INEDITORIAL: QUANDO
A POLUIÇÃO TORNA O AR IRRESPIRÁVEL, A VIDA VAI PRO BELELEU! – Salve, salve, gentamiga! As últimas não são lá nada
alvissareiras! O alarme dado pela Organização Mundial da Saúde de que nove entre
dez habitantes do planeta convivem em ambientes de alta poluição, causados pelo
consumo de combustíveis dos motores da indústria, dos veículos e das
termoelétricas, foi bastante aterrador. Nossa, alarme desse não é pra deixar
passar em branco! E, pelo visto, as providências necessárias viraram necas de pitibiriba.
Só ouvidos de moucos. Confesso, deveras, meu desapontamento com a indiferença
de todos diante de tal fato. Estamos cada vez mais anestesiados pela insaciável
voracidade do consumo e do dinheiro, fechados na redoma do umbigocentrismo, nem
se dando conta de que não é só com os outros que acontecem as coisas ruins: o
enterro também volta pra nossa banda. E quando o funesto nos envolve, não vai
adiantar ficar perguntando o que foi que fez, porque todos nós somos
responsáveis pelo adoecimento e, consequentemente, pelo apodrecimento do nosso
planeta. Gente, está na hora da gente abrir o olho de verdade! Dito isto, vamos
pras novidades: na edição de hoje o pacifismo ativo de Albert Einstein, a
diversidade cultural de Manuel Diégues Júnior, a literatura de Imre Kertész, a
gaia ciência de Nietzsche, o Setembro Amarelo de Prevenção ao Suicídio, a
educação de Dermeval Saviani, a fotografia de Eustáquio Neves e Cida Demarchi,
a pintura de Evelyn Hamilton, a croniqueta com os erradios catimbós de Afredo e
a música de Mafalda Veiga. No mais, vamos aprumar a conversa &
tataritaritatá! Veja mais aqui.
Veja mais sobre
Educação por água abaixo, Miguel de Unamuno, Miguel
de Cervantes y Saavedra, Vitsentzos Kornaros, Plinio Marcos, Michelangelo
Antonioni, Michelangelo Merisi da Caravaggio, Márcio Montarroyos, Bernard
Picart, Monica Vitti, Anita Ekberg, Literatura Infantil aqui.
E mais:
Ciranda, Carlos Fuentes, Daniel Defoe, Margaret Edson, Martin Luther King, Érica García, Robin
Wright, Walasse Ting, Toponímia Pernambucana, Análise Literária & Zine
Tataritaritatá aqui.
As croniquetas do Tataritaritatá aqui.
As noveletas do Tataritaritatá aqui.
O existencialismo de Jean-Paul Sartre aqui.
Uma vez na gruta do céu, Platão, Manuel Vásquez Montalbán, Amos Gitai, Roberta
Sá, Brad Fraser Bruno Steinbach, Sexualidade Humana, Yael Abecassis, Zine Tataritaritatá & Benvinda
Palma aqui.
DESTAQUE:
Considero-me muito feliz por assistir a esta grande
manifestação pacifista, organizada pelo povo flamengo. Pessoalmente sinto
necessidade de falar diante de todos os que aqui participam, em nome daqueles
que pensam como os senhores e têm as mesmas angústias diante do futuro: “Nós nos
sentimos profundamente unidos aos senhores nestes momentos de recolhimento e de
tomada de consciência.” Não temos o direito de mentir a nós mesmos. A melhoria
das condições humanas atuais, constrangedoras e desesperadoras, não pode ser
imaginada como possível sem terríveis conflitos. Porque o pequeno número de
pessoas decididas aos meios radicais pesa pouco diante da massa dos hesitantes
e dos recuperados.* E o poder das pessoas diretamente interessadas na
manutenção da máquina da guerra continua considerável. Não recuarão diante de
nenhum processo para obrigar a opinião pública a se dobrar diante de suas
exigências criminosas. Segundo todas as aparências, os estadistas atualmente no
poder têm por objetivo estabelecer de modo duradouro uma paz sólida. Mas o
incessante aumento das armas prova claramente que estes estadistas não têm peso
diante das potências criminosas que só querem preparar a guerra. Continuo
inabalável neste ponto: a solução está no povo, somente no povo. Se os povos
quiserem escapar da escravidão abjeta do serviço militar, têm de se pronunciar
categoricamente pelo desarmamento geral. Enquanto existirem exércitos, cada
conflito delicado se arrisca a levar à guerra. Um pacifismo que só ataque as
políticas de armas dos Estados é impotente e permanece impotente. Que os povos
compreendam! Que se manifeste sua consciência! Assim galgaríamos nova etapa no
progresso dos povos entre si e nos recordaríamos do quanto a guerra foi a
incompreensível loucura de nossos antepassados!
Pacifismo ativo, extraído da obra Como vejo o mundo (Nova Fronteira, 1981), do
físico, cientista e escritor alemão Albert
Einstein (1879-1955). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
OS ERRADIOS
CATIMBÓS DE AFREDO – Afredo não toma jeito!
De tanto levar cipoada na vida, findou aprendendo uns bruxedos recolhidos duns
livros escondidos da Mãe Zefa – diga-se de passagem, se tratar duma senhora do
bem -, mas ele queria era aprender umas coisas de magia negra pra se vingar dos
abusadores de sua boa vontade. Escondido dela, ele catou umas feitiçarias pra
castigar seus desafetos e começou escrevendo nomes e mais nomes de gente,
recortando direitinho e sacudindo todos à marra na boca de um sapo cururu de
estimação. Depois ele armou-se de linha e agulha, costurou a boca do batráquio
e ficou esperando a má sina pras bandas dos destinatários. Aí, enquanto a coisa
se desenrolava, ele viu o Doro que ia passando e resolveu pedir-lhe dinheiro
emprestado, já avisando que se ele não arrumasse, ia fazer um vodu da peste na
vida dele. Oxe, isso é coisa de besta – disse o Doro -, tá feito mulherzinha,
coisa de feitiçaria é pra mulher! Ingicou-se Afredo e zangado com o dá ou não
dá, Doro alegando estar desprevenido o que levou o solicitante a sapecar um
destá, você vai ver com quantos paus se faz uma canoa. E saiu injuriado
largando ofensas aos ventos, quando encontrou Zé Corninho e fez o mesmo pedido,
ao que o solicitado prometeu que se passasse amanhã de tarde depois que ele
recebesse o salário no banco, ele arranjava. Afredo exultou, só faltou beijar
os pés do Zé e acertou tudo para a tarde seguinte. Enquanto isso ele aprontou
um trabalho pesado pro Doro, com todas as cargas malfazejas que pode arrancar
de si e do mundo, catado a dedo dos alfarrábios da Mãe Zefa, juntou tudo e
sapecou maleita braba pras bandas dele. Agora sim, dizia ele pra si, quero ver
o Doro se sustentar em pé depois dessa! Eu sou a gota! E ficou só esperando a
queda do excomungado. Eis que no dia seguinte, na hora aprazada, cadê Zé
Corninho que não aparecia! Zanzou que só atrás do sortudo, nada dele dar as
caras. Será que foi lesado de novo? Não podia, ele havia prometido. E saiu
gastando solado e enchendo a rua de pernas, quando teve a notícia de que ele fora
acometido de uma braba enfermidade, estando internado na UTI do hospital, entre
a vida e a morte. Valei-me. Ele ficou quase chorando, o seu salvador, na
horagá, estava pra bater as botas e ir pro saco de vez. Falta de sorte a dele. Aperreou-se,
cagou raios e quase tem um troço. Peraí. Afredo ficou matutando: será que errei
o alvo? A constatação chegou na hora quando viu o Doro bonzinho da silva e,
pelo jeito, radiante e arrotando saúde. Danou-se! Foi se certificar, realmente,
Zé Corninho estava na UTI entre a vida e a morte com uma doença desconhecida
pros conhecimentos médicos. Vixe, santa! Errei o alvo, reclamou desalentado
Afredo, de novo. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
UMA MÚSICA
Curtindo o álbum Mafalda Veiga ao vivo (2000), da cantautora e escritora portuguesa Mafalda Veiga.
PESQUISA: A
PLURALIDADE CULTURAL DO BRASIL - [...] Num país como o nosso, em que a ampla
extensão territorial é enriquecida pela diversidade de condições geográficas –
e especial fisiográficas – é claro que a caracterização de regiões culturais
constitui de partida fundamental para certos estudos, sobretudo para
compreensão das diversidades culturais de hoje – e quase diria: pluralidade
cultural – lastreado embora em unidade comum assegurada pela cultura portuguesa.
Daí a importância de estudos regionais, não exclusivamente no sentido em que o
compreendemos entre nós – monografias sobre Estados ou sobre áreas, ou ainda
sobre aspectos peculiares dessa ou daquela unidade federada ou desse ou daquele
município – mas ainda,e sobretudo, no sentido de estudos para compreensão e
entendimento dos fenômenos brasileiros, da diversificação de técnicas a serem
utilizadas, da diferença de situações que decorrem, em grande parte, de estilos
de vida peculiares mantidos nas diversas regiões e, às vezes mesmo, em subáreas
ou sub-regiões. [...]. Trecho extraído da obra Regiões culturais do Brasil (CBPE/INEP, 1960), do antropólogo, sociólogo,
jurista e folclorista Manuel Diégues
Júnior (1912-1991), tratando acerca da diversidade cultural do Brasil, as
variadas culturas denominadas pelo autor de subsistemas culturais da cultura
brasileira. Veja mais aqui.
UMA LEITURA: A LÍNGUA EXILADA
[...] Examinei
essas fotografias espantado. Vi mulheres belas e sorridentes e jovens de olhos
inteligentes, todos bem-intencionados, ansiosos por colaborar. Agora compreendo
por que e como aqueles vinte minutos humilhantes de inação e impotência se
apagaram de suas memórias. Quando pensei como tudo isso se repetiu da mesma
forma durante dias, semanas, meses e anos a fio, tive a percepção do mecanismo
do terror, descobri como foi possível voltar a natureza humana contra a vida do
homem. Assim, prossegui, passo a passo, no caminho linear de descoberta; esse foi o meu método
heurístico, se quiserem. Cedo descobri que não me interessava nem um pouco para
quem e por que escrevia. Uma única questão me interessava: o que ainda tinha eu
a ver com a literatura? Pois para mim era claro que uma linha intransponível me
separava da literatura e dos ideais, do espírito associado ao conceito de
literatura, e o nome dessa linha demarcatória - como o de muitas outras coisas
- era Auschwitz. Quando escrevemos sobre Auschwitz, devemos considerar que
Auschwitz - ao menos num certo sentido - suspendeu a literatura. Seria possível
escrever um romance macabro sobre Auschwitz ou - perdoem a expressão - um
seriado barato que começaria em Auschwitz e ainda duraria até os dias de hoje.
O que significa que não aconteceu nada desde Auschwitz que a tivesse negado ou
refutado. Nos meus escritos, o Holocausto nunca apareceu no passado. [...] sinto que o
odor da submissão que exalo pode ser sentido à distância. Quem foi humilhado
uma vez será humilhado sempre; quem é humilhado em casa é humilhado no
exterior, texto meus axiomas. [...] A
sombra da Hungria projeta-se sobre mim sempre, em todo lugar [...] envolvo-me nela obstinado, como se me
cobrisse espontaneamente.
Trecho extraído da obra A língua exilada (Companhia das Letras, 2004), do escritor húngaro Imre Kertész (1929-2016), premio Nobel
de Literatura de 2002 e judeu sobrevivente do holocausto.
PENSAMENTO DO
DIA: A EDUCAÇÃO BRASILEIRA - [...] Esperava-se
que estendendo a escola para todos poder-se-ia alcançar a democracia, ou seja,
a escolarização seria a base para a democracia burguesa. Na medida em que a
burguesia se tornou classe dominante, ela elaborou seu projeto, organizando um
sistema de ensino em nível nacional, visando com isto que, através da
alfabetização, através da instrução, o povo fosse esclarecido e, tendo sido
esclarecido, pudesse tomar decisões mais corretas e soubesse escolher melhor os
seus governantes, contribuindo para a formação de uma democracia consistente: a
democracia enquanto "governo do povo, pelo povo e para o povo". O que
ocorreu, com a evolução histórica, foi que esse projeto - um projeto da própria
classe dominante, que organizou a educação enquanto sistema escolar a partir da
concepção de que a escola é direito de todos, devendo, portanto, ser estendida
a todos - o que se constatou foi a não obtenção do resultado esperado. Quer
dizer, apesar de alfabetizados, apesar de instruídos, os elementos do povo não
escolhiam bem os seus governantes. [...] Na
medida em que descobre que a educação é um fenômeno condicionado, determinado
pelo modo de produção, pela estrutura da sociedade, pela correlação de forças,
pelo controle político exercido através da dominação e hegemonia, esboroa-se
toda aquela ilusão de poder. Aqui, admito, há o risco de se passar de um
otimismo ingênuo para um pessimismo, no meu modo de ver, igualmente ingênuo, acreditando-se,
agora, que a determinação da sociedade (leia-se classe dominante) é tal que
retira da educação toda e qualquer chance de contribuir positivamente para a
transformação da sociedade. Retomando-se as considerações que fiz no final da
palestra (a consciência dos condicionantes objetivos ao mesmo tempo que destrói
o poder fictício, constrói um poder efetivo) creio ser possível superar seja o
otimismo ingênuo, seja o pessimismo ingênuo, em direção àquilo que eu chamaria,
na falta de uma expressão melhor, entusiasmo crítico. Trecho extraído da
obra Educação: do senso comum à
consciência filosófica (Autores Associados, 1996),do
filósofo e pedagogo Dermeval Saviani. Veja mais aqui.
UMA IMAGEM:
A arte do fotógrafo Eustáquio Neves.
AGENDA:
SETEMBRO AMARELO – A coordenadora
do Grupo de Pesquisa Neurofilosofia & Neurociência Cognitiva, professora Janne Eyre Melo Sarmento de Araujo,
participará com o tema Epidemiologia do
suicídio em Maceió, no evento Setembro Amarelo: Mês Internacional de
Prevenção em Suicídio, que se realizará nesta quinta feira, a partir das
18:30hs, no auditório do curso de Direito do Centro Universitário Cesmac, numa
promoção do curso de Psicologia. Na ocasião também participarão os professores
Franklin Bezerra e Liércio Pinheiro com a temática Suicídio e Psicopatologia, o
professor Claudio Jorge Gomes com a temática Aspectos psicossociais do
suicídio; e o professor Manoel Henrique com a temática Suicídio e
Espiritualidade. A coordenação dos trabalhos será realizada pelo professor
Lamartine Vasconcellos. Veja mais aqui e aqui.
A GAIA CIÊNCIA
[...] Como
é difícil viver, quando se sente o juízo de muitos milênios contra si e em
torno de si! É provável que por muitos milênios o conhecimento esteve
impregnado de má consciência e que muito desprezo própria e secreta miséria há
de ter entrado na historia dos maiores espíritos.
A reputação firmada, trecho
extraído do Livro IV, da obra A gaia
ciência (Companhia das Letras, 2012), do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Veja
mais aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra com A moça, da fotógrafa Cida
Demarchi.
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.