segunda-feira, março 18, 2024

JUDITH BUTLER, EDA AHI, EVA GARCÍA SÁENZ, DAMA DO TEATRO & EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA

 

Imagem: Acervo ArtLAM.

A música contemporânea possui uma ligação intrínseca com a música do passado; muitas vezes, um passado muito distante. Como um processo contínuo que nunca se rompeu completamente... Toquem, gravem e divulguem obras de compositoras, de compositores, de grupos étnicos não privilegiados pela mídia...

Ao som de O porto e outros portos (2020), Pêndulo (2021) e Canção de outono (USP-Filarmônica, 2023), da compositora Silvia Berg, que também é regente, professora e pesquisadora da USP.

 

SALVE A MÚTUA LOQUACIDADE DOS ENTROCAMENTOS ESCATOLÓGICOS... - Um passo, tal uma jogada: não atravessará impune o tabuleiro, ninguém. Uma tuia de imprevisibilidades no ar e por um triz. Livre-se ou passe bem. Pode-se, de qualquer forma, a tentativa de burlar pelo ileísmo e levar como se fosse fulano escapando de gaslighting, síndrome de juvenoia e outras sindêmicas calamidades dessa doida pós-modernidade. Lá ou cá, há quem sofra de abstinência financeira e do paradoxo de Salomão, quando menos mal: se o terraço caiu, logo logo não sobrará nada além do quintal devastado. Isso poderia ser o caos, para dizer o mínimo. O que não é nada para quem nunca teve moderação com gastos e cois&tal. Na vera, melhor seguir Ariana Harwicz: Devemos parecer entusiasmados, devemos mostrar aos outros que aproveitamos a vida... Mesmo que saiba que ninguém está isento de lapadas tidas por injustificáveis na vida, dizer asneiras ou blasfêmias será sempre como se aliviando na privada. Ato falho que seja é sempre ofensa e todo mundo vive de véspera: quando chega o grande dia já não tem a menor graça. E se não tiver uma panelinha agitando todo coreto, o resto é tudo do contra: todos são cúmplices até que se prove qualquer inocência. Vale o que disse Olive Schriner: Sem sonhos e fantasmas o homem não pode existir... Então, mãos à obra! Faz tempo que a estupidez chegou aqui pra ficar e isso há uns 500 anos... hoje quem não é estúpido na entrada, deixa o rastro fedorento na saída. Nem ligue se tudo parecia com as risadagens aos peidos de festa do Mozart - no cânone em si bemol maior, Leck mich im Arsch, para seis vozes em uma rodada de três partes, K231 (K.382c). Maior alarido. Acha pouco? Na verdade, a insegurança já faz parte do pacote! Não esquenta! Se o fim está próximo na ebulição global, com o negacionismo geral do alpinismo social das cantilenas daqueloutros tribalistas qua andam feito carros blindados nas nonsenses pirotécnicas espalhafatosas de sua Planolância: ars moriend! Já dizia Carla Porta Musa: O que conta, digo a mim mesmo, é o minuto claro... O outro pertence ao passado... Sim, porque o melhor mesmo seria ficar de bocaberta e papo pro ar diante duma Anjana da Cantábria, querendo fazer de mim o seu báculo. Seria uma cosmovisão viandante, maior regalo! Resta somente começar, recomeçar e de novo tudo outra vez e novamente. Do zero e, daí, sobreviver: luto e luta. Salvemo-nos, terrabolistas! Até mais ver.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

INVERNO NO LESTE - o inverno respira pela janela mais uma vez, \ telhados vazam e seu nariz pinga,\ já vem pontificando:\ e aí, inverno, o fim de todos é igual:\ austero, frio e escuro como neblina.\ algumas terras não estão cobertas por um manto de neve, \ mas uma mortalha funerária genuína.\ a luz desenha sulcos e a água congela nos canos.\ Fevereiro se estende como um sorriso amargo.\ mas na adega, como maçãs de inverno\ (nem tão rosado),\ as pessoas se guardam\ então eles podem durar até a primavera.\ alguém mais os está preservando?

AULAS DE DANÇA COM GRAVIDADE - eles dançam com você, gravidade, todo mundo. \ mas só os corajosos sabem os passos que devem tomar. \ você tem aquela característica cruel, mas equalizadora: \ tanto a pedra quanto a pena são atraídas por você.\ usando sua coroa que desce em direção ao chão, \ eu caminho obedientemente para onde você me guia. \ Eu te amo muito, querida gravidade, \ e não trocaria você, nem por asas.

Poemas da poeta, diplomata e tradutora estoniana Eda Ahi, autora de obras como Maskiball (2012), Sadam (2018) e Sõda ja rahutus (2019).

 

O SILÊNCIO DA CIDADE BRANCA - [...] Às vezes, a memória enfia tachinhas em momentos triviais do passado e os fixa para sempre, mesmo que “para sempre” pareça muito tempo. [...] Entendi que a dor também une as pessoas, talvez mais do que as alegrias, porque, como as pessoas boas e ingratas que todos somos, logo nos esquecemos delas. [...] Pessoas feridas são perigosas porque sabem que podem sobreviver. [...] Às vezes o tempo no calendário não tem nada a ver com o tempo mental ou emocional que cada pessoa vive dentro de si. [...] Tem gente que sabe receber golpes, aprende a recebê-los de novo e de novo, essa é a sua força. Mas não sabem fugir, a mera ideia de um mundo desconhecido os paralisa. [...] Estou cansado de esperar que as circunstâncias sejam perfeitas, elas nunca são. [...] Ele não precisava de palavras para estar certo, geralmente estava. A razão do sensato. [...]. Trechos extraídos da obra El silencio de la ciudad blanca: Trilogia de la Ciudad Blanca (Planeta, 2016), da escritora espanhola Eva García Sáenz de Urturi. Veja mais aqui.

 

A FORÇA DA NÃO-VIOLÊNCIA - [...] O fato de os esforços políticos de dissidência e crítica serem frequentemente rotulados como “violentos” pelas próprias autoridades estatais que são ameaçadas por esses esforços não é motivo para desesperar no uso da linguagem. Significa apenas que temos de expandir e refinar o vocabulário político para pensar sobre a violência e a resistência à violência, tendo em conta como esse vocabulário é distorcido e utilizado para proteger as autoridades violentas contra a crítica e a oposição. Quando as críticas à continuação da violência colonial são consideradas violentas (Palestina), quando uma petição pela paz é reformulada como um acto de guerra (Turquia), quando as lutas pela igualdade e pela liberdade são construídas como ameaças violentas à segurança do Estado (Black Lives Matter), ou quando o “género” é retratado como um arsenal nuclear dirigido contra a família (ideologia anti-género), então estamos a operar no meio de formas de fantasmagoria com consequências políticas. [...] Por que uma petição pela paz é chamada de ato “violento”? Por que uma barricada humana que impede a polícia é chamada de ato de agressão “violenta”? Em que condições e em que enquadramentos ocorre a inversão da violência e da não-violência? Não há como praticar a não-violência sem primeiro interpretar a violência e a não-violência, especialmente num mundo em que a violência é cada vez mais justificada em nome da segurança, do nacionalismo e do neofascismo. O Estado monopoliza a violência ao chamar os seus críticos de “violentos”: sabemos disso através de Max Weber, Antonio Gramsci e de Benjamin. Portanto, devemos ser cautelosos com aqueles que afirmam que a violência é necessária para conter ou controlar a violência; aqueles que elogiam as forças da lei, incluindo a polícia e as prisões, como árbitros finais. Opor-se à violência é compreender que a violência nem sempre assume a forma do golpe [...] Não há como nomear algo como violência ou não-violência sem invocar imediatamente o quadro em que essa designação faz sentido. Isto pode parecer uma forma de relativismo – o que vocês chamam de violência, eu não chamo de violência, e assim por diante – mas é algo bem diferente. Na opinião de Benjamin, a violência legal renomeia regularmente o seu próprio carácter violento como coerção justificável ou força legítima, higienizando assim a violência em jogo. Benjamin documenta o que acontece com termos como “violência” e “não-violência”, uma vez que compreendemos que os quadros dentro dos quais estas definições são asseguradas estão oscilando. Ele observa que um regime jurídico que procura monopolizar a violência deve chamar cada ameaça ou desafio a esse regime de “violento”. Portanto, pode renomear a sua própria violência como força necessária ou obrigatória, até mesmo como coerção justificável, e porque funciona através da lei, como a lei, é legal e, portanto, justificada. [...] Embora eu não siga inteiramente Benjamin até à sua conclusão anarquista, concordo com a sua afirmação de que não podemos simplesmente assumir uma definição de violência e depois começar os nossos debates morais sobre a justificação sem primeiro examinar criticamente como a violência foi circunscrita e qual a versão que se presume. no debate em questão. Um procedimento crítico perguntaria também sobre o próprio esquema justificativo em funcionamento num tal debate, as suas origens históricas, os seus pressupostos e execuções. A razão pela qual não podemos começar por afirmar que tipo de violência é justificada e o que não o é é que a “violência” é desde o início definida dentro de certos enquadramentos e chega até nós sempre já interpretada, “elaborada” pelo seu enquadramento. Dificilmente podemos ser a favor ou contra algo cuja própria definição nos escapa, ou que aparece de formas contraditórias que não temos explicação. [...] A tarefa passa, assim, a ser rastrear as formas padronizadas que a violência procura nomear como violento aquilo que lhe resiste, e como o carácter violento de um regime jurídico é exposto à medida que reprime à força a dissidência, pune os trabalhadores que recusam os termos exploratórios dos contratos, sequestra minorias , aprisiona seus críticos e expulsa seus potenciais rivais [...] Se a proibição de matar permanecer na presunção de que todas as vidas são valiosas – que têm valor como vidas, em seu estatuto como seres vivos – então a universalidade da afirmação só se mantém na condição de que o valor se estenda igualmente a todos os seres vivos. Isto significa que temos que pensar não apenas nas pessoas, mas também nos animais; e não apenas sobre criaturas vivas, mas sobre processos vivos, sistemas e formas de vida. [...] A questão seria repensar a relacionalidade da vida regularmente coberta por tipologias que distinguem formas de vida. Nessa relacionalidade, eu incluiria conceitos de interdependência, e não apenas aqueles entre criaturas humanas vivas – pois as criaturas humanas que vivem em algum lugar, necessitando de solo e água para a continuação da vida, também vivem num mundo onde as reivindicações das criaturas não-humanas à vida se sobrepõe claramente à reivindicação humana, e onde os não-humanos e os humanos são também, por vezes, bastante dependentes uns dos outros para a vida. Essas zonas de vida (ou vivência) sobrepostas devem ser pensadas como relacionais e processuais, mas também, cada uma delas, como exigindo condições para a salvaguarda da vida. [...]. Trechos extraídos da obra The Force of Nonviolence: An Ethico-Political Bind (Penguin Random House, 2020), da filósofa pós-estruturalista estadunidense Judith Butler. Veja mais aqui.

 

A DAMA DO TEATRO GENINHA DA ROSA BORGES

[...] É preciso sonhar, ousar e trabalhar. Assim os sonhos se realizam. [...]

Pra matar fome de vida \ só sendo atriz como sou: \ já fui pobre, já fui rica \ já fui freira e fui mendiga \ já fui branca e já fui negra \ casada, solteira, amante \ cadela gritando sexo \ e mãe também extremosa \ mas o que nunca pensei \ nessa carreira enfrentar \ foi viver a personagem \ Putain de Taperoá.

Pensamento e versos da premiadíssima atriz Geninha da Rosa Borges (1922-2022) – a Grande Dama do Teatro Pernambucano, num volume organizado por Márcia Botto. Veja mais aqui e aqui.

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EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA

[...] propor a criticidade na educação básica deve vir acompanhada do ensino da língua pela língua, o que nos levara a trabalhar de novas formas, com novas propostas, que não as estabelecidas normativamente. Isso pode querer dizer, por exemplo, fazer uso da língua materna em determinados momentos. [...]

Trecho do estudo Educação linguística, pós-memória e mudança: repensando aulas de língua inglesa na escola e na formação docente, desenvolvido e publicado pelos professores João Paulo de Souza Araújo e Samara Braga Jorge, extraído da obra Discussões sobre educação linguística e formação docente do e com o GEELLE – Grupo de Estudos sobre Educação Linguística em Línguas Estrangeiras - Serie GEELLE USP, Volume 1 (Pimenta Cultural, 2024), organizado por Daniel de Mello Ferraz e Luciana Carvalho Fonseca. Veja mais aqui e aqui.

 

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Tem mais:

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