Imagem: Acervo ArtLAM.
A música contemporânea possui uma ligação
intrínseca com a música do passado; muitas vezes, um passado muito distante.
Como um processo contínuo que nunca se rompeu completamente... Toquem, gravem e
divulguem obras de compositoras, de compositores, de grupos étnicos não
privilegiados pela mídia...
Ao som de O porto e outros portos
(2020), Pêndulo (2021) e Canção de outono (USP-Filarmônica, 2023), da
compositora Silvia Berg, que também é
regente, professora e pesquisadora da USP.
SALVE A MÚTUA LOQUACIDADE
DOS ENTROCAMENTOS ESCATOLÓGICOS... - Um passo, tal uma jogada: não atravessará impune o
tabuleiro, ninguém. Uma tuia de imprevisibilidades no ar e por um triz. Livre-se
ou passe bem. Pode-se, de qualquer forma, a tentativa de burlar pelo ileísmo e
levar como se fosse fulano escapando de gaslighting, síndrome de
juvenoia e outras sindêmicas calamidades dessa doida pós-modernidade. Lá ou cá,
há quem sofra de abstinência financeira e do paradoxo de Salomão, quando menos mal: se o terraço caiu, logo logo
não sobrará nada além do quintal devastado. Isso poderia ser o caos, para dizer
o mínimo. O que não é nada para quem nunca teve moderação com gastos e cois&tal.
Na vera, melhor seguir Ariana Harwicz: Devemos
parecer entusiasmados, devemos mostrar aos outros que aproveitamos a vida...
Mesmo que saiba que ninguém está isento de lapadas tidas por injustificáveis na
vida, dizer asneiras ou blasfêmias será sempre como se aliviando na privada. Ato
falho que seja é sempre ofensa e todo mundo vive de véspera: quando chega o
grande dia já não tem a menor graça. E se não tiver uma
panelinha agitando todo coreto, o resto é tudo do contra: todos são cúmplices
até que se prove qualquer inocência. Vale o que disse Olive Schriner: Sem sonhos e fantasmas o
homem não pode existir... Então, mãos à obra! Faz tempo que a estupidez
chegou aqui pra ficar e isso há uns 500 anos... hoje quem não é estúpido na
entrada, deixa o rastro fedorento na saída. Nem ligue se tudo parecia com as
risadagens aos peidos de festa do Mozart - no cânone em si bemol maior, Leck mich im Arsch, para seis vozes em uma rodada de três partes, K231 (K.382c).
Maior alarido. Acha pouco? Na verdade, a insegurança já
faz parte do pacote! Não esquenta! Se o fim está próximo na ebulição
global, com o negacionismo geral do alpinismo social das cantilenas
daqueloutros tribalistas qua andam feito carros blindados nas nonsenses
pirotécnicas espalhafatosas de sua Planolância: ars moriend! Já dizia Carla Porta Musa: O que conta, digo a mim
mesmo, é o minuto claro... O outro pertence ao passado... Sim, porque o melhor mesmo seria ficar de bocaberta e papo pro ar diante
duma Anjana da Cantábria, querendo fazer de
mim o seu báculo. Seria uma cosmovisão viandante, maior regalo! Resta somente começar, recomeçar e de novo tudo outra vez
e novamente. Do zero e, daí, sobreviver: luto e luta. Salvemo-nos,
terrabolistas! Até mais ver.
DOIS POEMAS
Imagem: Acervo ArtLAM.
INVERNO NO LESTE - o inverno respira pela
janela mais uma vez, \ telhados vazam e seu nariz pinga,\ já vem pontificando:\
e aí, inverno, o fim de todos é igual:\ austero, frio e escuro como neblina.\ algumas
terras não estão cobertas por um manto de neve, \ mas uma mortalha funerária genuína.\
a luz desenha sulcos e a água congela nos canos.\ Fevereiro se estende como um
sorriso amargo.\ mas na adega, como maçãs de inverno\ (nem tão rosado),\ as
pessoas se guardam\ então eles podem durar até a primavera.\ alguém mais os
está preservando?
AULAS DE DANÇA COM GRAVIDADE - eles dançam com você, gravidade, todo mundo. \ mas
só os corajosos sabem os passos que devem tomar. \ você tem aquela
característica cruel, mas equalizadora: \ tanto a pedra quanto a pena são
atraídas por você.\ usando sua coroa que desce em direção ao chão, \ eu caminho
obedientemente para onde você me guia. \ Eu te amo muito, querida gravidade, \ e
não trocaria você, nem por asas.
Poemas da poeta, diplomata e tradutora estoniana Eda Ahi, autora de obras como Maskiball (2012), Sadam (2018) e Sõda ja rahutus (2019).
O SILÊNCIO DA CIDADE BRANCA - [...] Às vezes, a memória enfia tachinhas em momentos triviais
do passado e os fixa para sempre, mesmo que “para sempre” pareça muito tempo. [...] Entendi que a dor também une as pessoas,
talvez mais do que as alegrias, porque, como as pessoas boas e ingratas que
todos somos, logo nos esquecemos delas. [...] Pessoas feridas são
perigosas porque sabem que podem sobreviver. [...] Às vezes o tempo no
calendário não tem nada a ver com o tempo mental ou emocional que cada pessoa
vive dentro de si. [...] Tem gente que sabe receber golpes, aprende a
recebê-los de novo e de novo, essa é a sua força. Mas
não sabem fugir, a mera ideia de um mundo desconhecido os paralisa. [...] Estou cansado de esperar que as circunstâncias
sejam perfeitas, elas nunca são. [...] Ele não precisava de palavras
para estar certo, geralmente estava. A razão do sensato. [...]. Trechos extraídos da obra El silencio de la
ciudad blanca: Trilogia de la Ciudad Blanca (Planeta,
2016), da escritora espanhola Eva García Sáenz de Urturi. Veja mais aqui.
A FORÇA DA NÃO-VIOLÊNCIA - [...] O fato de os esforços políticos de dissidência e crítica
serem frequentemente rotulados como “violentos” pelas próprias autoridades
estatais que são ameaçadas por esses esforços não é motivo para desesperar no
uso da linguagem. Significa apenas que temos de expandir e refinar o
vocabulário político para pensar sobre a violência e a resistência à violência,
tendo em conta como esse vocabulário é distorcido e utilizado para proteger as
autoridades violentas contra a crítica e a oposição. Quando
as críticas à continuação da violência colonial são consideradas violentas
(Palestina), quando uma petição pela paz é reformulada como um acto de guerra
(Turquia), quando as lutas pela igualdade e pela liberdade são construídas como
ameaças violentas à segurança do Estado (Black Lives Matter), ou quando o
“género” é retratado como um arsenal nuclear dirigido contra a família
(ideologia anti-género), então estamos a operar no meio de formas de
fantasmagoria com consequências políticas. [...]
Por que uma petição pela paz é
chamada de ato “violento”? Por que uma barricada humana que impede a polícia é
chamada de ato de agressão “violenta”? Em que condições e em que enquadramentos
ocorre a inversão da violência e da não-violência? Não há como praticar a
não-violência sem primeiro interpretar a violência e a não-violência,
especialmente num mundo em que a violência é cada vez mais justificada em nome
da segurança, do nacionalismo e do neofascismo. O Estado monopoliza a violência
ao chamar os seus críticos de “violentos”: sabemos disso através de Max Weber,
Antonio Gramsci e de Benjamin. Portanto, devemos ser cautelosos com aqueles que
afirmam que a violência é necessária para conter ou controlar a violência;
aqueles que elogiam as forças da lei, incluindo a polícia e as prisões, como
árbitros finais. Opor-se à violência é compreender que a violência nem sempre
assume a forma do golpe [...] Não
há como nomear algo como violência ou não-violência sem invocar imediatamente o
quadro em que essa designação faz sentido. Isto pode parecer uma
forma de relativismo – o que vocês chamam de violência, eu não chamo de
violência, e assim por diante – mas é algo bem diferente. Na
opinião de Benjamin, a violência legal renomeia regularmente o seu próprio
carácter violento como coerção justificável ou força legítima, higienizando
assim a violência em jogo. Benjamin documenta o que acontece com termos como
“violência” e “não-violência”, uma vez que compreendemos que os quadros dentro
dos quais estas definições são asseguradas estão oscilando. Ele
observa que um regime jurídico que procura monopolizar a violência deve chamar
cada ameaça ou desafio a esse regime de “violento”. Portanto,
pode renomear a sua própria violência como força necessária ou obrigatória, até
mesmo como coerção justificável, e porque funciona através da lei, como a lei,
é legal e, portanto, justificada. [...] Embora eu não siga inteiramente Benjamin até à sua conclusão
anarquista, concordo com a sua afirmação de que não podemos simplesmente
assumir uma definição de violência e depois começar os nossos debates morais
sobre a justificação sem primeiro examinar criticamente como a violência foi
circunscrita e qual a versão que se presume. no debate em questão. Um
procedimento crítico perguntaria também sobre o próprio esquema justificativo
em funcionamento num tal debate, as suas origens históricas, os seus pressupostos
e execuções. A razão pela qual não podemos começar por afirmar que
tipo de violência é justificada e o que não o é é que a “violência” é desde o
início definida dentro de certos enquadramentos e chega até nós sempre já
interpretada, “elaborada” pelo seu enquadramento. Dificilmente
podemos ser a favor ou contra algo cuja própria definição nos escapa, ou que
aparece de formas contraditórias que não temos explicação. [...] A tarefa passa, assim, a ser rastrear as
formas padronizadas que a violência procura nomear como violento aquilo que lhe
resiste, e como o carácter violento de um regime jurídico é exposto à medida
que reprime à força a dissidência, pune os trabalhadores que recusam os termos
exploratórios dos contratos, sequestra minorias , aprisiona seus críticos e
expulsa seus potenciais rivais [...] Se a proibição de matar permanecer
na presunção de que todas as vidas são valiosas – que têm valor como vidas, em
seu estatuto como seres vivos – então a universalidade da afirmação só se
mantém na condição de que o valor se estenda igualmente a todos os seres vivos. Isto
significa que temos que pensar não apenas nas pessoas, mas também nos animais; e não
apenas sobre criaturas vivas, mas sobre processos vivos, sistemas e formas de
vida. [...] A questão seria repensar a relacionalidade da
vida regularmente coberta por tipologias que distinguem formas de vida. Nessa
relacionalidade, eu incluiria conceitos de interdependência, e não apenas
aqueles entre criaturas humanas vivas – pois as criaturas humanas que vivem em
algum lugar, necessitando de solo e água para a continuação da vida, também
vivem num mundo onde as reivindicações das criaturas não-humanas à vida se
sobrepõe claramente à reivindicação humana, e onde os não-humanos e os humanos
são também, por vezes, bastante dependentes uns dos outros para a vida. Essas
zonas de vida (ou vivência) sobrepostas devem ser pensadas como relacionais e
processuais, mas também, cada uma delas, como exigindo condições para a
salvaguarda da vida. [...]. Trechos extraídos
da obra The Force of Nonviolence: An Ethico-Political Bind (Penguin
Random House, 2020), da filósofa pós-estruturalista estadunidense Judith Butler. Veja mais aqui.
A DAMA DO TEATRO GENINHA DA ROSA BORGES
[...] É preciso sonhar, ousar e trabalhar.
Assim os sonhos se realizam. [...]
Pra matar fome de vida \ só sendo atriz como sou:
\ já fui pobre, já fui rica \ já fui freira e fui mendiga \ já fui branca e já
fui negra \ casada, solteira, amante \ cadela gritando sexo \ e mãe também
extremosa \ mas o que nunca pensei \ nessa carreira enfrentar \ foi viver a
personagem \ Putain de Taperoá.
Pensamento e versos da premiadíssima atriz Geninha da Rosa Borges (1922-2022) – a Grande
Dama do Teatro Pernambucano, num volume organizado por Márcia Botto. Veja mais
aqui e aqui.
&
EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA
[...] propor a criticidade na educação básica deve vir acompanhada
do ensino da língua pela língua, o que nos levara a trabalhar de novas formas,
com novas propostas, que não as estabelecidas normativamente. Isso pode querer
dizer, por exemplo, fazer uso da língua materna em determinados momentos. [...]
Trecho do estudo Educação
linguística, pós-memória e mudança: repensando
aulas de língua inglesa na escola e na formação docente,
desenvolvido e publicado pelos professores João
Paulo de Souza Araújo e Samara Braga Jorge, extraído da obra Discussões sobre educação linguística e formação docente do e
com o GEELLE – Grupo de Estudos sobre Educação Linguística em Línguas Estrangeiras - Serie GEELLE USP, Volume 1 (Pimenta Cultural, 2024),
organizado por Daniel de Mello Ferraz e Luciana Carvalho Fonseca. Veja mais aqui e aqui.
UM OFERECIMENTO: SANTOS MELO LICITAÇÕES
Veja detalhes aqui.
&
Tem mais:
Livros Infantis Brincarte do Nitolino aqui.
Curso: Arte supera timidez aqui.
Poemagens & outras versagens aqui.
Diário TTTTT aqui.
Cantarau Tataritaritatá aqui.
Teatro Infantil: O lobisomem Zonzo aqui.
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VALUNA – Vale do Rio Una aqui.
&
Crônica de amor por ela aqui.