segunda-feira, fevereiro 24, 2025

JENNY ODELL, SALOMÉ ESPER, KATARINA FROSTENSON & APOCALIPSE LÍRICO

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Refúgio (2000), Duas Madrugadas (2005), Eyn Okan (2011), Andata e Ritorno (2014), Retalhos do Brasil (2019) e Noites e dias (2022), da pianista, compositora, arranjadora e diretora musical, Christianne Neves, que é Mestre em Música pela Unicamp e integrou a Orquestra Heartbreakers e Havana Brasil.

 

Textículo capitular a contar hestórias nos dedos... - Ao Sol celebrei as mulheres: o canto da alma! Porque todo dia o mar é só o mar, o rio é só o rio e entre o prazer e o tédio sorrio surpreso com o sátiro dionisíaco, que teima invadir minha solidão, com piadas de pegar borboleta, queimar o arroz, plantar bananeira, dar o dedo, bater rebote, dribles de corpo, firulas, bundacanascas & escárnio às risadagens. O que havia de mim os dedos contavam coisas duma devoção esburacada por um bicho de não sei quantas cabeças, uma manhã a mais a renovar esperança. Tivesse eu tão perto e os longínquos sonhos arrefeceriam a cada passada. Dissesse o tanto que calei esborraria o peito e nada mais resistiria ao aceno ignorado. Se não soubesse o que vi e ouvi tudo seria obscuro. Só desci do morro da solitude porque não tinha nada mais para dizer: pétalas se aquietavam diante de uma mente parva, a flor fenecia com a aspereza dos que odeiam. Só havia o naufrágio do erro, o palimpsesto da treva. Documentos soterravam vivos duas vezes e a voz de fome inaudível antes que o dia esganasse a noite, quando ela, por vingança, escurecia para que tudo fedesse à guerra. Só sei que sobrevivo aos uivos de júbilos à miséria. E há muito ninguém mais sorriu, caíram de medo nos lábios trêmulos nada luzidios, ao que se deu e tomou até esmorecido feito e desfeito: ninguém viu as dores dos meus dias. Talvez uma hestória & duas outras coisas nada mais valessem para nem caberem em lugar algum na passagem das horas desencontradas. Ouvi o canto da luz eterna, o vento murmurava nas marés, como quem falava de amor e palavras de destino. Pudesse eu acaso vários versos também cantar quanto vivi e valeu quem soubesse onde o abrigo das mãos espalmadas. Quanto mais sentia, menos entendia e era bom: amar é ter alguém que não tenha mesmo nada pra dar. Isso, sim. Até mais ver.

 

Margaret Mead: Nunca duvide que um pequeno grupo de indivíduos comprometidos e pensativos pode mudar o mundo. Na verdade, é a única coisa que já mudou... Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

Agneta Pleijel: Nós somos ficção. Nós nos construímos a partir de palavras... Eu resgatei detritos do passado, não podia usá-lo por muito tempo, ninguém quer isso... Veja mais aqui, aqui & aqui.

Ann Leckie: Unidade, pensei, implica a possibilidade de desunião. Começos implicam e requerem finais... Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

POSIÇÃO - Olha, lá está ela, a grande morta, no pálido \ brilho claro de um prado pantanoso muito próximo \ de uma cana. Virado e brilhando na lama. Dele \ cadáver, formigas caminham por ele melancolicamente \ na luz, a loira cacheada, e atormenta a carne \ abertamente. Olhe bem lá dentro, a fissura é deslumbrante. \ Sobre seu cadáver, onde tantos pensamentos brincavam, \ tecidos tensos e testas descansadas. Laranja \ cinza opaco da grama. É uma parte elevada do mundo \ à força com a testa contra o chão, com a carne estriada \ através das barras pálidas dos juncos. \ A testa dele cai sobre o corpo dela \ afundando em sua carne. Na lama da loira silenciosa. \ Nunca. Nunca, embora quase entorpecido, ele pensa: talvez \ Eu sou aquele que vive enterrado lá embaixo. O que ele vê e vivencia \ na perna dele: sobre meu cadáver eu sou aquele que \ está lá fora.

GARGANTA DE ECO - O osso vermelho, \ o recife do pescoço, \ onde ele fica? \ cortando e afiando \ sua serra \ Voz, que tipo de animal você é \ debaixo da pedra \ cinco braças \ de profundidade, o coral.

Poemas da escritora e dramaturga sueca Katarina Frostenson. Veja mais aqui.

 

A SEGUNDA VENDA – [...] Se houve dor em perder o que era seu, doeu em dobro perder o que se ganhou, o carinho conquistado, o abraço conquistado, a confiança conquistada. Para onde vai esse esforço quando é o outro quem desiste primeiro? Para onde vai a coragem que permitiu sair de si mesmo, forçando cada milímetro para chegar ao outro que habitava o mundo com facilidade? Para onde vão aqueles que ficam? [...] Deus estava lá, só que deformado e assustador, doloroso e zombeteiro, talvez por isso mais presente e real do que antes, agachado naquele quarto que começava a escurecer, olhando com desdém e olhos brilhantes, pronto para saltar com suas patas traseiras de lagosta, para usar seu poder ilógico em outras pessoas infelizes. [...] Minha mãe sempre diz que Deus nos dá o que podemos suportar, mas não acredito que isso seja verdade. Nós perseveramos porque eles nos ajudam. Você não pode nem ser feliz sozinho. [...]. Trechos extraídos da obra La segunda venida de Hilda Bustamante (Sigilo, 2023), da escritora argentina Salomé Esper.

 

NÃO FAZER NADA - […] O que significa construir mundos digitais enquanto o mundo real está desmoronando diante de nossos olhos? […] Nossa própria ideia de produtividade é baseada na ideia de produzir algo novo, enquanto não tendemos a ver manutenção e cuidado como produtivos da mesma forma. [...] Extrapolando isso para o reino dos estranhos, me preocupo que, se deixarmos que nossas interações na vida real sejam controladas por nossas bolhas de filtro e identidades de marca, também corremos o risco de nunca sermos surpreendidos, desafiados ou mudados — nunca ver nada fora de nós mesmos, incluindo nossos próprios privilégios. [...] Nós vivenciamos as externalidades da economia da atenção em pequenas gotas, então tendemos a descrevê-las com palavras de leve perplexidade como "irritante" ou "distraidor". Mas essa é uma grave interpretação errônea de sua natureza. No curto prazo, as distrações podem nos impedir de fazer as coisas que queremos fazer. No longo prazo, no entanto, elas podem se acumular e nos impedir de viver as vidas que queremos viver ou, pior ainda, minar nossas capacidades de reflexão e autorregulação, tornando mais difícil, nas palavras de Harry Frankfurt, "querer o que queremos querer". Portanto, há profundas implicações éticas espreitando aqui para a liberdade, o bem-estar e até mesmo a integridade do eu. [...] Minha experiência é aquilo que concordo em atender. Somente aqueles itens que percebo moldam minha mente — sem interesse seletivo, a experiência é um caos total. [...] Numa situação em que cada momento de vigília se tornou o tempo em que ganhamos a vida, e quando submetemos até o nosso lazer à avaliação numérica através de gostos no Facebook e Instagram, verificando constantemente o seu desempenho como se verifica uma ação, monitorizando o desenvolvimento contínuo da nossa marca pessoal, o tempo torna-se um recurso económico que já não podemos justificar gastar em “nada” [...] No final das contas, defendo uma visão do eu e da identidade que é o oposto da marca pessoal: algo instável e mutável, determinado por interações com outras pessoas e com diferentes tipos de lugares. [...].Trechos extraídos da obra How to Do Nothing: Resisting the Attention Economy (Melville House, 2019), da artista, escritora e educadora multidisciplinar estadunidense Jenny Odell.

 

APOCALIPSE LÍRICO, DE VCA.

A linguagem é uma descoberta diária \ algo que move a alma (imobilizada \ pela usura sucessiva dos dias prósperos \ e das noites morta e lúcidas) \ e invento o mundo. É o centro \ do dínamo, a máquina transformadora \ o que há de transcendente neles é a poesia [...].

Trecho do poema Introdução a mim, extraído do livro Apocalipse lírico (CriaArt, 2025), do poeta e advogado Vital Corrêa de Araújo. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 

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JENNY ODELL, SALOMÉ ESPER, KATARINA FROSTENSON & APOCALIPSE LÍRICO

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