OS BUZUNTÕES DE
CATUAMA - Houve um tempo de convivência
pacífica entre o cemitério e a zona de meretrício. Ali, encangados um no outro,
divisado apenas por um muro, no ponto mais alto e central da cidade, tanto se
chorava os entes queridos que se foram e Deus os tenha, como badalava o bacanal
mais arrepiado. Se o lupanar dali era dos mais afamados mundo afora, prestigiadíssimo
até por gente de um olho só das mais remotas regiões do país, era porque o
plantel das rameiras era dos mais gabaritados, responsável por descasamentos,
mancebias e situações insólitas na comarca. Por outro lado, a necrópole não
ficava para trás: ali estavam enterrados somente os graudões afortunados que
achavam de bater as botas quase todo dia na freguesia – gentinha mesmo que
morresse, era sacudida nos cafundós de não sei onde de tão longe que era. As ruas
dos coronéis davam acesso a ambos, três delas tanto por parte da do Coronel A,
como do lado do Coronel I: de um lado e de outro, uma era a maior bandeira,
pois se não era a que dava com o portão dos colégios do bispo e das freiras,
era a principal via de tráfego da cidade, nem pensar; a segunda era um estrupício:
tanto a de lá como a de cá não tinha calçamento e só servia de escape às
pressas deslizando a bunda no chão, quem é doido, só na fuga; já a terceira, duma
ou doutra, as prediletas: mais discretas e estreitas, mal iluminadas, prontas para
as escapulidas, apropriadas para quem entrasse ou saísse. Havia quem depois de
uns goles a mais errasse a porta do cabaré, zanzando excitado paudurescente
entre as sepulturas, ou com as saias na cabeça atrás de molhar o biscoito.
Doutra parte, no meio da orgia no bordel aparecia quem reclamasse da mulher que
sumira sem a segunda etapa acertada, ou quem denunciasse que alguém se
empirulitou passando um xexo na vítima. A coisa ia de mal a pior: Cadê a nega
que eu furunfei e num terminou o serviço direito? Outra: O cara escapuliu sem
pagar! Virou uma bronca. Por conta disso os organizadores do troço se reuniram
e apuraram que o prejuizo comia no centro. Como é que pode? Usuários
desapareciam depois de se envultarem sem prestar contas, ora essa. Para desvendar
o mistério, convocaram Sebastião Esprita que colocou em prática suas
habilidades investigativas e logo constatou: Tem gente do outro mundo fazendo
uso do serviço! Num pode! Pode! Casos pipocaram da Mulher de Branco, do Homem
do Meio Dia, gente estranha que dava as caras e depois o lugar mais limpo. Será
que isso pode ocorrer de mesmo? Coisa mais sem pé nem cabeça! O mudo sabia, mas
não tinha como contar. É mesmo? Pois é, tinha gente lavando a jega no maior
arrego. Prove! Ficou mais que provado: morto e vivo na maior suruba. Como é que
é? Tome tento! Na moral, o movimento reivindicatório levou à interdição do
cemitério: Agora o puteiro é que nem cinema, tem que pagar adiantado, seja
defunto ou gente! Danou-se! A solução? Na ponta da língua: Vou levar tudo pra
Catuama! Xá, comigo. Armou-se de uma flauta doce que pra ele era mágica e, mal
começou a soprar, saiu carregando uma ruma de fantasma atrás do apito
ensurdecedor. A procissão saiu da cidade e foi bater lá onde os indigentes eram
enjeitados: Pronto, vou democratizar o terreiro, antes só de pé-rapado, agora
ricaço e amundiçado, tudo junto e misturado. Resolveu em parte porque dali os
malassombros fugiam de volta e aproveitavam para atanazar os habitantes da
cidade. Teve, então, de fazer o serviço completo e fez com que Catuama passasse
a ser o necrotério oficial da localidade e, depois disso, tudo voltou ao normal,
por enquanto, os defuntos descansavam em paz e a população vivia de mandar ver
na existência como podia, sem interferência alheia. Diga-se de passagem, por
enquanto, tudo pode acontecer entre um dia e outro com uma noite no meio, né? ©
Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS
[...] O espírito da transgressão é a do deus
animal que morre no sacrifício, desse deus cuja morte é animada pela violência
e que não alimentado pelas interdições impostas à humanidade. A ação violenta,
o sacrifício, priva a vítima de seu caráter limitado e lhe confere o ilimitado,
o infinito que pertence à esfera sagrada, e por isso, concilia vida e morte
ainda que comece onde acaba o animal, a animalidade não deixa de ser seu fundamento.
A humanidade se desvia desse fundamento com horror, mas, ao mesmo tempo, o
mantém. [...].
Trecho
extraído de Corpo, imagem e representação
(Jorge Zahar, 2009), da historiadora, museóloga e professora Viviane Matesco, tratando sobre a
relação entre o tema e a polissemia na busca das raízes históricas da relação
entre esses três elementos, ampliando amplia a reflexão sobre a questão do
corpo na arte contemporânea e a sublimação do físico na representação do nu e a
afirmação de um corpo primário na arte contemporânea.
A ESCULTURA DE LOUISE BOURGEOIS
A escultura da artista plástica e escultora surrealista e
primitivista Louise Bourgeois
(1911-2010), que expressa um simbolismo abstrato presentes em coleções e
espetáculos permanentes em museus e galerias pelo planeta. Veja mais aqui.
EROS DE MICHELANGELO
ANTONIONI
O drama erótico Eros
(2004), do cineasta italiano Michelangelo Antonioni
(1912-2007), conta três episódios com tema sobre o amor e o erotismo: Em
Xangai, alfaiate nutre paixão por uma cliente. Em Nova York, homem narra ao
analista seus sonhos com mulher sem rosto. Na Toscana, casal de meia-idade tem
a vida atravessada por mulher mais jovem. Veja mais aqui, aqui, aqui &
aqui.
&
Se choras porque não consegues ver o sol, as
tuas lágrimas impedir-te-ão de ver as estrelas.
A obra
do poeta e músico indiano, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, Rabindranath
Tagore (1861-1941) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
&
Outra do Sebastião Esprita aqui
&
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