VAMOS APRUMAR A CONVERSA? NADA COMO O SOL
RAIANDO PARA UM NOVO DIA – Salve,
salve! Novo dia, vida nova. Chegou dezembro, ufa! Mais de ano na maior barra,
só cantando a toada: o ano passado eu morri, mas este ano eu não morro!
Novembro se foi e com ele o fundo do poço: a luz pontou no fim do túnel e agora
o Sol reina mostrando o horizonte! Inda bem. Para quem andava na escuridão, saí
da caverna. Se foi bom? Apesar de tudo era ótimo, mas se um dia foi presente,
agora deixou um gosto amargo de passado. Já foi. Entre mortos e feridos,
escaparam todos. As avarias, um bocado; prejuízos, ih, pelo muito que fosse,
fica no lucro. Aprendi a perder, são ganhos para experiência, aprendizagens. Será
preciso dar uma revisada no casco pra poder singrar de volta ao mar. Se valeu a
pena, tomara. Só o tempo dirá. Soubesse, não me sujeitava mais ao amor,
principalmente quando a gente dá fé que só restam incompreensões, equívocos,
desapontamentos. Quando se está morrendo é melhor fingir que está sorrindo. Ah,
tem que chutar o pau da barraca, seguir adiante, mesmo que claudicante. As
feridas supuram, um dia saram. Fazer o que? A gente pega o beco, a fila anda. E
é hora de repaginar, recomeçar, refazer a vida, juntando o monturo dos
escombros, resiliência em dia. Tem hora que precisa dar baixa mesmo, passar
recibo. O que não pode é servir de barata para solado de sapato, né não? Então,
o que era modismo, um dia vai pro lixo. Nada como a liberdade de bicho solto,
dono do nariz, sem satisfações, choramingos, restrições. Hora de seguir em
frente, mesmo que sozinho: pau da venta empinado, peito estufado e pé na taboa.
O que foi, foi; na frente, só o para-choque. Sai da frente! Quem não aprendeu,
que vá apanhando. Eu vou na minha. Aprendi a lição. E aviso aos navegantes:
antes tarde do que nunca! Fica valendo: o que é do homem o bicho não come. E
vem aí a Musa Tataritaritatá, aguarde. Enquanto isso aprume a conversa aqui,
aqui e aqui.
Imagem: The
Wave
(1896), do pintor francês William-Adolphe
Bouguereau (1825-1905). Veja mais aqui e aqui.
Curtindo o álbum Duets (2009), de George
Frideric Handel (1685-1759),
com a soprano Rosemary Joshua e
a mezzo-soprano Sarah Connolly, The
English Concert Orchestra.
SEXUALIDADE E EROTISMO – No livro Histórias íntimas: sexualidade e erotismo na história do Brasil
(Planeta, 2011), da historiadora Mary
Del Priore, trata sobre a sexualidade, erotismo e pudor por cenários
culturais, econômicos e políticos, conceitos e padrões de comportamento,
privacidade e coletividade, indumentária e decoro, o Manual do confessor, o
sagrado e profano, o pecado e os tocamentos desonestos, o coito interrompido,
casamento, interdições, a cópula e os ósculos, o controle das práticas sexuais,
a hipocrisia, beataria e libertinagem, a homossexualidade, o histerismo,
sugerindo pela capa do livro – uma fechadura – que se fala de um tema tabu que
é a porta do inferno e entrada do Diabo no "ninho de pecados", como diz a própria autora. A abordagem do livro traz "a noção de intimidade no mundo dos
homens entre os séculos XVI e XVIII se diferencia profundamente daquela que é a
nossa no início do século XXI", Numa das partes do livro ela menciona que "os
médicos, sobretudo os do século XIX, eram fascinados por sexo" e “O que
era o corpo dessas pessoas nesses primeiros anos de colonização? Certamente
nada a ver com nossa sociedade tão higienizada hoje, tão florida e que ninguém
consegue entrar no elevador sem usar desodorante. A sensibilidade olfativa
de nossos antepassados difere totalmente da nossa hoje. […] Os relacionamentos
sexuais […] se limitavam a um erguer de saias e um abaixar de calções. Veja
mais aqui e aqui.
AVENTURAS DE UM JOVEM – O livro As aventuras de Huckleberry Finn (Adventures
of Huckleberry Finn, 1884
– L&PM, 2011), do escritor estadunidense Mark Twain (1835-1910), conta a história de um jovem que, através da
amizade, conseguiu se libertar da cultura americana do século XIX que tolerava a
escravidão. No começo da história, percebe-se como Huck se sentia “fora de
lugar”, não se sentia pertencente à sociedade. Ele não se sentia bem nem quando
vivia na casa das senhoras, que o adotaram e tentaram “civilizá-lo”, nem na
companhia do pai, um alcoólatra que o maltratava. Certo dia, seu instinto de
sobrevivência fala mais alto, e Huck foge, forjando sua própria morte. Em sua
jornada, encontra Jim, o escravo de Miss Watson, que estava fugindo em busca de
liberdade. Huck e Jim, de diferentes formas, compartilhavam a necessidade de se
libertarem. Ao longo da história, constroem uma relação de amizade muito forte.
Embora Huck soubesse que Jim era um homem bom, em diversos momentos vive um
profundo conflito entre a sua consciência – isto é, o que sentia e acreditava
que era o certo - e a cultura escravagista da época, que o condenaria por estar
ajudando um negro a fugir. Da obra destaco os trechos: [...] A
princípio eu odiava a escola, mas pouco a pouco fui-me acostumando, até que já
podia suportá-la. [...] E
assim, quanto mais eu ia à escola, mas fácil parecia continuar. Estava também
começando a me acostumar, de certa maneira, com os costumes da viúva, e já não
me pareciam tão insuportáveis. [...]
Ora posso garantir-lhes que me senti também trêmulo
e febril, só de ouvi-lo, porque começa a entrar-me na cabeça que ele já estava
quase livre, e quem podia ser responsabilizado por isso? Eu! Não podia tirar
aquilo da consciência fosse como fosse. Nunca me ocorrera antes o que era que
eu estava fazendo. Mas agora ocorria; e parecia que me queimava, cada vez mais [...] Comecei a sentir-me tão vil e tão miserável
que seria preferível estar morto. [...]
Fui avançando, sem nenhum plano preconcebido,
confiando apenas na Providência para pôr as palavras convenientes na minha boca
quando chegasse o momento; porque eu notara que a Providência sempre punha as
palavras necessárias na minha boca, quando eu me entregava a ela [...] Disse
comigo mesmo que uma pessoa que diz a verdade quando está em uma situação
apertada, corre riscos consideráveis, embora eu não tivesse experiência disso e
não pudesse ter a certeza; mas parece pelo menos que assim seja; e no entanto,
ali estava um caso no qual me parecia que a verdade seria melhor e sem dúvida,
mais “prudente” do que qualquer mentira. Hei de guardar isso na minha memória,
e relembrá-lo vez por outra, tão estranho e irregular me parece. Nunca vi coisa
semelhante. Rezar por mim! Pensei comigo que se ela me conhecesse escolheria
uma tarefa mais dentro dos limites das suas forças. Mas aposto que ela o fez,
assim mesmo – era o seu feitio. [...] Nunca
mais tornei a vê-la desde aquele momento em que ela transpôs a porta do quarto;
não, nunca mais a vi desde então, mas acho que me lembrei dela pelo menos um
milhão de vezes, e de ela ter-me dito que rezaria por mim; e se algum dia
chegar a pensar que seria de alguma utilidade eu rezar por ela , diabos me
levem se não o faria. [...].
Veja mais aqui e aqui.
MULHERES DE PASSAGEM & OUTROS POEMAS – O poeta grego Kóstas Ouránis (1890-1953), possui umas das poesias mais
representativas, as quais destaco na tradução de José Paulo Paes, inicialmente,
o poema Mulheres de passagem: Mulheres a
quem vi por um instante / dentro de trem à hora em que partiam / para outro
lugar, mulheres que riam / nos braços de um outro homem, exultantes, / mulheres
em balcões, a olhar diante / de si, tão distraídas, o vazio, / ou a agitar do
convés de um navio / que zarpava seus lenços vacilantes: / se soubésseis com
quanta nostalgia / eu vos trago de novo ao pensamento / pelas tardes de chuva,
tardes frias, / mulheres que passastes um momento / em minha vida – e agora
conduzis / minha alma a um exótico país. Também o poema De profundis
clamavi: Quisera, ah como eu quisera – e
este anseio permanece / qual flor selada na noite dos meus pensamentos - /
quando, por sob o meu, sentisse um corpo de mulher, / fruir no intenso orgasmo
de minha juventude / a dupla vida e movimento cuja ebriez lhe cerra / os olhos,
os seios opulentos; e igual tormenta / beber a largos haustos pelas praças
agitadas, / pôr-lhes as minhas mãos de caricias à volta da garganta, / lentas,
doces serpentes que a seduzem e estrangulam... / ah! O derradeiro espasmo do
seu corpo magnifico / no instante em que a vida se lhe esvai como um suspiro; /
antes, porém, de que o prazer ceda o seu posto à dor... / ah! O derradeiro
rolar, selvagem, impetuoso, / de nossos braços e pernas desnudos, confundidos,
/ eu lhe sentido o langor do prazer na carne tépida... / e se mais tarde a
morte vier buscar-me também, / comparsa de orgias, fantasmal, da estrangulada,
/ no frio que então se espalhará por sobre o nosso leito... / não terei vivido
o sonho que há tanto me atormenta? Por fim, o poema A minha vida: A minha vida toda, nostalgia só e anseios! /
Ora eu palácios de quimera edificar queria, / ora então, como rosas, desfolhar
meus pensamentos / sobre a tumba do que passa – e de viver me esquecia. / Os
anos me correram como areia pelas mãos, / pelos meus dedos sonhadores, e a alma
dolorida, / na hora de outono em que os sinos puseram-se a tocar, / viu cair
inexorável a noite em minha vida. / Sou como uma casa de marujos à beira-mar, /
cujos homens sumiram juntamente com os barcos; / quando sopram os ventos
durante as noites de medo, / suas mães e irmãs, todas elas vestidas de negro, /
inclinam as cabeças silentes, apavoradas, / como se ouvissem bater na porta já
tanto fechada. Veja mais aqui.
DE BERNARDA ALBA À FESTA NO COVIL – A atriz, diretora e produtora Mika Lins estreou nos palcos em 1984,
com a peça A casa de Bernarda Alba, na qual foi de cara premiada. Em 1988,
Sampa. Em 1989, entrou pro cinema no filme estadunidense O quinto macaco. Também
O cometa. Em 1996 ela dirigiu a peça Seria cômico se não fosse trágico, além da
peça Frida Kahlo, na qual foi protagonista e produtora. 1998, Cacilda. Na TV ela atuou em produções como Chapadão
do Bugre, O canto das sereias, Os ossos do barão, entre outras. Em 2000, a peça
Fedra. Em 2002, Franskensteins. Em 2005, o filme Os ricos também choram. Em
2007, o filme Amigas e rivais. Em 2009, apresentou um monólogo de Doistoiévsky,
O homem do subsolo. Em 2010, ela dirigiu Dueto para um. Em 2012, foi a vez do
filme Ritmo Brasil. Em 2013, dirigiu o monólogo Festa no covil. Veja mais aqui.
CARRINGTON – O drama biográfico Carrington (Carrington, Dias de Paixão, 1995), escrito e dirigido por
Christopher Hampton, conta a história de vida da pintora inglesa Dora Carrington (1893–1932), conhecida
simplesmente como "Carrington", baseado na biografia do escritor e
crítico Lytton Strachey (1880–1932), escrita por Michel Holroyd. O filme mostra
a relação de Dora com o homossexual Strachey e outros membros do Grupo
Bloomsbury, desde eventos na I Guerra Mundial, o envolvimento que ela recusa
com Gertler, o casamento com o ex-soldado, o adultério, outros amantes e a
tentativa de suicídio. No filme destaque para a premiadíssima atriz e
roteirista britânica Emma Thompson. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte da belíssima atriz neozelandesa Melanie Lynskey.
DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à poetamiga,
advogada & blogueira Mariza Lourenço.
Veja aqui, aqui, aqui e aqui.