Ao som dos álbuns Refúgio
(2000), Duas Madrugadas (2005), Eyn Okan (2011), Andata e
Ritorno (2014), Retalhos do Brasil (2019) e Noites e dias
(2022), da pianista, compositora, arranjadora e diretora musical, Christianne Neves, que é Mestre em Música pela Unicamp e integrou a Orquestra
Heartbreakers e Havana Brasil.
Textículo capitular a
contar hestórias nos dedos... - Ao Sol celebrei as mulheres:
o canto da alma! Porque todo dia o mar é só o mar, o rio é só o rio e entre o
prazer e o tédio sorrio surpreso com o sátiro dionisíaco, que teima invadir
minha solidão, com piadas de pegar borboleta, queimar o arroz, plantar
bananeira, dar o dedo, bater rebote, dribles de corpo, firulas, bundacanascas
& escárnio às risadagens. O que havia de mim os dedos contavam coisas duma
devoção esburacada por um bicho de não sei quantas cabeças, uma manhã a mais a
renovar esperança. Tivesse eu tão perto e os longínquos sonhos arrefeceriam a
cada passada. Dissesse o tanto que calei esborraria o peito e nada mais
resistiria ao aceno ignorado. Se não soubesse o que vi e ouvi tudo seria
obscuro. Só desci do morro da solitude porque não tinha nada mais para dizer: pétalas
se aquietavam diante de uma mente parva, a flor fenecia com a aspereza dos que
odeiam. Só havia o naufrágio do erro, o palimpsesto da treva. Documentos
soterravam vivos duas vezes e a voz de fome inaudível antes que o dia esganasse
a noite, quando ela, por vingança, escurecia para que tudo fedesse à guerra. Só
sei que sobrevivo aos uivos de júbilos à miséria. E há muito ninguém mais sorriu,
caíram de medo nos lábios trêmulos nada luzidios, ao que se deu e tomou até
esmorecido feito e desfeito: ninguém viu as dores dos meus dias. Talvez uma
hestória & duas outras coisas nada mais valessem para nem caberem em lugar
algum na passagem das horas desencontradas. Ouvi o canto da luz eterna, o vento
murmurava nas marés, como quem falava de amor e palavras de destino. Pudesse eu
acaso vários versos também cantar quanto vivi e valeu quem soubesse onde o
abrigo das mãos espalmadas. Quanto mais sentia, menos entendia e era bom: amar
é ter alguém que não tenha mesmo nada pra dar. Isso, sim. Até mais ver.
Margaret Mead: Nunca duvide que um pequeno grupo de indivíduos comprometidos e pensativos pode mudar o mundo. Na verdade, é a única coisa que já mudou... Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
Agneta Pleijel: Nós somos ficção. Nós nos construímos
a partir de palavras... Eu resgatei detritos do passado, não podia usá-lo por muito
tempo, ninguém quer isso... Veja mais aqui, aqui & aqui.
Ann Leckie:
Unidade, pensei, implica a possibilidade de desunião. Começos implicam e
requerem finais... Veja mais aqui, aqui & aqui.
DOIS POEMAS
Imagem: Acervo ArtLAM.
POSIÇÃO - Olha, lá
está ela, a grande morta, no pálido \ brilho claro de um prado pantanoso muito
próximo \ de uma cana. Virado e brilhando na lama. Dele \ cadáver, formigas
caminham por ele melancolicamente \ na luz, a loira cacheada, e atormenta a
carne \ abertamente. Olhe bem lá dentro, a fissura é deslumbrante. \ Sobre seu
cadáver, onde tantos pensamentos brincavam, \ tecidos tensos e testas
descansadas. Laranja \ cinza opaco da grama. É uma parte elevada do mundo \ à
força com a testa contra o chão, com a carne estriada \ através das barras
pálidas dos juncos. \ A testa dele cai sobre o corpo dela \ afundando em sua
carne. Na lama da loira silenciosa. \ Nunca. Nunca, embora quase entorpecido,
ele pensa: talvez \ Eu sou aquele que vive enterrado lá embaixo. O que ele vê e
vivencia \ na perna dele: sobre meu cadáver eu sou aquele que \ está lá fora.
GARGANTA DE ECO - O
osso vermelho, \ o recife do pescoço, \ onde ele fica? \ cortando e afiando \ sua
serra \ Voz, que tipo de animal você é \ debaixo da pedra \ cinco braças \ de
profundidade, o coral.
Poemas da escritora e
dramaturga sueca Katarina Frostenson. Veja mais aqui.
A SEGUNDA VENDA
– [...] Se houve dor em perder o que
era seu, doeu em dobro perder o que se ganhou, o carinho conquistado, o abraço
conquistado, a confiança conquistada. Para onde vai esse esforço quando é o
outro quem desiste primeiro? Para onde vai a coragem que permitiu sair de si
mesmo, forçando cada milímetro para chegar ao outro que habitava o mundo com
facilidade? Para onde vão aqueles que ficam? [...] Deus estava lá, só que deformado e assustador,
doloroso e zombeteiro, talvez por isso mais presente e real do que antes,
agachado naquele quarto que começava a escurecer, olhando com desdém e olhos
brilhantes, pronto para saltar com suas patas traseiras de lagosta, para usar
seu poder ilógico em outras pessoas infelizes. [...] Minha mãe sempre
diz que Deus nos dá o que podemos suportar, mas não acredito que isso seja
verdade. Nós perseveramos porque eles nos ajudam. Você não pode nem ser feliz
sozinho. [...]. Trechos extraídos da obra La segunda venida de Hilda Bustamante (Sigilo, 2023), da
escritora argentina Salomé Esper.
NÃO FAZER NADA
- […] O que significa construir
mundos digitais enquanto o mundo real está desmoronando diante de nossos olhos?
[…] Nossa
própria ideia de produtividade é baseada na ideia de produzir algo novo,
enquanto não tendemos a ver manutenção e cuidado como produtivos da mesma forma. [...] Extrapolando isso para o reino dos
estranhos, me preocupo que, se deixarmos que nossas interações na vida real
sejam controladas por nossas bolhas de filtro e identidades de marca, também
corremos o risco de nunca sermos surpreendidos, desafiados ou mudados — nunca
ver nada fora de nós mesmos, incluindo nossos próprios privilégios. [...] Nós
vivenciamos as externalidades da economia da atenção em pequenas gotas, então
tendemos a descrevê-las com palavras de leve perplexidade como
"irritante" ou "distraidor". Mas essa é uma grave
interpretação errônea de sua natureza. No curto prazo, as distrações podem nos
impedir de fazer as coisas que queremos fazer. No longo prazo, no entanto, elas
podem se acumular e nos impedir de viver as vidas que queremos viver ou, pior
ainda, minar nossas capacidades de reflexão e autorregulação, tornando mais
difícil, nas palavras de Harry Frankfurt, "querer o que queremos
querer". Portanto, há profundas implicações éticas espreitando aqui para a
liberdade, o bem-estar e até mesmo a integridade do eu. [...] Minha
experiência é aquilo que concordo em atender. Somente aqueles itens que percebo
moldam minha mente — sem interesse seletivo, a experiência é um caos total.
[...] Numa situação em que cada momento de vigília se tornou o tempo em que
ganhamos a vida, e quando submetemos até o nosso lazer à avaliação numérica
através de gostos no Facebook e Instagram, verificando constantemente o seu
desempenho como se verifica uma ação, monitorizando o desenvolvimento contínuo
da nossa marca pessoal, o tempo torna-se um recurso económico que já não
podemos justificar gastar em “nada” [...] No final das contas, defendo
uma visão do eu e da identidade que é o oposto da marca pessoal: algo instável
e mutável, determinado por interações com outras pessoas e com diferentes tipos
de lugares. [...].Trechos extraídos da obra How to Do Nothing: Resisting
the Attention Economy (Melville House, 2019), da artista, escritora e
educadora multidisciplinar estadunidense Jenny Odell.
APOCALIPSE LÍRICO, DE
VCA.
A linguagem é uma
descoberta diária \ algo que move a alma (imobilizada \ pela usura sucessiva
dos dias prósperos \ e das noites morta e lúcidas) \ e invento o mundo. É o
centro \ do dínamo, a máquina transformadora \ o que há de transcendente neles
é a poesia [...].
Trecho do poema
Introdução a mim, extraído do livro Apocalipse lírico (CriaArt, 2025), do
poeta e advogado Vital Corrêa de Araújo. Veja mais aqui, aqui, aqui
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