domingo, dezembro 27, 2015

DOMINGO, FREYA, SHAKESPEARE, KEPLER, VILL A-LOBOS, DALTON, AMELINHA, KAVÁFIS, LOPE DE VEGA & MUITO MAIS!

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? ÚLTIMO DOMINGO – Este é o último domingo do ano, também pode ser o meu, ninguém sabe, nem eu sei. Um ano muito difícil esse, nossa! Não sei se vou morrer daqui a pouco, amanhã ou depois, sei lá, preciso, com certa urgência, fazer tudo a que tenho direito. Chega de derrocadas deprimentes que me fizeram a todo instante recomeçar. Já estou no zero, desassombrado e num mar de lama; preciso viver e reviver tudo que sobrou de bom, catando aqui e ali algumas mínimas conquistas no meio de tantas e quantas derrotas dignas de uma tragédia dantesca, a ponto de perder tudo, menos a vergonha na cara e a vontade de viver o que me resta. Depois de ter a vida virada de pernas pro ar na maior bagunça e com o conluio de alguns distintos amigos que debandaram junto – só me procuram quando precisam – com a decepção daquilo que eu apostava na maior fé e que nunca arredei o pé, levando na maior conta, avalie. Por isso, eu fiquei longo e longo tempo naquela do amanhã nunca mais. Foram golpes de misericórdia prepotentes, maus-tratos, o engodo de pessoas bem apessoadas e que começou a feder tão logo a dor tornou-se insuportável. Tudo isso perturbava a minha poesia e me incomodava. Reconheço nisso tudo os meus pecados, não me eximo deles, sou tão culpado quanto, porém nunca desisti da luta nem daquilo que acredito, nunca! E o meu maior erro foi acreditar, essa a maior decepção. Não há mal que não traga um bem. Fui pisoteado, pisado, espragatado, afrontado, sacaneado, porta na cara decepcionante e, graças, não fosse isso eu não teria a premiação de natal que tive. O ditado me valeu: uma porta se fecha (e que hoje eu digo: fechou tarde!) e outras se escancararam com o júbilo nunca dantes recebido. Saí de um redemoinho nefasto para entrar nas nuvens paradisíacas de um dia de Sol. Dois momentos distintos: saí aniquilado pela perda, para, no momento seguinte, virar um adolescente com novas perspectivas e cantando Djavan: dizem que o amor atrai. Quem me queria morto e enterrado com uma estaca vampiresca cravada no peito, vai ter que me ver feliz de menino vivinho da silva, de peito lavado e sem baixar a guarda. O que é a vida, hem? Ontem eu cambaleava rastejando cocho muitas dores no peito, hoje posso sorrir como se nada tivesse acontecido, passado no lixo e um horizonte enorme para viver. Quem diria? Nem eu apostava nisso, só me sentindo rejeitado, vencido e sem um dedo sequer por apoio solidário. Saí das trevas, era só noite nos meus dias, meses e anos – pensei que não sairia dessa, que fosse de vez o meu fim. Renasço hoje melhor que ontem e o melhor: sem rancor, nem ressentimentos. Em paz. Se estou feliz, o mundo sorri e tudo é bonito. Sei que toda ousadia tem seu preço. Não fosse o presente de natal eu passaria em branco e batido. Afora alguns poucos momentos no ano que merecem minha atenção, como o fato da poetamiga Gal Monteiro com sua voz no meu poema Minha Voz, o alcance à marca das 600 mil visualizações aqui e alguns outros pouquíssimos momentos fugazes de alegria, porém tão relevantes quanto. Só me resta agradecer todo dia e o dia todo ao universo a oportunidade de viver, de ter vivido o que vivi e do que terei de viver pela frente. E vamos aprumar a conversa aqui.

PICADINHO

Imagem: Hoje é comemorado o dia de nascimento de Freya, a senhora das Valquírias. Na mitologia nórdica, ela é a deusa do amor, sexualidade, beleza, fertilidade, ouro, guerra e morte. É a dona do colar Brísingamen, com seu javali do lado, seu manto de penas de falcão e montando uma carruagem puxada por dois gatos. Ela com seus vários nomes governa a vida após a morte e atua no auxilio da fertilidade e do amor.


Curtindo o álbum Sinfonia nº 10 – Ameríndia (1954 – Naxos, 2011), do compositor e maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1959), com a Orquestra e coro Osesp, sob a regência do maestro Isaac Karabtchevsky. Veja mais aqui.

EPÍGRAFEHe jests at scars that never felt a wound, frase da tragédia Romeu e Julieta (1597), do poeta, dramaturgo e ator inglês William Shakespeare (1564-1616). Tradução: Zomba das cicatrizes quem nunca foi ferido. Veja mais aqui e aqui.

O ACERVO DAS LEIS TRANSCENDENTAIS – O matemático e astrônomo Johannes Kepler (1571-1630), é com justiça considerado o pai da astronomia moderna, autor das três leis transcendentais, a primeira de que as orbitas dos planetas em torno do Sol são elipses, nas quais o Sol ocupa um dos focos; a segunda, no movimento de cada planeta, as áreas varridas pelo raio vector que une o planeta ao Sol, são proporcionais ao tempo gasto para percorrê-las; e a terceira, os quadrados dos tempos das revoluções siderais dos planetas são proporcionais aos cubos dos grandes eixos de suas órbitas. Do copioso acervo de teorias e sistemas deixados por Kepler, muitos levariam anos para serem devidamente compreendidos e esclarecidos. Dentre eles, cita-se sua observação de que as velocidades dos astros aumentam em relação direta à proximidade de seu ponto de atração – conforme elucidado pela lei da gravitação e posteriores observações do cosmo. De modo aproximativo, Kepler assegura que tais velocidades são inversamente proporcionais às raízes quadradas daquelas distancias. Essas observações abririam largo caminho para futuros estudos sobre força e massa inerte. Veja mais aqui .

CONTOS DOS BOSQUES DE CURITIBA – No livro de contos O vampiro de Curitiba (Record, 1965), do escritor Dalton Trevisan, encontro Contos dos bosques de Curitiba: Nelsinho encostou a porta, encurralada a moça no canto:–É hoje. Roçou a sombra do lábio, a espinha na asa do nariz. Ela voltou-lhe a face: beijou­a ferozmente na boca. Fechou a porta, empurrando-a com o pé. Certa que iriam ficar nos toques e blandícias, pendurou-se ao seu pescoço. Pousou a mão no peitinho, ela se encolheu: vergonha do seio pequeno? Era dona experiente, sem provocá­la nã o conseguia nada: – Duvido seja carne – é borracha! –Não faça isso. Vem gente. –Suspirosa, pesando cada vez mais no seu ombro. –Se vem gente? O herói estendeu a mão, deu volta à chave: – Vem não. Arquejante, estalou os dois colchetes, ergueu-lhe a blusa. Ela que baixou o sutiã. Surgiram dois bocados cor-de-rosa: – Nunca vi coisinha mais linda! Ai, mãezinha do céu, aquilo sim era seio –dois de uma vez, sem mentira. Se apertasse o biquinho espirrava leite? Brasão de família, ela confidenciou que o da mãe era mais bonito. – Depressa. Vem gente. Risinho abafado, queixou-se de cócega. – Que maravilha – a mão cheia, ele sopesava o fruto. – Ó perfeição da natureza! Ares de distraída, olho ausente no teto: – Sou nervosa. Hoje estou fria. – Como é que você gosta? – Sem inspiração eu não posso. – Ah, é... Beijava-a raivoso, lábio inchado de mordida. Ela titilou a língua no céu da boca. O herói, sem sair do lugar, descreveu duplo salto mortal. Deslizou a mão no joelho, debaixo da saia cinza. Magra, usava anágua. Assustadiça, arregalou o olho: – Não. Não. Aqui não. –Seja boba. Conversinha em sussurro, na ânsia louca do mais cobiçado prêmio da terra. –Querido, pode vir alguém. Na última resistência, vencida pela surpresa. Levantou-lhe a anágua e viu –o que ele viu? Babados, brincos e rendas da ilha da Madeira. – Ai, você me machuca. Da vacina contra varíola, queixou-se de íngua no braço. – Já faço benzedura de íngua. A bela soltou o botão da saia e correu o fecho. Agora de blusa e anágua. Sem blusa. Sem anágua, desfeita aos pés. Magrinha e branca, dava pena – deitou-a no sofá de couro vermelho. –Espere, meu bem. Ela derrubou o sapato, raspando na beirada o calcanhar. De joelho no tapete, Nelsinho babujou-lhe o seio. –Me olhe. Abra o olho. Toda trêmula, escondeu o rosto no seu ombro: –Sinto vergonha. Gemido abafado de terror: – Tenha pena de mim! –Juro que... Quem me dera um espelho, uma almofada, um anel mágico. – ...não faço mal. Sem inspiração, a bela enterrou-lhe a unha no pescoço: – Me beije. Ai, meu amor – e rilhando com fúria os dentes. – Ai, me beije. Veja mais aqui e aqui.

AS JANELAS & DESDE AS NOVE - No livro Poemas (Nova Fronteira, 1982), do poeta grego Konstantínos Kaváfis (1863-1933), traduzido pelo também poeta José Paulo Paes, encontrei os seus belíssimos poemas, entre os quais As janelas: Nestes quartos sombrios, os dias de estupor / que eu passo, a procurar em vão janelas por / toda parte. Que alivio não seria / uma janela aberta à minha frente. / Mas não as há, ou não posso acha-las. Seja como for, / melhor talvez não ter janelas ao dispor. / Talvez a luz trouxesse dores mais pungentes. / Quem sabe as novas coisas que não mostraria. Também o poema Desde as nove: Nove e vinte. Passou depressa o tempo / desde as nove, quando acendi a lâmpada / e me sentei aqui. Fiquei sentado sem ler / e sem falar. Com quem falar / se estou sozinho nesta casa? / A imagem do meu corpo jovem, / desde as nove, quando acendi a lâmpada, / veio rondar-me, veio me lembrar / de quartos fechados cheios de perfume / e de prazeres idos – que prazeres audazes! / Pôs-me também diante dos olhos / ruas que ora se me tornaram estranhas, / locais cheios de rumor que se findaram, / e cafés e teatros que existiram outrora. / A imagem do meu corpo jovem / veio rondar-me, trazer-me coisas tristes; / lutos de família, afastamentos, / as saudades dos meus, saudades / de mortos tão pouco lamentados. / Meia-noite e meia. Como o tempo passa. / Meia-noite e meia. Como passam os anos. Veja mais aqui e aqui.

LOPE DE VEGA & A COMEDIA NUEVA - Ao poeta e dramaturgo espanhol Lope de Vega (1562-1635), Se deve o estabelecido das formulas da Comedia Nueva, que reduziu a três o número de atos, fundiu os elementos trágicos e cômicos, dinamizou a ação e a intriga, e repeliu as unidades aristotélicas de tempo e lugar. Suas comédias, que se caracterizam pelo lirismo e improvisação, dão mais importância ao dinamismo da ação do que à caracterização sociológica. Essas tendências foram inicial combatidas por Cervantes, que se manteve fiel às técnicas clássicas para criar os seus dramas de caracteres e paixões, entre os quais Numância, considerada a melhor tragédia espanhola do século XVI. A Comedia Nueva era encenada nos Corrales, teatros públicos urbanos surgidos na Espanha. Consistiam de um pátio cercado de casas, que as ordens religiosas alugavam às companhias. Tratava-se de um teatro a céu aberto, com um pequeno palco coberto e simples cenário, nem sempre existente. Na época em que Madrid já contava com oito companhias reconhecidas, os mais importantes Corrales eram o Teatro de la Cruz (1579) e o Teatro del Príncipe (1582). As funções, que geralmente duravam duas ou três horas, terminavam pouco antes do pôr-do-sol, e eram repetidas duas ou três vezes por semana. Esse foi um dos primeiros teatros a se diferençar das representações da igreja e dos espetáculos encenados na corte. Veja mais aqui e aqui.

CAPTURE THE FRIEDMANS – O filme documentário Capture the Friedmans (Na Captura dos Friedmans, 2003), dirigido por Andrew Jarecki, com música de Andrea Morricone, está concentrado na investigação ocorrida na década de 1980 por abuso sexual infantil de supostas vítimas de pai e filho da família Fridman condenados pela prática de pedofilia, tendo pai se suicidado na prisão em 1995. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA: QUEM SE LEMBRA?
Charge do Henfil que ilustra a matéria na seção Ensaio da Bravo de março 2004, Meninos, eu vi, assinada pelo jornalista Sérgio Augusto, na qual está narrado: [...] Em breve a coisa ia começar a feder, pois os verdadeiros moleques estavam no poder. Um deles chamava-se Darci Lázaro e era coronel. Fora ele quem, durante a invasão de Brasília, rosnara esta ameaça: “Se essa história de cultura vai-nos atrapalhar a endireitar o brasil, vamos acabar com a cultura durante 30 anos”. Se a cultura não acabou, não foi por negligência do coronel. Ele e seus jagunços bem que se esforçaram, e a invasão dos campus de Brasília foi apenas um dos prelúdios da guerra santa contra a inteligência nacional a que desde cedo os golpistas de 64 se dedicaram de corpo, alma e metralhadora na mão, ameaçando, demitindo, prendendo e torturando professores, estudantes, artistas, jornalistas e intelectuais, recolhendo e incinerando livros, submetendo à censura todo tipo de publicação. Pela primeira vez eu tive vergonha de aqui ter nascido. A segunda vez foi quando Collor e D. Zélia nos impuseram aquele confisco e ninguém sequer propôs uma marcha até Brasília com porrete na mão. [...]. Veja mais aqui.

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à cantora e compositora Amelinha. Veja aqui.

AS PREVISÕES DO DORO PARA 2016
Confira as previsões dos signos e as simpatias aqui.

LEITORA TATARITARITATÁ