PINTANDO NA
PRAÇA - Manhã ensolarada de sábado, nuvens em
trânsito e chuva passageira para amainar o calor, olhares dispersos, muita
conversa, afagos, afetos, telas, sons e solidariedade. Gente de muito tempo aos
abraços e apertos de mãos se perdia entre esboços de mãos inquietas na
imageninação dos cavaletes. Gente da mais profunda estima, parceiros, amigos,
irmãos que são e outros que se achegam entte coqueiros, bancos, flores de
outubro, transeuntes que não sei. Gente que nunca vi por ali entre livros de
Hermilo, de Ascenso, de outros palmarenses de ontem e de hoje: livros da
Biblioteca que é minha e de todos. A praça estava em festa, trânsito de idas e
vindas. Ali acontecia o mundo margeado pelo comércio alheio, passos incertos
por direções opostas, passando, chegando e indo embora. Gente que ia e vinha,
algumas interrogativas com toda movimentação: que droga é nove? Gente curiosa
que queria saber o que era aquilo, ugnorando as doidices estranhas de outros
doidos que vão além de ver e passar, comprar e vender. Gente do passado
ressuscitada, gente que sequer poderia ser gente, gente que veio doutras
cidades e até de longe para bulir lindamente no coração, mas gente, muita
gente. No anfietatro eu me esgoelava no palco cantando das coisas coração:
Pirangi, Martelada, Nina do Ripe, Severina de Acioly, Nunca chore por mim e
Desejo. Saudava quem chegava, assistia a tudo, a arte, na verdade, estava da
outro lado, bem na minha frente: a arte na plateia. Pincéis, lápis, tintas,
espátulas, riscos, brebotes, garatujas, cores, contemplação, paisagens,
inspiração, estalos, transpiração. O Sol dava o tom do que fervia na cabeça de
pintores, desenhistas, faz de conta e tudo o mais. Linaldo fez festa com um
jeito todo seu de cantar e tocar. Depois chamou Marquinhos e fizeram um duo no
mormaço da manhã. O que antes indecifrável nos rascunhos das telas, agora
tomava corpo: dava pra se ter ideia o que queria dizer cada um dos artistas na
moldura da vida. Zé Ripe deu show com coro da plateia e aplausos muitos: coisas
da terra e de poesia que nem devia mais sair mais do palco. Pintou-se o sete e
o escambau por toda a manhã pra mais de meio dia, coisas e ideais: a vida
pintou na praça e a gente passou a viver mais. Parabéns Paulo Profeta. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais
com a música do cantor e compositor Vital Farias: Sagas
brasileiras, Taperoá & solo; da pianista Magda Tagliaferro (1893-1986):
Rosa Amarela, Saudade das selvas brasileiras & Impressões seresteiras,
todas de Heitor Villa-Lobos; do pianista Rogerio Tutti: Sonata ao
luar do sertão, Deep in your soul & Libertango de Astor Piazzolla; da
cantora Mônica Salmaso: Voadeira,
Iaiá & Noites de gala, samba na rua. Para conferir é só ligar o som e
curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] romance é
algo mais que uma sucessão de aventuras: é o testeminho trágico de um artista
diante do qual ruiiram os valores seguros de uma comundiade sagrada. [...] pavoroso processo de desmistificação do
mundo [...] Os homens escrevem
ficções porque estão encarnados, porque são imperfeitos. Um Deus não escreve
romances. Trechos extraídos da obra O
escritor e seus fantasmas (Companhia das Letras, 2003), do escritor e artista plástico argentino Ernesto Sábato (1911-2011). Veja mais
aqui e aqui.
Poema do dramaturgo, advogado, professor e poeta
palmarense Fenelon Barreto, em
placa na Praça Paulo Paranhos – Palmares - PE. Veja mais aqui e aqui.
DE SENTIR & VIVER - [...] – Que ventura!
= então disse ele, erguendo as mãos ao céu – que ventura podê-lo salvar! O homem
que assim falava era um pobre rapaz, que ao muito parecia contar vinte e cinco
anos,e que na franca expressão de sua fisionomia, deixava adivinhar toda a
nobreza de um coração bem formado. O sangue africano refervia-lhe nas veias; o
mísero ligava-se à odiosa cadeia da escravidão; e embalde o sangue ardente que
herdara de seus pais, e que o nosso clima e a servidão não puderam resfriar,
embalde – dissemos – se revoltava; porque se lhe erguia como barreira – o poder
do forte contra o fraco!... Ele entanto resignava-se; e se uma lágrima
desesperação lhe arrancava, escondia-a no fundo de sua miséria. [...]. Trecho
extraído da obra Úrsula (Presença/INL, 1988), da escritora Maria Firmina dos Reis (1825-1917), considerada a primeira
romancista brasileira.
Coqueiros no céu de Palmares: Praça Paulo Paranhos,
Palmares – PE.
MULHER
De ser não sei, na seriação dos seres,
Que mais preocupa e que se estuda tanto:
Alma, razão de agir, paixões, misteres,
A essência do teu riso e do teu pranto!
Magos, poetas, filósofos, no entanto,
Mergulhando-as na orgia dos prazeres,
Ou elevando nas palmas como a um santo,
- Controversos que são quanto às mulheres!
Dessas vacilações, desses enganos
Surge o dogma, imutável, transcendente
Que ao homem sagra “senhor” entre os humanos...
E o dono, e chefe, e rei – por que padeces,
Ó forte, ó sábio, e vives tão somente
Na razão desse mal que mal conheces?!
Poema extraído da obra Horas inúteis (Imprensa Oficial, 1960), da educadora, jornalista,
poeta e ativista feminina Edwiges de Sá
Pereira (1884-1958).
A poeta, artista visual & blogueira Luciah Lopez, participando
do evento Pintando na Praça – Palmares – PE. Veja mais aqui.
Veja mais:
&
ADMMAURO GOMES
Recepcionando o poeta e professor Admmauro Gommes na exposição do
projeto Pintando na Praça, na Biblioteca Fenelon Barreto, Palmares – PE. Veja mais aqui.