INEDITORIAL:
COLOCANDO OS PINGOS NOS IIIIIS! – Olá,
gentamiga desse Brasilzão véio, arrevirado e de porteira escancarada! Salve,
salve! Em tempos de temerança, nada pior que perder a esperança! Qualé, meu?
Nunca é tarde pra gente fazer desse país um Brasil melhor, nunca é tarde. Vamos
em frente, desesperar jamais. Eu mesmo digo logo: quanto mais me decepciono,
quanto mais degusto de revestrés, mais insisto, persisto, resisto e persevero!
Primeiro recadinho: no Dia da Árvore, olhelá – atenção dendroclastas de
plantão, não tem como comprar oxigênio por aí não, viu? Ou planta e cuida, ou
vamos aprender a viver no deserto ou embaixo d’água, ta? No Dia do Radialista,
uma reflexão: que é que estão fazendo com o rádio, hem? PelamordeDeus,
gente! Agora vamos pras novidades, pois
hoje tem de tudo: o Grupo de Pesquisa de Neurofilosofia & Neurociência
Cognitiva, a poética da geografia na teoria da viagem de Michel Onfray, a
poesia de Viviane Mosé, o discurso e a argumentação de Débora Massmann, mais
uma da Gaia Ciência de Nietzsche, a
fotografia de Cris Bierrenbacj, a arte de Mira Schendel, a música da Natalia
Gutman e outra do doutor Zé Gulu passando aperto com questões de paternidade.
No mais, vamos aprumar a conversa & Tataritaritatá. Veja mais aqui.
Veja mais sobre Revolução copernicana ao contrário, Luis
Cernuda, Herberto Sales, Radamés Gnatalli, Norma Benguell, Roberto Szidon,
Stella Miranda, Wilman Emir Causa Acero, Appolonia Saintclair, Literatura
Infantil & A democracia na América Latina aqui.
E mais:
Ramakrishna Paramahamsa, Maria João Pires, Rodolfo García Vazquez, Woody Allen, Richard Bach, Lilia Silvestre Chaves, Cléo de Páris, Apollonia Sainclair & Miklos Mihalovits aqui.
Fecamepa: a cana dos coronéis aos mamoeiros aqui.
DESTAQUE:
NEUROFILOSOFIA & NEUROCIÊNCIA COGNITIVA
Realizou-se na última segunda, dia 19 de setembro, mais
uma reunião do Grupo de Pesquisa de
Neurofilosofia e Neurociência Cognitiva, em que se ressaltou a realização
do curso As pensadoras: as grandes
mulheres filósofas da história, que prosseguirá nesta quarta, dia 21/09,
das 17 às 19hs, no auditório do prédio Íris III – do curso de Direito do Centro
Universitário Cesmac -, sobre o tema As
mães da igreja e pensadoras cristãs medievais, ministrado pelo professor e
coordenador do grupo Álvaro Queiroz.
Em seguida deu-se andamento no tratamento e levantamento dos dados atinente ao
estudo sobre a temática Epidemiologia do
suicídio no município de Maceió, desenvolvido pela professora e
coordenadora do Grupo, Janne Eyre Araújo
de Melo Sarmento. Logo após foi dado andamento ao estudo Equoterapia & Autismo,
desenvolvimento pelo psicólogo Weverky
Farias. Foram abertos então os debates, ficando definida a data de 24 de
setembro, a partir das 8hs, no Centro Universitário Cesmac, para a próxima
reunião, contando com a presença da professora e orientadora do Grupo, a
professora doutora Daniela Botti. Veja
mais aqui.
CONVERSA DE BAR
& FILHO NÃO RECONHECE PAI – Anclotinato
era um dos assíduos acompanhantes dos devaneios intelectuais do doutor Zé Gulu.
Claro, com um nome desse, dizia o ilustre pensador, não há castigo pior. Na
faculdade tive colegas como Arsênico, Aschelminto, 1 2 3 de Oliveira 4, coisas
do tipo. Isso é lá graça pra ninguém. E Anclotinato às gargalhadas. Ô, meu fio,
num tinha um nomezinho melhor, não? Isso é lá graça pra ninguém? E você não diz
nada? Hômi, seu minino, sô sujeito curau das brenhas. Saí do campo pra Sumpaulo
com dezoito anos, me despedindo dos pais pra nunca mais. Naquela terra de
doido, arrumei colocação de servente no Tribunal de Justiça. Um juiz distinto
se afeiçoou de mim, passei de recadista para escriturário, depois escrevente e
já tinha destinação certa pras ciências jurídicas. Estava tudo indo muito bem
encaminhado, quando um tio meu odontólogo, me fez virar dentista da noite pro
dia. Troquei o certo pelo duvidoso. Cinco anos no batente da faculdade, tinha
futuro promissor: a clientela do tio. Cheio das gaitas me engracei por uma
japonesa. Bastou uma massagem, casei-me com ela no outro dia por causa das suas
perícias sexuais. Concorrência braba, resolvi montar consultório na minha
terra, findei na capital: endinheirado com as novidades. Fui enfeitiçado pela
secretária do consultório, resultado: a japa me expulsou de casa armada dum
rifle e acabei metido numa camisa de onze varas. A amásia montou casa e trouxe
família do interior com tudo: pai, mãe, irmãos, filharada. Não havia fábrica de
dinheiro que desse. Pra reaver o apartamento, tive que botar tudo pra correr
sob ameaça de golpe com polícia e tudo. Falido e sem um tostão furado, tive que
recomeçar de vida aqui em Alagoinhanduba, como quem puxa só desgraça e miséria.
Dentista do município, fui aos poucos reorganizando a vida e resolvi fazer
Direito na capital. Cinco anos indo e vindo, formei-me, comecei uma nova
carreira. Hoje dá pro gasto, recém-amigado com uma mulher que me compreende,
tentando manter o equilíbrio da vida. Só tenho um desgosto: um dia procurei meu
filho, o único que tive com a japonesa, ele me virou as costas, dizendo-me que
não tem pai, só mãe. É duro isso, meu único filho não quer me ver nem pintado a
ouro. Foi aí que o doutor Zé Gulu, compreendendo as lágrimas que lavavam a face
do coitado, apertou-lhe a mão com firmeza, deu-lhe um abraço e saiu: - Inté
mais. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais Doutor
Zé Gulu aqui, aqui e aqui.
UMA MÚSICA
Curtindo os álbuns Cello
Concerto & Portrait Séries,
da violoncelista russa Natalia Gutman.
Veja mais aqui.
PESQUISA: A
POÉTICA DA GEOGRAFIA NA TEORIA DA VIAGEM -
[...] Certamente há
muitos pretextos, ocasiões e justificativas, mas em realidade só pegamos a
estrada movidos pelo desejo de partir em nossa própria busca com o propósito,
muito hipotético, de nos reencontrarmos ou, quem sabe, de nos encontrarmos. [...] Quantos desvios, e por quantos lugares, antes de nos sabermos em
presença do que levanta o véu do ser. [...] Cada corpo busca reencontrar o elemento no qual se sente a mais à
vontade e que foi outrora, nas horas placentárias ou primeiras, o provedor de
sensações e de prazeres confusos, mas memoráveis. Existe sempre uma geografia
que corresponde a um temperamento. Resta descobri-la. [...] A viagem começa numa biblioteca. Ou numa livraria.
Misteriosamente, ela tem lugar ali, na claridade de razões antes escondidas no
corpo. No começo do nomadismo, encontramos assim o sedentarismo das prateleiras
e das salas de leitura, ou mesmo do domicílio onde se acumulam os livros, os
atlas, os romances, os poemas, todas aquelas obras que, de perto ou de longe,
contribuem para a formulação, a realização, a concretização de uma escolha do
destino. [...] Toda documentação alimenta a iconografia
mental de cada um. A riqueza de uma viagem requer, a montante, a densidade de
uma preparação – assim como as experiências espirituais convidam a alma à
abertura, ao acolhimento de uma verdade capaz de infundir. A leitura age como
rito iniciático, revela uma mística pagã. [...] Na viagem, descobre-se apenas aquilo de que se é portador. O vazio do
viajante gera a vacuidade da viagem; sua riqueza produz a excelência dela.
[...] Nem a sós, nem com vários: circular
com o amigo permite evitar a angústia multiplicada do trajeto solitário, da
barreira das línguas estrangeiras, dos incômodos burocráticos nas fronteiras
com funcionários e policiais de todo o mundo. O estrangeiro que circula livremente
num país inquieta as autoridades, sobretudo onde não reina a democracia, isto
é, na maioria dos lugares do planeta. A amizade serve de tônico necessário para
a conjuração do estado de fragilidade consubstancial ao afastamento do
domicílio, longe das referências habitualmente tranqüilizadoras do animal em
nós. No exercício da amizade, o outro é o estranho menos estranho possível.
[...] No detalhe da viagem, a amizade
permite a descoberta de si e do outro.
[...] um poema bem-sucedido, uma
foto expressiva, uma página que fica supõem a coincidência absoluta entre a
experiência vivida, realizada, e a recordação reativada, sempre disponível não
obstante o passar do tempo. De uma viagem só deveriam restar uns três ou quatro
sinais, cinco ou sei, não mais que isso. Na verdade, não mais que os pontos
cardeais necessários à orientação. [...] Nós mesmos, eis a grande questão da viagem. Nós mesmos e nada mais. Ou
pouco mais. Certamente há muitos pretextos, ocasiões e justificativas, mas em
realidade só pegamos a estrada movidos pelo desejo de partir em nossa própria
busca com o propósito, muito hipotético, de nos reencontrarmos ou, quem sabe,
de nos encontrarmos. A volta ao planeta nem sempre é suficiente para obter esse
encontro. Tampouco uma existência inteira, às vezes. Quantos desvios, e por
quantos lugares, antes de nos sabermos em presença do que levanta um pouco o
véu do ser. [...]. Trecho extraído da obra Teoria
da viagem: poética da geografia (L&PM, 2009), do filósofo
francês Michel Onfray, realizando um elogio à arte de viajar como
expediente para filosofar, uma vez que, para ele, só é possível a partir de uma
experiência autobiográfica resgatando os significados de sair em busca do
desconhecido. Com essa obra ele remonta à história de Caim (agricultor,
sedentário) e Abel (pastor, nômade), estabelecendo dois polos entre os quais
todos oscilam: nomadismo versus sedentarismo, e amor ao movimento versus paixão
pelo imobilismo, pelo enraizamento.
UM LIVRO, UMA
LEITURA: VIDA/TEMPO
Quem tem olhos pra ver o tempo? / Soprando sulcos
na pele soprando sulcos na pele / Soprando sulcos? / O tempo andou riscando meu
rosto / Com uma navalha fina. / Sem raiva nem rancor / O tempo riscou meu rosto
com calma. / Eu parei de lutar contra o tempo. Ando exercendo instante. / Acho
que ganhei presença. / Acho que a vida anda passando a mão em mim. Acho que a
vida anda passando. / Acho que a vida anda. Em mim a vida anda. Acho que há
vida em mim. A vida em mim anda passando. Acho que a vida anda passando a mão
em mim / Por falar em sexo quem anda me comendo / É o tempo. Na verdade faz
tempo, mas eu escondia / Porque ele me pegava à força, e por trás./ Um dia
resolvi encará-lo de frente e disse: Tempo, se você tem que me comer Que seja
com o meu consentimento. E me olhando nos olhos. Acho que ganhei o tempo.
De lá pra cá ele tem sido bom comigo. Dizem que ando até remoçando.
Vida/tempo, poema extraído do livro Toda palavra (Record, 2008), da poeta, filósofa, psicóloga e
psicanalista Viviane Mosé. Veja mais aqui,
aqui e aqui.
PENSAMENTO DO
DIA: DISCURSO & ARGUMENTAÇÃO - [...] O discurso constitui assim um lugar de formulação e
de projeção de visões de mundo: é o espaço em que as relações entre palavras e
entre frases constroem, a cada enunciação, um modo diferente de apreender a
realidade, de representá-la e de verbalizá-la. A cada enunciação, portanto, um
novo esquema de significações e de representações, um novo microuniverso
conceitual é expresso. Nessa perspectiva, o autor compreende que toda a
argumentação, ao expor um ponto de vista, uma opinião ou uma tese, expressa uma
visão de mundo pessoal, um modo subjetivo de perceber a realidade e de
enunciá-la. Nesse sentido, o discurso e a argumentação constituem o lugar em
que cada sujeito constrói, representa e expressa o seu modo de perceber e de
categorizar a realidade. Discurso e argumentação apresentam-se como atores do
mundo. Através deles, as diferentes visões de mundo são construídas e
representadas discursivamente de forma distinta a cada enunciação. [...] é no espaço da controvérsia
que a argumentação se consolida à medida que se estabelece a interação entre os
interlocutores, ou seja, à medida que se considera o outro como um sujeito
capaz de reagir e de interagir discursivamente pelo exercício da negociação e
do entendimento através do debate. Trecho do
artigo Argumentação: em busca de um
conceito, da professora e pós-doutora em Semântica, Débora Massmann, destacando os discursos jurídico, político e
midiático, entre outros, extraído da obra Línguas
e instrumentos lingüísticos (RG/Unicamp, 2009).
A GAIA CIÊNCIA
Quer considere
os homens com um olhar benevolente ou malevolente, vejo-os todos, e cada um em
particular, fazer a mesma coisa: a saber, o que é útil para a sobrevivência da
espécie. Ora, não é por amor a essa espécie que agem assim, mas simplesmente
porque não há neles nada mais antigo, nada mais forte, mais inexorável, mais
invencível que esse instinto – porque esse instinto é precisamente a essência
de nossa espécie e de nosso rebanho. [...] De fato, o homem mais prejudicial pode ser o
homem mais útil à conservação da espécie; com efeito, ele sustenta em si ou,
por sua influência, nos outros, instintos sem os quais a humanidade estaria há
muito entorpecida ou corrompida. O ódio, o prazer de ver o outro sofrer, a sede
de rapina e de dominação e de tudo aquilo que se dá o nome de mal: tudo isso
faz parte da espantosa economia da conservação das espécies, uma economia
dispendiosa certamente, pródiga e no fundo totalmente insensata – mas que, como
está provado, manteve a nossa espécie até agora. [...] É preciso amar a vida, pois...! É preciso que o homem ative sua vida e
aquela do próximo, pois...! [...].
Aqueles que
ensinam o objetivo da vida, extraído
da Parte I da obra A gaia ciência
(Companhia das Letras, 2012), do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Veja mais aqui.
CRÔNICA DE AMOR
POR ELA
A arte da fotógrafa, ilustradora e repórter fotográfica Cris Bierrenbach.
CANTARAU: VAMOS
APRUMAR A CONVERSA
Arte da artista plástica suíça radicada no Brasil, Mira Schendel (1919-1988)
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.