sábado, setembro 24, 2016

ABRAHAM YEHOSHUA, HANNAH ARENDT, NIETZSCHE, SCHWATZMAN, CLEMENCIA BARALDI, ERNESTO NAZARETH & MARIA TERESA MADEIRA, ARTURO SOUTO, CIURLIONIS & POBREZA


INEDITORIAL: NO REINO DA COMPETIÇÃO TODO MUNDO TEM DE SER SUPER-HOMEM – O SER HUMANO NÃO É NADA! A banalização da vida chegou ao cúmulo do ser humano não valer nada! A ordem é competir e todo mundo virar super-homem! E esse super-herói é um erro de interpretação do além-do-homem nietzscheano. Ah, equívocos sobram! E tudo isso remete a uma outra chamada daquelas do Nélson Rodrigues de Bonitinha, mas ordinária: - O mineiro só é solidário no câncer! Valha-me! E ainda elegem a educação como a panacéia para todos os males – ô bocado de gente mal-educada! Mas vamos pras novidades que de notícia ruim basta a gente ler qualquer jornal ou sintonizar qualquer emissora de rádio ou televisão: vai gostar de espetacularizar a desgraça na casa de caixa pregos, meu! Vamos lá: Na edição de hoje as novidades são: a croniqueta com a primeira paixão de Ximênia, a prinspa do Coité; a música de Ernesto Nazareth na interpretação da pianista Maria Teresa Madeira, a crise da educação de Hannah Arendt, o livro Shiva de Yehoshua, aprender suportando o equívoco da psicóloga Clemencia Baraldi, As causas da pobreza de Simon Schwatzman, outro trecho da gaia ciência de Nietzsche, a pintura de Arturo Souto e a sonata pictórica de Konstantinas Ciurlionis. No mais, um maravilhoso final de semana procês, vamos aprumar a conversa & Tataritaritatá. Veja mais aqui.

Veja mais sobre
O papel da arte no direito à saúde, Hannah Arendt & O cuidado com o mundo, Francis Scott Fitzgerald, Wolfgang Amadeus Mozart, Gilberto Mendonça Teles, Pedro Almodóvar, Claudia Riccitelli, Gilda de Abreu, Victoria Abril, Suzanne Valadon, Arlindo Rocha & Literatura Infantil aqui.

E mais:
Fecamepa & a escravaria, Hegel, Mário Quintana, Debret & Pauley Perrette aqui.
Presente de Natal, Agostino Carracci, Pal Fried & as previsões do Doro aqui.
Rūmī, Margaret Mead, Martin Page, Tori Amos, Nanni Moretti, Arthur Omar, Pierre Puvis de Chavannes, Laura Morante & Jeová Santana aqui.
O evangelho do Padre Bidião, Edmund Husserl, Dalton Trevisan, Caio Fernando Abreu, Obviedades Cínicas, Carl Sandburg, Zé Barbeiro, Anne Desclos, Pilar Quintana, Corinne Cléry, Ignacio Zuloaga Zabaleta & Ísis Nefelibata aqui.
O toco do Barnabé, Mario de Andrade, Franz Hartmann, Roger Chartier, Felipe Coelho, Rosi Campos, Laetitia Colombani, Albert Arthur Allen, Audrey Tautou, Anna Rose Bain & Helena Ferreira aqui.

DESTAQUE: POBREZA
[...] as causas da pobreza não podiam ser individuais, mas estruturais: a exploração do trabalho pelo capital, o poder das elites que parasitavam o trabalho alheio e saqueavam os recursos públicos, e a alienação das pessoas, criada pelo sistema de exploração, que impedia que elas tivessem consciência de seus próprios problemas e necessidades. [...] Não há solução em curto prazo para os problemas da pobreza no Brasil. Para que a pobreza seja vencida, é necessário vontade política e compromisso com os valores da igualdade social e dos direitos humanos; uma política econômica adequada, que gere recursos; um setor público eficiente, competente responsável no uso dos recursos que recebe da sociedade; e políticas específicas na área da educação, da saúde, do trabalho, da proteção à infância, e do combate à discriminação social, e outras. Tudo isto é fácil de dizer, e dificílimo de fazer. A construção de uma sociedade competente, responsável, comprometida os valores de equidade de justiça social, e que não caia na tentação fácil do populismo e do messianismo político, é uma tarefa de longo prazo, e que pode não chegar a bom termo. Mas não há outro caminho a seguir, a não ser este.
Trecho extraído da obra As causas da pobreza (FGV, 2001), do sociólogo Simon Schwatzman. Veja mais aqui e aqui.

A PRIMEIRA PAIXÃO DE XIMÊNIA - Ximênia passou de menina à moça de quase ninguém notar a transformação. Oxe, ainda ontem era destamaínho, chamego de todo mundo. Tida sempre como a queridinha de todos dali, ela já debutava com uma formosura de encher todos os olhos. Estava moça feita aos quinze anos de idade. Os seios emergiram de fazer ponta no vestido de chita: dois faróis que boliam com o juízo de muitos marmanjos. As pernas e coxas torneadas e roliças mostravam-se salientes por seu infantil jeito de brincalhona, nem dando conta do vento que lhe levantava as saias, a ponto de ver-se o ventre estufado na calcinha apertada coladinha nas suas formas. Até o vento fazia festa, parece. Era um vexame pros que procuravam uma grota que fosse para saciar nas mãos aquela provocação. Aquilo era uma perdição, diziam. Um dia toda macharia entristeceu quando ela começou a suspirar por Marlúcio, o galante filho do coronel que passava vez em quando por ali, resolvendo providências de recrutar capatazes pra fazenda. Toda vez que ele apontava na entrada do arruado, ela se desmanchava com olhares apaixonados, jeito manso, derretida de paixão. Ele, nem nem. Ela não se continha e começava a correr pelo arruado na esperança de que ele lhe desse pelo menos um olhar. E recorria pra Santo Antonio com orações infindas, donativos e devoções. Cada aparição dele, ela se enchia de grandeza. Ele, nem aí. Se viu, fez que não viu, zarpava tão logo resolvesse suas pendências. Noites e dias ela apelava pra todos os santos e anjos, sonhando naquele tórax e envolvida por seus braços másculos, dando-lhe o prazer de ser dele. Anos passavam e ela alimentando aquela paixão desmedida por seu príncipe encantado. Teve um baque e nem se desiludiu quando soube que ele fora pra capital fazer faculdade, um dia ele reapareceria. Nunca mais. Quando reapareceu estava casado com granfina e filhos. E ela guardara aquela paixão escondida, guardada no mais profundo do seu coração e para sempre. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

UMA MÚSICA
Curtindo os álbuns Ernesto Nazareth & Ernesto Nazareth – Grandes Mestres, da pianista Maria Teresa Madeira, em homenagem ao pianista e compositor Ernesto Nazareth (1863-1934). Veja mais aqui.

PESQUISA: A CRISE DA EDUCAÇÃO - [...] O papel desempenhado pela educação em todas as utopias políticas, desde a Antiguidade até aos nossos dias, mostra bem como pode parecer natural querer começar um mundo novo com aqueles que são novos por nascimento e por natureza. No que diz respeito à política há aqui, obviamente, uma grave incompreensão: em vez de um indivíduo se juntar aos seus semelhantes assumindo o esforço de os persuadir e correndo o risco de falhar, opta por uma intervenção ditatorial,  baseada na superioridade do adulto, procurando produzir o novo como um fait accompli, quer dizer, como se o novo já existisse. [...] Ora, a educação não pode desempenhar nenhum papel na política porque na política se lida sempre com pessoas já educadas. Aqueles que se propõem educar adultos, o que realmente pretendem é agir como seus guardiões e afastá-los da atividade política. Como não é possível educar adultos, a palavra «educação» tem uma ressonância perversa em política — há uma pretensão de educação quando, afinal, o propósito real é a coerção sem uso da força. Quem quiser seriamente criar uma nova ordem política através da educação, quer dizer, sem usar nem a força e o constrangimento nem a persuasão, tem que aderir à terrível conclusão platônica: banir todos os velhos do novo estado a fundar. Mesmo no caso em que se pretendem educar as crianças para virem a ser cidadãos de um amanhã utópico, o que efetivamente se passa é que se lhes está a negar o seu papel futuro no corpo político pois que, do ponto de vista dos novos, por mais novidades que o mundo adulto lhes possa propor, elas serão sempre mais velhas que eles próprios. Faz parte da natureza da condição humana que cada nova geração cresça no interior de um mundo velho, de tal forma que, preparar uma nova geração para um mundo novo, só pode significar que se deseja recusar àqueles que chegam de novo a sua própria possibilidade de inovar. [...] Ora, no que diz respeito à educação ela mesma, só no nosso século é que a ilusão emergente do pathos do novo produziu as suas mais sérias consequências. Em primeiro lugar, permitiu que essa mistura de modernas teorias educativas provenientes da Europa Central, e que consiste numa espantosa salganhada de coisas com sentido e sem sentido, revolucionasse todo o sistema de educação sob a bandeira do progresso. Aquilo que na Europa não passou de uma experiência, testada aqui e além, em algumas escolas e instituições educativas isoladas, estendendo depois, gradualmente, a sua influência a alguns setores, produziu na América, de há cerca de vinte e cinco anos a esta parte e, por assim dizer, de um dia para o outro, uma transformação completa no que diz respeito às tradições e aos métodos estabelecidos de ensino e de aprendizagem. [...]. Trecho do ensaio A crise da educação, extraído da obra Entre o passado e o futuro (Perspectiva, 2005), filósofa política alemã de origem judaica Hannah Arendt (1906-1975). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

UM LIVRO, UMA LEITURA:
[...] Ele recebe a criança com uma expressão luminosa, tanto que se pode presumir ter deixado para trás seus dias de insanidade e abandonado a teimosia de que o globo terrestre permanece estático no lugar, que cada hora encerra-se em si mesmo, e nada jamais se perde no universo. [...].
Trecho extraído da obra Shiva (Companhia das Letras, 2001), do escritor, ensaísta e dramaturgo israelense Abraham B. Yehoshua, contando a história de um jovem médico que sofre uma grande uma transformação na vida ao viajar para a Índia, dilacerado por um amor impossível e uma carreira oscilante, passando a percorrer caminhos que tornam sua vida com outros significados.


PENSAMENTO DO DIA: APRENDER E SUPORTAR O EQUÍVOCO – [...] O erro e sua correção são um dos temas em que o discurso pedagógico mostra maiores contradições. Esta questão surge fundamentalmente do conceito de quem “corrige” sobre aquilo que se corrige, por que e como sendo a primeira das questões: o que se corrige? [...]. Trecho extraído da obra Aprender: a aventura de suportar o equívoco (Vozes, 1994), da psicóloga, psicopedagoga e psicoanalista argentina, Clemencia Baraldi, observando que o mal denominando erro, evidencia a originalidade e a particularidade do pensamento infantil por estar muito além ou distante dos modelos de pensamento que o adulto oferece, uma vez que o pensamento de cada criança releva com a mesma quando está raciocinando, expondo as suas idéias através das escritas, por seu pensamento ser natural, próprio de cada uma. Para a autora, é delicado para o educador exterminar da sua prática pedagógica o erro no ato em que se corrige, tendo em vista para que o aluno exponha suas idéias ou como ele está se raciocinando naquele momento, não poderia ser considerado como tal.

A GAIA CIÊNCIA
[...] Não esqueçamos disto: basta criar novos nomes e estimativas e verossimilhanças para, a longo prazo, criar novas “coisas”. [...]  olhando-nos de longe e de cima e, de uma distância artística, rindo sobre nós ou chorando sobre nós, temos de descobrir o heroi, assim como o parvo, que reside em nossa paixão do conhecimento, temos de alegrar-nos vez por outra com nossa tolice, para podermos continuar alegres com nossa sabedoria! [...] somos mais pesos do que homens [...].
Trechos extraídos do Livro II, da obra A gaia ciência (Companhia das Letras, 2012), do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Veja mais aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Female nude, do pintor galego pós-impressionista Arturo Souto (1902-1964).
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra com a Sonata VI, do pintor e compositor lituano Mikalojus Konstantinas Ciurlionis (1875-1911).
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.