O TÚNEL AMALDIÇOADO
DE PIRANGI - Dessa eu morreria e não imaginava
nunca pudesse existir! Pois, tá. Foi a Leu Gazela que me contou e fiquei com a
orelha, pelos e cabelos, tudo em pé! Arrepiante mesmo. Ela começou falando
sobre Minotauro e seu harém. Nunca que eu imaginei tal figura lendária além da
mitologia grega. Mas não, ela explicou tratar-se de um sujeito dos maus bofes
que ganhou esse apelido pela ruindade. Tanto é que o tal, depois de ter feito
um pacto com o tinhoso, tentou passar a perna na horagá de pagar o prometido.
Resultado: o capeta transformou-lo num sujeito com cara de touro bufador e
corpo de gente, colocando-o num universo paralelo, perdido no espaço. Aí o punido
esperneou tanto que encheu o saco do chefe do inferno, dele voltar e castigar
mais ainda, até deixá-lo murcho com o rabinho entre as pernas. De nada
adiantou. De tanto lamuriar-se, conseguiu o impossível: a compaixão do Coisa
Ruim. Não deu outra, para se ver livre da pacutia, rendeu-se aos pedidos do
queixoso, deixando-lhe ao alvitre um portal que quem atravessasse virava mulher
do outro lado para ser servido, conforme o solicitado. Pronto. Dito e feito. Foi
assim que, segundo ela, tudo começou. Quem atravessasse o túnel encantado, se
fosse homem, virava mulher; e se fosse mulher, estava frita e pronta para ser
usada e abusada pelo desgraçado. Oxe! Conta ela que a coisa pegou mesmo de, até
ela, cair nessa enrascada. Como assim? Antes ela era, na verdade, Joaquinaldo,
um sujeito jeitoso, namorador, doido por um rabo de saia, a ponto de cair na
esparrela de, ouvindo umas risadas soltas do outro lado duma pedraria pelas
bandas de Pirangi, invadiu um túnel estranho de sair do outro lado,
completamente transformada em uma mulher tão jeitosa que ela mesma, tomada de
uma narcísica sensação, quase se apaixonou pela própria: Vixe, como eu estava
reboculosa, dizia gracejando. Contudo, não previa o pior. Logo o desalmado
apareceu horroroso e pronto para agarrá-la. Aí começou o bumba-meu-boi: pega
aqui, pega acolá, corre dali, corre pra lá, bufadas e puladas, tropicões e
agarramentos, escorregou na bica, aí já era uma vez Joaquinaldo, agora
assumidamente Leu Gazela rasgada, rachada, lascada em bandas para servir de
tudo e muito mais ao asqueroso algoz. Por uns dias era a sua preferida, torada
de cabo a rabo. Esfolou-se muito com o ajegamento do insano. Depois, era mais
uma entre tantas no lá e loa dele na hora das escolhas: essa sim, essa não,
essa... O pior era quando ele ameaçava esfolar o furico duma delas, depois de
uma roleta-russa. Pronto, era um pandemônio. Ele só se aliviava depois de
enrabar umas cinco. Uma coisa para lá de dolorosa: Ô bicho ruim era, viu? Assim
conta Leu que, de instante em instante, o cabra lá se via com presa pronta para
abocanhar: Vai ter tesão assim no raio que o parta! Rezava para que um dia ele
caiasse mole salvando todas. Mas que nada. O insaciável tinha as partes quentes
e dura que só pedra. Muitas até emprenharam dele, preferindo morrer a ter que
dar um filho a uma aberração como essa: Pois foi e ainda é, está por aí. Essa
história correu longe e, de boca em boca, foi alarmando a população que temia
que ele fugisse de lá, para atanazar a vida da gente pacata do lado de cá: Já
imaginou ele escapole de lá e cai em cima das bundudas daqui? Vai ser o maior
escarcéu, pode crer. Teve até quem tivesse o topete de tirar essa história a
limpo. Gente do juízo frouxo ou coragem esborrando pelo ladrão, sei lá,
danou-se pelas terras que margeiam o rio Pirangi, à caça do injuriado com o
objetivo único de suplantá-lo até a morte e arrastar o harém como conquista. Arrepara
só. Todavia, ninguém voltou para contar o sucedido. Juntou até uma legião de
curiosos que saiu catando por toda redondeza, noitedia, adonde é que ficava
esse harém e o portal e tudo o mais, porém, dos que voltavam só com as mãos abanando.
A única testemunha viva disso que se tem notícia é a própria Leu que diz ter
fugido do harém, depois de ser caçada por muitas noites de luas coloridas e de
ver estrelas de toda cor em pleno meio dia, até bater cansada quase morta por
estas bandas. Ela mesma conta detalhes. Quem quiser que acredite; eu mesmo,
hem? Vôte! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo
e aqui.
DITOS & DESDITOS
[...] O que há de mais profundo em mim, não é o
conjunto de meus limites – mas o todo que é a sua fonte, o centro de jorro da
criação. O tema do abraço, para além de si mesmo, não é senão um nó humano, ou
antes um enrolamento local desse maelstrom, esse grande abraço cósmico no qual
se enlaçam e fecundam o homem e a natureza, o homem e a mulher, o homem e Deus.
[...] Assim reencontrei uma outra
dimensão: a da abertura ao outro, ao todo outro, a da espera e da visitação,
dimensão feminina, negada por toda civilização tecnicista e masculina,
prometeica, com tudo quanto ela comporta de grandeza, mas também de suficiência
e de fechamento, esta civilização fautora de vidas marginas como Safo ou Flora
Tristan. Isso não era apenas um enriquecimento pessoal: a descoberta desta
parte de mim mesmo, que me falta ou que, em mim, permanece embrionária e encontra
doravante o seu desabrochamento; era mais ainda: essa dimensão feminina, que,
em nossa civilização ocidental, não conheceu jamais a sua verdadeira floração,
eu acabava de encontrá-la, expressa aliás com uma força viril. Integrar no
homem total todas as suas dimensões era, havia quarenta anos, minha razão de
ser: cristianismo e marxismo, dialogo com as civilização não ocidentais. E eis
que me surgia outra componente do humano. Fazer com que uma época, que a
ignorava, sentisse a necessidade dela, esta era uma nova razão de viver. Alguns
meses antes eu decidira-me a morrer, uma vez cumprida a minha tarefa. Eu lhe
fixara o termo próximo. Agora, abre-se uma brecha nas minhas certezas, o
horizonte de uma nova existência. É possível continuar a viver, à condição de
não me encerrar em meus limites e nos de minhas tarefas limitadas e acabadas. Descobri
que não tinha atingido esta plenitude. Devo ainda aprender a merecer a minha
morte.
Trechos de
Auto-retrato, extraído da obra Palavra de homem (Difel, 1975), do
filósofo francês Roger Garaudy (1913-2012). Veja mais aqui.
PONTO DE MUTAÇÃO
O longa-metragem Ponto
de mutação (Mindwalk, 1990),
dirigido por Bernt Amadeus Capra, é baseado no livro homônimo do físico e
escritor austríaco Fritjof Capra,
aborda o dialogo entre três pessoas que possuem estilos de vida e pensamentos
diferentes, abertas às novas ideais por meio de um diálogo em um castelo
medieval na França. Estes são uma cientista que vê seus ideais traídos e
desencantada com o projeto Guerra nas Estrelas, um candidato à presidência dos
Estados Unidos e um dramaturgo em crise se encontram em um castelo medieval de
Mont Saint Michel, no litoral da França e, em um único dia, os três abordam Descartes,
Einstein, ecologia, política, física quântica, poesia e tecnologia para
compreenderem os paradigmas do futuro. Veja mais aqui, aqui & aqui.
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