CARIJÓ, SÃO BENTO DO UNA – Imagem: Céu de São Bento do Una, de Renatinha @Renatalcaet – Carijó, meu
amigo, minhas mãos limpas e esta missiva: saudades de ontem, abraços de amanhã.
Eu, Jutaí meinino, vou mais longe qual anjo do quarto dia no açude Velho que
não viu o tempo passar: do Una a nossa comunhão na carreira da galinha, no
carnaval dos imigantes portugueses da festa Valença e a criação de galo:
cuidado com a cobra, sã0-betense! A gente só sente a picada de gente, coisa
mais sem graça. Meus pés inoculados dos venenos mundanos pisam pelo Planalto da
Borborema, mãos deitadas às sobrancelhas, estirando o cangote pra me livrar dos
embaraços: muxoxos dos parentes, trejeitos dos estranhos que brigam por
cacarecos, gente que só quer ser super-homem com seus super-poderes, gente que
pede, pede, pede, Deus nem atende, gente que faz de tudo e o vento carrega a
areia pro seu deserto, tudo uns chaleiras, remelentos arredios inescrupulosos,
juntando troços, trapos de coisa que só vale pra moda, depois nenhuma serventia.
Ninguém merece! Melhor o balanço e a curva dos quadris da morena sestrosa que
passa impune dos nossos desejos, eu vejo e sinto, a me contentar com tão pouco,
ninguém nasce pra viver na pobreza, a mulher é abundância, fartura de vida e as
minhas bagagens repletas de sentimentos solidários, amor pra dá e quanta
desventura! Eu vou. Por quê? Porque vou, porque sim, porque não, caramanchão, feliz
das trepadeiras pelos oitões, a brisa nas varandas, água de coco, sonbra e
água, a lembrar dos sítios do Serrote do Gado Brabo. Sou o que vai e volta, eterno
retorno como os pardais estão voltando e Alceu cantando bonito na minha solidão
que é um noturno sem música, neblinas e serenos na noite dos abraçados. Sou tão
estrangeiro quanto o espaço terrestre além dos cem, e vi Cecília entre leões e o
defunto aventureiro com o morcego cego: Morte ao invasor! A inocente farsa da
vingança ns olhos da treva & os emissários do diabo na rua padre Silva, nada,
é só quarta-feira de cinzas na Matriz do Bom Jesus. Ah, quem me dera, Carijó,
sonhar entre as águas desse rio que nasci e vou daí, de Capeiras, melhor
dizendo, por aí até a várzea que vai dar no mar. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO
TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio
Tataritaritatá especiais com a música do compositor, arranjador e maestro Rogério
Duprat (1932-2006): The Brazilian Suite, Nhô Look & Brasil com S; da
cantora, violonista e compositora Rosa Passos: Romance, Festival Jazz
Vitória-Gasteiz & Live at Jazz Lincoln Center; da banda britânica formada
por Roland Orzabal & Curt Smith, Tears for Fears: Tears roll down &
Going to California; e da cantora e compositora Liah Soares: Quatro Cantos
& Sere Nere. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Partindo
de uma concepção de vida denominada por um relativismo geral e pela dúvida
universal em relação a tudo que possa ligar a conduta humana aos fins e aos
valores mais elevados que os interesses do próprio individuo, - o que resulta,
em última análise, é a arte de ter êxito no mundo. [...]. Pensamento
extraído da obra A filosofia moral
(Agir, 1964), do filosofo francês Jacques
Maritain (1882-1972).
COMPETIÇÃO
Os garotos, os cães, os urubus
Guerreiam em torno do esplendor do lixo.
Não, não fui eu que vi. Foi o Ministro do Interior.
Fabulário Nacional extraído da obra Corpo: novos poemas (Record, 1984), do poeta,
contista e cronista Carlos Drummond de
Andrade (1902-1987). Veja mais aqui, aqui & aqui.
CRIME PASSIONAL – Processo-crime
09 – Réu: Antonio Matias Marques. Vítima: Francisco José da Silva. Antonio
Matias morava no sitio Tatu. No dia 14 de setembro de 1877, ao retornar, noite
alta, de uma viagem ao povoado de Canhotinho, encontra sua mulher a dormir com
um estranho na cama do casal. [...] que
passando em casa dele testemunha no dia quatorze do corrente, pelas dez horas
da noite, pouco mais ou menos, vindo de uma viagem a Canhotinho, Antônio Matias
Marques, e dali depois de cear, seguiu dito Marques para casa de sua
residência, no lugar Tatu, e batendo á porta e chamando pela mulher, ninguém
lhe falou; então dito Marques furou a parede e abriu a porta; entrando no
quarto, encontrou sua mulher deitada com Francisco José da Silva, ambos
dormindo, e estando este nu ali, Marques lançou mão de uma espingarda do mesmo
Francisco José da Silva, que ali estava encostada e disparou-a no infeliz
Francisco, dando depois com a mesma arma diversas pancadas; e isto sabe por lhe
haver dito o mesmo Marques, logo depois de haver praticado o fato, indo à casa
dele testemunha, entregar-lhe uma chave para dar a Martinho, dono da casa em
que ele morava, visto como tinha em um dos quartos da mesma casa uns objetos
pertencentes ao dito Martinho, assim como entregara a ele testemunha os filhos
para mandá-los levar à avó, e no mesmo ato saíra ele testemunha com pessoas de
sua casa, em direção à casa do Marques, para ver se com efeito era certa aquela
história que ele contava, e prestar algum socorro ao ferido; encontrou o mesmo
ferido, prostrado sobre a cama, deitando sangue, ainda depsido de toda a roupa,
a mulher de Maques sentada na mesma cama, e uma menina nos pés da cama, sendo
que a chave que lhe entregara Marques, era da porta do quarto onde estava
Francisco José da Silva ferido e entregara a dita chave a ele testemunha [...].
Como se vê, o gesto de Marques fora de
previdência e sabedoria. Usando de cautela, conforme se depreende do depoimento
transcrito, conseguira ele valioso testemunho para o flagrante de adultério da
esposa, fato de decisiva importância quando tivesse de ser julgado pelo júri. [...]
Denunciado no dia 1º de outubro de 1877,
pelo Adjunto de Promotor, Cândido Américo Galvão, somente em 22 de novembro foi
o réu pronunciado incurso no art. 193 do Código Criminal. O libelo foi
oferecido em 11 de outubro de 1878, insistindo a promotoria nas sanções penais
citadas. Entrega-se o réu à prisão em 15de outubro de 1866, nove anos após a
execução do delito, sendo-lhe designado o dia 12 de novmebro para comparecer à
sessão do júri. Submetido a julgamento, Antonio Matias é unanimemente absolvodp
pelos juízes de fato, passando-se-lhe, incontinenti, o alvará de soltura. O
júri lhe fora sensível à causa, na opinião geral, considerada simpática,
segundo os autos. Trechos extraídos da obra Inocentes e culpados do Tribunal de Juri de São Bento: síntese
histórica do homicídio 1818-1930 (CEHM, 1986), de Sebastião Soares Cintra
que, em nota introdutória, assinala que [...] De 1818 a 1930, - segundo os arquivos remanescentes na Comarca -,
verificaram-se 84 homicidios na jurisdição de São Bento [...] Resta-nos aos são=bentenses a esperança de
que esse quadro possa regredir, pela evolução moral dos filhos desta terra [...]
Derivativo dos sentimentos inferiores da
índole humana, ou objeto de resgate dos antaganismos exacerbados, o homicídio
persistirá até que se atinha o sonhado estágio social de preponderância do homo
morabilis, isto é, do homem “maduro e imputável”. Na apresentação do livro,
o historiador, jornalista, lexicógrafo, pesquisador e compositor Nelson Barbalho (1918-1993), assevera
que: [...] O material colhido e
apresentado no livro finda em 1930 e entremostra-se espantosamente rico de
atrocidades e barbarismos levados às raias da loucura e de homicídios puros e
simples em numero de 84 durante pouco mais de um século. E depois? [...] Tudo caminha para pior, por conseguinte, e a
“civilização” branca e cristã, aqui nas plagas nordestinas, é embromação para
inglês ver, tema para debates cretinos na TV, assunto para sermões de padres
pançudos e comedores de beatas safadas – pura demagogia e nada mais. A vida é
cruel e triste; e o robusto livro de Sebastião Soares Cintra o diz bem melhor
que minhas pobres e desenxabidas palavras. Veja mais aqui.
A ETERNIDADE
De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.
Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.
Das lides humanas,
Das palmas e vaias,
Já te desenganas
E no ar te espraias.
De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.
Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.
De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.
Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.
Das lides humanas,
Das palmas e vaias,
Já te desenganas
E no ar te espraias.
De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.
Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.
De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai.
Poema
extraído da obra Rimbaud Livre
(Perspectiva, 1993), do poeta Arthur Rimbaud (1854-1891). Veja mais aqui, aqui &
aqui.
O ANJO DO QUARTO DIA - Estranho
ela achava; que ninguem a chamasse num grito? Ana! Apelo, procura: Ana! Que seu
nome não ecoasse modulado pelas enconstas das serras, não vibrasse ao saber dos
ventos: Aaaaaaaana! Que o solo do Grotão, sentindo-lhe os pés, o peso do corpo;
que as árvores do Grotão, olhando-a de oonge; que os ares do Grotão,
envolvendo-a, desconhecessem a invocação de seu nome. Mesmo quando lhe era
permitido afastar-se mais um pouco à procura dum pau de lenha, duma erva para o
chá, dum ninho de galinha, sabia que sua presença não seria reclamada, tampouco
no desespero dum grito. Não era estranho? Somente por extrema necessidade, em
algum sábado, de madrugada, deixava o Grotão, sua asinha lá entre serrotes,
matolão nas costas, cheio o matolão. Isso quando o enchia. Às vezes mais de mês
para enchê-lo. Renda de bilros, bruxas de pano, tatuzinhos esculpidos na
madeira de imburana, tão bem feitinhos, serviam de paliteiros; galinhos,
peruzinhos revestidos de penas verdadeiras, para enfeite de mesa. Tudo do seu
trabalho, de sua jabilidade, sem ninguém, ter ensinado ela fazia, desde
mocinha. Era uma artista com os dedos, a paciência de artesã solitária, o poder
de botar nas coisas em que pegava uma parecença de vida, de objeto requerendo
muito amor e carinho. [...]. Trecho extraído da obra O anjo do quarto dia (Globo, 1987), do escritor Gilvan Lemos (1928-2015),
que na obra Neblinas e serenos
(Bagaço, 1994), narra: [...] À noite
perdia o sono, chorava por ele. Seu outro menino estava doente. Doente de uma
doença para a qual o chá de cidreira não servia. Nem essência de cravo nem a
lama de pote nem o emplastro de pirão de farinha. Nem ao menos sua presença ao
lado da cama, alisando-lhe a testa. [...]. Veja mais aqui, aqui & aqui.
POR QUE ESCREVO
Escrevo.
E pronto. Escrevo porque preciso, preciso porque estou tonto. Ninguém tem nada
com isso. Escrevo porque amanhece. E as estrelas lá no céu lembram letras no
papel quando o poema me anoitece. A aranha tece teias. O peixe beija e morde o
que vê. Eu escrevo apenas. Tem que ter por quê?
Razão de ser, do
escritor, critico literário, tradutor e professor Paulo Leminski
(1944-1989). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
Veja mais:
&
ARTE & ENTREVISTA DE GENÉSIO CAVALCANTI
Depois do
lançamento de diversos livros de poesias, músicas em vários CDs, dois DVDs &
realizar recitais e apresentações em diversas localidades, o poeta Genésio
Cavalcanti concede entrevista exclusiva pra gente, falando de sua vida,
sonhos, realizações, projetos & trabalhos. Confira a entrevista completa aqui.
A ARTE DE JACOB DHEIN
A arte do artista plástico estadunidense Jacob Dhein.