terça-feira, fevereiro 26, 2019

TAGORE, LOUISE BOURGEOIS, MICHELANGELO ANTONIONI, VIVIANE MATESCO & BUZUNTÕES DE CATUAMA


OS BUZUNTÕES DE CATUAMA - Houve um tempo de convivência pacífica entre o cemitério e a zona de meretrício. Ali, encangados um no outro, divisado apenas por um muro, no ponto mais alto e central da cidade, tanto se chorava os entes queridos que se foram e Deus os tenha, como badalava o bacanal mais arrepiado. Se o lupanar dali era dos mais afamados mundo afora, prestigiadíssimo até por gente de um olho só das mais remotas regiões do país, era porque o plantel das rameiras era dos mais gabaritados, responsável por descasamentos, mancebias e situações insólitas na comarca. Por outro lado, a necrópole não ficava para trás: ali estavam enterrados somente os graudões afortunados que achavam de bater as botas quase todo dia na freguesia – gentinha mesmo que morresse, era sacudida nos cafundós de não sei onde de tão longe que era. As ruas dos coronéis davam acesso a ambos, três delas tanto por parte da do Coronel A, como do lado do Coronel I: de um lado e de outro, uma era a maior bandeira, pois se não era a que dava com o portão dos colégios do bispo e das freiras, era a principal via de tráfego da cidade, nem pensar; a segunda era um estrupício: tanto a de lá como a de cá não tinha calçamento e só servia de escape às pressas deslizando a bunda no chão, quem é doido, só na fuga; já a terceira, duma ou doutra, as prediletas: mais discretas e estreitas, mal iluminadas, prontas para as escapulidas, apropriadas para quem entrasse ou saísse. Havia quem depois de uns goles a mais errasse a porta do cabaré, zanzando excitado paudurescente entre as sepulturas, ou com as saias na cabeça atrás de molhar o biscoito. Doutra parte, no meio da orgia no bordel aparecia quem reclamasse da mulher que sumira sem a segunda etapa acertada, ou quem denunciasse que alguém se empirulitou passando um xexo na vítima. A coisa ia de mal a pior: Cadê a nega que eu furunfei e num terminou o serviço direito? Outra: O cara escapuliu sem pagar! Virou uma bronca. Por conta disso os organizadores do troço se reuniram e apuraram que o prejuizo comia no centro. Como é que pode? Usuários desapareciam depois de se envultarem sem prestar contas, ora essa. Para desvendar o mistério, convocaram Sebastião Esprita que colocou em prática suas habilidades investigativas e logo constatou: Tem gente do outro mundo fazendo uso do serviço! Num pode! Pode! Casos pipocaram da Mulher de Branco, do Homem do Meio Dia, gente estranha que dava as caras e depois o lugar mais limpo. Será que isso pode ocorrer de mesmo? Coisa mais sem pé nem cabeça! O mudo sabia, mas não tinha como contar. É mesmo? Pois é, tinha gente lavando a jega no maior arrego. Prove! Ficou mais que provado: morto e vivo na maior suruba. Como é que é? Tome tento! Na moral, o movimento reivindicatório levou à interdição do cemitério: Agora o puteiro é que nem cinema, tem que pagar adiantado, seja defunto ou gente! Danou-se! A solução? Na ponta da língua: Vou levar tudo pra Catuama! Xá, comigo. Armou-se de uma flauta doce que pra ele era mágica e, mal começou a soprar, saiu carregando uma ruma de fantasma atrás do apito ensurdecedor. A procissão saiu da cidade e foi bater lá onde os indigentes eram enjeitados: Pronto, vou democratizar o terreiro, antes só de pé-rapado, agora ricaço e amundiçado, tudo junto e misturado. Resolveu em parte porque dali os malassombros fugiam de volta e aproveitavam para atanazar os habitantes da cidade. Teve, então, de fazer o serviço completo e fez com que Catuama passasse a ser o necrotério oficial da localidade e, depois disso, tudo voltou ao normal, por enquanto, os defuntos descansavam em paz e a população vivia de mandar ver na existência como podia, sem interferência alheia. Diga-se de passagem, por enquanto, tudo pode acontecer entre um dia e outro com uma noite no meio, né? © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS
[...] O espírito da transgressão é a do deus animal que morre no sacrifício, desse deus cuja morte é animada pela violência e que não alimentado pelas interdições impostas à humanidade. A ação violenta, o sacrifício, priva a vítima de seu caráter limitado e lhe confere o ilimitado, o infinito que pertence à esfera sagrada, e por isso, concilia vida e morte ainda que comece onde acaba o animal, a animalidade não deixa de ser seu fundamento. A humanidade se desvia desse fundamento com horror, mas, ao mesmo tempo, o mantém. [...].
Trecho extraído de Corpo, imagem e representação (Jorge Zahar, 2009), da historiadora, museóloga e professora Viviane Matesco, tratando sobre a relação entre o tema e a polissemia na busca das raízes históricas da relação entre esses três elementos, ampliando amplia a reflexão sobre a questão do corpo na arte contemporânea e a sublimação do físico na representação do nu e a afirmação de um corpo primário na arte contemporânea.

A ESCULTURA DE LOUISE BOURGEOIS
A escultura da artista plástica e escultora surrealista e primitivista Louise Bourgeois (1911-2010), que expressa um simbolismo abstrato presentes em coleções e espetáculos permanentes em museus e galerias pelo planeta. Veja mais aqui.

EROS DE MICHELANGELO ANTONIONI
O drama erótico Eros (2004), do cineasta italiano Michelangelo Antonioni (1912-2007), conta três episódios com tema sobre o amor e o erotismo: Em Xangai, alfaiate nutre paixão por uma cliente. Em Nova York, homem narra ao analista seus sonhos com mulher sem rosto. Na Toscana, casal de meia-idade tem a vida atravessada por mulher mais jovem. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
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Se choras porque não consegues ver o sol, as tuas lágrimas impedir-te-ão de ver as estrelas.
A obra do poeta e músico indiano, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, Rabindranath Tagore (1861-1941) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
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Outra do Sebastião Esprita aqui
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