VAMOS
APRUMAR A CONVERSA? QUANDO ENTÃO, É NATAL... - É Natal, a festa da cristandade e da satisfação – como um
maçarico doido com os fogos de artifício do consumo – do capitalismo. É tudo
lindo nas vitrines, luzes, sinos tocando, promoções e presentes a mancheia. Os olhos
chegam enchem d’água com a trilha sonora dos corais de jingle bell e afins. É a hora da felicidade, fartura, do esbanjamento
das emoções mais íntimas de prazer e gozo, de chega dá um nó na garganta poder
torrar o décimo terceiro naquilo que foi sempre a necessidade de realização e
de afirmação. Comprar e ter aquela última novidade que será daqui mais um mês totalmente
obsoleta pela barbárie eletrônica; e ter a última edição do mais estrondoso vídeo
game pras horas de lazer; e fazer listas de compras para a ceia e de presentes
pros mais achegados; e receitas de bolos e pratos sofisticados; e as confraternizações
nos bares e hotéis; e um professor de Bioética compra uma metralhadora de
brinquedo pro filho; e Papai Noel tira uma dedada numa bunduda que não consegue
segurar seu filho capetinha que quer porque quer, todo pirracento, dar um murro
no bucho do bom velhinho; e tudo não passa de passatempo nas voláteis e
volúveis relações que depois do ano novo volta em pé de guerra para a
concorrência e sobrevivência. Mas é Natal, ora. O Brasil para e só volta a
funcionar depois do carnaval. Sempre foi assim – e enquanto todo mundo festeja,
os sabidos grandões armam nesse período suas estratégias e colocam em prática
as suas mais nefastas táticas. E isso me dá a impressão de que verdadeiramente
não existe crise – ou não?! -, ou ninguém está nem aí pra quem pintou a zebra. Desde
que nasci que ouço falar em crise, sempre a sua presença no dia a dia. Será que
essa crise existe realmente ou é um artifício pra dar uma movimentada mais no
mercado quando ele sente falta de demanda? É como se o vuque vuque do quero
agora fazer feliz meu coração, fosse comparável a uma anestesia inoculando as
broncas e óbices do cotidiano: uma panaceia. E isso porque é Natal, hora de
fazer bem, se reconciliar, apagar os infortúnios e apostar que, a partir de
agora, tudo será diferente e melhor. Em última instância, o culto do
descartável, do inócuo ou do inútil reinstaurando escrúpulos anacrônicos na
reprise anual, como um remédio eficaz praquilo que se possa chamar de
preenchimento do vazio e da solidão de todos os meses anteriores. É Natal, ora.
E em último caso, a dissolução das relações e todas as suas implicações, no
fazer o bem e a fraternidade agora para resolver todas as pendências que
ficaram marcadas nas culpas e decepções. É Natal e todos embriagados de
felicidade – afinal, todo mundo merece ser feliz! Ou não? Ora, ora. Então,
vamos nessa aprumando a conversa aqui.
PICADINHO
Curtindo Allegro in D Minor WKO 208, do
compositor alemão Carl Friedrich Abel
(1723-1787), com a viola da gamba de Shirley
Edith Hunt.
EPÍGRAFE – No livro Grande serão: veredas (José Olympio, 1982), do escritor, médico e
diplomata João Guimarães Rosa (1908-1967): No real da vida as coisas acabam com menos formato, nem acabam. Melhor assim.
Pelejar por exato dá erro contra a gente. Não se queira. Viver é muito
perigoso. Veja mais aqui e aqui
UM
ALERTA PRA AGORA – No livro
Serviço Social em tempo de capital e
fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social (Cortez, 2008), da
MANIFESTO
FUTURISTA – Oportuno trazer
aqui o Manifesto futurista (Le
Figaro, 1909), do escritor, editor, ideólogo, jornalista e ativista político
italiano Filippo Marinetti (1876-1944), estabelecendo que: 1. Queremos cantar o amor do perigo, o
hábito à energia e à temeridade. 2. A coragem, a audácia e a rebelião serão
elementos essenciais da nossa poesia. 3. Até hoje a literatura tem exaltado a
imobilidade pensativa, o êxtase e o sono. Queremos exaltar o movimento
agressivo, a insônia febril, a velocidade, o salto mortal, a bofetada e o murro.
4. Afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a
beleza da velocidade. Um carro de corrida adornado de grossos tubos semelhantes
a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que parece correr
sobre a metralha, é mais belo que a Vitória de Samotrácia. 5. Queremos celebrar
o homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada a
toda velocidade no circuito de sua própria órbita. 6. O poeta deve
prodigalizar-se com ardor, fausto e munificência, a fim de aumentar o entusiástico
fervor dos elementos primordiais. 7. Já não há beleza senão na luta. Nenhuma
obra que não tenha um caráter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve
ser concebida como um violento assalto contra as forças ignotas para obrigá-las
a prostrar-se ante o homem. 8. Estamos no promontório extremo dos séculos!...
Por que haveremos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas
portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Vivemos já o absoluto,
pois criamos a eterna velocidade omnipresente. 9. Queremos glorificar a guerra
- única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor
dos anarquistas, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo da mulher. 10.
Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de todo o tipo, e
combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária. 11.
Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação;
cantaremos a maré multicor e polifônica das revoluções nas capitais modernas;
cantaremos o vibrante fervor noturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por
violentas luas elétricas: as estações insaciáveis, devoradoras de serpentes
fumegantes: as fábricas suspensas das nuvens pelos contorcidos fios de suas
fumaças; as pontes semelhantes a ginastas gigantes que transpõem as fumaças,
cintilantes ao sol com um fulgor de facas; os navios a vapor aventurosos que
farejam o horizonte, as locomotivas de amplo peito que se empertigam sobre os
trilhos como enormes cavalos de aço refreados por tubos e o voo deslizante dos
aviões, cujas hélices se agitam ao vento como bandeiras e parecem aplaudir como
uma multidão entusiasta. Veja mais aqui e aqui.
DOIS
POEMAS – Os poemas de
amor de Marichiko inseridos na obra Selected
poems (1967), do poeta, tradutor e ensaísta crítico estadunidense Kenneth Rexroth (1905-1982), destaco
dois traduzidos por Adrian’dos Delima: XVI
- Calcinada pelo amor, a cigarra / Grita em surto. Em silêncio como o
vaga-lume, / Minha carne toda incendeia do amor. LVII - Noite sem fim.
Solidão. / O vento traz uma folha de bordo / Contra a porta de papel
translúcido. / Eu espero, como nos velhos dias, / No nosso lugar secreto, sob a
lua cheia. / Os últimos grilos-de-sininhos cantam. / Eu achei tuas antigas
cartas de amor, / Repletas de poemas que nunca tornaste públicos. / E
importaria a alguém? / Eles foram somente para mim. Veja mais aqui.
OS
PERSONAGENS TRÁGICOS –
No prefácio de peça teatral Berenice
(1670), o poeta trágico, dramaturgo, matemático e historiador francês Jean
Racine (1639-1699), assim se expressa: [...] A regra principal é agradar e comover; todas as outras foram feitas
para servir esta. [...] Os
personagens trágicos devem ser vistos noutro ângulo, diferente daquele no qual
vemos, regra geral, as personagens que vemos mais próximas. Pode-se dizer que o
respeito que se tem pelos heróis aumenta à medida que se afastam de nós: major
e longínquo reverentia. O afastamento dos locais repara, de certa forma, a
demasiada proximidade dos tempos: porque o povo não encontra diferenças entre o
que está, se assim posso falar, a mil anos de distancia dele, e o que está a
mil léguas. É isto que faz com que, por exemplo, os personagens turcos, por
mais modernos que sejam, tenham dignidade no nosso teatro. olham-nos como se
fossem antigos. Veja mais aqui e aqui.
EN
EFFEUILLANT LA MARGUERITE
– O filme En Effeuillant la Marguerite
(Desfolhando a Margarida, 1956), do cineasta e roteirista francês Marc Allégret (1900-1973), conta a
odisseia parisiense de uma jovem filha de um general que irritou o pai com a
publicação do seu livro que empresta título ao filme, tudo se desenrolando com
muito bom humor e destacando a graça e beleza da atriz, modelo, ativista e
cantora francesa Brigitte Bardot. Veja
mais aqui.
AS
PREVISÕES DO DORO PRO ANO TODO – As previsões pro ano todo do mestre Dorus está bombando na rede. Além de trazer
as orientações de procedimentos quanto ao amor, saúde e dia a dia de cada
signo, o cara-de-pau ainda dá de troco duas simpatias: a da virada do ano e a
Tiro e Queda. Quer enriquecer da noite pro dia? Siga o mestre e aproveite para conferir e dar boas risadas aqui.
IMAGEM DO DIA
DEDICATÓRIA
LEITORA TATARITARITATÁ