QUEBRAR A CASCA
& VIVER - Imagem: O ovo, do
artista plástico português Pedro Ildo.
- Assim sou como aquele ou aquela que passa rua
acima, estrada abaixo, sem nome nem endereço sabidos, sem rótulos nem tarjas,
apesar das diferentes íris e digitais, semelhantes na essência, como posso
querer ser melhor ou ter o privilégio da distinção se sou tal qualquer um, da
mesma natureza, passível das mesmas emoções e anseios, indo e vindo, cada qual,
razções e motivos. Quando vou ou venho, muros separam vizinhança nas ruas e o
confinamento das grades de ferro, segurança neurótica, a ameaça dos incômodos
causados pelo preço imposto da violência. Nas ruas uma paz armada até os dentes
pelas fronteiras, esquinas, cada qual cuide de si, a polícia e a multidão, uma
repressão invisível em nome da ordem estabelecida – uma ordem suicida, diga-se
de passagem, que incentiva a desobediência civil desconhecida por todos e até
justa, e a desordem pelo caos da disfunção das leis entre horrores de perdas e
vinganças sanguinárias. Uma paz forjada no acinte da arma escondida disposta ao
disparo, enquanto o Estado não cumpre a sua parte – nunca cumpriu, pelo
contrário, promove em todo momento a violência institucional por seus
suntuosos gabinetes nos crime de todas as esferas governamentais, enquanto
gestores e autoridades desfrutam do banquete a tripudiar sobre a humilhação de
um povo que não sabe de si nem de ninguém, apenas a coação da carteirada no
monopólio dos interesses de uns sobre os outros, fatiando a bel prazer as
provisões entre os seus e sabidos, em detrimento da miséria de todos. Ah, os
governantes não sabem, nunca souberam, hipnotizados pelo poder, cegos pela
ambição. As autoridades nunca souberam o preço do abuso do poder. E se espalham
– e como! - prepotentes, indestrutíveis, agora e sempre – um sempre de décadas,
até, nunca perene. Nunca será tarde, pode ser até amanhã de manhã, ou depois de
amanhã, ano que vem, quem sabe, a qualquer momento. Assim sou como os que estão
sob o mando, preteridos, esperançados, mesmo que inconsciente mutuamente
esperançosos, pois sei que sou como todos, pela mesma essência divina que
permeia as águas, os minerais, os vegetais, o magnetismo da Terra, a refulgente
emanação solar, o movimento do universo e o trabalho maravilhoso da Natureza.
De minha parte para todos, a autopercepção no espectro interpessoal, seja azul
natural de um ajudante zeloso, ou vermelho intenso de um realizador decisivo,
ou verde claro do pensador lógico, ou o que seja nos matizes comportamentais
humanos, em consonância com o plano original das coisas: do Sopro de Vida, a
força misteriosa da semente enterrada no chão, que quebra a casca e brota feito
o ovo que deu vida para passar da lagarta pra crisálida, até a borboleta pro pó
da Terra. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais
com a música do compositor francês Erik Satie (1866-1925): The Essencial
Colection e Gymnopédies & Gnossiennes; a cantora lírica inglesa Penélope White: Ária
–Bachianinha nº 5 Villa-Lobos, Composição de Diego Carneiro de Oliveira &
com Ivan Pires, Concertos particulares & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog. Para conferir é só ligar o
som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...]
O que há de notável nas entidades vivas é
a maneira como captam fluxos difusos de energia ou de informação e os moldam em
formas complexas mas bem organizadas [...]. Trecho extraído da obra Espaços
de esperança (Loyola, 2009), do professor e
geógrafo britânico marxista David Harvey. Veja mais aqui.
JEITINHO
BRASILEIRO - [...] Ser esperto e gostar de “dar um jeitinho” tornou-se, sem dúvida, um
traço do caráter do brasileiro. Porém, em tempos passados. Era um comportamento
menos freqüente e abrangente, e com menor grau de agressividade e
perifulosidade. Às vezes costumava até revestir-se de certa ingeniodade ou
pureza de propósito. Além do que constitui manifestação de duas habilidades
também próprias do nosso povo: inteligência e criatividade. Estas duas aptidões
são voltdas para resolver problemas. E, muitas vezes, resolver pequenos
problemas pessoais foi chamado de “dar um jeitinho”. [...] Poderimos mesmo comparar a evolução negatiza
da esperteza com a evolução do furto comum, de pequenas conseqüências, para o
assalto agressivo, violento e que resulta em grandes perdas materiais e traumas
psicológicos. [...] As atitudes da
esperteza foram propagando-se e agravando-se na medida da progressividade da
crise moral, da deterioração dos costumes, da permanência da inflação alta que
favorece espertezas de diversas formas, da proliferação da corrupção nos órgãos
públicos. Na medida em que os membros do poder executivo passaram a não ter
mais escrúpulos em dar maus exemplos para a sociedade; os políticos e os
poderes legislativos também cometem seus atos de espertezas. Enfim, na medida
em que o poder judiciário se mostra lento e ineficiente, colaborando com a
impunidade. Sem contar o fato de que nossas lenais penais são brandas. Com tal
degradação do ambiente, significativa parcela da população e das organizações
passaram a adotar a filosofia do “já que é assim, deixa eu defender o meu”,
recorrendo à esperteza para alcançar seus objetivos particulares, sem levar em
conta o prejuízo de terceiros, a moral pública social, o bem comum, a situação
do país. [...]. Trecho extraído da obra Cidadania:
o remédio para as doenças culturais brasileiras (Summus, 1992), do executivo, conferencista e
consultor Ênio Resende. Veja mais
aqui.
GERAÇÃO DO AI-5 – [...] Quando
fracassou o crime do Riocentro ela estava com pouco menos de 13 anos; poderia
muito bem ter ido lá, naquela arapuca sinistra, destinada a sacrificar
sobretudo jovens e artistas. Amigos seus foram. Mas a geração do AI-5 parece
ter uma secreta força. É certo que esses jovens começaram a amar quando já
havia a pílula, e a gravidez deixou de ser uma doença venérea quase inevitável,
e os antibióticos já afastavam os fantasmas antigos da tuberculose, que matava
os poetas, e da sífilis, que os enlouquecia. Esses jovens falam dos esportes do
céu, da terra e do mar. Mergulham, voam, esquiam, amam a floresta e as praias
desertas. É certo que se aventuram um pouco pelas tentações e modas do mundo:
inclusive drogas, é de jovens fazer tolices. Mas reagem. Surge-lhes de súbito
pela frente o fantasma da Aids. Eles o superam, porque não vivem ao léu. Sinto
nessa menina que vem me entrevistar e em alguns companheiros seus um fundo
sadio de amor ao trabalho, ao estudo e à justiça social; querem saber como este
mundo foi e por que é assim, por que há tanta gente rica e tantos miseráveis,
tanta roubalheira e tantos fingimentos. Do fundo da minha descrença eu encontro
uma secreta, desesperada esperança: gente assim e só gente assim pode criar
dias mais limpos e racionais para o Brasil. Que Deus proteja essa geração do
maldito AI-5. Extraído da obra As
boas coisas da vida (Record, 2010), do escritor Rubem Braga (1913-1990).
Veja mais aqui.
A DIZ PUTA
ELEITORAL – Quando
o coronel Eurico Rosado da Rocha Lisboa chamou o seu protegido para um
conversatório particuloso, já estava de festa em dança no juízo, e se rindo de
contente. Aquele era o vivente mais ajuramentado em débito de favor, desbocado
e caceteiro e foi realmente o escolhido. No vagão central do alpendre, fez uma
recepção sem hem-hem-hem e sem noves-fora e foi logo dizendo: - Nego Foda, o
senhor vai ser candidato nesta eleição. Tá me entendendo? Ao ser chamado de
Nego Foda – apelido que detestava – Biu das Quenga ficou roxo, deu-lhe uma
engrossadura de língua, um intestinamento de barriga e só não mandou o coronel
tomar no centroma, por se tratar de um Rosado Lisboa, que não era pouca merda
naquelas pastagens. Sem entender direito e engolindo uma carrada de desaforo,
indagou: - Eu, coroné Rosado? – Sim, senhor, é o senhor mesmo. Não esqueça que
me deve uma soltura de cadeia, de onde nunca sairia! Agora chegou a hora do
pagamento. – Mas coroné! Eu não sou letrado de ensino, tenho andado mais duro
que santo em procissão e não tenho um pingo, um pinguinho sequer de sintoma
prefeituroso! [...] Com sua oratória
matuto-político-camumbembal, Biu das Qunga foi conseguindo atrair até criacinha
de oposição, e aos poucos foi avessando a casaca de eleitor acabestrado não só
com Mané Jipinho, mas tambpem com o do coronel e demais políticos de Brasilzim
de Dentro e Vila Teimosa. Mas foi o tiro de misericórdia aplicado em Mané
Jipinho que disparou sua campanha. Com poesias feitas de próprio punho, meteu o
sarrafo, caluniou o concorrente, além de divertir e atrair a atenção do povo
para seu palanque. Com a ajuda de Luzia Manca, que tirou as digitais matutas
para melhor expressar a suposta fala do prefeito, soltou o falso Pensamento de
Mané Jipinho, como sendo o proibido discurso de posse do concorrente quando
eleito prefeito de Brasilzim de Dentro, onde sai lia o poema com o mote de um
poeta Potiguar, Sempre foi meu desejo comer o cu desse povo: Assim que saio
eleito / no fim duma apuração / me dá muito mais resão / por o povo ter-me
aceito / se fui eleito prefeito / com o voto deles de novo / eu pago com um par
de ovo / um taco duro e um gracejo: / que sempre foi meu desejo / comer o cu
desse povo / ... Vou me mantendo fiel / a este povo bundeiro / sou político
verdadeiro / neste país de bordel / e desta lua-de-mel / sei que jamais me
demovo / e sendo eleito de novo / como em grosso e varejo / pois sempre foi meu
desejo / comer o cu desse povo. [...] Para
demonstrar que não existia conchavo político com os demais partidos e total
transparência nas decisões da FUDENE, a cúpula do partido distribuiu um folheto
intitulado Conversa de Bastidor, que dizia: Pra mandar tudim pra PQP / não
pudemo se quer, se PDT / que é mode o PSB / amuntado no PV / não vir se
aliançar. / PC-dê-B a hipótis / dum PT, sem muito T / nem que a legenda se mele
/ ou de PF ou de L / feito PMDB. / Antes que o pau recomece / vai assim
assuceder: / PMN não manda / já desanda o PTB / PSDB tira o S / logo depois
tira o B / no mei desse sururu / nós pega o F e U / e acunha tudo no D. [...]
Num discurso puxado com sustança, e como
disse Biu das Quenga: mais bonito do que pé de macaíba na safra, Luzia Manca
fez o seguinte pronunciamento em versos, apresentando sua equipe de trabalho e
denunciando as mazelas da cidade: - Meus amigos fudedores / gigolôs e
cachaceiros / ilustres raparigueiros / e todos da região! / Se a FUDENE não
fudesse / não fosse mulher bolida / se não quengasse na vida / não tava na
eleição. / Disputou com puta a puta / mas trouxe no fim da briga / um coral de
rapariga / pra cima do caminhão. / Trouxe Zzefa Pragatão / trouxe Priquito de
Frande / Teinha do Obreiro Baixo / e com licença da palavra / trouxe Roquete
Cuzão. / Roquete é feito feijão / quando esquenta dá o bicho / mas andará no
capricho / no rumo da eleição. / Reparem bem o estado / dessa nossa região / do
Estreto da Galheira / do beco do Pinguelão / lá do Buraco da Velha / do Pai
Torto e Suvacão. / Da rua do Arrombado / lá da Taiada da Jega / esquina do
Lasca e Trinca / Suvaco de cururu / atolado da Frieira / da Rua da Beira Seca /
e do Beco do Teju / Não queira ver o estado / do apertado da hora / da Pinguela
do Tauá / do beco do Quebra-Pote / da Rua do Quixelau / Rua do Grude e da Merda
/ escorrega lá vai um / e beiço do Eita Pau / Estão levando na zona / a nossa
zona sofrida / zonaram da nossa zona / nunca nos deram carona / no trem que
sobre na vida. / Mas esta bacafuzada / ta com seus dias contados / quem ganha a
vida fudendo / levando e sendo enganado / de tanto saber gemer / quer “tanto
assim” pra fuder / prefeitos e deputados. / Vote em nossa bandeira / de
norte-sul-leste-oeste / vamos votar na FUDENE / a redenção verdadeira / que são
essas fudedeiras / desenvolvendo o Nordeste. / Finalizo estas palavras /
clamando de braço aberto / aos companheiros de luta / que vamos votas nas puta
/ pois nos filhos não deu certo. [...]. Extraído da obra Agrutas da lata
d’água (Bagaço, 1998), do poeta, compositor e intérprete Jessier
Quirino. Veja mais aqui.
ILHA DAS FLORES
O
premiadíssimo curta-metragem Ilha das
Flores (1989), escrito e dirigido pelo cineasta Jorge Furtado, narra
através da trajetória de um tomate, da plantação ao lixo, as desigualdades
sociais e o destno dos homens em um planeta massacrado pelo desconhecimento,
mostrando como a economia gera relações desiguais entre os seres humanos.
Veja mais:
O beijo
dela de sol na minha vida de lua, a poesia de José Regio, a música de Ceumar
& a arte de Luciah Lopez
aqui.
Ardência
na Crônica de amor por ela, Pitágoras,
Jacques Lacan, Max Bruch, Mariano Latorre, Jules Laforgue, Philip Kaufman, Chloe Hanslip, Ashley Judd, Nina Kozoriz, Gustave
Doré, Teatro Elisabetano & Rachel Levkovits aqui.
Alexander
Scriabin, Cássia Kiss, Gustave
Doré, Denise Georg, Mr. Bean, Márcia Poesia de Sá, Gabi Alves & Zé Edu
Camargo aqui.
Jung
& a alma, Educação, Psicologia & Sociologia, Crimes Ambientais, Oração
do Justo Juiz, Serpente de Asas & Literatura Pernambucana aqui.
&
A DANÇA DE BOSH:
GARDEN
OF EARTHLY DELIGHTS
O espetáculo Hieronymus Bosch: O Jardim das Delícias
Terresas, da coreógrafa canadense Marie Chouinard, baseada na obra O Garden of Earthly Delights, do pintor e gravador holandês Hieronymus
Bosch (1450-1516), traz uma exuberante dança altamente teatral, evocando em movimento as emoções
humanas contrastantes, os desejos profundos e os medos existenciais que
capturou na pintura. Veja
mais aqui.