sábado, janeiro 06, 2018

RUBEM BRAGA, HARVEY, ERIK SATIE, JESSIER, PENÉLOPE WHITE, CHOUINARD, BOSCH, PEDRO ILDO & JEITINHO BRASILEIRO

QUEBRAR A CASCA & VIVER - Imagem: O ovo, do artista plástico português Pedro Ildo. - Assim sou como aquele ou aquela que passa rua acima, estrada abaixo, sem nome nem endereço sabidos, sem rótulos nem tarjas, apesar das diferentes íris e digitais, semelhantes na essência, como posso querer ser melhor ou ter o privilégio da distinção se sou tal qualquer um, da mesma natureza, passível das mesmas emoções e anseios, indo e vindo, cada qual, razções e motivos. Quando vou ou venho, muros separam vizinhança nas ruas e o confinamento das grades de ferro, segurança neurótica, a ameaça dos incômodos causados pelo preço imposto da violência. Nas ruas uma paz armada até os dentes pelas fronteiras, esquinas, cada qual cuide de si, a polícia e a multidão, uma repressão invisível em nome da ordem estabelecida – uma ordem suicida, diga-se de passagem, que incentiva a desobediência civil desconhecida por todos e até justa, e a desordem pelo caos da disfunção das leis entre horrores de perdas e vinganças sanguinárias. Uma paz forjada no acinte da arma escondida disposta ao disparo, enquanto o Estado não cumpre a sua parte – nunca cumpriu, pelo contrário, promove em todo momento a violência institucional por seus suntuosos gabinetes nos crime de todas as esferas governamentais, enquanto gestores e autoridades desfrutam do banquete a tripudiar sobre a humilhação de um povo que não sabe de si nem de ninguém, apenas a coação da carteirada no monopólio dos interesses de uns sobre os outros, fatiando a bel prazer as provisões entre os seus e sabidos, em detrimento da miséria de todos. Ah, os governantes não sabem, nunca souberam, hipnotizados pelo poder, cegos pela ambição. As autoridades nunca souberam o preço do abuso do poder. E se espalham – e como! - prepotentes, indestrutíveis, agora e sempre – um sempre de décadas, até, nunca perene. Nunca será tarde, pode ser até amanhã de manhã, ou depois de amanhã, ano que vem, quem sabe, a qualquer momento. Assim sou como os que estão sob o mando, preteridos, esperançados, mesmo que inconsciente mutuamente esperançosos, pois sei que sou como todos, pela mesma essência divina que permeia as águas, os minerais, os vegetais, o magnetismo da Terra, a refulgente emanação solar, o movimento do universo e o trabalho maravilhoso da Natureza. De minha parte para todos, a autopercepção no espectro interpessoal, seja azul natural de um ajudante zeloso, ou vermelho intenso de um realizador decisivo, ou verde claro do pensador lógico, ou o que seja nos matizes comportamentais humanos, em consonância com o plano original das coisas: do Sopro de Vida, a força misteriosa da semente enterrada no chão, que quebra a casca e brota feito o ovo que deu vida para passar da lagarta pra crisálida, até a borboleta pro pó da Terra. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com a música do compositor francês Erik Satie (1866-1925): The Essencial Colection e Gymnopédies & Gnossiennes; a cantora lírica inglesa Penélope White: Ária –Bachianinha nº 5 Villa-Lobos, Composição de Diego Carneiro de Oliveira & com Ivan Pires, Concertos particulares & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] O que há de notável nas entidades vivas é a maneira como captam fluxos difusos de energia ou de informação e os moldam em formas complexas mas bem organizadas [...]. Trecho extraído da obra Espaços de esperança (Loyola, 2009), do professor e geógrafo britânico marxista David Harvey. Veja mais aqui.

JEITINHO BRASILEIRO - [...] Ser esperto e gostar de “dar um jeitinho” tornou-se, sem dúvida, um traço do caráter do brasileiro. Porém, em tempos passados. Era um comportamento menos freqüente e abrangente, e com menor grau de agressividade e perifulosidade. Às vezes costumava até revestir-se de certa ingeniodade ou pureza de propósito. Além do que constitui manifestação de duas habilidades também próprias do nosso povo: inteligência e criatividade. Estas duas aptidões são voltdas para resolver problemas. E, muitas vezes, resolver pequenos problemas pessoais foi chamado de “dar um jeitinho”. [...] Poderimos mesmo comparar a evolução negatiza da esperteza com a evolução do furto comum, de pequenas conseqüências, para o assalto agressivo, violento e que resulta em grandes perdas materiais e traumas psicológicos. [...] As atitudes da esperteza foram propagando-se e agravando-se na medida da progressividade da crise moral, da deterioração dos costumes, da permanência da inflação alta que favorece espertezas de diversas formas, da proliferação da corrupção nos órgãos públicos. Na medida em que os membros do poder executivo passaram a não ter mais escrúpulos em dar maus exemplos para a sociedade; os políticos e os poderes legislativos também cometem seus atos de espertezas. Enfim, na medida em que o poder judiciário se mostra lento e ineficiente, colaborando com a impunidade. Sem contar o fato de que nossas lenais penais são brandas. Com tal degradação do ambiente, significativa parcela da população e das organizações passaram a adotar a filosofia do “já que é assim, deixa eu defender o meu”, recorrendo à esperteza para alcançar seus objetivos particulares, sem levar em conta o prejuízo de terceiros, a moral pública social, o bem comum, a situação do país. [...]. Trecho extraído da obra Cidadania: o remédio para as doenças culturais brasileiras (Summus,  1992), do executivo, conferencista e consultor Ênio Resende. Veja mais aqui.

GERAÇÃO DO AI-5 – [...] Quando fracassou o crime do Riocentro ela estava com pouco menos de 13 anos; poderia muito bem ter ido lá, naquela arapuca sinistra, destinada a sacrificar sobretudo jovens e artistas. Amigos seus foram. Mas a geração do AI-5 parece ter uma secreta força. É certo que esses jovens começaram a amar quando já havia a pílula, e a gravidez deixou de ser uma doença venérea quase inevitável, e os antibióticos já afastavam os fantasmas antigos da tuberculose, que matava os poetas, e da sífilis, que os enlouquecia. Esses jovens falam dos esportes do céu, da terra e do mar. Mergulham, voam, esquiam, amam a floresta e as praias desertas. É certo que se aventuram um pouco pelas tentações e modas do mundo: inclusive drogas, é de jovens fazer tolices. Mas reagem. Surge-lhes de súbito pela frente o fantasma da Aids. Eles o superam, porque não vivem ao léu. Sinto nessa menina que vem me entrevistar e em alguns companheiros seus um fundo sadio de amor ao trabalho, ao estudo e à justiça social; querem saber como este mundo foi e por que é assim, por que há tanta gente rica e tantos miseráveis, tanta roubalheira e tantos fingimentos. Do fundo da minha descrença eu encontro uma secreta, desesperada esperança: gente assim e só gente assim pode criar dias mais limpos e racionais para o Brasil. Que Deus proteja essa geração do maldito AI-5. Extraído da obra As boas coisas da vida (Record, 2010), do escritor Rubem Braga (1913-1990). Veja mais aqui.

A DIZ PUTA ELEITORALQuando o coronel Eurico Rosado da Rocha Lisboa chamou o seu protegido para um conversatório particuloso, já estava de festa em dança no juízo, e se rindo de contente. Aquele era o vivente mais ajuramentado em débito de favor, desbocado e caceteiro e foi realmente o escolhido. No vagão central do alpendre, fez uma recepção sem hem-hem-hem e sem noves-fora e foi logo dizendo: - Nego Foda, o senhor vai ser candidato nesta eleição. Tá me entendendo? Ao ser chamado de Nego Foda – apelido que detestava – Biu das Quenga ficou roxo, deu-lhe uma engrossadura de língua, um intestinamento de barriga e só não mandou o coronel tomar no centroma, por se tratar de um Rosado Lisboa, que não era pouca merda naquelas pastagens. Sem entender direito e engolindo uma carrada de desaforo, indagou: - Eu, coroné Rosado? – Sim, senhor, é o senhor mesmo. Não esqueça que me deve uma soltura de cadeia, de onde nunca sairia! Agora chegou a hora do pagamento. – Mas coroné! Eu não sou letrado de ensino, tenho andado mais duro que santo em procissão e não tenho um pingo, um pinguinho sequer de sintoma prefeituroso! [...] Com sua oratória matuto-político-camumbembal, Biu das Qunga foi conseguindo atrair até criacinha de oposição, e aos poucos foi avessando a casaca de eleitor acabestrado não só com Mané Jipinho, mas tambpem com o do coronel e demais políticos de Brasilzim de Dentro e Vila Teimosa. Mas foi o tiro de misericórdia aplicado em Mané Jipinho que disparou sua campanha. Com poesias feitas de próprio punho, meteu o sarrafo, caluniou o concorrente, além de divertir e atrair a atenção do povo para seu palanque. Com a ajuda de Luzia Manca, que tirou as digitais matutas para melhor expressar a suposta fala do prefeito, soltou o falso Pensamento de Mané Jipinho, como sendo o proibido discurso de posse do concorrente quando eleito prefeito de Brasilzim de Dentro, onde sai lia o poema com o mote de um poeta Potiguar, Sempre foi meu desejo comer o cu desse povo: Assim que saio eleito / no fim duma apuração / me dá muito mais resão / por o povo ter-me aceito / se fui eleito prefeito / com o voto deles de novo / eu pago com um par de ovo / um taco duro e um gracejo: / que sempre foi meu desejo / comer o cu desse povo / ... Vou me mantendo fiel / a este povo bundeiro / sou político verdadeiro / neste país de bordel / e desta lua-de-mel / sei que jamais me demovo / e sendo eleito de novo / como em grosso e varejo / pois sempre foi meu desejo / comer o cu desse povo. [...] Para demonstrar que não existia conchavo político com os demais partidos e total transparência nas decisões da FUDENE, a cúpula do partido distribuiu um folheto intitulado Conversa de Bastidor, que dizia: Pra mandar tudim pra PQP / não pudemo se quer, se PDT / que é mode o PSB / amuntado no PV / não vir se aliançar. / PC-dê-B a hipótis / dum PT, sem muito T / nem que a legenda se mele / ou de PF ou de L / feito PMDB. / Antes que o pau recomece / vai assim assuceder: / PMN não manda / já desanda o PTB / PSDB tira o S / logo depois tira o B / no mei desse sururu / nós pega o F e U / e acunha tudo no D. [...] Num discurso puxado com sustança, e como disse Biu das Quenga: mais bonito do que pé de macaíba na safra, Luzia Manca fez o seguinte pronunciamento em versos, apresentando sua equipe de trabalho e denunciando as mazelas da cidade: - Meus amigos fudedores / gigolôs e cachaceiros / ilustres raparigueiros / e todos da região! / Se a FUDENE não fudesse / não fosse mulher bolida / se não quengasse na vida / não tava na eleição. / Disputou com puta a puta / mas trouxe no fim da briga / um coral de rapariga / pra cima do caminhão. / Trouxe Zzefa Pragatão / trouxe Priquito de Frande / Teinha do Obreiro Baixo / e com licença da palavra / trouxe Roquete Cuzão. / Roquete é feito feijão / quando esquenta dá o bicho / mas andará no capricho / no rumo da eleição. / Reparem bem o estado / dessa nossa região / do Estreto da Galheira / do beco do Pinguelão / lá do Buraco da Velha / do Pai Torto e Suvacão. / Da rua do Arrombado / lá da Taiada da Jega / esquina do Lasca e Trinca / Suvaco de cururu / atolado da Frieira / da Rua da Beira Seca / e do Beco do Teju / Não queira ver o estado / do apertado da hora / da Pinguela do Tauá / do beco do Quebra-Pote / da Rua do Quixelau / Rua do Grude e da Merda / escorrega lá vai um / e beiço do Eita Pau / Estão levando na zona / a nossa zona sofrida / zonaram da nossa zona / nunca nos deram carona / no trem que sobre na vida. / Mas esta bacafuzada / ta com seus dias contados / quem ganha a vida fudendo / levando e sendo enganado / de tanto saber gemer / quer “tanto assim” pra fuder / prefeitos e deputados. / Vote em nossa bandeira / de norte-sul-leste-oeste / vamos votar na FUDENE / a redenção verdadeira / que são essas fudedeiras / desenvolvendo o Nordeste. / Finalizo estas palavras / clamando de braço aberto / aos companheiros de luta / que vamos votas nas puta / pois nos filhos não deu certo. [...]. Extraído da obra Agrutas da lata d’água (Bagaço, 1998), do poeta, compositor e intérprete Jessier Quirino. Veja mais aqui.

ILHA DAS FLORES
O premiadíssimo curta-metragem Ilha das Flores (1989), escrito e dirigido pelo cineasta Jorge Furtado, narra através da trajetória de um tomate, da plantação ao lixo, as desigualdades sociais e o destno dos homens em um planeta massacrado pelo desconhecimento, mostrando como a economia gera relações desiguais entre os seres humanos.

Veja mais:
O beijo dela de sol na minha vida de lua, a poesia de José Regio, a música de Ceumar & a arte de Luciah Lopez aqui.
Ardência na Crônica de amor por ela, Pitágoras, Jacques Lacan, Max Bruch, Mariano Latorre, Jules Laforgue, Philip Kaufman, Chloe Hanslip, Ashley Judd, Nina Kozoriz, Gustave Doré, Teatro Elisabetano & Rachel Levkovits aqui.
Nise da Silveira & Todo dia é dia da mulher aqui.
Alexander Scriabin, Cássia Kiss, Gustave Doré, Denise Georg, Mr. Bean, Márcia Poesia de Sá, Gabi Alves & Zé Edu Camargo aqui.
Primeiro encontro: o voo da língua no universo do gozo aqui.
A poesia de Bráulio Tavares aqui.
Jung & a alma, Educação, Psicologia & Sociologia, Crimes Ambientais, Oração do Justo Juiz, Serpente de Asas & Literatura Pernambucana aqui.
O pensamento de Antonio Gramsci aqui.
Fecamepa, Psicologia Escolar, Sonhoterapia, Direito & Família Mutante aqui.
O monge e o executivo de James C. Hunter, Neuropsicologia, Ressocialização Penal & Educação aqui.
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O beijo que se faz poema aqui.
Todo dia é dia da mulher aqui.
A croniqueta de antemão aqui.
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Agenda de Eventos 35 anos de arte cidadã aqui.

A DANÇA DE BOSH: GARDEN OF EARTHLY DELIGHTS
O espetáculo Hieronymus Bosch: O Jardim das Delícias Terresas, da coreógrafa canadense Marie Chouinard, baseada na obra O Garden of Earthly Delights, do pintor e gravador holandês Hieronymus Bosch (1450-1516), traz uma exuberante dança altamente teatral, evocando em movimento as emoções humanas contrastantes, os desejos profundos e os medos existenciais que capturou na pintura. Veja mais aqui.

PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...