
TATARITARITATÁ: VAMOS APRUMAR A CONVERSA - Literatura, Teatro, Música & Pesquisas de Luiz Alberto Machado (LAM). Show, cantarau, recital, palestras, oficinas, dicas & informações. Doações Chave Pix: luizalbertomachado@gmail.com
quinta-feira, junho 09, 2016
COLM TÓIBÍN, VIK MUNIZ, CLÁUDIO NUCCI, MARILDA IAMAMOTO, SPENCER TUNICK, NATAL & ESDRAS REBOUÇAS & ÉTICA

domingo, setembro 14, 2014
NAJA MARIE AIDT, JENNIFER LYNCH, NELLY SACHS & KOONING
QUANDO A GENTE
VAI À LUTA NÃO ADIANTA TRASTEJAR: OU VAI OU RACHA! - O que não é ou foi ou
está pra ser, inevitável a dura realidade: uma coisa ou outras, afora tantas e
quantas. É melhor saber que além do 8 ou 80 maniqueístas, tem também o plano
cartesiano com positivos e negativos pra baixo e pra esquerda, e uma infinidade
de possibilidades quânticas na relatividade das coisas, formas, tempos e
espaços. Não endoide tentando decifrar: é paradoxo atrás de outro e em cadeia
infinita. Certo? Errado. Pra se prevenir pegue logo o fio de Ariadne pra carreira,
ao descobrir que está no cúmulo dos labirintos enfrentando o Minotauro que é
você mesma. Não esquente. Nem vá naquela de imaginação de menos, desespero de
mais. Se peitar a desgraça não abra da guarda: bote pra torar tudo. E depois
tenha o regozijo de se deleitar com o prurido coçando as perebas futuras. Não
use da desculpa de que tudo está fodida e meia, afinal virgindade tem cura e sexo
é a prova de que nem tudo tem limite. Se todos roubam não precisa seguir o
exemplo, nem precisa enlouquecer pela desonra dos escrúpulos, nada é pior que
passar na cara aquele: Eu num disse! Nada é tão importante que possa ser levada
tão a sério: é só perder a vergonha e se esconder naquela de que apenas cumpriu
o seu dever – é um ato para lá de honesto e nem se importe com aqueles boatos
de que você andou chupando a rola e babando os ovos do chefe. Nem ligue, o que
vale mesmo é respeitar os mortos e descascar os vivos. E mais: alguém já disse
por aí que se trabalho fosse bom o rico tomava para ele mesmo. Ao contrário de
Voltaire: não vai tirar você nunca da pobreza, vai fazê-la fumar mais ainda por
conta da rotina insípida e entediante. Se a coisa estiver insossa pra sua banda
adoce com uma loucura qualquer que der na telha e manje como é amargo não ter
com quem brigar. Todo remédio, antes de tudo, é puro veneno. Destile e tome uns
goles, fará bem pra saúde: sanidade mental é coisa do outro mundo e você não é
alienígena pra se arrumar numa normose, né? Qual foi o santo de casa que obrou
milagre? Você, com certeza, não será a primeira canonizada. A vida é isso
mesmo: é sair fazendo merda a torto e a direito, sem ter que contabilizar os
danos: os outros farão isso por nós mesmos e tudo será a mesma bosta de sempre.
Viva! E se puder viva muito: quando virar a casa dos 100 verá que já passou
pelo pior – dias melhores virão e se foi a última a apagar a luz é porque
acertou na mosca ou no interruptor ou na lâmpada, das três, uma, tá? Se você se
acha maravilhosa não fite o espelho, pode ser que não veja Narciso e que não
deu certo mesmo, até ficar fora de moda. Saiba: toda unanimidade quando não é
burra, com certeza é falsa. Além do mais você pode ter sido um erro. Já pensou?
Por isso nunca queira ver a luz no fim do túnel: tudo de errado que a gente faz
é feito um bumerangue e volta pra gente com força redobrada. O pior é que a
gente nunca se lembra o que fez, né? Você pode ter sido a invenção que não era
pra ter, mas teve futuro, entende a sutileza? Bote sua mola, dê seus pulos,
bala perdida só quer alvo móvel. Andar perdido em ziguezague é melhor que
encarar a linha do trem, nunca se sabe. Não resista a qualquer tentação, pode
ser a última vez ou tarde demais. Se na horagá ficar sem graça, pense que está
gozando férias na Suécia e pronto! Não jogue lixo fora, recicle e poderá virar
um programa da tevê ou do rádio – ninguém vai assistir mesmo e nem se preocupe
se isso envenenar um pouco os outros, eles merecem – tenha certeza disso! Gafe
foi feita mesmo pra soltar inadvertidamente! É feito peido: fede, mas passa. E ninguém
esquecerá: você entrou na hestória. Se tiver coragem diga na cara, resolva
logo. Caso se acovarde e fale pelas costas descobrirá que tem mais uns 15 ou 20
inimigos tocando fogo na sua alma. Nem se aflija se seu sal estiver pisando. Não
se choque nem se deprima se os espelhos de hoje não forem como os de
antigamente; como já foi dito por alguém: é que agora eles têm o triste defeito
de não pensar duas antes de refletir. Vai ver que você nem se reconheça com o
que esteja vendo: não é mais a mesma porque deixou de sê-la faz tempo. Quem se
importa? Além do mais vão querer subestimar sua superestimação, sabia? Se você
pensa que é a rainha tamposa da primeira esquina, verão logo que não entende do
riscado: antes de você alguém esteve ali e se fodeu faz tempo. Dirão que não
dará certo e que é de brincadeira: a humanidade tanto fracassou que a Terra é
redonda e que tem gente que sai cagando pelos 4 cantos do mundo. Então: não grite,
o mau hálito empesta tudo. Não precisa contar nada pros seus pais, não corte os
pulsos! Birutou? Está louca! Sorria... Mais vale um riso na cara que dois
choros encarreirados. Educado é aquele que engole todo tipo de sapo cururu no
trampo de todo santo dia e não tem uma náusea mínima sequer que seja pra se
queixar no descanso do guerreiro. Bote fé e vamos aprumar a conversa!!! Veja mais
aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - Todo artista retorna às coisas. Os desenhos que você faz
quando criança ou adolescente e as ideias que você tem quando é um jovem
artista iniciante, sem dúvida surgem continuamente. As mulheres também podem
ser criativas em total isolamento. Conheço excelentes artistas mulheres que
fazem trabalhos originais sem nenhuma resposta digna de menção. Talvez eles
estejam acostumados com a falta de feedback. Talvez eles sejam mais difíceis. Por
um lado, quero um gesto – qualquer tipo de gesto, todo tipo de gesto – gentil
ou brutal, alegre ou trágico; o gesto do espaço subindo, afundando, fluindo,
girando; os gestos da luz fluindo ou jorrando através da cor. Vejo tudo como
possuidor ou possuído por gesto. Muitas vezes pensei nas minhas pinturas como
tendo um eixo em torno do qual tudo gira. Uma pintura para mim é principalmente
um verbo, não um substantivo, primeiro um evento e só secundariamente uma
imagem. Pensamento da pintora estadunidense Elaine de Kooning (1918-1989).
ALGUEM FALOU:
Em vez de uma pátria guardo as metamorfoses do mundo. Nós, mães, levamos ao
coração do mundo a melodia da paz. Respirávamos o ar da liberdade sem conhecer
a língua nem ninguém. Mas o silêncio é onde moram as vítimas. Pensamento da
escritora alemã Nelly Sachs (1891-1970). Veja mais aqui, aqui, aqui e
aqui.
HETEROTOPIA
– Na obra Ditos & Escritos III de Outros espaços (Forense
Universitária, 2009), encontra-se que para o filósofo, historiador, filólogo,
teórico social e crítico literário francês Michel Foucault (1926-1984), heterotopia
significa um espaço onde se vive no interior de um conjunto de relações, ou
seja: [...] como uma rede que religa pontos e que entrecruza sua trama
[...]. Esclarece o autor que a heterotopia tece sobre [...] o espaço no qual
vivemos, pelo qual somos atraídos para fora de nós mesmos, no qual decorre
precisamente a erosão de nossa vida, de nosso tempo, de nossa história, esse
espaço que nos corrói e nos sulca é também em si mesmo um espaço heterogêneo
[...]. Noutra obra do mesmo autor, O corpo utópico, as heterotopias (n-1
Edições, 2013), encontra-se que: [...] vive-se, morre-se, ama-se em um
espaço quadriculado, recortado, matizado, com zonas claras e sombras,
diferenças de níveis, degraus, escadas, vãos, relevos, regiões duras e outras
quebradiças, penetráveis, porosas [...]. Observa-se, portanto, tratar-se de
um conceito da geografia humana para descrever lugares e espaços que funcionam
em condições não hegemônicas. Neste sentido, o autor usa o termo para descrever
espaços que têm múltiplas camadas de significação ou de relações a outros
lugares e cuja complexidade não pode ser vista imediatamente. Assim, para
Foucault, a heterotopia por excelência é o navio: [...] A maior reserva de
imaginação do Séc. XVI, nas civilizações sem barcos, a espionagem substitui a
aventura e a polícia substitui os piratas [...]. Define assim que estes espaços
são alteridades, que não estão definidos em determinados lugares, mas que são
simultaneamente físicos e mentais, tais como o espaço de uma chamada telefônica
ou o momento em que alguém se vê ao espelho. A heterotopia possui seus princípios,
quais sejam: todas as culturas formaram heterotopias por toda a história da
humanidade; heterotopias variam em funcionalidade com o passar do tempo e de
acordo com a cultura; heterotopias podem unir múltiplos espaços incompatíveis
entre si; heterotopias podem conectar diferentes períodos de tempo; heterotopias
são locais separados da sociedade e com regras limitando a entrada e saída; e,
por fim, heterotopias têm uma função relacionada ao espaço ao redor. Existe uma
tipologia específica para as heterotopias, a exemplo da Heterotopia de crise (refere-se
a lugares privilegiados, sagrados ou proibidos, reservados para indivíduos que
estão em estado de crise em relação à sociedade em que vivem, destinados a
expressão de comportamentos socialmente indesejado longe dos olhos da
sociedade. P. ex., motéis, quando usados por amantes, gays e para solteiros em
sociedades em que o sexo deve ser apenas entre um marido e sua esposa), Heterotopias
de desvio (que são instituições onde são internados indivíduos cujo
comportamento é indesejado. Ex: Hospitais psiquiátricos, asilos, prisões, internatos,
enfermarias...), Heterotopias temporais (como museus reúnem objetos de todos os
tempos e estilos em um lugar. Eles existem no tempo, mas também existem fora do
tempo, porque eles são construídos e preservados para serem fisicamente
incapazes de se deteriorar com tempo), Heterotopias de purificações (que são
espaços que estão isolados e penetráveis ao público sem permissão usados para
se purificar, seja por motivos religiosos, ou meramente por higiene. Ex:
Templos religiosos, prisão, sauna), Heterotopia de ilusão (que usa objetos
reais para criar ilusões e fantasias. Ex: Espelho, livros e filmes de ficção) e
Heterotopia de compensação (Lugar real e único que simula e se relaciona a
condições de outro lugar. Um jardim botânico é uma heterotopia porque é um
espaço real, mas que simula ser um ambiente diferente, adequando-se às plantas
de todo o mundo. Outros exemplos incluem zoológicos, estufas, colônias, enclaves,
etc). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
MEDITAÇÕES:
TONS DE CEFALÔNIA - [...] Índigo, o azul profundo contém uma abundância de
safiras que brilham através da densidade, despertando e agitando a nossa
consciência. À luz do dia o mar vai mudar, mas por
enquanto permanece misterioso, alcançável através da nossa imaginação. [...] Vestidos de noiva
brancos deslumbrantes e puros, trazendo promessas, unindo duas almas, forças
vitais conectadas, mantendo a mesma visão. [...]. Trechos extraídos da obra Shades of
Kefalonia: Meditations (Independent Publishing, 2014), da atriz, escritora,
roteirista e diretora estadunidense Jennifer Lynch, autora de frases
tais como: Encontrei
luz e prazer dentro do horror. A alegria é encontrada no
sopro da aceitação, sabendo que tudo está bem em nosso mundo, se nos rendermos
com graça. Não consigo deixar de ter pensamentos tristes
às vezes. Às vezes são as coisas mais próximas em
minha mente. Veja mais aqui.
DOIS POEMAS
– TUDO BRILHA - Então, de repente, bosques de faias,
todos verdes por trás dos olhos sonolentos \ um cervo salta pela estrada da
floresta\ aromas de ácido e musgo e bochecha contra casca, luz do sol\ entre
troncos, estou em casa e ouço o Mar
Báltico\ bato contra grandes pedras distantes e eu descanso como um\ fada ou bruxa nos cheiros doces do chão da
floresta\ podemos facilmente esquecer o que somos, quem somos\ que somos, mas
basta uma pequena ligação\ acordar os adormecidos, como agora, na floresta,
para \ A ESCUTA, não é aquela música e o toque das taças\ soando nas câmaras
verdes? SIM, caramba, uma celebração\ para a criança de dezessete anos, que
nunca\ fui mais feliz e nunca serei mais feliz; o mundo brilha\ tudo
inimaginavelmente possível enquanto uma cambalhota\ e uma sensibilidade nova,
mas não perturbadora, instalou-se\ no meio de sua irresistivelmente
marzipanescente \ corpo. TUDO PISCA - Então, de
repente, uma floresta de faias, toda verde por trás dos olhos semicerrados \ uma
traseira salta sobre a estrada de terra batida\ aqui cheira a ácido e musgo e a
bochecha contra casca, sol chuva\ entre tribos, estou em casa e ouço o Mar
Báltico\ ataque contra grandes rochas distantes, estou descansando como um só\ fada
ou bruxa nos aromas do chão da floresta\ podemos facilmente esquecer que somos
quem somos\ que somos, mas é necessário apenas um pequeno sinal\ despertar o
adormecido, como agora, na floresta, para\ OUÇA AGORA, não é cantar e tilintar
de copos\ isso soa nos corredores verdes? SIM, uma festa\ para a criança de
dezessete anos que nunca teve\ tive melhor e nunca vou melhorar; o mundo pisca\
tudo inimaginavelmente possível durante um power jump\ e uma sensibilidade
nova, mas não perturbadora, se instalou\ no meio do irresistível maçapão\ corpo.
Poemas da escritora dinamarquesa Naja Marie Aidt.
HUMOUTRARTES
quarta-feira, abril 30, 2014
LILLIAN HELLMAN, SÔNIA CHOCRON, ANA KATZ & LINDA LOVELACE
REMEXENDO AS CATRACAS DO QUENGO E QUEIMANDO AS PESTANAS
COM COISAS, COISITAS E COISÕES!!!!!! – O que aprendi nos volteios da vida, coisas
que nem sei, coisitas que passaram, coisões que deixaram quase danos
irreparáveis. Foi, nada mais. De bom ficou o menino travesso da beira do rio
engolindo sapos, atravessando brejos e mares imensos, quase não tinha mais como
catar pra contar história. Sempre quase o menino cresceu, pintou e bordou. Fez quase
tudo: copista dos tomos e leis, bancário relapso, radialista folgazão e sorria
driblando com jeito quedas e escorregões, barreiras intransponíveis, bunda arrastada
no chão, esfolando a carne, livrando-se das lapadas, escapando aqui e acolá,
escorregando quase ileso, quase condenado, sobrevivendo e coexistindo com
desertos e infernos. Aprendeu um bocado, parece. Leitor compulsivo de horas a
fio sem bater a pestana e era nos livros o melhor de tudo. O que imaginou quase
tudo deu certo. Quase. Depois da escola caiu na vida e pras bancas retornou um
tanto de vezes para sacar o que havia dado errado. Virou mundo, conheceu muita
gente, muitas ou quase todas se foram ou deram as costas, restando alguns gatos
pingados na consideração. Parentes tudo longe ou do outro lado das coisas e do
mundo. Teve que aprender por si só: levando tudo nos peitos e na raça, do jeito
que desse. De relevante mesmo quase nada restou aqui ou ali uma coisinha que
seja. Recomeçou um tanto de vezes, ainda hoje, todo dia parte da estaca zero. Assumiu
fracassos, cônscio de sua inutilidade pro que prestasse. Bom de conversa e
serventia pra mais nadica. Falante que só o homem da cobra, até que impressionava,
mas é só: nada mais que só primeira impressão. Com o eterno retorno vai e
volta, nunca é tarde para reaprender. O que fez e o que foi feito, a mesma
coisa que não fizesse. Vale o que viveu e se aprendeu, pelo menos, parece que
leva jeito para contar hestórias. E só. Jogar conversa fora. Afinal tudo é
efêmero: a vida passa, a gente não sabe de onde veio nem pra onde vai, e o que
fica, no fim mesmo, lembranças e aprendizagens que um dia virarão cinzas e
ninguém mais nem saberá. Veja mais aqui, aqui e aqui.
DITOS
& DESDITOS –O mundo com suas regras, cada vez mais rígidas, e as
pessoas pequenas ou anãs tentando realizar um sonho. Resumindo, acho que os
problemas não são tantos, o problema é como nos imergimos neles e a sinceridade
com que os enfrentamos... O
tempo é um elemento fundamental para mim: ir, voltar, mudar, retomar… Mas estou falando de um período ativo em que muito trabalho é
feito. Gosto de pesquisas aprofundadas, não dou muito espaço para desculpas:
que ontem tive frio, que hoje estou atrasado, que não voltarei amanhã...
Procuro sempre sair desses lugares que te atolam, aquelas áreas superficiais
que costumam ser encontradas com frequência no teatro independente. Não gosto
nada desses lugares opacos. A gestão deve ser um lugar de compreensão, mas
também de promoção do trabalho com consciência... O teatro é
um compromisso constante, mobiliza, aproxima as pessoas com quem você trabalha
e longos períodos de pesquisa e busca. Preciso de tempo para desenvolver um
projeto de teatro. Pensamento da escritora, atriz e diretora
argentina Ana Katz. Veja mais aqui e aqui.
ALGUÉM
FALOU: Se não gerarmos resposta, as sacolas não ficarão tão
cheias na despensa... Pensamento da atriz e ativista estadunidense Linda
Lovelace (Linda Susan Boreman - 1949-2002), que no seu livro Ordeal
(Citadel, 2006), expressa: [...] Quando alguém precisa de ajuda, é
hora de ajudar. Não no dia seguinte. Não quando é seguro. [...] Ela
fez coisas para manter seu homem feliz. Fiz coisas para evitar que meu homem
me matasse [...] Eu era o tipo de garota que gostava de ir à
beira-mar e dar as mãos. Eu ainda estou. [...] Embora
eu tenha ficado terrivelmente decepcionada depois disso, houve um lado bom na
experiência. Quanto mais as pessoas decentes se
interessavam por mim por razões decentes, mais forte eu me tornava. [...]. A vida
dela foi uma tragédia: aos 19 anos, ela engravidou sem querer e teve o
bebê, que sua mãe repressora entregou para adoção. Pouco depois, sobreviveu a
um terrível acidente de carro. Foi aí, enquanto se recuperava do acidente, que
a deixou com um fígado em frangalhos, costelas e mandíbula quebradas, que ela
conheceu Chuck Traynor, seis anos mais velho que ela. Ela se casou outras duas
vezes e teve dois filhos, mas sempre enfrentou problemas de saúde. Em 87,
precisou fazer uma mastectomia dupla para retirar os seios, contaminados pelo
silicone que Chuck a forçou a colocar antes de Garganta. Durante a
preparação para a mastectomia, os médicos perceberam que seu fígado não dava
mais, consequência da transfusão de sangue após o acidente de carro de 69. Ela
teve que se submeter a um transplante de fígado. Um só remédio para a
não-rejeição do novo órgão custava 2,500 dólares por mês, que Linda não tinha
como pagar. Afinal, tudo que Linda havia recebido pela super bilheteria de Garganta
foi US$ 1,250 -- que foi direto pro bolso de Chuck. Sem ter como pagar as
contas, sem conseguir emprego por causa de sua fama/infâmia, Linda tentou
ganhar um pouco de dinheiro vendendo produtos referentes à Garganta,
como uma camiseta escrito "I made Linda Lovelace gag". Linda morreu
em 2002, num outro acidente de carro. Ela tinha apenas 53 anos. Veja mais aqui.
PENTIMENTO – [...] A tinta velha sobre uma tela, à
medida que envelhece, às vezes torna-se transparente. Quando isso acontece é possível, em
algumas fotos, ver os traços originais: uma árvore aparece através do vestido
de uma mulher, uma criança dá lugar a um cachorro, um grande barco não está
mais em mar aberto. Isso se chama pentimento porque o
pintor “se arrependeu”, mudou de ideia. Talvez fosse melhor dizer que a
concepção antiga, substituída por uma escolha posterior, é uma forma de ver e
depois ver novamente. Isso é tudo que quero dizer sobre as
pessoas neste livro. A tinta envelheceu e eu queria ver o
que estava lá para mim uma vez, o que está lá para mim agora. [...]. Trecho
extraído da obra Pentimento (José Olympio, 2010), da escritora estadunidense Lillian
Hellman (1905-1984). Veja mais aqui.
DOIS POEMAS - COMO UMA
NUVEM - Estou passando sem passar \como uma nuvem \Leve, tênue, insubstancial \
como uma nuvem \ Fazendo uma sombra fugaz \ como uma nuvem \ Mudando minha
solidão \ como uma nuvem \ Vaga muito branca \ como uma nuvem \ Estou passando
sem passar. ORDEM - Você tem que arrumar a casa \ lavar os azulejos vestir a
cama \ você tem que arrumar a casa \ plantar as flores de abóbora \ apagar o
rastro do mato \ procurar a música das coisas \ fazendo ordem arrumando a casa \
com as palavras para formá-las \ colocar a ordem \formar a casa \ com um
exército de palavras \ que ninguém sabe que ninguém vê \ que os gazebos estão
caindo \ temos que colocar ordem na casa \ para que o pássaro da tristeza \ vá
ao parque ou à avenida \ colocar ordem dentro de casa \ e que deixa crescer a
angústia \ cega que cresce nela quando amanhece, banha cada fenda dos cantos \ com
açúcar e sangue ímpio. Que Deus a proteja e a favor da melancolia traiçoeira do
mau-olhado e da vilania que deve ser cometida, \ ordenar, tirar o rastro, varrer
a poeira todos os dias \ limpar a casa dar a ordem que se nos derrotar \ nos
venderia a morte eterna a pena na vida matar a ordem cegar a ferida. Poema da
escritora, dramaturga e roteirista venezuelana Sônia Chocron.
ANNE CARSON, MEL ROBBINS, COLLEEN HOUCK & LEITURA NA ESCOLA
Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som do álbum Territórios (Rocinante, 2024), da premiada violonista Gabriele Leite , que possui mestrado em...

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DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... O EXTRA NO HORROR DE CADA DIA... Passos errantes, de mil em mil, todo dia, conto...
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DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: VIDAS NEGRAS IMPORTAM! - Toda a vida é sagrada. Viver é um direito de todo ser. A mim e ao outro, ou outr...
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A VIDA É MUITO MELHOR COM HUMOR - UMA: CONVERSA DE MULHERES – Confinadas num dos salões do Big Shit Bôbras , Xica-Doida sapecou uma de Do...