Ao som dos álbuns Mémoire Vivante (Berimbau, 1995), La Trinidad (Buda,
2010) e Le Sens Des Sens (Buda, 2023), da premiada violeira e violonista francesa, Fabienne
Magnant, que é professora do Conservatoire Départemental d’Evry Centre
Essonne, em París, França.
Uma carta na dobra
do antimeridiano... - Rodagem de Serro
Azul de um anuário qualquer – pouco importava AEC, EC, ou AM, PM, ou mesmo outra
sigla do efêmero, bastava o instante, o triz. E o céu mais anil carregado de
esperanças. Às margens o festival da diversidade atlântica
dos arvoredos, com fruteiras robustas ao alcance da mão, ornada pela sinfonia
de gorjeios numa festa primordial. A brisa trazia o chamado do Pacífico porque
seguia filho do Leste, a alma perdida nos passos transgressores pássaros varridos
de pavores pelas léguas do medo quase treva, no tempo latejante das travessias
inacabadas. Ouvi o meu nome, voz de mulher. Entre os galhos floridos, dois
olhos acesos e a impressão de que fora finalmente fisgado por implacável Súcubus
imprevisível ou oceânida errática que preferia atravessar meu caminho. Não, não
era. Quedei-me sustando a respiração, mirei firme e a sua aura resplandecia doces
olhos das coisas simples e intacta ternura. Em sua mão silenciosa nascia o dia
como se me perdesse num vasto suspiro de porvires sobre os ossos da memória. Apontou-me
a morte como uma bruxa nua consumida pelas chamas no patíbulo do outeiro. Ao lado
do seu sacrifício uma pedra inventava os dias de Data, eclipses, arco-íris. Deu-me
a impressão que jamais morresse de tão orvalhada com o cheiro de maresias,
amanheceres e suores. Era dia já quase meio e foi preciso ali tão perto
vespertino milagre. Seu nome? Iaravi, Selenita, ou outros nomes do afeto, da
minha predileção ocasional. E logo anoitecia como num passe de mágica. Os meus
versos eram perguntas sem respostas, apenas a revelação: ela dormia cúmplice
dentro de mim parindo estrelas na satisfação inédita de correr ao encalço delas.
E me lavou torrenciais chuvas cantantes irrigando o chão dos mortos e das
desventuras vivas pelas correntes dos rios intermináveis. E me levou aos ventos
seculares que varriam triunfos e derrocadas insulares por vastidões infindas. E
aqueceu o meu ser afugentando o caos na vitalidade da Luz para a plenitude do
Amor. Já era outro dia e ali eu era o que nunca fui. E ela, quem? Fazia pouco
caso dos mortais que a tratavam por Deus há milênios, pretéritos equívocos. Só sei
ali perto, entre sonhos aéreos, o arrebatado poema saltou da missiva para que a
vida fosse uma canção renascida a cada dia. Quem escreveu a missiva, em mim, a
vivência de leitor. Até mais ver.
Julia Ward Howe: É sempre legítimo desejar superar a si mesmo, nunca superar os outros... Veja mais aqui, aqui & aqui.
Lea Goldberg: Sento-me horas sem nome /
diante da árvore cujo nome eu sei. / Às vezes penso sem nome / naquele cujo
nome eu não sei... Veja mais aqui e aqui.
Alfonsina Storni: Você, que abriu sóis em meu coração... Veja
mais aqui.
PROBLEMA
MITOCONDRIAL
EU - Foi uma
longa viagem até o Kansas para o homem / e seu cachorro, mas você tem que
entender / Ele disse que ela não voa. / O que não me lembra de cagar no carro /
latindo ou choramingando, mas um cão que escolhe / não fazê-lo, assim como
todos os cães que voam / talvez o que eles estejam sonhando quando estão deitados
no tapete ou na grama, / com galhos estendidos, prontos para levitar a qualquer
momento / como aquela figura na pintura de Florine Stettheimer de um / piquenique
de aniversário para Marcel Duchamp, um homem de terno que mente de bruços / -
no gramado amarelo com a / determinação firme de quem está prestes a decolar.
II. - O
cachorro da família já não está nada / bem há dez dias, nossa mãe menciona no
chat do grupo. / As filhas dela estão em outros países e às vezes, / quando não
há novas mensagens, ela posta uma foto do cachorro / cujo rosto está sempre
triste. Nosso pai diz: Você tem que entender que / o cachorro tem um problema
mitocondrial / é por isso que ele continua procurando corpos / d'água para se
jogar nos observando tristemente por que ele não consegue trabalhar / mais do
que um fio de urina, por que nossa mãe espera / por sua morte repentina. Nosso
pai me diz / Você e eu não somos tão loucos quando se trata de animais / olhe
para o resto desta família.
III. - Em cães
e mulheres, etc., as mitocôndrias geram / energia para diferentes funções
celulares: / uma espécie de ambição ou impulso de uma célula / transmitido pela
linha feminina. Florine e as irmãs Ettie / Carrie, solteira, morava com a mãe,
rica, uma de nove / irmãs, uma espécie de fortaleza / mitocondrial. No
piquenique / Marcel chega em um carro esportivo vermelho-tijolo / como dois
troncos de árvore, é seu trigésimo aniversário! Mais tarde na vida / Carrie
usava tiaras e / coleiras de cachorro com joias. Por definição, DNA
mitocondrial / é um ponto de diferença entre filha / e pai. O Sr. Stettheimer
partiu para a Austrália.
IV - Ou talvez
o motivo do cachorro estar doente: todo mundo está / alimentando ele
secretamente. Nossa mãe diz que ele é tão popular / As pessoas / ligam para
perguntar se ele quer dar uma volta. / Sinto muito, diz nossa mãe, ele está
fora agora, mas acho que ele está livre / Amanhã. Até agora, só o nosso pai
entrou na chamada em grupo. / Ele liga o vídeo para me mostrar o jardim ficando
mais pixelado. / a cada passo, quando duas meninas tímidas entram no vídeo / e
perguntam se podem pegar o cachorro emprestado. Duas irmãs: nosso pai / me
contou tudo sobre elas, as meninas da rua, ele as chama de / maneiras
adoráveis. Nossa mãe diz: "Você tem que entender uma / o vizinho compra
xampu e calcinhas para as meninas e / todo mundo as alimenta secretamente.
V. - As
meninas da rua gostariam de pegar o cachorro emprestado, mas / a irmã mais
velha também se apresenta determinada / Encontramos este pássaro com a asa
quebrada. Ela o segura / enrolado em uma folha de uva. Desculpe. / As meninas
dizem ao meu pai que não podemos fazer nada. Então ele pergunta / como se só eu
pudesse ouvi-lo. Será que fui muito duro? / Espere, eu digo, por que você não
dá a eles uma caixa de sapatos / e água com açúcar em um conta-gotas como
quando eu encontrei o bebê? / Tordo dentro do macrocarpa cortado, / sem mãe.
Mas não morreu?, ele me pergunta. / Sim, eu disse. Morreu durante a noite. Mas
/ cuidei dele a tarde toda.
Poema da
escritora, editora e artista neozelandesa Evangeline
Riddiford Graham.
DOUTOR DESCALÇO - [...] Este jovem era meditativo,
indeciso e cheio de remorso. Naquela época, Gray trabalhava no jardim de ervas
da Sra. Ti e lia alguns livros de medicina nas horas vagas. Mas ainda não havia
decidido se tornaria um médico descalço. Gostava de ervas, medicina chinesa,
acupuntura e do cheiro forte da farmácia. Mas não gostava de pacientes e achava
que as pessoas doentes tinham falhas de caráter. Acreditava que eram as falhas
de caráter que deixavam as pessoas fisicamente doentes [...] A Sra. Yi
lentamente descobriu o que causava a doença nos aldeões: algumas pessoas
adoeciam devido a dificuldades na vida. Faltava-lhes tempo e condições
adequadas para proteger a saúde. Mas a maioria não tinha vidas particularmente
difíceis. Adoeciam porque ansiavam por algo. Muitas vezes, queriam alcançar um
certo nível de sucesso em seus empreendimentos. Embora não conseguissem
explicar o que era sucesso, todos o entendiam. A comunicação entre si
estimulava todos a exigir mais de si mesmos. O que quer que estivessem fazendo
— agricultura, fabricação de tofu, cabeleireiro ou construção de casas — os
aldeões trabalhavam tanto dia e noite que sua saúde se deteriorava
gradualmente. Foi somente depois de envelhecerem que começaram a se preocupar
com a saúde [...].
Trechos extraídos da obra Barefoot Doctor (Yale, 2022), da escritora
chinesa Can Xue (Deng Xiaohua), que no livro Love in the New
Millennium (Yale, 2018), ela expressou que: [...] Não o mundo inteiro, estou sempre vagando por perto. [...] Os vasos... cabem pombas. O vaso parece
pequeno quando, na verdade, é enorme por dentro — enorme a um ponto que não
podemos imaginar, então precisamos de um avaliador de tesouros como você para
medi-lo [...] Eles não têm a nossa sorte, ainda não viraram história. É
preciso sofrimento e espera. [...]. Ela também é autora das obras Os Sapatos Bordados: Histórias (2015), Vertical
Motion (2011), Frontier (2008) e Blue Light in the Sky &
Other Stories (2006). Veja mais aqui.
DEUSA CIENTISTA - [...] a ciência é uma ferramenta
social que busca se aproximar e descrever a realidade – e não tem como fazer
isso sem estar próximo a ela. É muito importante que esta realidade também
esteja próxima do que a ciência produz, ou seja, é uma via de mão dupla. [...] A divulgação científica é uma área muito
generosa da ciência, mas ainda muito julgada pela própria academia, que se
coloca em um pedestal de distanciamento da população. [...] Neste sentido, a divulgação científica tem o papel
fundamental de incentivar pessoas, trazer autoestima, mostrar como é atuar na
ciência. Até porque as pessoas ainda têm uma visão um pouco irreal do que é
produzir conhecimento científico. [...]
Acredito que a gente pode aproximar as
pessoas da ciência, e facilita muito se for feito um trabalho conjunto, da
sociedade, usando bem meios como a televisão, que ainda atinge um grande
público. [...] Sempre gostei muito
de estudar, mas sou movida também pela transformação social, e as discussões
ambientais sempre mexeram muito comigo. Sempre estive em escolas
associadas a projetos de transformação ambiental, de impacto positivo na
natureza, e de trazer resoluções para o meio ambiente. [...]. Trechos
da entrevista Kananda Eller: divulgar ciência para transformar o mundo (ScienceArena, 2024), concedida pela química e cientista ambiental Kananda
Eller (Kananda Eller Souza da Paixão), mais conhecida como Deusa
Cientista.
A ARTE DE MAURÍCIO MELO JÚNIOR
[...] Foi na primeira infância,
em Palmares. Não sei precisar o momento exato, quando me dei conta já tinha me
tornado um leitor compulsivo. E lia tudo que me chegava: gibis, poesia,
romances, tudo de interessante que encontrava nas prateleiras da banca de
revistas de seu Odilo e na Biblioteca Fenelon Barreto, sob a tutela de dona
Jessiva. Gostava de dizer que comecei a ler por ser péssimo jogador de futebol.
Enquanto os meninos da rua iam jogar, eu ficava em casa lendo [...].
Trecho da entrevista concedida pelo escritor,
jornalista e crítico literário Maurício Melo Júnior. Veja mais aqui, aqui & aqui.
&
ARTE NA ESCOLA – LER BEM
Esta edição é dedicada aos professores Fátima Portela,
Luciana Girlan & Wellington Batista da Silva. Confira aqui,
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ITINERARTE – COLETIVO
ARTEVISTA MULTIDESBRAVADOR:
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