E BOTE OLHO GRANDE NA PETA! – Conversa de caçador já viu. E não só, ali estavam, parece, pescadores,
vigias, barbeiros, tudo quanto é de pariceiro exímio de treloso nas avultadas contações
do vulgo e inventados. Cada um puxa das suas e bote pinoia, parece mais
competição. Mastá, pilhéria é que vale no fim das contas. Entre eles, Tó Zeca
lidera na facécia, só que dita como caso vero, de bater o pé no chão: acredite
quem quiser. Nunca passou aperto, contasse uma, ele vinha com maior absurdo,
findava no apupo. E se está sem assunto, sai na hora, depõe uma ou outra
boataria ou invencionice que seja, se verdade ou não, aí é outra coisa, depende
do gosto, mas deixa tudo na base da verossimilhança, ah, isso deixa e na maior
verve. Chega logo dizendo: Essa eu vi, pode crer! Três apostadores negaceavam
blefes e barrunfos, desconfiados prestidigitadores das astúcias afiadas, de gato-por-lebre
um no outro em cada jogada, nem piscavam os olhos, quem é doido de cochilar:
cartas nas mangas, pelos abanhados, sacadas do cós das vestes ou detrás da
orelha, não tinha esse negócio de tirar um fino não, vai pou pou pou de bater
na mesa, tome na batata: bateu. Jogo duro, cada um sai na sua, adivinhando a
tática do outro por antecipação, tudo na estratégia do palpite, carregado ou de
lona, zás, tudo armado para batida. Nisso, cada um dá asa pras artes do diabo e
invocam-no na hora: Oxe, quero é ficar rico nas tuas costas, infeliz. Vale é
botar a mão no que o outro tiver, pra isso chamam o capeta pra ajudar na
tacada. Quer ver? Aí vai que ele dá as caras, teibei. Dinheiro caía do teto,
assim do nada. Que é isso? Cédulas e moedas despencando, da muita, correram da
roda para catar tudo. Cada um fazia seu monturo, tiveram que se ajudar para dar
conta. Era da muita mesmo, mais de hora caindo, incontáveis. Quando parou de
cair, ajuntaram tudo, comemoram na pinga e combinavam como repartir, assim,
assado, toma lá, dá cá, estão me roubando, preste atenção! Acabou-se a cachaça.
Quem vai comprar? Apostaram: quem perder vai buscar, quem ficar toma conta. Vai,
não vai. Olho grande, quem queria perder aquela tuia da fortuna? Ninguém arredava
o pé, pelejaram até sair um perdedor. Pronto. Tramaram. O que foi achou de
envenenar a birita: duas garrafas da boa de cabeça e outra de veneno; abriu as
tampas, pegou dum funil de querosene e misturou tudo, testou: pingo no chão,
riscou fósforo, pegou fogo na hora, pronto, tinindo, um gole e bate as botas. Os
outros dois acoloiados acertaram na espingarda. Foi só chegar e o pipoco comeu
no centro, menos um. Então, pegaram do aperitivo, talagada de cinco dedos,
ineivada, brindaram e viraram duma vez. Outra? Repetiram na dose dupla,
dobrada. Nem deram fé, caíram e esticaram as pernas. Benzodeus. A dinheirama
serviu pra quê mesmo, hem? Coisa com tinhoso dá nisso! Era uma vez. Ah, peraí
Tó Zeca, visse isso tudo? Vi. Desde o começo até o fim? Vi. E o dinheiro? Deu
de ombros, ah, não sei, maior motejo. Quem quiser que conte outra. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] fiz o que pude
para dizer se a ciência pode explicar tudo; peço licença para abordar a questão
de saber se a ciência pode explicar qualquer coisa. Claro que não. Certamente
sempre haverá acidentes que ninguém explicará. não porque não possam ser
explicados se soubéssemos todas as condições precisas que conduziram a eles,
mas porque jamais saberemos todas essas condições. Há questões como saber por
que o código genético é precisamente o que é ou por que um cometa atingiu a
Terra 65 milhões de anos atrás justamente nesse ponto e não em outro que
permanecerão para sempre fora de nosso alcance. [...] Talvez nossa melhor esperança para uma
explicação final seja descobrir um conjunto final de leis da natureza e mostrar
que essa é a única teoria rica logicamente consistente, rica o bastante, por
exemplo, para permitir a existência de nós mesmos. Isso talvez aconteça em um
ou dois séculos, e, se assim for, creio que os físicos estarão nos limites
extremos de seu poder de explicação. [...] como a Terra é um
entre um vasto número de planetas cujas distâncias de suas estrelas são, em boa
parte, uma questão do acaso, assim também a posição do pé é o resultado de um
vasto número de mutações casuais na evolução de nossos ancestrais. Um organismo
produzido por uma cadeia de mutações casuais que Ihe põe o pé dentro da boca
não sobreviveria para transmitir seus genes aos descendentes, tal como um
planeta que, por acaso, condensou muito perto ou muito longe de sua estrela não
seria o lar de filósofos. [...].
Trechos
extraídos de Os limites da
explicação científica (The New York
Review of Books - Folha de São Paulo, 2001), do físico estadunidense Steven Weinberg, Prêmio Novel de Física
de 1979, coautor da teoria da força eletrofraca, expressando que: Com ou sem religião, pessoas boas farão
coisas boas e pessoas más farão coisas más. Porém para pessoas boas fazerem
coisas más, é preciso religião.
A POESIA DE JANICE JAPIASSU
VIGÍLIA: Ateia fogueira
/ eu guardo teu sonho / - verseja, campeia / eu guardo teu sonho / - Desata a
viola / eu guardo teu sonho.
CANTIGA: A dor do
olho metálico / atira-me o ferro frio / e das lanternas quebradas / nem de leve
desconfio.
POEMA: Agora o sonho
meu, pássaro leve / que lança preso o chão sombras de ferro / depois que esse
chão medre / essa erva aflita / que encanto uma canção / como quem ressuscita.
DÁDIVA: Do abismo
meu / recebe a vaga flauta / e dá-me em troca o pão de tua mesa / mas se te
pesa / e o leve ouvir não podes / contempla o pássaro que foge e vê: / como é
medonho o grito que ele solta...
SE UM DIA
AMARES... : Se um dia amares o Sol, que é vero e forte / repousará em tuas mãos
aladas / reverterás a noite em pleno gozo / que a chama eterna já te foi doada
/ desata a vida tua, aprisionada / cavalga o mar, a dor e a profecia / Se um
dia amares, rasga a veste e grita / que a vida foi gerada na alegria!
Poemas extraídos da obra Poesias editadas 1970-2000 (Autor, 2015), da poeta e ilustradora Janice Japiassu, autora de obras como As
Veredas da Alegria (1978); O Reino das Águas (1982); As Quatro Estações da Lua
Nova (1985); O Circo dos Astros (1995); Com Todas as Letras (1997); ContraCanto
– Livro e CD (1997); Tarô (2000); A Paixão Segundo Madalena (2001); Poesias
Ilustradas, 400 cartões e cartazes (2005-2010). Veja mais aqui.
A ARTE DE VANESSA BEECROFT
Ninguém atua, nada acontece: nem ninguém
começa ou acaba nada.
A arte
da artista performática italiana Vanessa
Beecroft. Veja mais aqui.
&
A OBRA DE JEAN-PAUL SARTRE
A violência, seja qual for a maneira como ela
se manifesta, é sempre uma derrota. Quando os ricos fazem a guerra, são sempre
os pobres que morrem.
A obra do
filósofo, dramaturgo e escritor francês Jean-Paul Sartre (1905-1986)
aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.