATÁ