QUANDO O FUTURO CHEGA AO PRESENTE – Zé
Peiúdo tivera seus dias de gloria, tudo vencera como quisera: domínio sobre a
mulher, filhos, familiares e amigos. Prevalecera a sua vontade. Tivera amantes,
duas matara: mijaram fora do caco. Amigos, muitos; do mesmo jeito que ganhara,
perdera. Outros fizera e se foram. A cada nova investida, uma batalha: muitos
se perdiam sucumbindo às fileiras dos desafetos. Por seus interesses até
compadrios estreitos com inimigos e o cordão dos antipatizantes mais
prosperava. Muitos, antes a favor, ficaram do contra e ferrenhos. Os filhos
cresceram, privilegiava os obedientes, justiça pros demais: nem bicho de
estimação. Negócios, só do seu interesse; se acoloiava com gregos e troianos,
acumulara vitórias solitárias. Os que arregimentara, pregavam sua cartilha.
Cantara vitórias, removia obstáculos: rasteiras, cruzetas, traições. Sempre vitorioso
e só. Os anos se passaram, décadas do futuro longínquo agora: só reclamos de
abandono, sem mulher e filhos, só amigos interesseiros ao redor. O que fiz, meu
Deus, pra merecer isso? Uma voz desconhecida sem face sussurou ao seu ouvido: -
Fez sua parte? O futuro quando chega parece tudo morto e esquecido. Lego
engano. O futuro é como a História: um prato frio bastante indigesto. Assustou-se,
procurou ao redor quem falara. Lugar mais limpo. Agora, insone, vitorioso e
cada vez mais solitário remoía, regurgitava e ruminava cada detalhe de um
passado distante vivíssimo na memória. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais aqui.
Curtindo o álbum Dvorak
Cello Concerto op. 104 (Decca, 2014), do compositor checo Antonín Dvořák
(1841-1904), na interpretação da violoncelista estadunidense Alisa Weilerstein com a Czech
Philharmonic Orchestra, regida por Jirí Belohlávek e performer de Anna Polonsky.
Veja mais aqui.
PESQUISA:
[...] a
fronteira entre o ruído e o som musical, ocupada até nossos dias somente por
instrumentos de percussão de som indeterminado, torna-se uma larga zona
imprecisa, utilizável, ela também, na composição musical. Mas, repitamo-la, a
tomada de posse da tonalidade do universo sonoro não justifica nem o
deixar-correr, nem o acaso, nem a incoerência; e a organização consciente
continua, ainda hoje, o mais seguro critério da música. [...]
Trecho extraído da obra Écrits (Delatour France, 1998), do compositor, matemático
musicólogo, esteticista, locutor e educador francês Michel Philippot
(tradução de Haroldo de Campos, in. A arte no horizonte do provável –
Perspectiva, 1977).
LEITURA
[...] Aquele era o
mundo dela. Ela queria que ele permanecesse a mesma coisa para sempre, mas ele
estava mudando ao seu redor, pois alguém lá fora estava roubando crianças. Ela
se sentou na cumeeira do telhado, o queixo apoiado nas mãos. [...]
Trecho da obra A
bússola dourada (Objetiva, 1998), primeiro volume da premiada trilogia
Fronteiras do Universo, do escritor britânico Phillip Pullman, adaptada para o cinema The
Golden Compass (2007), dirigido por Chris Weitz, ganhador
do Oscar de melhores efeitos visuais.
PENSAMENTO
DO DIA:
[...] Os
conceitos físicos, nossos conceitos, não pretendem mais descrever diretamente o
mundo, mas somente as linhas do horizonte que o conhecimento sensível, prático
ou experimental traça sobre esse mundo [...] É nesse pensamento do mundo que se realiza a crença da inteligibilidade
do mundo. A razão do milagre da adequação das matemáticas à realidade parece-me
residir no fato de que nada é mais ou melhor matematizável do que o movimento
de uma linha do horizonte [...].
Trecho da obra Les
constantes universelles et la physique de l’horizon (La Recherche, 1995),
do físico e professor francês Gilles Cohen-Tannoudji.
IMAGEM
DO DIA;
A arte da fotógrafa Katyucia Melo.
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Cendrars, Augusto Boal, Costa-Gavras, Psicologia
Social, Ballet Stagium & A princesa Marya & Blênio aqui.
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De antemão & Fecamepa aqui.
Os assassinos de frevo aqui.
Clarice Lispector, Björk, Luis Buñuel, Vicente do Rego Monteiro, Yedda Gaspar Borges, Téa
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DESTAQUE
Durmo só um terço da noite alta. / Levanto
seminua, / Com um tanto de fome sei lá de quê. / Como uma fatia de vida torta.
/ Tomo uns goles de fel. / Sento no canto do sofá, / Já órfão das almofadas que
eram tuas. / Brinco com a ponta dos pés / Entre os cacos de vidro. / O velho
porta-retratos / Agora não é mais que lixo. / Recolho as sobras da foto. / Dói
contemplar nossos sorrisos rasgados. / Cambaleio pelo corredor / Deixando
rastros de unhas na parede. / Deito na metade da cama / Entre o excesso de
travesseiros. / Cubro até o meio das pernas. / Leio quase um capítulo / Quase
sem interesse. / As lágrimas por tua ausência / Seco na ponta de um lenço
esquecido. / Engulo o resto de um choro salgado. / Não vejo o copo meio cheio.
/ Deixaste minha vida aos pedaços.
Bocados, poema da escritora Bárbara Sanco.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Arte by Willow Bader
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Peace,
by Lorenzo Villa
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.