NO OLHO DO
FURACÃO - Imagem: arte da pintora, fotógrafa,
desenhista e artista visual Mônica
Rubinho. - Para onde voo ninguem vai nem quer ir, se já foram ou perderam a
viagem, acham de mim fugitivo do que não sei, ou desencaminhado. Vario minhas
buscas, sou muitos e nunca encontro o suposto perdido na demanda do sequer
achado, porque aprendi o que flui e permanece. Se só, pelo menos, desfruto acuado
a segurar a barra sem ser molestado por papos da crise forjada pelos desmandos de
necrófilos torturadores no ludíbrio do erário, regateando nossos cadáveres por
antecipação e coisas quetais quebrantadas na encheção de saco entre o relativo
e o contraditório na gravidez da madrugada prestes a parir o dia na minha
desordem, como se fosse uma montanha russa, a findar no abismo a me desintegrar
no olho do furacão quando sou equidade. Pelo discernimento rompo com o encanto
de sapo que há em mim por maldição, desde que usurparam meu principado. Se cruzo salteadores, ou se procuro e nunca
acho, sabe lá Deus, quem há-de, é porque adiante só ocorre quando nem querem mais,
destá, assim é a vida e voo na garupa dela como quem vai balanço das ancas da
mulher amada de olhos baixos pros ombros dos seios na alça da blusinha decotada
e eu espero ela voltar sempre sonsa na sua cancha varrendo a rua da minha
visão, olhos baixos, pele lisa palpitante e sei que é ela pelo trinco do
portão, arrancando mato da calçada, talos emergidos no asfalto, eu sei que é
ela abundante e sensual a me levar pra janela e meus olhos se enchem de
tentação, até vê-la dobrar reboladeira e provocante a esquina no final da rua e
espero que ela volte toda hora enquanto sai comendo caminho e eu na espera
fulminado ao desabrigo e a correr contra o tempo e ela não volta pra me fazer
feliz. Vivo nela e pra ela, meu acolhimento, dela cresço-me pro prazer. E sei
que o que me ensinaram era só canto de sereias frenéticas e sedutoras para que
eu perdesse o aqui e agora, só com lições a extorquir minhas ideias e servindo
apenas para as vésperas de então, ah, como fazem do pretérito o vivo e eu só
juntando as guardadas na gaveta no meio de outras tantas tranqueiras, fotografias,
boletos, canhotos e bilhetes dos amigos que não sei mais, mulheres que se
perderam da minha degradação. Tudo que me ensinaram de nada só pra servi-los e
o que não sabia era segredo e ao saber revelei a todos que pude, o propício e o
desfavorável, recompensas e castigos, o longe e perto, o expresso e recôndito, e
riram de mim, ah, que bom, ganhei sorrisos travestidos de chacotas e o espelho
se quebrou: eu não era mais como queriam. Tomei a mim mesmo e aprendi o que não
sabia e nunca me ensinaram. Com o tempo ganhei o menoscabo pelas costas e,
depois face a face, no canto dos lábios a certidão, nem aí, riem ao ver-me quem
sou, cada qual, sabedor do caroço que escondia o que não viam, eu sabia, mas
tanto faz saber ou não, viver é o que vale e a morte se completa com a vida
outra, porque apreendi a doutrina do coração pra alma revelada na desrazão,
fechei os olhos e o desmedido espaço atemporal aniquilou os ponteiros das
medidas e seleções distintas de um e de outro e de outrens no amálgama de tudo,
a comandar a mim próprio disciplinado pra descoberta do reino encantado de
todas as coisas. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais
aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de
especial com o cantor e compositor Geraldo Azevedo: Uma geral do Azevedo & Tributo ao Mestre
Dominguinhos; a poeta, cantora, compositora e artista plástica Airô Barros: Arribaça, Coisa simples e Senhor Baião &
muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte
Cidadã. Para
conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA - [...] o
ser no mundo [...] significa
[...] estar já sempre familiarizado com
uma totalidade de significados, com um contexto referencial [...] conformando-se também que qualquer ato de
conhecimento nada mais é que articulação, uma interpretação dessa familiaridade
preliminar do mundo [...]. Trecho extraído de O fim da modernidade: niilismo e hermenêutica na cultura pós-moderna
(Martins Fontes, 1996), do filósofo italiano Gianni Vattimo. Veja mais aqui.
CULTURA – […] A cultura
não é unicamente aquilo de que vivemos; ela também é, em grande medida, aquilo
para o que vivemos, significando afeto, relacionamento, memoria, parentesco,
lugar, comunidade, satisfação emocional, prazer intelectual, valores
compartilhados, e tudo que é humana construído, ao invés de naturalmente dado.
[...]. Trecho extraído da obra A ideia de
cultura (Unesp, 2008), do
filósofo e crítico literário britânico Terry
Eagleton. Veja mais aqui.
AGARRAR AS PALAVRAS & O VOCÁBULO - [...] Ainda não cortei a teia da própria vida
porqu me seguro nas palavras; o vocábulo é minha âncora. Não é bom viver tempo
todo à beira do precipício agarrando-se ao verbo. Vejo minha mãe dançando
sozinha na sala. [...]. Trecho da obra Minha
mãe se matou sem dizer adeus (Record, 2010), do escritor Evandro Affonso Ferreira.
DOIS POEMAS – SE UM FEITICEIRO MORRE: Se um feiticeiro
morre / o seu séquito de amantes, demônios, anjos caídos / gênios familiareas,
curvados sobre a poção elegíaca / que fermenta feita de frutas de significados
mágicos / colhidas ao som de palavras rituais com apelos ao morto. / Mulso
comerciável condimentado com os seus ricos despejos. / Como um aprendiz de
mago, um fimples familiar de familiar / à mãe o meu cabo de vassoura (ornado de
visco) / para os funerais de domingo / para cavalgar no cortejo, / para mexer
as carnes que cozinham ou para voar acordando. / Certamente esta endecha
perfeita sobre o morto / ávido tal o butio, / solitário tal o herão, com o
coração de phenix, / pulmões de gaivota, pulso de beija-flor, / asas de falcão
e língua de cotovia. / chantecler, cocoricou a sua própria despedida e
saudação. / E nem toda tinta e nem toda bebida e nem toda madeira de Wichita a Gales
/ valerá este galo. / A homenagem das nossas elegias assobia contra a noite /
que assoma de bem perto para comportá-lo pela primeira vez / desde a sua morte
e o nosso desconfortável repouso. / O rimar rugidor dos cantos deste muito
lamentado Merlin / em sua homenagem, seus e nossos. / E de Jericó os muros do
céu / com um grito de amor tal ressaca e explosão de flores. O LEITEIRO: A porta estava aferrolhada e as
janelas / do alpendre tinham continas / para evitar os intrusos. / A tela de
arame inoxidável peneirava os elementos. / De garganta ressequida sentei-me à
mesa ali / e como com mui casto apetite / maçães vermelhas cruas: o suco, a
carne, a casca e o miolo. / Era um meio dia calmo de verão enquanto almoçava ao
sol. / Estava aplacando minha sede com maçã saciando cuidado / quando de
repente senti um turbilhão de terror. / Logo, logo, tesa como um osso, /
atentei no passo do leiteiro. / Escutei-o bater macio da porta do seu grande
carro / e então suas botas aterravam no meu terreiro privado. / Tentei manter
meus olhos cravados na mesa / mas a sucção da apreensão mungia minha força. /
Por fim, subiu os degraus, chegou ao topo da escada / e ali estava de pé parado
frente á porta aferrolhada. / A cor do sol desmaiou / senti o horror da sua
quietude derreter-me / roubar-me de dentro de minhas meias e / atrair-me do meu
almoço para ele. / Sua mão agarrou o trinco como borracha. / Senti-me escorrer
contra a cortina / e sacudir a armação. / Tive de puxar o trinco; e então era o
assaltante no meu vestíbulo. / Respirava, sorrindo, a forma do medo. / O
leiteiro fez sua entrada: doador inexistente segurava nas mãos / manchadas de
branco o fruto estéril engarrafado / e deu-me, este apóstata, almoço fatal. /
Agora no inverno retirei-me do alpendre. / Para dentro da casa e as maçãs, /
antes rubras, apodrecem onde as deixei sobre a mesa. / Agora se minha garganta
anseia por fruta / o leiteiro tras um vaso para o meu desespero. Poemas da
poeta estadunidense Isabella Gardner (1840-1924).
QUERÔ
O drama Querô (2007), dirigido por Carlos
Cortez e baseado na obra do dramaturgo, escritor, jornalista e ator Plinio Marcos (1935-1999), conta a
história de um adolescente órfão de mão que morre ao se embrigar com querosene,
vive sozinho cometendo vários crimes menores, até
ser detido pela Febem. Na instituição, faz inimizades entre os guardas e entre
os delinquentes. Ao sair de lá, conhece Lica e se apaixona, mas não consegue
abandonar a vida de crimes. Destaque para atuação da atriz,
apresentadora de TV e diretora Maria
Luísa Mendonça. Veja mais aqui e aqui.
Veja mais:
Pra quem vem do lado de lá ou quem vem
do lado de cá ou vice-versa: cenário em ebulição, As
grandes iniciadas de Hélène Bernard, a música
de Arabella Steinbacher, a arte de Rubens Gerchman & Willem de Kooning
aqui.
É ela a
soberania do mar na foz do meu rio, a música de Marianna Leporace, a arte de
Naura Schneider & Luciah Lopez aqui.
A mulher
no cristianismo, Fernando Sabino, Francisco Mignone, Júlio
Bressane, a pianista Lilian Barreto, a poesia de Germana Zanettini, a história
de Teodora & Marózia, Rodrigo Luff, a arte das atrizes Adrienne Lecouvreur
& Bel Garcia, Manoela Afonso
& Relacionamentos pós-modernos aqui.
As
sombras de Gilvanícila, Rainer Werner Fassbinder, Ângelo
Cantú, The Dresden Dolls, Heloisa
& Abelardo, Barão de Itararé, Claudia Pastore, Rosel Zech, Demócrito
Borges & Isabela Morais aqui.
Fecamepa
& a arenga pela corrupção, Radamés Gnatalli, a literatura de Anton
Tchekhov & Germaine Greer, a neurocientista Linda Buck, Emmanuelle Seigner
& Clóvis Graciano aqui.
As duas
mortes de dona Zezé, Jacques-Antoine-Hyppolyte,
Jane Birkin, Rafael Hidalgo de Caviedes, Frances McDormand, Frank Miller, Violência contra a mulher, Diva Cunha, Regina
Souza Vieira & Deize Messias aqui.
A
primavera de Ginsberg, Frederick Chopin, a pintura de Karl Briullov, a pianista
Valentina Igoshina, o teatro de
Paula Vogel, o cinema de Jane Campion, a arte de Andréa Beltrão & Meg Ryan, Direitos Humanos, Cordel do
Professor & Mademoiselle Dubois aqui.
A teoria
interpessoal de Harry Arack Sullivan, Irina Costa, Danny Calixto,
Bernadethe Ribeiro, Daniella Alcarpe, Débora Ildêncio & Rose Garcia aqui.
Friedrich Schelling, Dante Alighieri, Lewis
Carroll, Djavan, Rosa Parks, Paula Rego, Fernando Fábio Fiorese Furtado, Carrie-Anne
Moss & Jaorish Gomes Telles aqui.
&
A ARTE DE VERONIQUE RADELET
A arte da artista plástica belga Veronique Radelet.