Ao som Concert Classical Guitar at Siccas Guitars, da violonista
inglesa Alexandra Whittingham.
TRÍPTICO
DQP: - O legado & o abismo me vê ali... - A rua está deserta e as lembranças
saltam pelas frestas do guarda-roupa como uma batucada de Naná Vasconcelos e dão conta de como tudo se tornou tão cruel agora,
assombro e sombrio... Ouvi e vivo incerteza, a pupila dilatada pelo volátil e o
ameaçador, quantos lobos nem sei mais. Para conversar restavam apenas o Gato de Schrödinger que brincava com minhas ideias desarrumadas. Do outro
lado os besouros da caixa de Wittgenstein
insistiam que a vida é só pra viver, que deixasse de lado todo viés da confirmação, pronto! Mais nada porque não adiantava eu me
defender de todas as tribos, nunca pertenci a nenhuma delas e fui alijado até da
família: ou luto ou fujo para a galáxia espiral NGC7469 lá na constelação de
Pegasus. Eu me ajudo o mais que posso. Como os outros, a culpa é geral e lá
estou eu exposto ao oganessônio – ou é polônio, sei lá! As galáxias se diluem e
a existência é o que importa: sou o verdadeiro desconhecido. Sei que não é o
desejável, nem nunca será: o arrependimento virá de qualquer jeito, mesmo que
aprenda de cor as metamorfoses do espírito que Nietzsche me fez do camelo ao leão e a criança, ao amor fati. O bom foi que no meio da
doidice pura pude ouvir Elena Ferrante: A vida era assim e ponto final, crescíamos
com a obrigação de torná-la difícil aos outros antes que os outros a tornassem
difícil para nós... Em todas as
investidas eu ia com punho fechado pro inopinado e me desarmei, fui em frente:
nunca esperei por milagre ciente de que jamais sairia impune. Ninguém é sábio
para ser imune aos infortúnios. Duvidava do mero acaso porque o mundo se
dilatava sem que tivesse de constranger caminhos. Aturdido, sabia: o que tenho
apenas é vida, nada mais...
Pacto:
o caos sou eu... –
Escrevi o poema e não tinha a quem dedicá-lo porque não é nada: nem ele, nem
dedicatória alguma, como se os ditirambos hesitassem dos meus umbrais, enquanto
eu me fartasse da carne da estátua, do uivo da pedra, das dores dos insetos. Estou
tão cansado como se o chão cansasse das pisadas, a casa dos seus moradores, o crepúsculo
do dia, deste a madrugada, e esta da noite, do mesmo modo que ela de tarde, o
cansaço geral... Consegui me desvencilhar das alegorias da caverna e dos
metais, da mentira nobre de Platão,
das qualias, Post hoc, e me afastei ao máximo do zoadeiro, porque não havia como me conformar com a navalha de Hitchens: O que pode ser afirmado sem provas pode ser
rejeitado sem provas - Quod gratis asseritur, gratis negatur. Cá comigo,
os filósofos não sabem nada, mas nos dão a lição: precisamos aprender, ora! Estamos
todos neuróticos e confusos como o diário de Neil Young, não há significado e isto soa como uma bomba no meu juízo!
Parafraseando Montaigne: Escrever é aprender a morrer. Posso ser excêntrico e me viro, mas não divido a cena com essa realidade
paralela do doidismo escroque, porque não tenho nenhuma preocupação com o que
acontecerá depois da morte, o agora é que o problema, o que será não mais
importa entre o suficiente e o desejado, suportar a finitude enquanto a cabeça
segue infinitas ideias... Tudo passará, não adianta.
Coração
de areia… – Imagem: arte da fotógrafa
japonesa Hideka Tonomura. - Sou coração ao vento arrancando as vestes aos varais e a vida desnuda das
flâmulas e bandeiras tremulantes. É só vento... E ela aparece Olga de Kiev depois que subjugou os
Drevilianos e agora era a minha vez e pregou uma peça com seu bote de tigresa,
trazendo o saco da noite de Valpurgis:
Vamos comemorar com Julia Kristeva: O amor é a hora e o espaço onde "eu" me entrego o direito de
ser extraordinária. E me levou qual musa da elegia de Donne para, depois de tudo, se insinuar
Elizabeth Noelle-Neumann: Solta-se o verbo quando se sente que está em
harmonia com o espírito de seu tempo... E depois da agonia dormimos na rede de pernas pro ar, graças! Ainda bem
que normalmente tudo acaba em sexo, u-hu! A festa é dela quando sou vento de
maio entre as pernas da moça, saia esvoaçante e o cheiro da vida... Quando sou
vento forte agito as páginas, parafraseando Heine: Quem indiferente aos livros, também
às pessoas... Faço o rascunho da
vida, escarafunchei o que passou... Sobrevivi pra contar... Até mais ver.
Vem aí o PGM TTTTT. Veja mais aqui e aqui.