ATÉ QUASE, ENTÃO
– Imagem: arte da pintora, gravurista,
desenhista e ceramista francesa Sophie Sainrapt. - Duas opções
apenas: viver ou. Morrer, por enquanto, fora de cogitação. Quem não? Muito por
fazer, ora, intensamente: projetos por realizar – quase todos engavetados,
encolhidos, adiados -, anseios preteridos por ser muito pouco o dia; a noite,
muito menos. Sobreviver e tocar pra frente, afazeres por aqui, ó! Pois é,
comissivo no que nunca quis; omissivo no que precisa, quem não? Tudo às
avessas, sempre pra rever. Ainda ontem planejamento de mudança na virada do
ano, urgências em pauta, agora vai. Ah, o mês já meiou de quase virar carnaval
e a agenda pra amanhã, quem sabe março, lá pra depois da vintena oriental, como
verdadeiro. Um de cada vez, não, melhor um pouquinho de cada um na maciota, conta-gotas,
aí quando menos esperar, tudo pronto, hem? Que seja. Eu sei e todo mundo sabe:
o que tem de fazer precisa ser feito, ponto final. Não, ponto e vírgula –
sempre vírgulas e uma dúvida em dia, é isso que mata e muito, sempre um “se” ou
e ou. Bah! Fazer o que der, ninguém é perfeito. Sem mais desculpas, eleger
prioridades. Ora, afinal tudo é prioritário, iminente. Era pra ontem e até
hoje, nada. Sei não, quase jogar tudo pro ar. Quase, tudo na base do quase. O
que deu, deu; o que não deu, paciência, fica pra depois. Eu mesmo tanto faço e
me pego sem ter feito nada. Afora não poder dormir no ponto, senão passa
batido. É o que vigora. Quem não? Ih, já foi, é tudo tão rápido, babau. E
assim, quase. Quase vivo quase morto, nada demais, eu herdo as desproporções da
percepção por não sacar que tudo medra na largura, cumprimento e altura dos
esconderijos das coisas que são quando não são e seus secretos truques
validados pela exceção das molésticas vigentes, regra inefetiva a servir apenas
pros que não sabem da burla na arma dos sabidos. O ilegal na sua teia engole a
mim e a todos, vira consuetudinário fora do positivado, uma outra lei oculta e
além só pra quem manja, a validar a estupidez e ninguém é besta de remar contra
a maré, cada qual uma simples gota a se diluir no lodo da esperteza,
apodrecendo tudo com a erosão que mofa a vida e tudo tomba e tosca se dissipa
na lei da oferta e da procura com seus sons volantes e anúncios de féretros,
queimas de estoques promocionais, última oportunidade, agora ou nunca, shows
dançantes, cortes de energia, você não pode ficar de fora, falta d’água, missas
e procissões, pressas e gritos, fisionomias que não reconheço, olhares
farejadores, alguns tímidos que não sabem o que está acontecendo, outros nem
tanto cegos no tiroteio das notícias escandalosas, muitos de cenho franzido ao
lado dos de pálpebras pesadas de esperas e mágoas, porfiadores e surpresos
obstinados e abstêmios manhosos, ah, tudo passa e o burburinho do dia só ganha
o silêncio tarde da noite. Afinal, sou excêntrico e largo a voz no alvo pra
todos, eis rejeitada vira bumerangue por não ter pouso no coração alheio, senão
retornar pra mim e não era pra voltar. Quase deu certo, por pouco, e ninguém
pergunta o havido e haveres, anestesiados pela celeuma feita alarido mantido a
distância, como um fogo bom queimando só pela redondeza e nunca chegar aqui, só
porque Deus é brasileiro, senão corre daqui pra bem longe, melhor precaver,
senão, senão. Até agora é assim, gangorra de gente enquanto bole vivo, pra não
findar duro na cova. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com o compositor, instrumentistas, cantor
e escritor Jorge Mautner: O filho do holocausto & Bomba de Estrelas; a cantora
lírica e instrumentista neerlandesa Simone Simons: Épica, Headbanging & The Hauting/The Black Halo &
muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – Não é
tarefa do artista contar as coisas como sucederam, mas como poderiam ter
sucedido. Pensamento do filósofo
grego Aristóteles (384
a.C. - 322 a.C.). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
OS JOVENS & A LEITURA – A
leitura tem o poder de despertar em nós regiões que estavam até então
adormecidas. Tal como o belo príncipe do conto de fadas, o autor inclina-se
sobre nós, toca-nos de leve com suas palavras e, de quando em quando, uma
lembrança escondida se manifesta, uma sensação ou um sentimento que não
saberíamos expressar revela-se com uma nitidez surpreendente. [...]. Ao compartilhar a leitura, ao contrário,
cada pessoa pode experimentar um sentimento de pertencer a alguma coisa, a esta
humanidade, de nosso tempo ou de tempos passados, daqui ou de outro lugar, da
qual pode sentir-se próxima. Se o fato de ler possibilita abrir-se para o
outro, não é somente pelas formas de sociabilidade e peçlas conversas que se
tecem em torno dos livros. É também pelo fato de que ao experimentar, em um
texto, tanto sua verdade mais intima como a humanidade compartilhada, a relação
com o próximo se transorma. Ler não isola do mundo. Ler introduz no mundo de
forma diferente. O mais intimo pode alcançar neste ato o mais universal.
Trecho da obra Os jovens e a leitura
(34, 2008), da antropóloga, professora e pesquisadora francesa Michèle Petit, que coordena um programa
internacional sobre A leitura em seus espaços de crise, no
Laboratório de Dinâmicas Sociais e Recomposição dos Espaços, do Centre National
de la Recherche Scientifique, na França. Veja mais aqui.
MISTO QUENTE – [...] Lila
Jane era uma das garotas bonitas que eu via na escola. Era uma das mais lindas
e estava morando na casa ao lado. Um dia quanto estava no quintal ela apareceu
na cerca e permaneceu ali olhando pra mim. [...] Continuou olhando para mim e eu sentei na grama e retribuí o olhar.
Então disse: - Você quer ver minhas calcinhas? – Claro – eu disse. Ela ergueu o
vestido. As calcinhas eram cor-de-rosa e limpas. Pareciam bonitas. Ela
continuou com o vestido erguido e então se virou para que eu pudesse ver a
parte de trás. Sua parte traseira era bonita. Então abaixou o vestido. – Até
logo – disse e se foi. – Até logo – respondi. Isso acontecia todas as tardes. –
Quer ver minhas calcinhas? – Claro. As calcinhas eram quase sempre de uma cor
diferente e cada vez pareciam mais bonitas. Uma tarde, depois de Lila Jane ter
me mostrado suas calcinhas, eu disse: - Vamos dar uma volta. – Está bem.
Encontrei com ela em frente e caminhamos juntos rua abaixo. Ela realmente era
adorável. Nós fomos andando sem dizer uma palavra até que chegamos a um terreno
baldio. A grama estava crescida e verde. – Vamos entrar nesse terreno – eu
disse. – Está bem – Lila Jane respondeu. Nós caminhamos no meio daquele mato
alto. – Mostra suas calcinhas outra vez. Ela ergueu o vestido. Calcinha azul. –
Vamos dar uma esticada aqui – eu disse. Nós nos abaixamos na grama e eu agarrei
seu cabelo e a beijei. Então tirei seu vestido e olhei para sua calcinha.
Coloquei minha mão por trás dela e a beijei outra vez. Continuei beijando e
passando-lhe a mão. Fiz isso por um bom tempo. Então disse: - Vamos fazer. Eu
não tinha certeza do que era pra se fazer mas sentia que era mais do que isso.
– Não, eu não posso – ela disse. – Por que não? – Aqueles homens irão ver. –
Que homens? – Lá – apontou. Olhei entre a grama alta. A meio quarteirão de
distância talvez, alguns homens trabalhando no conserto da rua. – Eles não
podem ver a gente! – Sim, eles podem! Levantei-me. – Ora, dane-se! – saí do
terreno e voltei para casa. [...]. Então
Lily Fischman se levantou. Ela ergueu a saia e puxou uma de suas meias de seda.
Ajustou a liga e nós pudemos ver aquela carne branca. Então trocou de perna e
ajustou a outra meia. Uma visão que nós nunca tínhamos tido, e nem Stanhope
jamais havia visto algo como aquilo. Lily sentou e todos nós terminamos nossos
exames com os livros abertos. Stanhope sentou atrás de sua mesa, completamente
derrotado. [...]. Às quatro em ponto
nós encontramos Pete e Lilly no carro. – Oi – disse Lily. Ela parecia fogosa.
Pete fumava. Estava com cara de tédio. – Oi, Lilly – eu disse. – Oi, Lilly,
gracinha – disse Carequinha. Havia uns sujeitos jogando futebol em uma outra
quadra, mas era até melhor, servia como uma espécie de camuflagem. Lilly ficou andando,
respirando forte, os seios subindo e descendo. [...] Pete tirou a saia de Lilly pela cabeça. Suas pernas, ela estava de
meias até os joelhos, eram muito brancas e a gente podia ver sua calcinha.
Excelente. Pete abraçou Lilly e beijou. Então a empurrou. – Sua vagabunda! –
Seja educado comigo, Pete! – Sua puta vagabunda! – ele disse e lhe deu um tapa
bem forte no rosto. Ela começou a choramingar. – Não, Pete, não faça isso... –
Cala a boca, sua babaca! Pete começou a arrancar a calcinha dela. Estava tendo
dificuldades. A calcinha era apertada demais, também com aquela bundona toda...
Pete deu um violento puxão, ela rasgou e ele a puxou pelas pernas, sobre os
sapatos. Atirou no chão. Então começou a brincar com a sua buceta. Ele meseu e
mexeu naquela buceta enquanto beijava ela sem parar. Aí, encontou-se no banco
do carro. Seu pau ainda não estava completamente duro. Lilly olhou para baixo.
– O que é que há? Você é viado? – Não, não é isso, Lilly. É que estou achando
que esses caras não estão vendo direito se alguém vem vindo. – Está tudo limpo,
Pete – eu disse – nós estamos vigiando! – Nós estamos vigiando! – disse
Carequinha. – Eu não acredito neles – disse Pete. – Tudo o que eles estão
vigiando é a sua buceta, Lilly. – Eu sei o que é pra fazer – ela disse. Lilly
se abaixou e passou a língua no pau de Pete. Passou a língua em volta da cabeça
monstruosa. Então o colocou na boca. – Lilly... Cristo – dizia Pete -, eu te
amo... Lilly, Lilly, Lilly... ho, oh, oooh, oooh... – Henry! – Carequinha
berrou – Olhe! Eu olhei. Era Wagner que vinha vindo direto para nós
atravessando o campo e atrás dele os caras que estavam jogando futebol, mais
uns outros que estavam assistindo, garotos e garotas. – Pete! – eu gritei. – É
Wagner que vem vindo com umas 50 pessoas! – Merda! – respondeu Pete. – Oh,
merda – disse Lilly. Carequinha e eu desaparecemos. Saímos correndo pelo portão
até meio quarteirão de distâsncia. Olhamos pelo muro. Pete e Lilly não tiveram
chance alguma. [...]. Trechos extraídos da obra Misto quente (Brasiliense,
1984), do escritor
estadunidense nascido na Alemanha, Henry
Charles Bukowski Jr (1920-1994). Veja mais aqui, aqui e aqui.
DOIS POEMAS – Orgassema: de
semântica sêmea / se insinua o sêmen / na lacona lagoa lacunar / e da sádica
sede se ressente / o sentido / no sentido cunar. / se sádica ou sábia / quem o
saberá? / Se salubre salgado / o teu sabor a odre / é a onda do útero / é terra
que remorde / a espera de esperma / nas ásperas paredes. / e o significado vem
/ da fricção rítmica e formal / entre as mucosas rubras / do pênis, da vulva,
da boca / ou da anal. Mais difícil é falo: mais difícil é falo/ que
falá-lo / mais difícil é língua / do que lua / mais difícil é dado / do que
dá-lo / mais difícil vestida / do que nua / mais fácil é o aço / do que achá-la
/ mais fácil é dizê-la / que contê-la / mais fácil é mordê-la / que comê-la /
mais fácil é aberta / do que certa / nem difícil nem fácil / nem aó nem licor /
nem dito nem contacto / nem memória de cor / só mordido só tido / só moldado só
duro / só molhada de escuro / só louca de sentido / fácil de falá-lo / difícil
de contê-lo / o melhor é calá-lo / o melhor é fodê-lo. Poemas (Covilhã, 1932), do
escritor, ensaísta, artista plástico e engenheiro português E. M. de Melo e Castro (Ernesto
Manuel Geraldes de Melo e Castro ComIH).
OH! CALCUTTA! OH! CALCUTÁ!
A revista
teatral de vanguarda Oh! Calcutta!
(Oh! Calcutá! 1969) criada
pelo crítico de teatro britânico Kennet
Tynan, estreou na Broadway, consistinbdo de tópicos sobre sexo e assuntos
relacionados, tornando-se o espetáculo de revista mais longo na história. O
show provocou uma considerável controvérsia na época, porque ele apresentava
extensas cenas de nudez, tanto masculino e feminino. O título é retirado de uma
pintura Clovis Troiulle, por si só um trocadilho sobre "O quel'cul t
as!", francês para "Que bunda você tem!".
Veja mais:
Hoje PNE
é o outro, amanhã pode ser você, a poesia de Gregory Corso, a
música de Maria João Pires & a pintura de Yves Klein aqui.
Eu te
amo na Crônica de amor por ela, Darel Valença Lins, Laura Finocchiaro,
Adolfo Sánchez Vázquez, José Craveirinha, Calderón de la Barca, Alejandro
Amenábar, Nicole Kidman, Rogério
Manjate, A pequena sábia & Fátima Maia aqui.
A poesia
de João Cabral de Melo Neto aqui.
A
família, Entidade Familiar, Paternidade/Maternidade e as relações afetivas aqui.
Literatura
de Cordel, Mulher Escandinava, Shaktisangama, Etore Scola, Francisco Julião,
Sophia Loren, Jarbas Capusso Filho & Fetichismo aqui.
A teoria
de Erich Fromm & A dialética do concreto de Karel Kosik aqui.
&
A ARTE DE SOPHIE
SAINRAPT
A arte da
pintora, gravurista, desenhista e ceramista francesa Sophie
Sainrapt.