DAS AVESSAS PRO REVESTRÉS – Joãotilio teve um troço de esticar
as pernas assim de repente e foi bater de cara no inferno. Eita! O capeta
esperava com um riso sardônico, afiando as pontas do tridente e cheio do
caqueado: Chegou, foi! Joãtilio deu logo um freio de enterrar os pés no chão,
chega o tinhoso chasqueou: Dê pra trás não, mô fio, tava só lhe esperando. Ah,
mas logo pro inferno, meu? Queria ir pra onde, hem? Acho que merecia uma
coisinha melhor! A-rá! Quer melhorzinha é? Vem cá que vou puxar sua folha
corrida lá embaixo, achegue, venha. Tá doido? Esse rolo todo aí sou eu? Tem
mais uns três desses, quer ver? Deus me livre! Nem se ele quisesse, mô fio. Ah,
não. Ah, sim. Tem de haver um jeito de me sair dessa. Hem, hem, tem não. Vamos
negociar! Você não tem nem onde cair morto, mô fio, ainda quer regatear? Claro,
ora. Veja só: você morreu de ruim e se a gente fizer uma recapitulação verá que
aqui você estará melhor do que onde estava. Sei não. Saberá, destá. Xô, pra lá.
Nada, venha ver, se achegue, venha, você vai gostar, espie ali, veja. Quando
viu, berrou: Oxe, mas é talqualzinha a vida lá na terra. Sim, mô fio, a mesma
coisinha, só tem uma diferença: ninguém dorme. É mesmo? E pode fazer o que
quiser! Como assim? Aqui pode tudo. Sei não, tenho opção? Hem, hem, tem não.
Tem de ter! E para isso teve que suar a camisa. Não tinha lá o tino de um
Camonge ou Malasartes, mas usou da sua astúcia. Caíram na maior parolagem. Vai
daqui para acolá, tome lá, dê cá. O seu ajeitado parecia suspeito, porquanto
cheio de lábia conseguiu persuadi-lo: Olhe, qual a garantia? Ah, está abusando
das prerrogativas. Mas quero ver o purgatório como é que é. Então vá, eu espero.
E foi. Chegou lá, mais parecia uma prisão: as almas todas cativas,
acorrentadas, aprisionadas. Vôte! Dá pra mim não. Vou é ver o céu. Fez meia
volta e caiu enchendo tudo de pernas. Saiu, andou que só, lá pras tantas, deu
na portaria do céu. Não tinha ninguém. Pra falar a verdade, nem parecia céu,
nem nada. Vasculhou a redondeza, viu um pitoco, apertou, enfiou o dedo uma tuia
de vezes, quem sabe, seja uma campainha, nada de aparecer um pé de gente ou
coisa que fosse. Lá pras tantas, depois de futucar que só, sobrecarregado de
dúvidas, sentou-se no chão e matutou. Eis a revelação: É bem diferente do céu
que falavam pra gente. Pra falar a verdade: o céu não existe! Nada do que
disseram e pensei que tinha aprendido. Que rasteira. Ah, pensei que morrendo
resolvia todos os meus problemas; mas não, estou no osso mucumbu de não sei
onde e não tenho para onde arribar, afinal. Nem mesmo depois de morto eu
consigo sossegar. Tem nada não, que fazer? Feliz aniversário para mim. Vou nessa.
© Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] As mulheres
representa, hoje, uma força revolucionária. Estamos descobrindo nosso valor,
nossa força e nosso poder. À medida que nós definirmos novos papéis – no lar e
na sociedade – alteraremos o mundo. Como os homens estão se propondo a
descobrir seus sentimentos intuitivos e provedores, e as mulheres estão
descobrindo sua competência e assertividade, nós – mulheres e homens – podemos
trabalhar juntos para nos darmos oportunidades iguais: igualdade profissional,
de poder e liderança (todas as três têm sido negadas à maioria das mulheres) e
igualdade de oportunidades no desempenho do papel materno, na criação de um
ambiente acolhedor para a família, no direito ao lazer e a uma vida longa
(coisas negadas à maioria dos homens). Se encontrarmos equilíbrio interior, encontraremos
também equilíbrio entre homens e mulheres. Então, estaremos aptos a nos
abrirmos para relacionamentos mais harmoniosos e ternos entre pessoas.
Trecho extraído da obra A mulher emergente: uma experiência de vida (Martins Fontes, 1993),
da psicoterapeuta, artista, escritora e educadora Natalie Rogers (1928-2015), fundadora do Instituto de Terapia Expressiva Centrada na Pessoa (PCETI). Veja mais aqui.
MAXAMBOMBAS E MARACATUS
[...] O subdelegado comparecia cedo, de feltro
acabanado, andar gingador, olhar duro, bengala de volta, seguido de duas ou
três ordenanças de quépis de banda e compridos refles. Quase dez horas.
Impaciência geral. Reclamações, berros, sapateados. – Essa joça não principia,
não? – Está parecida com as obras do porto... – Ou com o bonde elétrico de
Olinda... – Vai com isso! – Eu já vou lá meter o porrete nessas pastoras! Uma
velha surde no trabalho e suplica: - Aquéta, minha gente. As “meninas” estão se
vestindo... – Sai daí, Marocas boca de mulambo! [...].
Trecho
de Um sereno no casamento, extraído
da obra Maxambimbas e maracatus
(Cultura Brasileira, 1935), do jornalista, escritor e professor Mario Sette (1886-1950). Veja mais aqui
& aqui.
A ARTE DE CARMEN BEUCHAT
A arte
da artista, coreógrafa e dançarina chilena Carmen
Beuchat. Veja mais aqui.
A OBRA DE GEORGES BATAILLE
No que vai sobreviver a mim estou em harmonia com minha
aniquilação. Rir do universo liberou minha vida. Eu escapei do seu peso rindo.
Recuso quaisquer traduções intelectuais desse riso, já que minha escravidão se
tornaria a partir daquele momento.
A obra
do escritor francês Georges Bataille (1897-1962) aqui, aqui, aqui, aqui,
aqui, aqui, aqui & aqui.