sexta-feira, outubro 20, 2017

DRUMMOND, RIMBAUD, LEMINSKI, MARITAIN, GILVAN LEMOS, JACOB DHEIN, GENÉSIO CAVALCANTI, CARIJÓ & SÃO BENTO DO UNA

CARIJÓ, SÃO BENTO DO UNA – Imagem: Céu de São Bento do Una, de Renatinha @Renatalcaet – Carijó, meu amigo, minhas mãos limpas e esta missiva: saudades de ontem, abraços de amanhã. Eu, Jutaí meinino, vou mais longe qual anjo do quarto dia no açude Velho que não viu o tempo passar: do Una a nossa comunhão na carreira da galinha, no carnaval dos imigantes portugueses da festa Valença e a criação de galo: cuidado com a cobra, sã0-betense! A gente só sente a picada de gente, coisa mais sem graça. Meus pés inoculados dos venenos mundanos pisam pelo Planalto da Borborema, mãos deitadas às sobrancelhas, estirando o cangote pra me livrar dos embaraços: muxoxos dos parentes, trejeitos dos estranhos que brigam por cacarecos, gente que só quer ser super-homem com seus super-poderes, gente que pede, pede, pede, Deus nem atende, gente que faz de tudo e o vento carrega a areia pro seu deserto, tudo uns chaleiras, remelentos arredios inescrupulosos, juntando troços, trapos de coisa que só vale pra moda, depois nenhuma serventia. Ninguém merece! Melhor o balanço e a curva dos quadris da morena sestrosa que passa impune dos nossos desejos, eu vejo e sinto, a me contentar com tão pouco, ninguém nasce pra viver na pobreza, a mulher é abundância, fartura de vida e as minhas bagagens repletas de sentimentos solidários, amor pra dá e quanta desventura! Eu vou. Por quê? Porque vou, porque sim, porque não, caramanchão, feliz das trepadeiras pelos oitões, a brisa nas varandas, água de coco, sonbra e água, a lembrar dos sítios do Serrote do Gado Brabo. Sou o que vai e volta, eterno retorno como os pardais estão voltando e Alceu cantando bonito na minha solidão que é um noturno sem música, neblinas e serenos na noite dos abraçados. Sou tão estrangeiro quanto o espaço terrestre além dos cem, e vi Cecília entre leões e o defunto aventureiro com o morcego cego: Morte ao invasor! A inocente farsa da vingança ns olhos da treva & os emissários do diabo na rua padre Silva, nada, é só quarta-feira de cinzas na Matriz do Bom Jesus. Ah, quem me dera, Carijó, sonhar entre as águas desse rio que nasci e vou daí, de Capeiras, melhor dizendo, por aí até a várzea que vai dar no mar. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com a música do compositor, arranjador e maestro Rogério Duprat (1932-2006): The Brazilian Suite, Nhô Look & Brasil com S; da cantora, violonista e compositora Rosa Passos: Romance, Festival Jazz Vitória-Gasteiz & Live at Jazz Lincoln Center; da banda britânica formada por Roland Orzabal & Curt Smith, Tears for Fears: Tears roll down & Going to California; e da cantora e compositora Liah Soares: Quatro Cantos & Sere Nere. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Partindo de uma concepção de vida denominada por um relativismo geral e pela dúvida universal em relação a tudo que possa ligar a conduta humana aos fins e aos valores mais elevados que os interesses do próprio individuo, - o que resulta, em última análise, é a arte de ter êxito no mundo. [...]. Pensamento extraído da obra A filosofia moral (Agir, 1964), do filosofo francês Jacques Maritain (1882-1972).

COMPETIÇÃO
Os garotos, os cães, os urubus
Guerreiam em torno do esplendor do lixo.
Não, não fui eu que vi. Foi o Ministro do Interior.
Fabulário Nacional extraído da obra Corpo: novos poemas (Record, 1984), do poeta, contista e cronista Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Veja mais aqui, aqui & aqui.

CRIME PASSIONALProcesso-crime 09 – Réu: Antonio Matias Marques. Vítima: Francisco José da Silva. Antonio Matias morava no sitio Tatu. No dia 14 de setembro de 1877, ao retornar, noite alta, de uma viagem ao povoado de Canhotinho, encontra sua mulher a dormir com um estranho na cama do casal. [...] que passando em casa dele testemunha no dia quatorze do corrente, pelas dez horas da noite, pouco mais ou menos, vindo de uma viagem a Canhotinho, Antônio Matias Marques, e dali depois de cear, seguiu dito Marques para casa de sua residência, no lugar Tatu, e batendo á porta e chamando pela mulher, ninguém lhe falou; então dito Marques furou a parede e abriu a porta; entrando no quarto, encontrou sua mulher deitada com Francisco José da Silva, ambos dormindo, e estando este nu ali, Marques lançou mão de uma espingarda do mesmo Francisco José da Silva, que ali estava encostada e disparou-a no infeliz Francisco, dando depois com a mesma arma diversas pancadas; e isto sabe por lhe haver dito o mesmo Marques, logo depois de haver praticado o fato, indo à casa dele testemunha, entregar-lhe uma chave para dar a Martinho, dono da casa em que ele morava, visto como tinha em um dos quartos da mesma casa uns objetos pertencentes ao dito Martinho, assim como entregara a ele testemunha os filhos para mandá-los levar à avó, e no mesmo ato saíra ele testemunha com pessoas de sua casa, em direção à casa do Marques, para ver se com efeito era certa aquela história que ele contava, e prestar algum socorro ao ferido; encontrou o mesmo ferido, prostrado sobre a cama, deitando sangue, ainda depsido de toda a roupa, a mulher de Maques sentada na mesma cama, e uma menina nos pés da cama, sendo que a chave que lhe entregara Marques, era da porta do quarto onde estava Francisco José da Silva ferido e entregara a dita chave a ele testemunha [...]. Como se vê, o gesto de Marques fora de previdência e sabedoria. Usando de cautela, conforme se depreende do depoimento transcrito, conseguira ele valioso testemunho para o flagrante de adultério da esposa, fato de decisiva importância quando tivesse de ser julgado pelo júri. [...] Denunciado no dia 1º de outubro de 1877, pelo Adjunto de Promotor, Cândido Américo Galvão, somente em 22 de novembro foi o réu pronunciado incurso no art. 193 do Código Criminal. O libelo foi oferecido em 11 de outubro de 1878, insistindo a promotoria nas sanções penais citadas. Entrega-se o réu à prisão em 15de outubro de 1866, nove anos após a execução do delito, sendo-lhe designado o dia 12 de novmebro para comparecer à sessão do júri. Submetido a julgamento, Antonio Matias é unanimemente absolvodp pelos juízes de fato, passando-se-lhe, incontinenti, o alvará de soltura. O júri lhe fora sensível à causa, na opinião geral, considerada simpática, segundo os autos. Trechos extraídos da obra Inocentes e culpados do Tribunal de Juri de São Bento: síntese histórica do homicídio 1818-1930 (CEHM, 1986), de Sebastião Soares Cintra que, em nota introdutória, assinala que [...] De 1818 a 1930, - segundo os arquivos remanescentes na Comarca -, verificaram-se 84 homicidios na jurisdição de São Bento [...] Resta-nos aos são=bentenses a esperança de que esse quadro possa regredir, pela evolução moral dos filhos desta terra [...] Derivativo dos sentimentos inferiores da índole humana, ou objeto de resgate dos antaganismos exacerbados, o homicídio persistirá até que se atinha o sonhado estágio social de preponderância do homo morabilis, isto é, do homem “maduro e imputável”. Na apresentação do livro, o historiador, jornalista, lexicógrafo, pesquisador e compositor Nelson Barbalho (1918-1993), assevera que: [...] O material colhido e apresentado no livro finda em 1930 e entremostra-se espantosamente rico de atrocidades e barbarismos levados às raias da loucura e de homicídios puros e simples em numero de 84 durante pouco mais de um século. E depois? [...] Tudo caminha para pior, por conseguinte, e a “civilização” branca e cristã, aqui nas plagas nordestinas, é embromação para inglês ver, tema para debates cretinos na TV, assunto para sermões de padres pançudos e comedores de beatas safadas – pura demagogia e nada mais. A vida é cruel e triste; e o robusto livro de Sebastião Soares Cintra o diz bem melhor que minhas pobres e desenxabidas palavras. Veja mais aqui.

A ETERNIDADE
De novo me invade.
Quem? A Eternidade.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.
Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.
Das lides humanas,
Das palmas e vaias,
Já te desenganas
E no ar te espraias.
De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.
Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.
De novo me invade.
Quem?
A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai
.
Poema extraído da obra Rimbaud Livre (Perspectiva, 1993), do poeta Arthur Rimbaud (1854-1891). Veja mais aqui, aqui & aqui.

O ANJO DO QUARTO DIA - Estranho ela achava; que ninguem a chamasse num grito? Ana! Apelo, procura: Ana! Que seu nome não ecoasse modulado pelas enconstas das serras, não vibrasse ao saber dos ventos: Aaaaaaaana! Que o solo do Grotão, sentindo-lhe os pés, o peso do corpo; que as árvores do Grotão, olhando-a de oonge; que os ares do Grotão, envolvendo-a, desconhecessem a invocação de seu nome. Mesmo quando lhe era permitido afastar-se mais um pouco à procura dum pau de lenha, duma erva para o chá, dum ninho de galinha, sabia que sua presença não seria reclamada, tampouco no desespero dum grito. Não era estranho? Somente por extrema necessidade, em algum sábado, de madrugada, deixava o Grotão, sua asinha lá entre serrotes, matolão nas costas, cheio o matolão. Isso quando o enchia. Às vezes mais de mês para enchê-lo. Renda de bilros, bruxas de pano, tatuzinhos esculpidos na madeira de imburana, tão bem feitinhos, serviam de paliteiros; galinhos, peruzinhos revestidos de penas verdadeiras, para enfeite de mesa. Tudo do seu trabalho, de sua jabilidade, sem ninguém, ter ensinado ela fazia, desde mocinha. Era uma artista com os dedos, a paciência de artesã solitária, o poder de botar nas coisas em que pegava uma parecença de vida, de objeto requerendo muito amor e carinho. [...]. Trecho extraído da obra O anjo do quarto dia (Globo, 1987), do escritor Gilvan Lemos (1928-2015), que na obra Neblinas e serenos (Bagaço, 1994), narra: [...] À noite perdia o sono, chorava por ele. Seu outro menino estava doente. Doente de uma doença para a qual o chá de cidreira não servia. Nem essência de cravo nem a lama de pote nem o emplastro de pirão de farinha. Nem ao menos sua presença ao lado da cama, alisando-lhe a testa. [...]. Veja mais aqui, aqui & aqui.

POR QUE ESCREVO
Escrevo. E pronto. Escrevo porque preciso, preciso porque estou tonto. Ninguém tem nada com isso. Escrevo porque amanhece. E as estrelas lá no céu lembram letras no papel quando o poema me anoitece. A aranha tece teias. O peixe beija e morde o que vê. Eu escrevo apenas. Tem que ter por quê?
Razão de ser, do escritor, critico literário, tradutor e professor Paulo Leminski (1944-1989). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

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ARTE & ENTREVISTA DE GENÉSIO CAVALCANTI
Depois do lançamento de diversos livros de poesias, músicas em vários CDs, dois DVDs & realizar recitais e apresentações em diversas localidades, o poeta Genésio Cavalcanti concede entrevista exclusiva pra gente, falando de sua vida, sonhos, realizações, projetos & trabalhos. Confira a entrevista completa aqui.

A ARTE DE JACOB DHEIN
A arte do artista plástico estadunidense Jacob Dhein.