sexta-feira, maio 24, 2019

CECÍLIA MEIRELES, CLARA LEFF, ETHEL FELDMAN, TEMPO DE PERNAMBUCO & PEÇAS RUAS DA CIDADE


PELAS RUAS DA CIDADE – Acenos pros que passam rostos vivos e mãos suadas que vão e outros vindos nem sei de onde, olá pros que estão nos parapeitos, nas filas, nos corrimões das rampas de acesso, ou jogando conversa fora, qualquer reverência, isso aí, como vai, bom dia pra lá, boa tarde para cá, boa noite, valeu assim assado, não se pode deixar de saudar, até mesmo se as visitas nem sempre forem tão amáveis, comum cortesia até pros óculos escuros, abas sobre os olhos, gesto que seja, tinindo, apertos de mãos, abraços afetuosos, sorrisos largos que logo somem na cara carrancuda impaciente a seguir pelo que se decide do planejado ou de última hora, sei lá, as desconfianças com os fios que balançam nos postes, sustos com frenagens bruscas, buzinas e chacotas, para ir a tal canto resolver sabe-se lá o quê, grosserias gratuitas de ofendidos, não se pode ser indiferente com os mal-amados, fazer que não viu nmão dá, ou virar as costas, que coisa, fala ao telefone enquanto caminha, atravessar de qualquer modo, sem saber onde pisar, só em dia chuvoso, ainda vai, às pressas, pelas poças chacoalhadas pelos veículos, pelos buracos desagradáveis entupidos e o que der na telha, todo sem jeito com a moça bonita, tão vistosa debruçada no balcão com olhar de quem chama, ao invés da repulsa constante de nem chegar perto, enquanto outros cochicham em discretas transações, estão nem aí para quem passa ou chega avexado, enquanto, de repente, um céu azul da manhã entra pela tarde, nenhuma nuvem no mormaço, ah, sombras da praça, os pingos da fonte na face, um jogo de dados, rumores e disfarces, mil vezes já passei pelas ruas, todas, com pés ambulantes, indolentes, como se tivesse um tapete mágico e corresse por todos os recantos, como se saísse do casulo a passos largos, mesmo mantendo a distância, nunca se sabe, dizer só por dizer, qualquer coisa serve escapando o contato, comendo as horas, não tem graça nenhuma, mas é isso mesmo, a vida como uma jogada, chega dá na vista a sacada, só pelo dinheiro que tudo começa e acaba, a gente se encontra qualquer dia desse, promessa de pé, asseverada, então está certo, até logo, até mais, esta cidade sou eu por aí coberto de dores e amor incurável. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Ruas que começam pobrezinhas e que hoje são as novas-ricas da cidade. Umas, que continuam a viver a mesma vida de outrora, como essas velhinhas que se escandalizam e resmungam sempre que as novidades do progresso lhes afetam os velhos hábitos de antanho. Outras que mantêm, o esplendor, o viço, a vivacidade através dos anos, como uma Nino de Lenclos, sempre moça e sempre amável. E em contraste, aquelas que decairam da grandeza passada, que de ruas movimentadas e ruidosas, ricas e fidalgas, se transformaram em obscuras pobretonas, abandonadas, com velhos casarões descascados pelo tempo, tristonhos na sua irremediável ancianidade. [...].
Trecho extraído da obra Tempo de Pernambuco – ensaios críticos (EdUFPE, 1971), do advogado, crítico literário, tradutor e escritor Oscar Mendes (1902-1983), autor de obras como Searas de romances (1982), Estética literária inglesa (1983), Entre dois rios (1970), entre outros.

A POESIA DE ETHEL FELDMAN
MANIFESTAÇÃO: Desfilamos na avenida / e eu gritei contigo / fascismo nunca mais / roubei-te um beijo / segredei na tua boca / o povo unido jamais será vencido / chorei o acaso / amei-te na derrota / que a esperança não era morta / nem a vida, alheia / na despedida, prometi resistir / No poder reina a ganância / Uma gralha ri de ti / Prometes e desistes / Rumba la rumba la rumba la / Deixaste a vontade dormir / Tal a preguiça de existir / Prometes e desistes / Rumba la rumba la rumba la / Abre as asas, dança / Ama sem pudor / Rumba la rumba la rumba la / Prometemos resistir!
LIBERDADE: Em dias de tempestade o corpo pode vergar / Espera que adormeça a tormenta e respira / Será no silêncio que se prolonga em cada / palavra esquecida que abraçarás a liberdade.
BEIJO: Vou ter contigo amanhã / apanho o primeiro barco / enquanto tomas café / atravesso o Tejo / encontro Lisboa / subo a pé o Chiado / espero pelo teu beijo / se achares por bem que sim / eu te direi sem hesitar que sim / que neste sim adiado / ele viaje de elétrico / por toda a cidade / e traga na volta a vontade / que se demore no tráfego / se não for amanhã / será na segunda-feira / ou na próxima semana / talvez nas tuas férias / se for no Inverno / não esqueças o casaco / que antes do beijo / quero um abraço. / amanhã, se chover / não posso / fico em casa / não tenho pressa / sei que este beijo / nasceu predestinado.
Poemas da poeta e artista visual Ethel Feldman, editora do blog Paladar da loucura. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

A ARTE DE CLARA LEFF
A arte da artista visual e grafiteira Clara Leff. Veja mais aqui.
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A OBRA DE CECILIA MEIRELES
Quanto mais me despedaço, mais fico inteira e serena.
A obra da escritora, pintora, professora e jornalista Cecília Meireles (1901-1964) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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