segunda-feira, agosto 06, 2018

LESKOV, ARGAN, JOÃO PESSOA, ANTÔNIO OLINTO, CÁTIA DE FRANÇA & JACKSON DO PANDEIRO, LAU SIQUEIRA & RONALDO FRAGA


A FESTA DO CUMPADE: AMO JAMPA – Ao desembarcar em João Pessoa, Joaquim já me aguardava com seus oitenta e tantos anos de conversador presepeiro. Uns vinte anos separavam a minha última estada ali. Perguntei: E agora, como é que é? O de sempre: quatro prédios, uma lagoa e saída pra Recife. Rimos, nada disso, só conversa solta daqueles do tipo bebedores de água de chocalho, aprumando a conversa ao volante na velocidade máxima dos trinta quilômetros no trânsito, soltando uma e outra, desde suas peripécias de vendedor de antanho, como das coisas boas e históricas do local, incluindo-se sua verve de piadista. Recepção melhor jamais haveria. No primeiro semáforo, ele: Eita, música danada de boa! Fiquei ligado no refrão: “Tive esse desejo louco de beijar tua boca, morder tua língua, furar teus olhos, arrancar teus cabelos e te acorrentar”. Vixe! Ele ria e eu com a cara de sei lá. Mais adiante, ele de novo: Está vendo aquele ali, é Tiberonildo, prefeito de não sei onde. E aquela dos duzentos quilos, nem sabe quem ele é, quer ver? Ela chamava um terceiro aos berros: Tiberonildo, ô Tiberonildo. Daí a pouco chegou um rapazote franzino e ela mandou aos esporros fazer algo. Então, o tal famigerado todo orgulhoso: Nome bonito esse do seu filho. E ela: Nada, eu chamava essa lástima de “coisinha”, mas passou a roubar por aí, resolvi chamar o traste de Tiberonildo, tem jeito não, imprestável mesmo. Clima de saia justa e riso amarelo. Seguimos pro restaurante, conversamos, revi a agenda de compromissos e seguimos pruma festa organizada pelo Marco Antônio e Mércia, em homenagem ao Marcelo Coutinho. Praticamente eu não conhecia ninguém. Com o pé atrás fiquei na minha, desconfiômetro ligado. Não demorou muito para constatar não ser daquelas festas estranhas com gente esquisita. Reinava a ginocracia com a palavra de ordem: Lula livre! Elas cantaram, dançaram, pintaram, bordaram e mandaram ver. Logo vi que estava em casa com a chegada do aniversariante e o irmão me apresentou um a um dos parentes e amigos. O som rolava solto, pernambucanamente. Ôxe, disse pra mim mesmo: ora tô em casa, meu! Violão versátil, percussão experiente, gaita arretada, cantoria de afinação insuspeita – afinal era festa, né -, altos papos e goles. Ousei com o Cumpade vocálises performáticas entrando de vez na onda. Logo o cineasta Marcos Vilar se achegou com o projeto dele e do Cacá Teixeira a respeito de um documentário sobre Jackson do Pandeiro. Também circulou uma edição especial do Papa-Figo – fanzine do Bione e Teles, que rodava nos anos 1980, em Recife, coisa do meu tempo de Pirata e Bagaço -, mais infindáveis papos que iam de concertos de Chopin & dedilhadas de rock progressivo, artes visuais, doidices eruditíssimas e conversa fiada. Lá pras tantas a constatação: na verdade, o presente não foi pro aniversariante, foi pros convidados. Mas Joaquim me prometera um espetáculo maior: onde o Sol nasce primeiro. E tinha que ser de madrugada, pelas quatro horas, pra ver como é que ele surge menino e vira adulto assim num instante. Não sei bem como fui arrastado da festa pra cama. Só sei ao acordar, Joaquim com a cara mais engraçada do mundo: Você perdeu de ver o primeiro nascimento do Sol. Não deu. Mas ele não perdeu a viagem e me deu de presente um bocado de façanhas para registrar aqui. Fica de certo uma coisa: Ô Jampa boa danada, saudades no coração. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da cantora e compositora Cátia de França: Vinte palavras ao redor do Sol, Estilhaços, Feliz demais & Kukukaya com a Orquestra Sinfônica da Paraíba & muito mais nos mais de 2 milhões & 500 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Em qualquer setor, forma-se um código, com leis sobre o que pode e o que não pode ser feito. É nosso dever ultrapassar o código e buscar a verdade que está no fundo mesmo de uma vida, seja uma atividade, seja um caminho ou uma realização pessoal [...] o ápice que o homem pode atingir quando se entrega à tarefa de explicar a vida e de, com isso, ajudar os que nela estão. [...]. Trecho do prefácio do escritor Antônio Olinto (1919-2009), na obra Conversações: entrevistas essenciais para entender o mundo (Cultura, 2008), de João Lins de Albuquerque. Veja mais aqui.

IMAGINAÇÃO - [...] A imaginação é a faculdade que nos permite pensar em nós mesmos de forma diferente do que somos e, portanto, propor uma finalidade além da situação presente. Sem imaginação pode haver cálculo, mas não projeto. [...] A imaginação ética e politicamente intencionada é a ideologia, e não pode haver projeto sem ideologia. A imaginação é diferente da lógica e da ciência porque não tem por finalidade o conhecimento abstrato, mas um conhecimento indissociavelmente ligado ao fazer e, portanto, à técnica. Em toda a sua história, a arte não foi mais do que imaginação dinâmica, ativa, produtiva. É compreensível a crise da arte, e a crise da cidade como criação história e instituição política. [...]. Trecho extraído da História da arte como história da cidade (Martins Fontes, 2005), do historiador e teórico italiano Giulio Carlo Argan (1909-1992).

LADY MACHBETH – [...] Era de tudo isso que Catierina Lvovna brincava e folgava com o jovem capataz do marido, banhando-se ao luar e rolando no tapete macio. As flores brancas e frescas da frondosa macieira, espargiam-se sem cessar sobre eles, mas por fim o espargimento cessou. Enquanto isso a breve noite estival ia passando, a lua se escondia atrás dos telhados proeminentes dos altos  celeiros e olhava de esguelha para a terra a cada instante mais e mais opaca; do telhado da cozinha partiu um estridente dueto de gatos; ouviu-se depois um escarro, um bufado raivoso e em seguida dois ou três gatos caíram e rolaram ruidosamente por cima de um feixe de ripas encostados no telhado. – Vamos dormir – disse Catierina Lovdva com lentidão e aparência debilitada, levantando-se do tapete, e do jeito que estava saiu pelo pátio mergulhado em silêncio, em silêncio sepulcral, seguida por Serguiei, que levava o tapete e a blusa que ela largara por travessura. [...]. Trecho extraído da obra Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk (34, 2009), do escritor russo Nikolai Leskov (1831-1895). Veja mais aqui e aqui.

CATAPLAFT - com seus tacapes digitais / e tangas pierre cardin / os cariris contemporâneos / invadem o shopping / e jantam champignons / com xerém / no self-service / ajustando as penas / desajustam os cocares / da cultura pagã / cultuam o corpo / em academias / e investem fortunas / da floresta tropical / nas delícias / da nova moda verão / já sem matas / matam-se nas guerras / da pós-modernidade / disputas sangrentas / por hectares de asfalto / ou pontos de venda / de coca / (ou pepsi) / e dançam o rap / da globalização / com as mãos enfiadas / nas algemas ideológicas /do terceiro milênio. Poema do poeta Lau Siqueira. Veja mais aqui e aqui.

O CADERNO DE ROUPAS, MEMÓRIAS E CROQUIS DE RONALDO FRAGA
[...] resolveu juntar um pouco que tinha e para outros lugares voar [...] Ironia e autoironia em uma novela que conta a história de uma galinha que muda do interior para a cidade grande. [...].
Eu amo coração de galinha, extraído da obra Caderno de roupas, memórias e croquis (Cobogó, 2013), do estilista e designer Ronaldo Fraga.

AGENDA
O documentário Jackson na batida do pandeiro, dos cineastas Marcus Vilar & Cacá Teixeira, com lançamento em breve no circuito nacional & muito mais na Agenda aqui.
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O poeta, professor e artista visual Marcelo Coutinho, Drª Mércia Parente & Papa-Figo. Veja mais aqui e aqui.
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Desmantelos sem remissão, a poesia de Joaquim Cardozo, a literatura de Eduardo Galeano, o pensamento de Carl Rogers & Gerd Bornheim, a arte de Farnese de Andrade, Crise & Educação Ambiental aqui.


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...