O QUE APRENDI DA LUA - Imagem: Arte da artista moldava Olga Rykova. - Aprendi primeiro a escuridão: havia temores na
noite. Foi só fechar os olhos e todos os fantasmas se dissolveram ali. Assim aprendi
a singrar os céus e os astros sem sair de casa e nenhum passo, a saborear da
luz antes sequer imaginada, a me convencer da alma animando meu corpo e o
renascimento simbólico na âncora da vida. Aprendi a noite em pleno dia de
Palmares, a cantar Lunik 9 de Gil
pelas ruas: Poetas, seresteiros,
namorados, correi, é chegada a hora de escrever e cantar... a reverenciar os
gestos, as distâncias, os olhares, a loucura e a solidão dos corpos celestes e
todas as coisas do mundo, entre mitos e lendas, como a da bela índia Bororo
branca de olhos claros e cabelos dourados como a manhã, não hesitava em seus passeios
noturnos. Ela trocava a noite pelo dia como eu tetéu de tanto desabrigo. Amaldiçoada
pela índia escura aliada à cascavel, ficou muito triste por não gostarem dela,
pois não tinha ninguém disposto a com ela conviver ou conversar. A sua solidão
era a minha e ela conseguiu apenas a amizade da coruja que a instruiu a preparar
então uma escada de cipós e ajudá-la a amarrar ao céu. Com a escada pronta, ela
subiu e subiu e subiu até se exaurir e dormir exausta numa nuvem e no outro dia
tornou-se Lua acesa nas trevas, iluminando a minha vida. Em certos períodos,
ela se parece carregada de presságios, a boa sorte dos esquimós e a representar
a emoção instintiva, a impulsionar transformações de dentro e de fora, para que
eu aprenda mais do que sou. Quando é azul, dá-se cheia reverberando no céu astrológico
e eu posso seguir como se manhã ensolarada na minha vida. É no perigeu que ela se
aproxima da terra e fica maior e mais brilhante, tão perto de mim, a sussurrar coisas
que nem sempre entendo e sei tão valiosas. E quando é cheia de sangue, mexe com
o passado por incertezas e dúvidas, fazendo-me aprender com a dúvida de sempre
pra nunca ter certeza alguma de nada. Com isso mais aprendi a falar Bororo com
a pedra e a taquara. E a pedra me anunciava uma vida longa, e a taquara me
ensinava a morrer e a voltar. A pedra então me ensinou a não dobrar com o sopro
dos ventos e a força das chuvas, enfrentando o calor, as dores e a preocupação,
e a taquara me ensinou a ressurreição nos filhos com a raiz germinando a
nascer, crescer, até morrer ouvindo o canto dos pássaros. Aprendi, enfim, a mim
mesmo com o inexato e o improvável de tudo, as palavras, pensamentos e ações, e
a ir até o começo dos tempos com a música das esferas, vida após vida, todos os
dias, o propósito e a razão, a emoção e os mistérios, meios e fins, a
transcender as dependências na armadilha da ilusão. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio
Tataritaritatá especial
com a música cantora e instrumentista Claudia
Villela:
Jangada, Asa verde, Deep sea angel blues & Fuá & muito mais nos mais de 2
milhões & 600
mil acessos ao
blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir
é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] A
humildade é a única base sólida de todas as virtudes. A nossa maior
glória não reside no fato de nunca cairmos, mas sim em levantarmo-nos sempre
depois de cada queda. Ser ofendido não tem importância nenhuma, a não ser que
nos continuemos a lembrar disso. [...].
Pensamento do filósofo chinês, Confúcio
(551 a.C. - 479 a.C). Veja mais aqui e aqui.
A NOITE SE MOVE – [...] Quem não aceita
este mundo, nele não constrói morada. Se tem frio, e sem ter frio. Tem calor,
sem calor. Se derruba bétulas, é como se nada derrubasse; mas as bétulas estão
por aí, por terra, e ele recebe o dinheiro combinado, ou, ao contrário, só
recebe pancadas. Pancadas como uma dádiva, sem sentido, e desaparece sem se impressionar.
[...]. Trecho extraído da obra Moriturus e outros textos (Língua Morta. 2018), do
escritor e pintor belga Henri
Michaux (1899- 1984).
Veja mais aqui, aqui e aqui.
LOUJINE – [...] Para
Loujine, soa a hora inevitável em que o universo bruscamente se afoga, como se
tivessem desligado o interruptor, como se, em meio às trevas, nada mais brilhasse
senão algo totalmente inédito, uma ilhota luminosa, sobre a qual doravante toda
sua resistência devesse se concentrar [...], Trecho extraído da obra A defesa Lujin ou a precisão do texto
(LPM, 1986), do escritor russo Vladimir Nabokov (1899-1977). Veja mais
aqui.
ALQUIMIA - Pra te ver, acredito / que a alquimia da
morte é requisito, / que me transmude em alma, e delirante / de amor e de
ansiedade, cada instante / que chega, e o requeiro / dizendo: “Ah! fosses tu o
derradeiro!” / É tão desmesurado, tão risonho, / tão profundo o futuro que
suponho / por todos os caminhos estelares, / e através de um em um dos
avatares, / sempre contigo, amiga mais sincera, / que por poder morrer, quanto
não dera! Poema do poeta mexicano Amado Nervo (1870-1919), Veja mais aqui.
A natureza nos
dá o rosto dos vinte anos; a vida modela aos trinta anos; mas aos cinquenta
anos, temos o que merecemos.
Se você nasceu
sem asas, não faça nada para impedi-las de crescer.
Nossas casas são
nossas prisões; sonhamos reencontrar a liberdade na maneira de enfeitá-las.
Uma mulher só
precisa de apenas duas coisas: um vestido preto e um homem que a ame.
Trechos e imagens extraídos das obras A era Chanel (Cosac Naify, 2007) de
Edmonde Charles-Roux e Chanel, seu
estilo, sua vida (Mandarin, 1999), de Janet Wallach, sobre a estilista francesa
Coco Chanel (Gabrielle Bonheur
Chanel – 1883-1971). Veja mais aqui.
&
Zangão na colmeia, João do Rio, Inês Bogéa, Vilmar
Antonio Carvalho, Imprensa & Comunicação, Música Brasileira & Biblioteca
Fenelon Barreto aqui.