INEDITORIAL: NO REINO DA COMPETIÇÃO TODO MUNDO
TEM DE SER SUPER-HOMEM – O SER HUMANO NÃO É NADA! A banalização
da vida chegou ao cúmulo do ser humano não valer nada! A ordem é competir e
todo mundo virar super-homem! E esse super-herói é um erro de interpretação do
além-do-homem nietzscheano. Ah, equívocos sobram! E tudo isso remete a uma
outra chamada daquelas do Nélson Rodrigues de Bonitinha, mas ordinária: - O mineiro só é solidário no câncer!
Valha-me! E ainda elegem a educação como a panacéia para todos os males – ô bocado
de gente mal-educada! Mas vamos pras novidades que de notícia ruim basta a
gente ler qualquer jornal ou sintonizar qualquer emissora de rádio ou televisão:
vai gostar de espetacularizar a desgraça na casa de caixa pregos, meu! Vamos
lá: Na edição de hoje as novidades são: a croniqueta com a primeira paixão de
Ximênia, a prinspa do Coité; a música de Ernesto Nazareth na interpretação da
pianista Maria Teresa Madeira, a crise da educação de Hannah Arendt, o livro
Shiva de Yehoshua, aprender suportando o equívoco da psicóloga Clemencia Baraldi,
As
causas da pobreza de Simon
Schwatzman, outro trecho da gaia ciência de Nietzsche, a pintura de Arturo
Souto e a sonata pictórica de Konstantinas Ciurlionis. No mais, um
maravilhoso final de semana procês, vamos aprumar a conversa &
Tataritaritatá. Veja mais aqui.
Veja mais sobre
O papel da arte no direito à saúde, Hannah Arendt & O cuidado com o
mundo, Francis Scott Fitzgerald, Wolfgang Amadeus Mozart, Gilberto
Mendonça Teles, Pedro Almodóvar, Claudia Riccitelli, Gilda de Abreu, Victoria
Abril, Suzanne Valadon, Arlindo Rocha & Literatura Infantil aqui.
E mais:
Presente de
Natal, Agostino Carracci, Pal
Fried & as previsões do Doro aqui.
Rūmī, Margaret Mead, Martin Page, Tori Amos, Nanni Moretti, Arthur Omar, Pierre Puvis de Chavannes, Laura Morante &
Jeová Santana aqui.
O evangelho do
Padre Bidião, Edmund
Husserl, Dalton Trevisan, Caio
Fernando Abreu, Obviedades Cínicas, Carl
Sandburg, Zé Barbeiro, Anne Desclos, Pilar
Quintana, Corinne Cléry, Ignacio Zuloaga Zabaleta & Ísis Nefelibata aqui.
O toco do
Barnabé,
Mario de Andrade, Franz
Hartmann, Roger Chartier, Felipe Coelho, Rosi
Campos, Laetitia Colombani, Albert
Arthur Allen, Audrey
Tautou, Anna Rose
Bain & Helena Ferreira aqui.
DESTAQUE: POBREZA
[...] as causas da pobreza não
podiam ser individuais, mas estruturais: a exploração do trabalho pelo capital,
o poder das elites que parasitavam o trabalho alheio e saqueavam os recursos
públicos, e a alienação das pessoas, criada pelo sistema de exploração, que
impedia que elas tivessem consciência de seus próprios problemas e necessidades. [...] Não há solução em curto
prazo para os problemas da pobreza no Brasil. Para que a pobreza seja vencida,
é necessário vontade política e compromisso com os valores da igualdade social
e dos direitos humanos; uma política econômica adequada, que gere recursos; um
setor público eficiente, competente responsável no uso dos recursos que recebe
da sociedade; e políticas específicas na área da educação, da saúde, do
trabalho, da proteção à infância, e do combate à discriminação social, e
outras. Tudo isto é fácil de dizer, e dificílimo de fazer. A construção de uma
sociedade competente, responsável, comprometida os valores de equidade de
justiça social, e que não caia na tentação fácil do populismo e do messianismo
político, é uma tarefa de longo prazo, e que pode não chegar a bom termo. Mas
não há outro caminho a seguir, a não ser este.
Trecho extraído da obra As causas da pobreza (FGV, 2001), do
sociólogo Simon Schwatzman. Veja
mais aqui e aqui.
A PRIMEIRA PAIXÃO DE XIMÊNIA - Ximênia passou
de menina à moça de quase ninguém notar a transformação. Oxe, ainda ontem era
destamaínho, chamego de todo mundo. Tida sempre como a queridinha de todos
dali, ela já debutava com uma formosura de encher todos os olhos. Estava moça
feita aos quinze anos de idade. Os seios emergiram de fazer ponta no vestido de
chita: dois faróis que boliam com o juízo de muitos marmanjos. As pernas e
coxas torneadas e roliças mostravam-se salientes por seu infantil jeito de
brincalhona, nem dando conta do vento que lhe levantava as saias, a ponto de
ver-se o ventre estufado na calcinha apertada coladinha nas suas formas. Até o
vento fazia festa, parece. Era um vexame pros que procuravam uma grota que
fosse para saciar nas mãos aquela provocação. Aquilo era uma perdição, diziam.
Um dia toda macharia entristeceu quando ela começou a suspirar por Marlúcio, o galante
filho do coronel que passava vez em quando por ali, resolvendo providências de
recrutar capatazes pra fazenda. Toda vez que ele apontava na entrada do
arruado, ela se desmanchava com olhares apaixonados, jeito manso, derretida de
paixão. Ele, nem nem. Ela não se continha e começava a correr pelo arruado na
esperança de que ele lhe desse pelo menos um olhar. E recorria pra Santo
Antonio com orações infindas, donativos e devoções. Cada aparição dele, ela se
enchia de grandeza. Ele, nem aí. Se viu, fez que não viu, zarpava tão logo
resolvesse suas pendências. Noites e dias ela apelava pra todos os santos e
anjos, sonhando naquele tórax e envolvida por seus braços másculos, dando-lhe o
prazer de ser dele. Anos passavam e ela alimentando aquela paixão desmedida por
seu príncipe encantado. Teve um baque e nem se desiludiu quando soube que ele
fora pra capital fazer faculdade, um dia ele reapareceria. Nunca mais. Quando reapareceu
estava casado com granfina e filhos. E ela guardara aquela paixão escondida,
guardada no mais profundo do seu coração e para sempre. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
UMA MÚSICA
Curtindo os
álbuns Ernesto Nazareth & Ernesto Nazareth – Grandes Mestres, da
pianista Maria Teresa Madeira, em
homenagem ao pianista e compositor Ernesto
Nazareth (1863-1934). Veja mais aqui.
PESQUISA: A CRISE DA EDUCAÇÃO - [...] O papel desempenhado
pela educação em todas as utopias políticas, desde a Antiguidade até aos nossos
dias, mostra bem como pode parecer natural querer começar um mundo novo com
aqueles que são novos por nascimento e por natureza. No que diz respeito à
política há aqui, obviamente, uma grave incompreensão: em vez de um indivíduo
se juntar aos seus semelhantes assumindo o esforço de os persuadir e correndo o
risco de falhar, opta por uma intervenção ditatorial, baseada na superioridade do adulto, procurando
produzir o novo como um fait accompli, quer dizer, como se o novo já existisse.
[...]
Ora, a educação não pode desempenhar nenhum papel
na política porque na política se lida sempre com pessoas já educadas. Aqueles
que se propõem educar adultos, o que realmente pretendem é agir como seus
guardiões e afastá-los da atividade política. Como não é possível educar
adultos, a palavra «educação» tem uma ressonância perversa em política — há uma
pretensão de educação quando, afinal, o propósito real é a coerção sem uso da
força. Quem quiser seriamente criar uma nova ordem política através da
educação, quer dizer, sem usar nem a força e o constrangimento nem a persuasão,
tem que aderir à terrível conclusão platônica: banir todos os velhos do novo
estado a fundar. Mesmo no caso em que se pretendem educar as crianças para
virem a ser cidadãos de um amanhã utópico, o que efetivamente se passa é que se
lhes está a negar o seu papel futuro no corpo político pois que, do ponto de
vista dos novos, por mais novidades que o mundo adulto lhes possa propor, elas
serão sempre mais velhas que eles próprios. Faz parte da natureza da condição
humana que cada nova geração cresça no interior de um mundo velho, de tal forma
que, preparar uma nova geração para um mundo novo, só pode significar que se deseja
recusar àqueles que chegam de novo a sua própria possibilidade de inovar. [...] Ora, no que diz respeito
à educação ela mesma, só no nosso século é que a ilusão emergente do pathos do
novo produziu as suas mais sérias consequências. Em primeiro lugar, permitiu
que essa mistura de modernas teorias educativas provenientes da Europa Central,
e que consiste numa espantosa salganhada de coisas com sentido e sem sentido, revolucionasse
todo o sistema de educação sob a bandeira do progresso. Aquilo que na Europa
não passou de uma experiência, testada aqui e além, em algumas escolas e instituições
educativas isoladas, estendendo depois, gradualmente, a sua influência a alguns
setores, produziu na América, de há cerca de vinte e cinco anos a esta parte e,
por assim dizer, de um dia para o outro, uma transformação completa no que diz
respeito às tradições e aos métodos estabelecidos de ensino e de aprendizagem.
[...]. Trecho do ensaio A crise da
educação, extraído da obra Entre o passado e o futuro (Perspectiva, 2005), filósofa política alemã de origem judaica
Hannah Arendt (1906-1975). Veja mais
aqui, aqui, aqui e aqui.
UM LIVRO, UMA LEITURA:
[...] Ele recebe a criança com uma expressão
luminosa, tanto que se pode presumir ter deixado para trás seus dias de
insanidade e abandonado a teimosia de que o globo terrestre permanece estático
no lugar, que cada hora encerra-se em si mesmo, e nada jamais se perde no
universo. [...].
Trecho extraído
da obra Shiva (Companhia das Letras,
2001), do escritor, ensaísta e dramaturgo israelense Abraham B. Yehoshua, contando a história de um jovem médico que
sofre uma grande uma transformação na vida ao viajar para a Índia, dilacerado
por um amor impossível e uma carreira oscilante, passando a percorrer caminhos
que tornam sua vida com outros significados.
PENSAMENTO DO DIA: APRENDER E SUPORTAR O
EQUÍVOCO – [...]
O erro e sua correção
são um dos temas em que o discurso pedagógico mostra maiores contradições. Esta
questão surge fundamentalmente do conceito de quem “corrige” sobre aquilo que
se corrige, por que e como sendo a primeira das questões: o que se corrige? [...].
Trecho extraído da obra Aprender: a
aventura de suportar o equívoco (Vozes, 1994), da psicóloga, psicopedagoga
e psicoanalista argentina, Clemencia
Baraldi, observando que o mal denominando erro, evidencia a originalidade e
a particularidade do pensamento infantil por estar muito além ou distante dos
modelos de pensamento que o adulto oferece, uma vez que o pensamento de cada
criança releva com a mesma quando está raciocinando, expondo as suas idéias
através das escritas, por seu pensamento ser natural, próprio de cada uma. Para
a autora, é delicado para o educador exterminar da sua prática pedagógica o
erro no ato em que se corrige, tendo em vista para que o aluno exponha suas
idéias ou como ele está se raciocinando naquele momento, não poderia ser
considerado como tal.
A GAIA CIÊNCIA
[...] Não esqueçamos disto: basta criar novos
nomes e estimativas e verossimilhanças para, a longo prazo, criar novas
“coisas”. [...] olhando-nos de longe e de cima e, de uma
distância artística, rindo sobre nós ou chorando sobre nós, temos de descobrir
o heroi, assim como o parvo, que reside em nossa paixão do conhecimento, temos
de alegrar-nos vez por outra com nossa tolice, para podermos continuar alegres
com nossa sabedoria! [...] somos mais
pesos do que homens [...].
Trechos extraídos do Livro II, da obra A gaia ciência (Companhia das Letras,
2012), do filósofo alemão Friedrich
Nietzsche (1844-1900). Veja mais aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Female nude, do
pintor galego pós-impressionista Arturo
Souto (1902-1964).
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra com a Sonata VI, do pintor e compositor lituano Mikalojus
Konstantinas Ciurlionis (1875-1911).
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.