quinta-feira, setembro 01, 2016

PHILLIP PULLMAN, DVOŘÁK, PHILIPPOT, COHEN-TANNOUDJI, ALISA WEILERSTEIN, KATYUCIA MELO, WILLOW BADER & BÁRBARA SANCO


QUANDO O FUTURO CHEGA AO PRESENTE – Zé Peiúdo tivera seus dias de gloria, tudo vencera como quisera: domínio sobre a mulher, filhos, familiares e amigos. Prevalecera a sua vontade. Tivera amantes, duas matara: mijaram fora do caco. Amigos, muitos; do mesmo jeito que ganhara, perdera. Outros fizera e se foram. A cada nova investida, uma batalha: muitos se perdiam sucumbindo às fileiras dos desafetos. Por seus interesses até compadrios estreitos com inimigos e o cordão dos antipatizantes mais prosperava. Muitos, antes a favor, ficaram do contra e ferrenhos. Os filhos cresceram, privilegiava os obedientes, justiça pros demais: nem bicho de estimação. Negócios, só do seu interesse; se acoloiava com gregos e troianos, acumulara vitórias solitárias. Os que arregimentara, pregavam sua cartilha. Cantara vitórias, removia obstáculos: rasteiras, cruzetas, traições. Sempre vitorioso e só. Os anos se passaram, décadas do futuro longínquo agora: só reclamos de abandono, sem mulher e filhos, só amigos interesseiros ao redor. O que fiz, meu Deus, pra merecer isso? Uma voz desconhecida sem face sussurou ao seu ouvido: - Fez sua parte? O futuro quando chega parece tudo morto e esquecido. Lego engano. O futuro é como a História: um prato frio bastante indigesto. Assustou-se, procurou ao redor quem falara. Lugar mais limpo. Agora, insone, vitorioso e cada vez mais solitário remoía, regurgitava e ruminava cada detalhe de um passado distante vivíssimo na memória. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui

 Curtindo o álbum Dvorak Cello Concerto op. 104 (Decca, 2014), do compositor checo Antonín Dvořák (1841-1904), na interpretação da violoncelista estadunidense Alisa Weilerstein com a Czech Philharmonic Orchestra, regida por Jirí Belohlávek e performer de Anna Polonsky. Veja mais aqui.

PESQUISA:
[...] a fronteira entre o ruído e o som musical, ocupada até nossos dias somente por instrumentos de percussão de som indeterminado, torna-se uma larga zona imprecisa, utilizável, ela também, na composição musical. Mas, repitamo-la, a tomada de posse da tonalidade do universo sonoro não justifica nem o deixar-correr, nem o acaso, nem a incoerência; e a organização consciente continua, ainda hoje, o mais seguro critério da música. [...]
Trecho extraído da obra Écrits (Delatour France, 1998), do compositor, matemático musicólogo, esteticista, locutor e educador francês Michel Philippot (tradução de Haroldo de Campos, in. A arte no horizonte do provável – Perspectiva, 1977).

LEITURA 
[...] Aquele era o mundo dela. Ela queria que ele permanecesse a mesma coisa para sempre, mas ele estava mudando ao seu redor, pois alguém lá fora estava roubando crianças. Ela se sentou na cumeeira do telhado, o queixo apoiado nas mãos. [...]
Trecho da obra A bússola dourada (Objetiva, 1998), primeiro volume da premiada trilogia Fronteiras do Universo, do escritor britânico Phillip Pullman, adaptada para o cinema The Golden Compass (2007), dirigido por Chris Weitz, ganhador do Oscar de melhores efeitos visuais.

PENSAMENTO DO DIA:
[...] Os conceitos físicos, nossos conceitos, não pretendem mais descrever diretamente o mundo, mas somente as linhas do horizonte que o conhecimento sensível, prático ou experimental traça sobre esse mundo [...] É nesse pensamento do mundo que se realiza a crença da inteligibilidade do mundo. A razão do milagre da adequação das matemáticas à realidade parece-me residir no fato de que nada é mais ou melhor matematizável do que o movimento de uma linha do horizonte [...].
Trecho da obra Les constantes universelles et la physique de l’horizon (La Recherche, 1995), do físico e professor francês Gilles Cohen-Tannoudji.

IMAGEM DO DIA; 
A arte da fotógrafa Katyucia Melo.

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DESTAQUE
Durmo só um terço da noite alta. / Levanto seminua, / Com um tanto de fome sei lá de quê. / Como uma fatia de vida torta. / Tomo uns goles de fel. / Sento no canto do sofá, / Já órfão das almofadas que eram tuas. / Brinco com a ponta dos pés / Entre os cacos de vidro. / O velho porta-retratos / Agora não é mais que lixo. / Recolho as sobras da foto. / Dói contemplar nossos sorrisos rasgados. / Cambaleio pelo corredor / Deixando rastros de unhas na parede. / Deito na metade da cama / Entre o excesso de travesseiros. / Cubro até o meio das pernas. / Leio quase um capítulo / Quase sem interesse. / As lágrimas por tua ausência / Seco na ponta de um lenço esquecido. / Engulo o resto de um choro salgado. / Não vejo o copo meio cheio. / Deixaste minha vida aos pedaços.
Bocados, poema da escritora Bárbara Sanco.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Arte by Willow Bader
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Peace, by Lorenzo Villa
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
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