terça-feira, fevereiro 19, 2019

GARAUDY, CAPRA & PONTO DE MUTAÇÃO, DEREK KINZETT & O TÚNEL AMALDIÇOADO DE PIRANGI


O TÚNEL AMALDIÇOADO DE PIRANGI - Dessa eu morreria e não imaginava nunca pudesse existir! Pois, tá. Foi a Leu Gazela que me contou e fiquei com a orelha, pelos e cabelos, tudo em pé! Arrepiante mesmo. Ela começou falando sobre Minotauro e seu harém. Nunca que eu imaginei tal figura lendária além da mitologia grega. Mas não, ela explicou tratar-se de um sujeito dos maus bofes que ganhou esse apelido pela ruindade. Tanto é que o tal, depois de ter feito um pacto com o tinhoso, tentou passar a perna na horagá de pagar o prometido. Resultado: o capeta transformou-lo num sujeito com cara de touro bufador e corpo de gente, colocando-o num universo paralelo, perdido no espaço. Aí o punido esperneou tanto que encheu o saco do chefe do inferno, dele voltar e castigar mais ainda, até deixá-lo murcho com o rabinho entre as pernas. De nada adiantou. De tanto lamuriar-se, conseguiu o impossível: a compaixão do Coisa Ruim. Não deu outra, para se ver livre da pacutia, rendeu-se aos pedidos do queixoso, deixando-lhe ao alvitre um portal que quem atravessasse virava mulher do outro lado para ser servido, conforme o solicitado. Pronto. Dito e feito. Foi assim que, segundo ela, tudo começou. Quem atravessasse o túnel encantado, se fosse homem, virava mulher; e se fosse mulher, estava frita e pronta para ser usada e abusada pelo desgraçado. Oxe! Conta ela que a coisa pegou mesmo de, até ela, cair nessa enrascada. Como assim? Antes ela era, na verdade, Joaquinaldo, um sujeito jeitoso, namorador, doido por um rabo de saia, a ponto de cair na esparrela de, ouvindo umas risadas soltas do outro lado duma pedraria pelas bandas de Pirangi, invadiu um túnel estranho de sair do outro lado, completamente transformada em uma mulher tão jeitosa que ela mesma, tomada de uma narcísica sensação, quase se apaixonou pela própria: Vixe, como eu estava reboculosa, dizia gracejando. Contudo, não previa o pior. Logo o desalmado apareceu horroroso e pronto para agarrá-la. Aí começou o bumba-meu-boi: pega aqui, pega acolá, corre dali, corre pra lá, bufadas e puladas, tropicões e agarramentos, escorregou na bica, aí já era uma vez Joaquinaldo, agora assumidamente Leu Gazela rasgada, rachada, lascada em bandas para servir de tudo e muito mais ao asqueroso algoz. Por uns dias era a sua preferida, torada de cabo a rabo. Esfolou-se muito com o ajegamento do insano. Depois, era mais uma entre tantas no lá e loa dele na hora das escolhas: essa sim, essa não, essa... O pior era quando ele ameaçava esfolar o furico duma delas, depois de uma roleta-russa. Pronto, era um pandemônio. Ele só se aliviava depois de enrabar umas cinco. Uma coisa para lá de dolorosa: Ô bicho ruim era, viu? Assim conta Leu que, de instante em instante, o cabra lá se via com presa pronta para abocanhar: Vai ter tesão assim no raio que o parta! Rezava para que um dia ele caiasse mole salvando todas. Mas que nada. O insaciável tinha as partes quentes e dura que só pedra. Muitas até emprenharam dele, preferindo morrer a ter que dar um filho a uma aberração como essa: Pois foi e ainda é, está por aí. Essa história correu longe e, de boca em boca, foi alarmando a população que temia que ele fugisse de lá, para atanazar a vida da gente pacata do lado de cá: Já imaginou ele escapole de lá e cai em cima das bundudas daqui? Vai ser o maior escarcéu, pode crer. Teve até quem tivesse o topete de tirar essa história a limpo. Gente do juízo frouxo ou coragem esborrando pelo ladrão, sei lá, danou-se pelas terras que margeiam o rio Pirangi, à caça do injuriado com o objetivo único de suplantá-lo até a morte e arrastar o harém como conquista. Arrepara só. Todavia, ninguém voltou para contar o sucedido. Juntou até uma legião de curiosos que saiu catando por toda redondeza, noitedia, adonde é que ficava esse harém e o portal e tudo o mais, porém, dos que voltavam só com as mãos abanando. A única testemunha viva disso que se tem notícia é a própria Leu que diz ter fugido do harém, depois de ser caçada por muitas noites de luas coloridas e de ver estrelas de toda cor em pleno meio dia, até bater cansada quase morta por estas bandas. Ela mesma conta detalhes. Quem quiser que acredite; eu mesmo, hem? Vôte! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS
[...] O que há de mais profundo em mim, não é o conjunto de meus limites – mas o todo que é a sua fonte, o centro de jorro da criação. O tema do abraço, para além de si mesmo, não é senão um nó humano, ou antes um enrolamento local desse maelstrom, esse grande abraço cósmico no qual se enlaçam e fecundam o homem e a natureza, o homem e a mulher, o homem e Deus. [...] Assim reencontrei uma outra dimensão: a da abertura ao outro, ao todo outro, a da espera e da visitação, dimensão feminina, negada por toda civilização tecnicista e masculina, prometeica, com tudo quanto ela comporta de grandeza, mas também de suficiência e de fechamento, esta civilização fautora de vidas marginas como Safo ou Flora Tristan. Isso não era apenas um enriquecimento pessoal: a descoberta desta parte de mim mesmo, que me falta ou que, em mim, permanece embrionária e encontra doravante o seu desabrochamento; era mais ainda: essa dimensão feminina, que, em nossa civilização ocidental, não conheceu jamais a sua verdadeira floração, eu acabava de encontrá-la, expressa aliás com uma força viril. Integrar no homem total todas as suas dimensões era, havia quarenta anos, minha razão de ser: cristianismo e marxismo, dialogo com as civilização não ocidentais. E eis que me surgia outra componente do humano. Fazer com que uma época, que a ignorava, sentisse a necessidade dela, esta era uma nova razão de viver. Alguns meses antes eu decidira-me a morrer, uma vez cumprida a minha tarefa. Eu lhe fixara o termo próximo. Agora, abre-se uma brecha nas minhas certezas, o horizonte de uma nova existência. É possível continuar a viver, à condição de não me encerrar em meus limites e nos de minhas tarefas limitadas e acabadas. Descobri que não tinha atingido esta plenitude. Devo ainda aprender a merecer a minha morte.
Trechos de Auto-retrato, extraído da obra Palavra de homem (Difel, 1975), do filósofo francês Roger Garaudy (1913-2012). Veja mais aqui.

PONTO DE MUTAÇÃO
O longa-metragem Ponto de mutação (Mindwalk, 1990), dirigido por Bernt Amadeus Capra, é baseado no livro homônimo do físico e escritor austríaco Fritjof Capra, aborda o dialogo entre três pessoas que possuem estilos de vida e pensamentos diferentes, abertas às novas ideais por meio de um diálogo em um castelo medieval na França. Estes são uma cientista que vê seus ideais traídos e desencantada com o projeto Guerra nas Estrelas, um candidato à presidência dos Estados Unidos e um dramaturgo em crise se encontram em um castelo medieval de Mont Saint Michel, no litoral da França e, em um único dia, os três abordam Descartes, Einstein, ecologia, política, física quântica, poesia e tecnologia para compreenderem os paradigmas do futuro. Veja mais aqui, aqui & aqui.

A ESCUILTURA DE DEREK KINZETT
A arte do artista e escultor britânico Derek Kinzett. Veja mais aqui.
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PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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