segunda-feira, julho 19, 2021

ANNE ASKEW, ESPIDO FREIRE, ARTHUR MOREIRA LIMA, CAMILA ROSA & MACIEL MELO

 

 

TRÍPTICO DQP – Notícias do Fecamepa... - Ao som Artur Moreira Lima interpreta Ernesto Nazareth (vols. 1 e 2, 1975), na interpretação do pianista Arthur Moreira Lima. - Tó Zeca era tampa! Viesse pra cima dele com lorota, ele destabocava peteando dobrado! Contasse não, só saía pinoia raçuda. Muitas dele passaram a fazer parte dos anais do anedotário, como a da domesticação de uma baleia-azul braba no Rio Una; dos murros nos maiores monstros, tudo servil dele no Riacho dos Cachorros; da peixa do açude, do namoro com todas as beldades das capas de revista, afora picadas homéricas em marcianas, venusianas, plutônicas e outras ETs; enfim, se parecia apologia, todos esperavam: Não é mentira não! E nenhuma façanha era repetida, tinha sempre uma cabeluda nova para impressionar e deixar todo mundo de queixo caído e sem dar um pio escondendo o riso. Sim, todo mundo sabia, ele não fazia mal a ninguém, nenhum morto nem matado, sequer prejuízos: todos sabiam que era potoca, nada demais. Mas para nossa infelicidade apareceu um concorrente à altura: o mico Coisonário, aí lascou tudo: cada uma que ele fala, arreia um; até agora matou mais de quinhentos mil e dá pra muito mais! Virou geral: esse mente que o cu apita. E na maior cara de pau! Já aí, todo mundo agora está evitando o cara: será o coisa-ruim metido a messias? Dizem: se não for é aparentado! Destá. E o Tó Zeca? Parece que se envultou: ninguém sabe, ninguém mais viu. Não deu outra, só Ievguêni Ievtuchenko: Quando a verdade é substituída pelo silêncio, o silêncio é uma mentira. A autobiografia de um poeta é sua poesia. Qualquer outra coisa pode ser apenas uma nota de rodapé. Será o Fecamepa?

 


Dois passos na roda letal... - Imagem: arte da ilustradora Camila Rosa. - Maior farra no Gado-Bravo! Arrastado de pé, converseiro, compadrio, risadagens: tudo família. Lá pras tantas, o genro João Grande do Poço-Doce se estranhou com a sogra Marita e passou-lhe uma peixeirada lá no pé do umbigo dela, das tripas caírem fora. O sogro Inaçantonho ficou sem ação de nem ver a escapulida do indigitado. Seis testemunhas pinguças depuseram: provada a autoria, o réu foi pronunciado e libelado depois de réplicas e tréplicas no tribunal do júri, sentença transitada em julgado pelo douto julgador: condenado a galés perpétuas e nas custas! Tudo registrado no volume de Inocentes e culpados no Tribunal do Júri de São Bento: síntese história do homicídio 1818-1930 (CEGM/FIAM, 1986), do Sebastião Soares Cintra, autor de outros livros como Os Cintra de São Bento (CEPE, 1983) e do de poesias Cozes de Bentuna (Grafset, 1986). Sim, mas do caso, um dos comentários entre os assistentes: Esse lascou-se, sogra é pra isso mesmo! Três senhoras ouviram e se aproximaram, fiquei de mutuca. A primeira, era a jornalista, socióloga e ativista estadunidense Ida Wells (1862-1931): A maneira de corrigir os erros é direcionar a luz da verdade sobre eles. É melhor morrer lutando contra a injustiça do que morrer como um cachorro ou um rato em uma armadilha. Fiz um gesto com a cabeça, concordando. Em seguida, a escritora espanhola Espido Freire: Não sou daquelas que dizem: 'se eu nascesse de novo, faria o mesmo de novo. Não eu não. Eu estive errada muito. Julguei mal muitas pessoas. Ao seu lado, a poeta inglesa Anne Askew (1520-1546) recitou-me o poema Eu sou uma pobre cega, e disse-me repetindo: Deus me deu o pão da adversidade e a água da angústia. Sim, eu sabia que ela havia sido torturada no cavalete da Torre de Londres, condenada por heresia e queimada viva por causa do divórcio e por ser feminista. A execução teve um detalhe: o carrasco subornado por uma amiga dela, colocou pólvora amarrada ao seu pescoço; ao acender a fogueira, a explosão. Ainda hoje, lamentavelmente.

 


Mudando de assunto... - Estava eu na redação da emissora e recebi naquela tarde um telefonema do parceiramigo Santanna o Cantador. Sim? Marcava pra gente se encontrar na praça, final da tarde. Combinado, assim foi. Chegando lá, tive a grata satisfação de conhecer um poeta cantador do Iguaraci e dos bons, Maciel Melo. Sequer tinha ouvido seu nome, mas não deixei por menos: conversamos, trocamos ideias e rumamos para um bar ali perto. Violão para lá e para cá, lá para as tantas, ele me deu o álbum Desafio das léguas (1989), com participações de Elomar, Vital Farias e Décio Marques. Gente, ouvi na hora, bom demais. Fiquei empolgado e gravamos uma entrevista, viramos a noite bebericando e, no domingo de tarde, emplaquei destaque no meu programa radiofônico Panorama. Um sucesso! Foi aí que soube que ele já tinha música gravada pelo Quinteto Violado e a música Que nem vem vem estava de vento em popa, gravada por Elba Ramalho. A partir disso, nunca mais vi pessoalmente este grande autor, mas nas emissoras onde passei e por todos os meus programas fiz questão de sapecar seus álbuns na programação: Alegria de Nós Dois (1995), Janelas (1996), Retinas (1997), Jeito Maroto (1998), Sina de Cantador (1998), Isso Vale um Abraço (2000), Acelerando o Coração (2001), O Solado da Chinela (2002), Dê Cá um Cheiro (2005), Nascente (2006), o CD/DVD ao Vivo no Teatro Guararapes (2008), Sem Ouro e Sem Mágoa (2009) e Debaixo do Meu Chapéu (2010). Ainda hoje vou na maior cantarolada do Caboco sonhador! E vamos aprumar a conversa, até mais ver.

 

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